Lua Inferior
Durante o trajeto que levou dois dias, paramos apenas para comer e descansar um pouco, chegamos na cidade ao amanhecer e aproveitamos para dormir um pouco, a tarde fazemos o reconhecimento da área e ao cair da noite decidimos procurar pelo oni, andamos pelas ruas após o anoitecer mas nada acontece, e quando o sol volta a nascer, voltamos para a pousada.
— Ele deve estar empanturrado com a última vítima... — falo comendo um pouco do meu tempurá — Quando estiver com fome, vai aparecer...
— Eu preferiria pegá-lo antes que faça outra vítima, droga. — Sanemi bate o punho na mesa — No que está pensando?
— Hmm? Ah, nada em particular... — gesticulo distraidamente — É só que algo não parece estar certo...
— Como assim? Está se sentindo doente? — ele se inclina em minha direção.
— Não, não. — aceno em negativa — Não sei o que pode ser, é apenas uma sensação...
— Nada vai acontecer com você enquanto eu estiver aqui. — ele estica a mão por cima da mesa e a ponta dos seus dedos tocam meu pulso. — Seja lá o que for, deixe para se preocupar depois que a missão acabar.
— Você tem razão... Só foi algo estranho, como se algo estivesse prestes a acontecer. — termino minha refeição e espero que ele termine a dele.
Depois de dormir algumas horas, acordo e me arrumo, descendo para comer antes de me encontrar com Sanemi. Converso um pouco com a dona da pensão e ela me dá alguns detalhes sobre os desaparecimentos. Bato na porta do prateado e sou recebida por uma carranca que parece ter acabado de sair da cama.
— Se arrume, temos que ir a um lugar. — saio sem dar-lhe a chance de responder e momentos depois ele bate na porta do meu quarto. — Já estava começando a achar que tinha voltado a dormir.
— Talvez eu amarre você na cama pra ver se assim dorme mais do que algumas poucas horas...
— Isso seria... Interessante. — sorrio para ele que cora e então cruza os braços — Vamos, não temos muito tempo!
Puxo ele pelas ruas da cidade, sua careta foi substituída por uma expressão relaxada e ele até ri comigo de vez em quando. Paramos em vários carrinhos que vendem comida na rua, ele come cinco Ohagi, os deliciosos bolinhos de arroz cobertos com feijão doce, e eu faço uma anotação mental para lembrar de sempre levar um para ele quando o acordar.
— Onde estamos indo, afinal? — ele pergunta, enquanto caminhamos em direção a uma parte mais afastada do centro da cidade.
— Ao parque. — falo sorrindo abertamente para ele.
— Ao parque? Por quê? — ele parece confuso.
— É nosso primeiro encontro! — falo confiante e dou risada da sua expressão de surpresa — Bom, quando fui fazer minha refeição mais cedo, a dona da pensão me disse que vários casais jovens tinham desaparecido nesse parque...
— E por que ninguém disse isso quando perguntamos, droga? — ele perguntou com raiva.
— Porque não confiam na gente, somos forasteiros, Sanemi. — falo com calma — Não podemos pedir para que confiem em nós cegamente, nós caçamos os onis nas sombras.
— Eu sei, eu sei. — ele fala emburrado e me surpreendo quando ele entrelaça os dedos nos meus — Venha, isso é um encontro.
Andamos pelas pequenas pontes que atravessam os lagos cheios de peixes ornamentais, as folhas de cerejeira formam um cobertor rosa claro na superfície cristalina. Assistimos o por do sol sentados em uma pequena elevação, e caminhamos em um silêncio calmo. Logo as lanternas do parque são acesas e a vista é de tirar o fôlego, andamos até o centro do parque onde o lago enorme tem uma pequena ilha no meio e uma grande ponte de madeira o atravessa, todos já estão indo embora, mas nós apenas andamos pela ponte com calma.
Paramos no meio e observamos a pequena ilha, sinto a presença antes de ver as sobras se mexerem na ilha, então me viro para Sanemi despreocupadamente.
— Ele está na ilha, nos observando. — dou um sorriso para o prateado que dá um passo na minha direção.
Nossos corpos estão muito perto, e preciso inclinar a cabeça para trás para conseguir olhar para o seu rosto.
— Estamos sozinhos? — ele pergunta baixo, erguendo sua mão para colocar uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e eu confirmo discretamente. — Ótimo, vamos acabar com ele.
Ele me dá um beijo na testa, então se vira para a ilha e grita.
— OE, SEU DESGRAÇADO PERVERTIDO!!
Ouvimos um barulho alto e a superfície do lago se agita.
— Você não precisava deixá-lo irritado, ele viria até nós de qualquer forma...
— Onde está a graça nisso? —ele pregunta com um sorriso malicioso.
— Merda. — murmuro, desembainhando a nichirin.
O oni é rápido e em um piscar de olhos ele está bem na nossa frente. Sua pele é de um roxo reluzente e no seu olho esquerdo vejo gravado Inferior Dois.
— Olha só o que temos aqui, eu nunca me banqueteei de um casal de caçadores. — ele passa a língua viperina nos lábios finos e então fareja o ar — Principalmente um casal Marechi...
Sua voz transborda malícia e e ele ataca, nos fazendo saltar para trás. Sanemi se coloca entre mim e o demônio e o ataca, criando um tornado. Vários cortes são feito no oni e um de seus braços foi decepado, mas em questão de segundos ele faz crescer outro no lugar, e os cortes se fecham. Se sua regeneração é tão rápida, isso significa que ele se alimentou de centenas de seres humanos, e isso me deixa com raiva.
Ele troca golpes com Sanemi e aproveito uma abertura para atacar.
— Hikari no kokyu, Ichi no kata... — ataco fazendo um corte de baixo para cima — Sōgyō. (Respiração da Luz, Primeira forma: Luz do Amanhecer)
O oni consegue desviar do meu ataque, mas sai com um grando corte que vai do umbigo até seu ombro, que some em questão de segundos.
— Humanos desprezíveis. — ele mostra os dentes afiados e muito brancos para nós.
Ele nos surpreende quando enfia a própria mão na barriga, fazendo sangue escorrer pelo chão, formando uma poça.
— Mas que... — Sanemi que está mais perto dele cambaleia e para de falar, seus olhos ficam opacos.
— Vamos ver como se sai vendo sua amada aqui morrer...
— Sanemi! — chamo por ele, mas não obtenho nenhuma resposta, ele encara o nada, como se assistisse a alguma ilusão.
— Acho que entendi seu maldito kekkijutsu. — me coloco entre ele e Sanemi em uma posição defensiva — Você colocou todas as vítimas em um tipo de ilusão enquanto as matava.
— Marechi esperta... — ele me encara, saliva escorrendo dos cantos de sua boca. — Consegue lutar conta seu amado e contra mim ao mesmo tempo?
— AAAAH! EU VOU TE MATAR, DESGRAÇADO!!! — Sanemi berra e vem para cima de mim.
Aparo seus golpes com precisão, mas ele é mais forte do que eu, e o oni também ataca. Não posso me defender dos dois ao mesmo tempo... Se ao menos houvesse uma maneira de fazer Sanemi voltar para a realidade.
O barulho do metal contra metal de nossas espadas me faz estremecer, e o oni passa suas garras em minhas costas, o corte não foi profundo, e no fundo agradeço por ter decidido deixar o haori que Sanemi me deu no meu quarto na pensão. Sinto o sangue escorrer pelas minhas costas e novamente preciso aparar um golpe extremamente forte de Sanemi. Dou um chute em seu estômago que o faz dar alguns passos para trás, mas ele é implacável, a fúria nos seus olhos quando olha para mim me desestabiliza.
— Sanemi, acorde! — tento alcançá-lo onde quer que ele esteja perdido na ilusão do oni — Por favor.
Ele solta um grunhido de raiva e ataca sem parar. Sua nichirin passa a centímetros de cortar meu pescoço e eu perco o equilíbrio, dando alguns passos para trás, o oni aproveita e passa novamente suas garras em mim, dessa vez no meu braço. Não vou durar muito tempo nessa luta, preciso fazer com que Sanemi volte para a realidade. Ele desce sua espada no mesmo corte que treinamos dias atrás, consigo segurar seu ataque, mas sabia que ele estava me poupando quando treinamos, pois sua força agora nem se compara ao treinamento. Ele faz força para baixo, me forçando a ajoelhar no chão, sua nichirin se crava em meu ombro.
— Sanemi, por favor, me ouça... — lágrimas se acumulam nos cantos dos meus olhos — Preciso que volte para mim.
Seu aperto na espada não cede e sinto a lâmina cortar mais fundo, me fazendo gritar.
— ACORDA!!! — minha voz corta a escuridão. Sinto o peso da espada no meu ombro desaparecer.
O platinado me olha com horror, piscando várias vezes.
— Kira? — sua voz falha dizendo meu nome e ele se ajoelha em minha frente — O que foi que eu fiz?
— Não temos tempo para isso... — eu falo com alívio por ele ter voltado a si. — Precisamos matá-lo.
Tento me levantar sem sucesso, perdi muito sangue e estou tonta. Sanemi segura minhas mãos e as leva aos seus lábios, deixando um beijo leve no dorso das duas.
— Você já lutou o bastante... — sua voz cheia de arrependimento faz uma lágrima cair na minha bochecha e ele a limpa com cuidado — Me desculpe.
Ele se levanta e encara o oni, que estava lambendo suas garras encharcadas com o meu sangue.
— Você não devia ter tocado nela, seu verme. — a voz de Sanemi é baixa e sombria quando ele fala com o oni, um arrepio desce pela minha espinha — Acha que vai conseguir escapar de mim agora?
— Vou me deliciar no sangue dela e depois irei me banhar no seu. — ele passa os dedos ensanguentados no rosto para dar ênfase às suas palavras.
— Maldito filho da puta. — a aura ao redor de Sanemi parece escurecer e ele ataca o oni.
Eles entram em uma troca de golpes frenética. O oni faz vários cortes em Sanemi e este por sua vez corta os dois braços do oni que ri loucamente. Ele então engasga e dá alguns passos cambaleantes.
— O quê? — ele pergunta confuso e olha para os braços que não se regeneraram — O que está acontecendo?
Dou uma risada baixa e os dois me encaram.
— Você parecia muito ávido pelo meu sangue marechi, seu merda. — falo um pouco ofegante, me concentrando em parar o sangramento nos meus ferimentos — Qual a sensação de ter o veneno de glicínias correndo pelo seu corpo?
Ele tosse e cospe sangue, manchas escuras aparecem pelo seu corpo. Ele segura o próprio pescoço e sua boca se abre em um grito rouco.
— Esse é o fim que você merece, verme, queime no inferno. — Sanemi fala se aproximando dele e em um movimento rápido, sua nichirin decapita o demônio.
Ele até mim com pressa, e se ajoelha na minha frente novamente. Suas mãos seguram meu rosto enquanto ele avalia meus ferimentos. Coloco minha mão sobre a sua e lhe dou um sorriso fraco.
— Como fui capaz de fazer isso? — ele abaixa sua cabeça, derrotado — Depois de prometer que nada aconteceria com você enquanto estivesse comigo...
— Não foi sua culpa. — falo alcançando seu rosto e o erguendo pare que nossos olhares se encontrem.
— Como eu poderia viver se tivesse feito algo pior? — suas mãos caem do meu rosto e ele as usa para cobrir o próprio rosto.
— Sanemi, já chega. — não deixo espaço para discussão — Olhe para mim. — ele lentamente levanta a cabeça, deixando as mãos cair em seu colo — Estou viva, nada além disso importa.
Pego sua mão e ele olha para nossas mãos entrelaçadas, sua expressão é de dor e não sei o que posso fazer para que ele tire isso da cabeça, ele solta minha mão e eu o encaro, notando lágrimas em seus olhos.
— Não tenho o direito de te tocar, não depois do que eu fiz... — ele diz e isso me deixa verdadeiramente atordoada — Vou ajudá-la chegar na pensão, e procurar por um médico.
Solto um longo suspiro, parece que ele está decidido, vou ter que abordar isso de outra forma. De volta na pensão, ele bate à porta da dona e ela lhe dá direções para achar a casa do médico, mas só depois de um esclarecimento sobre nossos ferimentos. Explico de forma convincente que fomos atacados e ela fica horrorizada, ela se oferece para me ajudar a voltar para o meu quarto enquanto Sanemi busca o médico.
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