Isso não é um adeus
Acordo com a luz do sol entrando pela fenda na janela, quanto tempo faz que não durmo até depois do sol nascer?
Me levanto e me arrumo, colocando já o uniforme e o haori que separei na noite passada. Vou para a cozinha, onde vejo minha mãe cozinhando algo, quando ela me vê, imediatamente abre um sorriso.
— Oh, ohayo estrelinha... Dormiu bem? — ela volta sua atenção para a massa branca em suas mãos — Estou preparando alguns lanches para sua missão.
— Nãp precisava se preocupar, mamãe — me aproximo da mais velha e lhe dou um beijo na bochecha — Mas obrigada. Onde estão os encrenqueiros?
— Foram chamados no QG, provavelmente uma missão... — o semblante da minha mãe cai um pouco, imagino que seja sua constante preocupação conosco — Vai sair?
— Vou dar uma volta, aproveitar um pouco antes de sair para a missão. — sorrio para ela que sorri de volta para mim. — Jaa ne!
Saio pelos jardins de casa, e paro um momento para admirar. As flores de lótus flutuando no pequeno lago, a árvore de glicínias com seus cachos em flores lilás, algumas pétalas flutuando calmamente na superfície do pequeno lago. Eu poderia passar o dia admirando, mas faz tanto tempo que estive no vilarejo que saio do meu torpor e vou para as ruas principais, passando por lojas e acenando de volta para os comerciantes que me cumprimentam.
Enquanto passo por um restaurante de lámen escuto uma exclamação conhecida e sorrio, abro a porta e encontro Rengoku em uma das mesas comendo.
— Umai!! — ele exclama novamente e eu solto uma risada baixa e me aproximo — UMAI!!!
— Deve estar realmente delicioso. — falo quando chego em sua mesa — Olá, Rengoku-san.
— Kobayashido-san, é um prazer revê-la, sente-se — ele termina sua tigela de lámen e se vira para mim — Me acompanha?
— Oh não, obrigada. — balanço as mãos na frente do corpo em uma recusa educada — Pretendo almoçar com a minha família. Apenas entrei para cumprimentá-lo.
— Agradeço sua atenção, fiquei sabendo da sua missão com Shinazugawa-san, espero que voltem em segurança — ele junta suas mão em cima da mesa — Aliás, me chamou de Rengoku?
— Uhm... De fato, chamei — dou risada e então encaro meu amigo — Sabe Kyojuro, preciso da sua opinião como homem...
— Kira-chan, você tem três irmãos... — ele sorri me olhando com seus grandes olhos das cores das chamas de sua respiração — Mas de qualquer forma, sempre estou aqui para te ouvir, você é uma amiga querida, a irmãzinha que nunca tive, então bote para fora o que esta te incomodando.
— Veja bem... Ontem depois da confusão antes da reunião dos Hashiras, Oyakata-sama designou uma missão à mim e a Shinazugawa-san. Enquanto caminhávamos para fora da mansão ele me deu sermão sobre eu ter me colocado entre ele e a oni Kamado, ele realmente pareceu preocupado... — faço uma breve pausa, me lembrando então das palavras de Shinobu — Depois que nos separamos, fui até a Mansão Borboleta e Shinobu-chan mencionou em como o mestre sempre junta Shinazugawa-san e a mim para missões mais complexas, que em suas palavras "Até parece que o mestre quer que sejamos um casal". Ela inclusive mencionou que Shinazugawa-san só mantém a calma quando estou por perto...
— E a sua duvida é...? — Kyojuro que em algum momento do meu monólogo pediu outra tigela de lámen, me pergunta com curiosidade.
— Bom, eu nunca parei para reparar nisso, e sinceramente acho que isso é coisa da cabeça da Shinobu-chan, mas fiquei pensando... — apoio o rosto em minha mão e solto um suspiro — Acho que é somente porque ele costumava treinar com meus irmãos depois que se juntou à milícia, então sou apenas uma conhecida e colega que ele está acostumado, não qualquer outra forma de preocupação... O que você acha?
— Uhm... Honestamente? — ele me pergunta.
— E quando não fomos honestos um com o outro, Kyo-kun? — Sorrio para ele.
— Ótimo argumento. — ele solta os hashis e espalma as mãos na mesa, seu olhar parece determinado — Concordo com Kocho-san!!
— O quê? Por quê? — resmungo.
— Porque é a verdade, em todas as vezes que nos reunimos para comer ou beber algo, Shinazugawa sempre tenta se sentar o mais próximo possível de você e na maioria das vezes, apesar do tom frio que ele sempre usa, ele não grita, se irrita sim, mas parece tentar se controlar. — ele para um pouco como se refletisse sobre algo — Ah, e sempre que você vai embora, essa calma desaparece e ele se irrita com tudo e aumenta a voz... Já chegou a quase sair no soco com Uzui quando ele disse que você daria uma ótima quarta esposa...
— Por Kami... — deixo minha cabeça cair — Vocês estão me deixando confusa...
— Se está em duvida, por que não pergunta pra ele? — ele fala como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Não irei perguntar, isso pode deixar as coisas estranhas entre nós... — falo decidida — Vou continuar sendo como sempre fui com ele e esquecer essas besteiras.
— Bom, se é o que quer... — Kyojuro volta para seu lámen — Qualquer coisa estarei aqui...
Neste momento um membro da milícia entra no restaurante e pede desculpas por nos interromper, aparentemente Kyojuro tem uma nova missão, algo relacionado a um trem. Aproveito a chance para me despedir do meu amigo.
— Tome cuidado, sim? — falo enquanto me levanto — Preciso do meu melhor amigo comigo.
— Sempre! — ele me dá um grande sorriso.
Volto para a rua e continuo caminhando calmamente, vejo Mitsuri e Obanai em um restaurante, minha amiga corada como um tomate, nunca entendi porque esses dois ainda não estão juntos, é tão óbvio que gostam um do outro... Talvez seja algo delicado para um dos dois, ou até mesmo para os dois... Sei que Mitsuri é insegura com relação ao sexo masculino, por ser muito forte e pelo que aconteceu em seu passado, mas não conheço a história de Obanai, então não posso expressar minha opinião. Apenas sei que todos nós já sofremos demais e merecemos ser felizes.
Mitsuri me vê pela janela e acena para mim, aceno de volta e quando Obanai se vira e me vê, apenas me dá um aceno de cabeça que devolvo com um sorriso. Decido então voltar para casa almoçar com a minha família.
Após o almoço, eu me deito embaixo da árvore de glicínias e descanso até que seja hora de me arrumar e partir. Prendo a pequena bolsa de suprimentos na cintura, deixando-a ao lado do meu corpo. Pego os os protetores de couro e os amarro nos meus antebraços, conferindo se esta faltando alguma senbon, por fim, prendo minha nichirin em seu lugar e coloco meu haori branco decorado com pétalas vermelhas.
Quando chego na sala, minha mãe e meus irmãos me esperam, minha mãe com olhos marejados segura uma trouxa com o que ela cozinhou mais cedo, pego o pacote de suas mãos e percebo que não está leve, olho para ela com um sorriso caloroso e ela tenta não deixar suas lágrimas caírem.
— Mamãe, lembre-se, isso não é um adeus...
— É um até logo... — ela completa — Tome cuidado, estrelinha, e alimente-se bem. Vou me sentir solitária sem vocês nessa casa grande...
E então reparo que meus irmão também estão equipados de suas espadas e Kaito segura uma trouxa ainda maior do que a minha.
— Vão sair também?
— Sim, vamos acompanhá-la até a estrada leste e depois seguir para o nordeste. — Kurro responde calmamente.
Eu abraço minha mãe e meus irmãos se juntam a nós, quando soltamos minha mãe, lágrimas mancham seu rosto. Acenamos para a mais velha enquanto saímos pela entrada principal e seguimos pelas ruas que dão na estrada leste, nenhum de nós fala, apenas quando avistamos Sanemi, Kaito solta a língua.
— Tome cuidado, irmãzinha. — ele se aproxima e me dá um beijo na testa — Amo você. Até mais.
— Não baixe a guarda, e alimente-se. — Kurro também me dá um beijo na testa — Te amo, pequena. Até.
— Amo vocês, idiotas. Até logo. — sorrio para os dois e vou até Sanemi. — Olá Shinazugawa-san, espero que tenha descansado.
— É MELHOR VOCÊ TRAZER MINHA IRMÃ INTEIRA SANEMI, OU VOU ESFREGAR SUA CARINHA RAIVOSA PELAS RUAS DO VILAREJO. —Kaito grita para Sanemi.
— Não sou a droga de uma babá. — Sanemi responde com raiva, alto o bastante para os gêmeos ouvirem.
— Você logo descobrirá que isso é de fato uma ameaça, Shinazugawa. — Kurro diz sério, encarando o prateado.
— Ah, por Kami... Vão embora. — eu falo alto — Eu não preciso de babá. Vamos, Shinazugawa-san.
Ninguém fala mais nada e assim partimos em caminhos separados, eu e Sanemi para o que quer que nos aguarda ao leste.
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