Baka!
— Seu par parece bem abalado. — ela comenta, me ajudando a tirar o haori ensanguentado e rasgado.
— Ele acha que é culpa dele... — eu falo absorta em pensamentos — Não sei o que fazer para fazê-lo mudar de ideia.
— Criança, faça ele te ouvir. — ela me dá uma piscadela, e olho para ela confusa — Quantos anos você tem?
— Dezoito... Por quê?
— Bom, você já deve ter tido conversas sobre homens com sua mãe, você está viajando com um rapaz, afinal. — ela me faz sentar na cama — Entende onde quero chegar?
— Senhora Kyoshi! — eu engasgo.
— Oh, por favor, um beijinho não vai matar vocês dois, ouvi dizer que é até comum entre os jovens...
— Minha família é muito tradicional... — desvio o olhar no seu, meu rosto está queimando.
— Bom, estou lhe dizendo, quando meu marido está nervoso ou estressado, isso sempre ajuda a acalmar os nervos, e ele se comporta como um cavalheiro depois... — seu sorriso é satisfeito e acho que consigo ficar ainda mais vermelha. — Aquele jovem parece te amar, não deixe que isso mude.
Ela passa a mão nos meus cabelos com um sorriso que eu retribuo, sou salva por uma batida na porta e Sanemi entra, sendo seguido por uma homem de meia idade, ele usa um kimono preto e carrega uma maleta.
— Obrigado por ajudá-la, senhora. — a voz de Sanemi é gentil, apesar da sua expressão séria — Doutor, como te expliquei no caminho, fomos atacados por um maldito lunático, ela tem ferimentos nas costas, braço e ombro.
— Oh, querida... Vou deixar o médico trabalhar. Venha, jovem. — a senhora Kyoshi acena para que Sanemi a siga, mas ele apenas cruza os braços.
— Não vou deixá-la! — ele exclama um pouco alto demais e antes que ele faça uma cena, eu falo.
— Eu terei que tirar a roupa para que ele veja minhas costas, Sanemi. — falo baixo e vejo ele corar — Estou segura.
Ele me olha dividido e então desvia o olhar, desde que voltamos, ele tem evitado me olhar e isso me incomoda. Acenando uma vez, ele sai do quarto em silêncio.
—Muito bem, minha jovem, vamos cuidar das costas primeiro. — ele primeiro olha para minhas costas, então pede para que eu apenas abaixe o uniforme até onde ele possa tratar meu ferimento — Não é profundo, mas devo dizer que parece mais algo feito por um animal, não um ser humano.
Ah, ele nem imagina o quanto está certo.
— Eu não vi a arma, mas o homem claramente é insano... Foi aterrorizante. — deixo que minha voz falhe, soando bem convincente.
— Entendo... — sua voz é calma e suas mãos são firmes e gentis, ele começa a me suturar — O que aconteceu com seu parceiro?
— Ele foi atacado primeiro, e o louco o apagou... — explico, escondendo o fato de que "o louco" era na verdade um demônio que devorava humanos — Ele tentou machucar Sanemi, e eu tentei protegê-lo.
— Ah, então essa é a razão por trás da sua culpa... — ele fala, se movendo para ver meu ombro, quando ele passa o pano com um líquido com um cheiro forte eu estremeço — Desculpe.
— Estou bem... — falo baixo — Por favor, doutor, poderia cuidar dos machucados de Sanemi depois que terminar comigo?
— Claro, querida. Mas eu deveria lhe dizer que ele se recusou a ser tratado quando ofereci, e foi teimoso o suficiente para dizer que você precisava ser tratada primeiro. — ele solta uma risada — Ele parece ser bem cabeça-dura.
— Tanto quanto uma montanha. — suspiro, trincando o maxilar quando ele começa costurar meu ombro.
Quando o médico termina de me remendar, ele abre a porta para que Sanemi entre e ele evita os meus olhos, focando no meu corpo, avaliando minha condição.
— Como ela está, doutor? — ele pergunta.
— Ela é uma mulher muito forte, ela vai estar nova em folha em pouco tempo, seus ferimentos não eram profundos, felizmente...
— Sanemi, sente-se para que o médico cuide dos seus machucados. — falo baixo.
— Estou bem, são só alguns arranhões. — ele não consegue me olhar enquanto responde.
— Eu falei para se sentar, droga. — falo chateada, mas ele é esperto o suficiente para fazer o que eu disse.
Por falta de uma cadeira no quarto, ele se senta ao meu lado, deixando bastante espaço entre nós, o médico pega algumas coisas em sua maleta, colocando panos limpos ao lado de Sanemi e me entregando uma garrafinha de vidro.
— Beba isso, vai aliviar sua dor e ajudá-la a dormir, mas...
— Obrigada, doutor. — eu viro todo o conteúdo do frasco na boca, sem esperar o médico terminar de falar.
— Não beba tudo... — ele termina e então dá um sorriso de derrota — Bom, logo se sentirá sonolenta e talvez grogue, é normal.
— Certo, desculpe.
Sanemi fica parado enquanto o mais velho limpa seus machucados e aproveito para chegar mais perto dele e deitar minha cabeça em seu ombro, fechando meus olhos.
— Ela não o culpa, e você não deveria se culpar também. — o médico fala depois de alguns minutos em silêncio — Não foi sua culpa vocês terem sido atacados...
— Mas é por minha causa que ela se machucou... — sua voz é baixa.
— Ela estava tentando protegê-lo, isso mostra o quanto ela se importa, e honestamente, o quanto ela gosta de você, filho. — sinto a mão de Sanemi pegar a minha, entrelaçando nossos dedos, ele solta um longo suspiro — Não a perca por causa de uma culpa que não é sua para carregar.
— Eu a amo, doutor. — O QUÊ? Ele acabou mesmo de dizer que me ama, e nem foi para mim, mas para um completo estranho? — Como posso amá-la e merecê-la, quando ela foi ferida dessa forma?
— Primeiro você precisa aceitar as coisas que não pode mudar. — a voz do médico parece distante — O ataque aconteceu, está no passado, não pode ser mudado, apenas aceito. Faça por merecer o amor dela daqui em diante.
Sanemi não responde, mas sua mão aperta a minha levemente.
— Tenha certeza de que ela descanse, e você também. — o médico fala e eu ouço a porta se abrindo — Você não precisa se levantar, vou fechar a porta.
— Obrigado, doutor. — Sanemi fala e a porta se fecha.
Alguns minutos se passam e Sanemi acaricia meu pulso, fazendo círculos com a ponta do dedo. Ele suspira várias vezes, e na sexta vez não aguento mais e abro os olhos, ele parece perdido em pensamentos e não nota.
— Merda... — ele xinga baixo.
— Baka. — minha voz sai tão baixa quanto a dele, mas sei que ele ouviu, pois se afasta e me encara.
— Estava acordada esse tempo todo? — ele pergunta se ajeitando para que possa olhar para mim.
— Sim.
— Então...
— Você é um completo idiota, Shinazugawa Sanemi, um idiota de primeira! — ele parece ficar ainda mais surpreso.
— Heh?
— Você acabou de dizer que me ama, e nem foi para mim! — encaro ele frustrada — Qual o seu problema?
— Você é o meu problema! — ele exclama, se levantando — Eu gostava da Kanae, mas sempre amei você! Achei que nunca teria uma chance com você, não quando é tão próxima do Kyojuro, tentei seguir em frente, me interessei por outra garota.
" Mas você sempre estava lá, presente, no meu dia a dia, nas minhas missões... Então ela morreu, e você continuou ao meu lado, me lembrando de que não importava o quanto eu gostasse dela, nunca chegaria aos pés do que sinto por você."
— Sanemi... — minha visão fica turva e percebo que lágrimas escorrem no meu rosto, me levanto para ir até ele que se encostou na parede e passa as mãos nos cabelos, os deixando ainda mais arrepiados. — Eu não tinha interesses amorosos, segui por muito tempo tentando apenas ajudar as pessoas como meu pai, e nunca percebi o quanto te fiz sofrer.
— Por favor... — sua voz está embargada, abafada pelas mãos que ele mantém no rosto — Eu sei que é impossível amar alguém como eu. — finalmente paro em sua frente — Principalmente depois do que fiz hoje...
— Pare de achar que sabe o que eu penso ou sinto! — seguro seu braço, fazendo com que tire as mãos do rosto para que eu olhe em seus olhos. — É a última vez que vou falar, não foi culpa sua, você estava preso no kekkijutsu daquele verme, não era você, era ele!
— Mas eu deveria ser capaz de controlar meu próprio corpo! — ele fala alto, desesperado.
— Puta que pariu! — eu exclamo — Cala a boca, Shinazugawa!
Ergo as mãos, ainda mais frustrada do que antes, o que eu preciso fazer para que ele entenda o que estou dizendo?
— Kira...
— Eu não terminei. — volto a encará-lo — Sanemi, estou tentando dizer que também amo você, mas você continua achando que sabe o que devo sentir ou não.
Cubro meu rosto com as mãos, isso foi pior do que eu imaginava.
— Você deveria ir descansar, nós dois estamos alterados por causa da recente luta... — falo baixo, soltando um longo suspiro. — Conversar agora não vai levar a lugar algum.
Escuto a porta abrir, alguns segundos se passam e me viro, dando de cara com o peitoral de Sanemi. Ele me segura, para que eu não caia e eu olho para cima, para seu rosto. Ele parece determinado.
— O que foi? — pergunto confusa, ele segura meu rosto, passando o polegar pelos meus lábios.
— Shh... — ele aproxima o rosto do meu, olhando em meus olhos intensamente.
Sinto meu coração batendo forte e acredito que não falte muito para que ele exploda em meu peito. Ou pare de bater completamente, enquanto ele continua se aproximando. Ele encosta a testa na minha e fecha os olhos, sua respiração está tão rápida quanto a minha. Coloco minhas mãos em seu peito e sinto seu coração batendo muito rápido.
Seus lábios tocam os meus de maneira hesitante, como uma leve carícia que logo é substituída por nossos desejos. Levo minhas mão até sua nuca e enfio meus dedos em seus cabelos macios, com uma das mãos ainda no meu rosto, ele desce a outra lentamente, passando pelo meu pescoço, então pelo meu braço e descansando na minha cintura, o beijo se prolonga e logo precisamos nos afastar para tomar fôlego.
— Eu deveria deixá-la descansar... — ele fala, sua voz rouca me fazendo arrepiar.
— Shh... — é minha vez de silenciá-lo e eu puxo seu rosto para o meu, o segundo beijo é completamente diferente do primeiro.
O que o primeiro tinha de calmo e hesitante, o segundo tem de devastador e carnal. Ele me puxa para ele, como se nossos corpos pudessem se fundir, sinto sua língua pedindo passagem, que lhe dou com prazer, e nossas línguas dançam juntas, explorando cada sensação delirante. Meu corpo não passa de uma brasa ardente que ele poderia apagar a qualquer instante. Mas ao invés disso, ele continua me beijando avidamente, apertando seu corpo contra o meu e fazendo as chamas se espalharem.
Ele se afasta novamente, estamos sem fôlego, respirando rapidamente.
— Você definitivamente deve descansar. Boa noite. — ele parece atordoado e se atrapalha para chegar na porta.
— Durma bem... — falo baixo, repentinamente com vergonha.
Sinto o efeito do remédio me deixando zonza, troco de roupas rapidamente e me deito, afundando na escuridão e pela primeira vez em muito tempo, não tenho sonhos.
— Acho que terei de pedir ao médico alguma garrafas daquele remédio, você dormiu por dez horas! — ele diz enquanto comemos a tarde — Aqui, coma. — ele coloca um grande pedaço de carne na minha tigela de arroz.
— Você pode me tratar como sempre me tratou, sabe... — eu falo com calma.
— Mas quero que seja minha hime, vou tratá-la como você merece. — seu sorriso chega a ser desconcertante.
Sanemi não é uma pessoa de sorrisos, mas seu sorriso é simplesmente de tirar o fôlego. Encaro ele por alguns segundos e abaixo meus olhos para minha comida, sentindo minhas bochechas quentes.
— Você fica linda quando cora... E fica sexy quando luta... — ele diz, abaixando sua voz — Kami-sama, eu queria te beijar há tanto tempo.
— Agora você pode... — falo timidamente, provavelmente ainda mais vermelha do que antes.
— Agora? Bem aqui? — ele me dá um sorriso malicioso — Tem certeza?
— Você está bem ousado, Shinazugawa-san. — falo levantando uma sobrancelha com um sorriso — Vamos arrumar nossas coisas e partir, quero ir pra casa.
Quando o sol começa a se por, saímos da pensão, depois de uma longa despedida da Sra. Kyoshi, que insistiu em nos dar comida para a viagem. Andamos em uma velocidade razoável e Sanemi insiste em parar quando amanhece para descansarmos e comermos algo. Continuamos nosso caminho e na hora do almoço um corvo se junta a Shiro e ao corvo de Sanemi, reconheço ele, é o corvo de Kyojuro, ele tem lágrimas nos pequenos olhos.
— Não... — coloco a mão em meu coração, isso não pode acontecer, não quando eu tinha que contar para ele sobre Sanemi e eu. — Droga, droga, droga...
— Kira, acalme-se. — Sanemi me puxa para um abraço e depois que me acalmo um pouco, o corvo conta o que aconteceu.
Kyojuro e mais três novatos foram mandados para o Trem Infinito, que estava sendo controlado pelo Inferior Um. Depois de salvar todos os passageiros e derrotarem o oni, foram atacados pelo Superior Três, Kyojuro lutou sozinho e quase derrotou o demônio, mas foi gravemente ferido. O oni fugiu quando o sol estava nascendo, deixando meu amigo a beira da morte. Como tínhamos completado nossa missão, deveríamos retornar imediatamente à base dos Kisatsutai.
Ele não pode morrer, apesar de não termos uma crença, peço a todos os deuses, Buda, qualquer um que possa me ouvir, para que não leve meu amigo de sorriso fácil e alma gentil.
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