A Luz na Escuridão

Espero que estejam gostando... Deixem a estrelinha ;)

A viagem de volta que deveria levar três dia, leva metade disso. Continuo correndo até chegar na Mansão Borboleta e vou direto para o escritório de Shinobu. Bato freneticamente na porta, mas não tenho resposta, volto a andar pelos corredores, dando de cara com um garoto loiro, que cai quando esbarramos.

— AAAH, GOMEN!! — ele grita e se levanta rapidamente.

— Está tudo bem, sabe me dizer onde a Shinobu está? — coloco a mão em seu ombro e ele cora.

— Ah, hmm... Ela está na área privada com os outros Hashiras. — ele gagueja um pouco — Quem é você?

— Kobayashido Kira, Hashira da Luz. Me perdoe, mas podemos deixar as apresentações para depois? É um assunto urgente...

— Hai, muito prazer, senhorita. — ele se curva e deixa que eu passe, seguida por Sanemi.

Volto a andar com pressa até chegar na parte privada da Mansão, com quartos reservados principalmente para os Hashiras e outras pessoas importantes. Aoi está parada na porta e quando nos vê, se curva imediatamente.

— Kobayashido-san, Shinazugawa-san, acabaram de chegar?

— Sim, querida. Preciso vê-lo.

— Claro, senhorita. — ela desliza a divisória e entramos, seguindo pelo corredor cheio de quartos.

Uma das portas está aberta e paro na soleira, olhando dentro do quarto. Todos os Hashiras estão ali, cercando a cama onde meu melhor amigo está deitado. Entro devagar, minha mão segura o cabo da espada com força.

— Kira-chan! Quando chegou? — Mitsuri é a primeira a me ver e todos olham para mim.

— Agora. — me aproximo da cama, observando Kyojuro. — Qual a situação dele?

Há hematomas em seu rosto e metade está enfaixado. Seu peito sobe e desce em respirações fracas.

— Não é boa, Kira-chan. — Shinobu para ao meu lado — Ele perdeu um pulmão e o outro está muito debilitado...

— Ele vai sobreviver?

— Não posso garantir. Foi uma longa operação, eu e os outros médicos fizemos tudo o que estava ao nosso alcance... — ela fala seriamente — Só depende dele agora... E se sobreviver, não poderá mais ser um Caçador, seria impossível usar qualquer tipo de respiração.

— Entendo... Obrigada, Shinobu-chan. — me ajoelho ao lado da cama e pego sua mão.

As lágrimas que segurei desde que recebi a notícia, rolam livremente. A dor em meu peito ameaça me dilacerar e não tenho mais forças. Sinto uma mão em meu ombro e sou puxada para um abraço. O cheiro de Sanemi me inunda e eu soluço em seu peito.

— Shhh... — ele passa a mão pelo meu cabelo. — Tudo será como deve ser, você precisa ser forte por ele. Estou aqui com você.

Ele não me diz que vai ficar tudo bem, não me faz falsas promessas, e eu aprecio isso. Ninguém pode garantir que ele vá sobreviver, mas ter a garantia de que Sanemi está comigo, tira um pouco do peso em meu coração.

— Vamos, você precisa comer algo, pequena... — ele se levanta, me levando com ele — Depois que descansar um pouco, pode voltar e ficar com ele. Ele gostaria que se cuidasse.

— Tudo bem... — concordo e deixo que o platinado me guie para fora da mansão.

Caminhamos juntos até minha casa, ele para no portão e olho para ele timidamente.

— Quer entrar?

— Acho que deveria descansar... Logo seus irmãos devem vir também. — quando ele menciona meus irmãos, meus olhos se arregalam — Você nem prestou atenção neles, né?!

— Apenas notei que todos estavam lá, mas não reparei em ninguém em particular... — murmuro, enrolando uma mecha branca nos dedos. — Você deve estar faminto também, por favor, entre.

— Tudo bem, mas apenas para garantir que você irá se alimentar... — ele diz coçando a nuca, suas bochechas em um tom leve de rosa.

Entro com ele pela porta da frente, que raramente usamos, tiramos nossas sandálias e eu coloco minha nichirin no suporte para espadas.

— Pode deixar a katana ai, mamãe não gosta delas dentro de casa... — explico para Sanemi e ele relutantemente deixa sua espada junto com a minha.

Minha mãe aparece no corredor e me dá um sorriso, seus olhos cheios de lágrimas.

— Oh céus, quando chegou? — ela vem rápido até mim e me segura, me olhando de cima a baixo — Está ferida ainda? Encontrei Amane-sama e ela me disse que tinha se ferido.

— Aquele corvo fofoqueiro... — solto em um muxoxo — Lembre-me de cozinhar Shiro e fazer tempurá de Kasugai.

— Não culpe o pobre corvo, você nunca diz quando se fere, ele sabe que nos preocupamos...

— Estou bem, mamãe, foi só um arranhão. — dou um sorriso para ela que pega meu haori, olhando para ele com atenção.

— Este haori é novo, o que aconteceu com o outro? — ela me olha semicerrando os olhos, então nota a pessoa atrás de mim — Sanemi, querido, quanto tempo!!

— Olá, senhora. Como tem passado? — ele fala gentilmente com ela — Kira ainda está ferida, precisa comer e descansar.

Que dedo-duro! Lanço um olhar fulminante para ele que me lança uma piscadela.

— Eu sabia! Venham comer, e a senhorita só vai poder ir ver Kyojuro depois de ver o médico! — ela sai andando determinada em direção ao fundo da casa.

— Obrigada, acabou de complicar a minha vida...

— Disponha. — ele fala erguendo o queixo e indo atrás da minha mãe e eu vou atrás, não tão animada — Você precisa pensar em si mesma antes de se preocupar com os outros, Kira.

Ajudamos mamãe a levar a comida para a sala de jantar.

— Certo, seus irmãos já devem estar chegando, por que não se lavam enquanto isso? — ela diz com um sorriso — Sanemi, você pode usar o quarto do Kotoru, tem algumas roupas lá que devem lhe servir...

— Não quero incomodar, senhora... Apenas vim para ter certeza de que Kira iria se alimentar antes de correr de volta para a Mansão Borboleta.

— Não é um pedido, querido. Vá se lavar, vocês estão muito sujos...

— Essa é sua maneira gentil de dizer que estamos fedendo, mamãe?

— Sim. Agora vão. — ela nos expulsa do cômodo e eu dou risada.

— Venha. — aceno para que Sanemi me siga e o levo até o último quarto no corredor do segundo andar — Vamos pegar algumas roupas primeiro.

Abro o guarda-roupas do meu irmão mais velho e procuro algo que sirva em Sanemi. Kotoru tem quase a mesma altura que Uzui, acho que um kimono deve dar certo.

— Aqui, Kotoru-onii-san só usa preto...

— Não tem problema...

Ele pega a roupa que lhe ofereço e eu o levo para se lavar. Vou até meu quarto e pego um kimono branco simples, e sigo para a área que eu e mamãe usamos.

Tento relaxar na água quente do banho depois de me limpar, mas ouço batidas na porta.

— Estamos esperando por você, querida.  — minha mãe fala do outro lado, saio do banho e me arrumo, deixo meu cabelos molhados soltos e vou para a sala de jantar.

Sanemi está claramente desconfortável, enquanto Kurro e Kaito o encaram nas vestes de nosso irmão mais velho.

— O que pensam que estão fazendo, idiotas? — pergunto, me ajoelhando na almofada ao lado de Sanemi.

— Apenas nos perguntando por que o cão raivoso está fazendo com as roupas do onii-san — Kaito fala com uma expressão pensativa.

— Ou simplesmente nos perguntando o que ele faz aqui... — Kurro diz, cruzando os braços.

— Convidei ele para comer. — falo, como se fosse a coisa mais óbvia. — Quando chegaram da missão?

— Hoje cedo... Não conseguimos acreditar quando a notícia sobre Kyojuro chegou... — Kurro diz sério.

— Já estávamos vindo embora, e aceleramos o passo... — Kaito continua.

— Uma Lua Superior... Tinha um tempo que eles não davam as caras. — Kurro encara o chão. — Como foi sua missão? Mamãe disse que foi ferida.

— Apenas um arranhão... Enfrentamos um oni por acaso num vilarejo em que paramos para descansar, ele cortou minha perna enquanto eu carregava uma mulher para longe da batalha...

— E onde você estava, Shinazugawa? — o olhar que Kurro direciona para Sanemi daria calafrios em qualquer pessoa normal — Enquanto minha irmãzinha salvava uma pessoa...?

— Ele estava lutando com o demônio, que podia estender os dedos como se fossem estacas de ferro, capazes de perfurar paredes... — falo aborrecida — Vocês sabem muito bem que todos nós podemos nos ferir em missões, eu não sou uma exceção. — balanço a cabeça — No fim, nossa missão era uma Lua Inferior...

— Porra... — Kurro murmura.

— Me desculpem, por deixar que ela se ferisse. — Sanemi nos pega de surpresa ao se curvar para os gêmeos — Farei o possível para que nunca mais aconteça.

— Sanemi... — seguro seu braço para que ele se endireite.

— Assim é melhor... Afinal de contas, como podemos permitir que fiquem juntos se não for proteger nossa estrelinha?  — Kaito dá uma piscadela para Saneni, que parece estar paralisado, assim como eu, que encaro meus irmãos — Ora, vamos. Ficou óbvio para todos que estavam na Mansão Borboleta...

— Você sempre foi educado e gentil com a minha irmã, Sanemi. Já até discutiu com o Uzui-san quando ele sugeriu que Kira daria uma ótima quarta esposa. — Kurro fala sorrindo — Fora sua cara toda vez que Kira e Kyojuro estavam juntos, parecia ter comido algo estragado...

— Ou que ia matar o pobre Kyojuro a qualquer momento... — Kaito ri alto — Mas nos digam, finalmente se acertaram?

— Não conversamos a respeito... — falo baixo, olhando para o outro lado, então semicerro os olhos para meus irmãos — E não é da conta de vocês!

— Claro que é, você é nossa irmãzinha... Espere até Kotoru ficar sabendo... — Kaito fala olhando para Kurro com um sorriso cúmplice — Ele também recebeu a notícia sobre Kyojuro e avisou que estava a caminho...

— O quê?! — me sobressalto, ter meu irmão mais velho superprotetor aqui quando eu e Sanemi ainda nem nos acertamos não vai ajudar em nada... Talvez Kotoru mate Sanemi se souber que nos beijamos... — Merda.

— Parece que alguém fez algo que não deveria... — Kaito implica, enquanto Kurro olha para mim e para Sanemi com o semblante sério. — Se beijaram? Ou mais do que isso?

Ele ergue as sobrancelhas sugestivamente e eu fecho a cara, expirando com raiva, minha respiração emitindo um som estático e um feixe de luz corta o ar ao lado do rosto do meu irmão de cabelos cinzas como aço.

— Eu vou te matar. — eu falo, segurando outra senbon, a primeira está fincada na parede atrás de Kaito, uma gota de sangue brota na ponta da orelha esquerda dele. — Continue o que estava dizendo e mamãe terá apenas quatro filhos.

Os três me encaram de olhos arregalados e Kaito engole seco. Mamãe chega bem na hora com uma bandeja e olha para nós quatro.

— O que o Kaito fez para deixar ela com raiva? — ela se senta entre eu e Kaito — Conheço este olhar sanguinário... — ela então belisca o braço dele — Pare de atormentar sua irmã, moleque.

— Aí!!! — ele exclama, se contorcendo para longe da mulher mais velha — Ela quase arrancou minha orelha!

— E tenho certeza de que mereceu, você só fala besteiras! — mamãe dispensa o que ele diz com um aceno — Chega de brigas, temos um convidado. Aqui, querido.

Ela entrega uma tigela transbordando arroz para Sanemi e então lhe dá um peixe inteiro.

— Olha só, já está favorecendo o genro!! — Kaito fala com indignação e dessa vez leva um tapa na nuca de Kurro. — Ai!!! Por que estou apanhando?

— Cale a boca, Kai. — ele diz sério — Antes que ela cale para você...

Os gêmeos se encaram em uma discussão murmurada, mas não presto atenção neles, foco em minha mãe ao invés disso. Ela olha de mim para Sanemi e de novo para mim. Seu sorriso parece triste e vejo que ela tenta disfarçar as lágrimas que seca. Nenhum de nós comenta sobre, apenas comemos e conversamos.

— Obrigado pela comida, senhora. Estava deliciosa. — ele se curva para mamãe na entrada da casa, ela sorri para ele. — E obrigado pela roupa, vou me certificar que alguém traga de volta assim que estiver limpa.

— Não se preocupe, querido... E não ligue para os gêmeos, nós apenas nos preocupamos muito com a nossa menina. — ela segura o rosto de Sanemi — Cuide dela, sim?

Ele apenas acena de olhos arregalados, e minha mãe volta para dentro.

— Acho que isso foi demais para apenas um jantar... — comento com uma risada leve, tentando descontrair — Mas me fez esquecer da situação com Kyojuro por um momento... — solto um longo suspiro, preciso estar com meu melhor amigo — Vou acompanhá-lo, preciso passar na casa do Takahashi-sensei.

— Na casa de quem? — ele pergunta, segurando a trouxa com seu uniforme sujo.

— Takahashi-sensei é o médico da família... Mamãe só vai sair do meu pé se eu vê-lo... — caminhamos pelas ruas do vilarejo com calma, as lanternas estão sendo acesas, no crepúsculo que cai sobre nós — Sobre o que meus irmãos e minha mãe falaram...

— Não se preocupe, eles estão certos... Apenas se preocupam com você. — ele me dá um dos seus sorrisos raros e sinto meu rosto se aquecer — E também gostaria que conversássemos antes que seus irmãos cheguem ao vilarejo...

— Por quê? 

— Me lembro que Kotoru-san sempre me deu medo... 

— E o que Kenshin tem a ver? — dou risada, me referindo ao meu irmãozinho.

— Bom, quero passar uma boa impressão, ele nem deve se lembrar de mim... — ele diz com vergonha.

— É normal, já que ele tinha quatro anos quando foi junto de Kotoru-nii-san morar com o vovô. — olho para o céu tingido de roxo escuro, quase tão escuro quanto os olhos do prateado ao meu lado — O céu está quase da mesma cor que seus olhos...

Ele olha para cima e andamos em silêncio, ele para de andar e seu olhar em mim faz minha pele formigar. 

— Quando estou com você, toda essa realidade em que vivemos parece não passar de um sonho ruim... Você sempre carrega essa sensação reconfortante de lar, o meu lar... — seus olhos brilham, meu coração se aquece com suas palavras. — Você traz calma para a minha vida e para minha alma, com seu sorriso gentil e não tem nada que eu não faria por você, e pra sempre te ver sorrindo... Percebi nessa missão que não importa a nossa realidade, eu quero fazê-la feliz, quero protegê-la e principalmente, quero amá-la.

As lágrimas que brotaram em meus olhos, caem livremente. Nunca me imaginei tendo uma vida fora da corporação, fazendo outra coisa que não fosse matar demônios e salvar vidas, mas aqui estou eu, completa e perdidamente apaixonada por esse homem que, apesar do exterior cheio de arestas cortantes, é tão gentil por dentro. Ele se preocupa com todos e sempre se usa como escudo para ajudar os mais fracos.

— Eu não poderia estar mais honrada, Sanemi... Você é como uma brisa refrescante que me acordou e me mostrou o que realmente é importante nessa vida... Ser amada por você e poder te amar, é como uma benção dada à mim pelos deuses que há muito nos esqueceram... — me aproximo dele e limpo as lágrimas em seu rosto lindo — Você é uma pessoa que sempre cuidou e se importou com os outros antes de si, e eu gostaria que soubesse, que me importo e sempre vou cuidar de você.

Ele segura minha mão em seu rosto, então deixa um beijo em meu pulso. Voltamos a caminhar em um silêncio confortável e com os corações leves. Acho que posso voltar a me preocupar amanhã, por hoje, irei apenas aproveitar o presente com o homem que bagunçou minha vida como um furacão.

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