Capítulo IX: A despedida de Somnia

Cibelle não costumava se arrumar, mas naquele dia queria estar bonita, acordou com a luz do Sol apenas, ajustou as batas, lavou a boca com a água do riacho do Templo de Somnia, pegou algumas amoras e passou nos lábios como se fosse um batom, deu bastante trabalho tirar das mãos o vermelho dos frutos que lhe pintaram naturalmente os finos lábios.

-Bom dia, Cibelle de Physis!-disse Gaelio convidando a moça para se juntar a eles.

Chaos não tardou a chegar, fez rapidamente um rearranjo de ingredientes que tornou-se um delicioso bolo enfeitado de avelãs, todos ali estavam silenciosos, a tristeza parecia ter tomado conta do lugar.

-Foi uma honra tê-la conosco, minha jovem alquimista moderna.-disse Astrid modelando um belo penteado nos cabelos ondulados castanhos de Cibelle, e Gaelio aproveitou para adicionar algumas rosas negras entre as tranças que agora lembraram uma bela tiara, enquanto isso Cibelle observava Chaos todo vermelho, parecia seus próprios lábios pintados com amoras.

-A honra foi toda minha, agradeço por permitirem-me conhecer os primórdios de minha Ciência, embora sir Isaac Newton tenha escondido seu lado alquimista, e seu cãozinho tivesse dado um jeito, bom, espero poder levar um pouco dos alquimistas aos físicos da Era XXI. - disse a bela jovem sorrindo para aquela família tão bela.

O bolo desmanchava em sua boca, o chá de canela com maçã era docinho, um perigo a um diabético desavisado. A menina não queria se despedir daquele sonho que fluía como o mais delicioso livro de Física que poderia ler em uma tarde de domingo, era as Ciências Humanas que também lhe chamava para quebrar-lhe a mais pura linearidade da exatidão, com vários caminhos, mas só um resultado, ali tinha vários caminhos e uma infinita possibilidade de resultados, igualmente exato cada qual a sua Ciência.

-Vamos conhecer a intersecção da matéria dos sistemas complexos enquanto te levo para casa?-disse o belo rapaz estendendo-lhe a mão para acompanhá-la pelas terras de Somnia.

-Ah! Não é o que tem em mente!-disse ele ruborizado olhando para a jovem com olhos arregalados e toda vermelha diante da situação constrangedora.

-Não tenho nada em mente!-disse ela já abraçando a senhora Astrid toda envergonhada perante o ocorrido.

-Foi muito bom tê-la aqui!-disse mais uma vez Astrid.

-Espero que jamais nos esqueça, querida, foi realmente marcante ao nosso povo, é nossa mais pura esperança de salvação!-falou Gaelio abraçando a jovem transbordando os olhos em lágrimas.

...

Já a caminho de casa Cibelle aproveitou para observar ao máximo aquele lugar mágico que parecia ter vindo dos próprios fractais, Chaos observava ela confuso, trazê-la foi tão mais fácil do que deixá-la partir, queria ir da forma mais lenta possível, por isso escolheu longos vales e caminhos distante, com isso foram pela vila, nada melhor do que o povo de Somnia parando para apreciar a escolhida do povo alquimista para o não esquecimento dos pesquisadores que um dia podem ser esquecidos.

-Olá! Obrigada por nos salvar, futura princesa de Somnia!-disse uma bela garotinha, com vestido lilás, flores nos cabelos escorridos entregando-lhe o mais belo buquê de camélias que já tinha visto na vida.

-Não sou a futura princesa de vosso povo, mas obrigada pelo carinho, princesinha!-disse ela educadamente à pequenina.

-Oh! Formaria um belo par com o príncipe Chaos, mesmo assim, agradecemos a vossa amizade!-disse a jovenzinha tristonha e despedindo-se dos dois.

Chaos foi em silêncio absoluto depois daquilo, por onde passavam eram parados por alguém, até que Cibelle já não conseguia levar as flores sozinhas, e coube ao seu companheiro de caminhada abraçar um tanto dos buquês, volta e meia espirrava ou tropeçava em algo cego pelo amontoado de flores, enquanto isso observava encantado o caminhar de Cibelle pela estrada aberta entre gramíneas.

-Chegamos à estação de Bioenergia de Somnia Fluctus!-disse ele despejando as flores de Cibelle em um buraco com roldanas acima, ali tinha-se tubulações, que também estavam conectadas as plantas, e que direcionava-se a uma árvore mágica cujos raízes espalhavam-se em direção ao reino.

Cibelle repetiu o gesto despejando as outras flores em suas mãos, Chaos sorriu desconcertado com sua atitude, então deu início a explicação enquanto caminhavam pelo sistema de Bioenergia rumo à saída do reino.

-Aqui as instalações de metais dúcteis e maleáveis como seu cérebro são conectados às plantas, que fornecem carbono, e por meio de ligações transformam-se na energia primordial da célula de energia, com isso conseguimos colocar no triturador restos orgânicos que são transformados em gases, e por meio de catálise tem sua reação acelerada para transformar-se em energia, o próprio reator consome os excessos de gases ao invés de liberar para a atmosfera, mostrando-se uma máquina termodinâmica constante, conforme aumenta a entropia maior a energia, e assim abastecemos as casas com energia que você chamaria de elétrica.

-Que lindo, Chaos! E o que são os cogumelos iluminados?

-São seres bioluminescentes, por meio da oxidação da luciferase a luciferina faz com que estes tenham luz própria, são apenas enfeites para o local.

Quando se deram conta já estavam na divisa entre Somnia e o bosque da Universidade, Chaos então envolveu sua amada em um longo e aconchegante abraço, era hora de deixá-la partir e seguir sua jornada da vida, assim como ele bem o faria, agora com um pouco mais de aprendizados sobre a humanidade.

Passando para o outro lado Cibelle notou que estava tudo normal, estava realmente no princípio, mas agora para fazer tudo diferente, não sentia ansiedade pela prova, tomou seu café da manhã, falou sobre as aulas com Jordan, e entrou na sala 215 sem medo da prova, estava muito mais leve, e pronta para fazer conteúdos na internet misturando Filosofia, História e Física, assim como interessou-se pelo ciclo de energia das plantas, era seu jeito de perpetuar os Alquimistas. 

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