Capítulo VIII: A caçada


 Chegando ao campo de jogos, Chaos lembrou-se de seus avós, já sentindo-se intimidado, por outro lado Cibelle apresentava um rosto ultra calmo, um olhar curioso e um leve sorriso.

-Eu queria não ter de acordar desse sonho, mas eu realmente preciso partir. - disse a estudante de Física pensando alto.

-Por que precisa partir?-perguntou ele tristonho sem querer dizer adeus à sua amada.

-Eu já devo estar atrasada para alguma aula!-respondeu ela pensativa.

-Não está!-falou ele convicto como sempre.

-Como não?! Tem horas que estou dormindo.-disse ela erguendo as sobrancelhas espantada com as loucuras dele.

-Estamos apenas viajando pelo espaço-tempo, e o tempo é puramente relativo, logo quando voltarmos será no princípio de tudo.-respondeu ele com doçura olhando para o sol que partia distante no céu.

-E o que acontece com você depois disso?-indagou ela olhando para os cabelos castanhos escuros esvoaçantes dele.

-Minha vida continua normal e a sua também!

Astrid e Gaelio olhavam tudo com ternura, não era esperado uma paixão entre dois jovens de mundos e eras tão distintas, no entanto, a chama já estava acesa, e se fosse apagada sobrariam apenas cinzas de monóxido de amor que não pôde ao menos receber um pouco mais de oxigênio para crepitar fortemente em cada lareira interior.

Astrid posicionou-se entre os dois, dizendo: - aqui serão os jogos das Olimpíadas Alquimistas dessa era, com isso terei a oportunidade de apresentar nossa escolhida ao povo.

-Mas como salvarei a memória de vocês?-perguntou a menina já desesperada, pois até aquele momento ainda não tinha entendido nada daquilo.

-Você entenderá tudo minha querida, apenas tenha paciência para observar e refletir sobre tudo à sua volta. - Respondeu Gaelio acendendo todas as tochas da mata e revelando uma enorme plateia voraz.

-Sejam todos bem vindos, povo de Somnia!-disse Astrid abrindo os braços ao povo que os reverenciavam com fervor e devoção.

-Aqui está Cibelle de Physis, a mulher destinada a preservar as nossas memórias para as futuras gerações.-pronunciou Gaelio envolvendo Cibelle em uma luz angelical.

Todos gritavam o nome dela, era desesperador, porém o acalento dos braços de Chaos fazia com que seu coração perdesse a aceleração aos pouquinhos.

-Quer fazer par comigo nessa gincana?-perguntou ele olhando nos olhos dela de modo desafiador.

-Vamos, sim!-disse ela toda desconcertada.

Cibelle sabia que superar tudo aquilo depois poderia ser difícil, talvez já estivesse tornando-se uma física louca como Isaac Newton, um sonho em pessoa, um pesadelo de amor da garota que costumeiramente afirmava que vivia apenas para amar a Ciência, e morrer sem um par romântico, pois todo o seu amor só poderia ser entregue à Ciência e à humanidade, ou talvez seria apenas um castigo ou uma visão dos céus como diria sua amada mãe, que por acaso já sentia falta.

Após o estalo do cedro de Gaelio no chão, raízes surgiram formando um círculo e unindo-se diante de uma esfera com nuvens de elétrons em volta, com um leve toque de sua varinha Astrid fez com que todos os elétrons movem-se em spin diante da esfera, e todos os outros alquimistas partiram em direção a densa, escura e gelada Floresta Negra.

-É o seguinte! Precisamos completar a árvore atômica, a ideia é encontrar elementos ou coisas com eles escondidos.-disse seu o jovem e belo rapaz de olhos agora refletindo a luz lunar todo ofegante e transpirando de tanto correr com ela em suas costas.

-Se pudéssemos pegar a Lua já teríamos sódio, cromo, magnésio, e muitos outros elementos!-disse a moça encantada com a enorme Lua que trazia um pouco da luz refletida do Sol para aquela floresta escura e sombria.

-Ah! Eu não sabia que ela era feita disso, é tão bela quanto você, acreditava eu que ela era algo mágico e com luz própria como a senhorita!-disse ele, despercebido do que falava a ela, apenas contemplando o satélite natural da maior rocha do sistema solar.

-Oh! Ela é uma rocha sem luz própria, por isso precisa da luz solar para refletir a luz em direção a nós.-disse ela segurando algumas gargalhadas, pois seria de tamanha ignorância rir de conhecimentos que em seu tempo foram verdades e base para descobertas futuras.

-Vejo que traz esses conhecimentos do futuro, e mesmo assim não seria eu um homem a frente de seu tempo. Quando andei por suas terras ainda acreditava eu que, as mulheres precisavam dos homens tanto quanto nós precisamos das mulheres, e um precisa do outro para perpetuar a vida, mas devo dizer-lhe que tamanha independência fez com que eu pudesse refletir um pouco mais sobre meus conceitos. - disse ele já todo filósofo.

-Ah! Bom! O ser humano é um animal social!-disse ela fazendo-se de desentendida do assunto.

-Bom! Eu já achei um vidro de Mercúrio entre as raízes do pinheiro enquanto vínhamos de lá para cá!-disse ele retirando de seu bolso um belo vidro de chumbo nas mãos dela, era pesado, no entanto muito pequeno.

Já tinham ali dois elementos, como ainda tinham tempo saíram em busca de outros elementos. Enquanto caminhavam observavam a natureza, as flores brancas, cogumelos bioluminescentes, as estrelas e a gigantesca Lua que parecia a mais bela dama dos corpos do sistema solar.

-Oh! Aqui está uma barra de Ferro!-disse ela erguendo o metal sabe-se lá com quantos Newtons aquela coisa enorme que parecia uma antiga arma.

-Vejo que é poderosa na arte da força, como sempre são as damas destas terras!-falou ele oferecendo-se para levar a arma.

Cibelle já estava um pouco desconfortável com aquela espécie de flerte dos séculos passados, logo resolveu ela mesmo levar a ferramenta ao toque dos trompetes que sinalizavam que deveriam voltar. Ambos ao chegarem depositaram seus achados no núcleo da esfera, que transformou-se em uma grande árvore de fogo, para o qual todo o reino de Somnia dançavam e louvavam ao som de alaúdes, tambores, harpas, e outros instrumentos que davam um toque mágico de alquimia.

-Concede-me essa dança, senhorita Cibelle de Physis, a alquimista dos tempos modernos?-ofereceu-se ele ajoelhando-se com a mão estendida para ela em meio ao povo que não prestava atenção neles.

-Claro, senhor Chaos de Somnia!-respondeu ela dando as suas mãos a ele e entrando na animada dança da bruxaria científica.

-Antes de partir, amanhã gostaria de mostrar-lhe algo que talvez interesse uma pesquisadora da área da Física Ambiental, não sei se estaria disposta a um último passeio por estas terras, claro, se já quiser partir antes do dia pré-determinado está tudo bem.-falou ele deixando as lágrimas rolarem de seus olhos enquanto conduzia ela como um metal dúctil e maleável com leveza ao som da música já mais calma, distante e dando sinais de um final.

A jovem cientista estava encantada por estar com os ancestrais de sua Ciência, ali estava diante da origem do conhecimento, no meio do mito, ou da tentativa de explicar o mundo por meio de dogmas, até que um dia chegamos ao que pode ser refutado, em um lugar que embora tivesse um método dogmático para provar-se uma Ciência, não era de fato uma verdade imutável e absoluta, mas ainda assim era um jeito de chegar mais perto de conhecer o Universo como ele é dentro de suas leis, com seus comportamentos, suas dinâmicas, e sua mecânica a ser desvendada. 

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