The Way It Used to Be

O Parquinho estava praticamente vazio naquele dia.

Lembro-me de estar ali, sozinha em um balanço, esperando-o chegar. Quer dizer, era difícil dar adeus a um colégio que você estudou a vida toda, ou no meu caso... Durante meus doze anos de vida, que era a idade que eu possuía na época.

Recordo-me de estar usando o vestido que minha mãe fizera para mim em sua velha máquina de costura. Era de um verde mar forte, combinando com o laço em minha cabeça. Eu odiava aquele laço. Ficava parecendo uma daquelas bonecas ridículas que as outras meninas gostavam de brincar. Sempre preferi qualquer brinquedo que não fossem bonecas.

Aquele era o dia que eu e meu melhor amigo Dylan nos encontraríamos para brincar.

Aquela era eu. Arrastando as sandálias novas na areia, olhando para os lados, apreensiva.  Acho que sempre fui assim. Expressão indecifrável, às vezes séria e outras desconfiada. Muitas pessoas mudam à medida que crescem, passam a agir diferente do que eram, a odiar coisas que um dia gostavam, deixavam de fazer coisas que um dia fizeram.

Já eu? Bom, acho que eu sempre fui Chloe Madsen, a ruivinha de sardinhas no rosto, de estatura média e personalidade agressiva , fã de blusas largas e dos Boston Road Sox, uma desastrada que tropeçava nos próprios pés. Mal sabia eu  que quando crescesse ia continuar da mesma forma. Porém, quando se é pequena, não existem preocupações. Apenas tristezas passageiras que ocorrem quando não ganhamos aquele presente de natal, sua melhor amiga convida outra garota para a festa do pijama que era uma coisa apenas de vocês duas ou recebemos uma nota baixa no boletim.

Bom, digamos que naquele dia, eu tive minha primeira tristeza profunda.

Eu era uma garota de Liverpool, que estudava em um dos maiores internatos da região. Após a escola ser fechada, meus pais tiveram dificuldade tanto em me recolocar em outro colégio, como em suas vidas. Afinal, nos víamos de apenas seis em seis meses, e agora, em um passe de mágica, estaria ali, ao lado dos dois, todos os dias, daquele dia em diante.

Deve ter sido naquela época que as divergências começaram a aparecer, e Sue e Walter passaram a discutir constantemente. Sim, eu chamo meus pais pelo nome.

Quando quero irritá-los, na maioria das vezes.

Sim, funciona.

"Não sou suas amigas, garota. Me responda direito. " Minha mãe sempre fala isso quando a chamo pelo nome.

E aí você me pergunta:
Chloe, o que quer nos contar? Por que voltar tão no começo? Bom, meus queridos leitores, isso é algo que vocês verão.

Como estava dizendo, lá estava eu, no parquinho, esperando meu melhor amigo Dyl chegar. Pra ser sincera, ele não era meu melhor amigo, mas sim meu único amigo.

Pelo meu comportamento explosivo, já é de se imaginar que não sou a pessoa mais fácil de fazer amigos, principalmente tendo como assustar os outros meu super talento. Eu não achava que existisse alguém, além dos meus pais, que me aguentaria por mais de cinco minutos.

Bom, até ele aparecer.

Foi nesse mesmo parque que, em um dia quente de verão, conheci Dylan Turner. Um garoto não muito alto, com uma franja no cabelo que cobria-lhe os olhos, dotados de um verde hipnotizante. Suas roupas de marca e os tênis que brilhavam a cada passo que ele dava fazia qualquer um reparar nele assim que chegava. ( Qual é, vai me dizer que não gosta? Toda criança achava aqueles tênis um máximo.)

– Hey ruivinha, esse balanço é meu.

Eu estava quieta no meu canto, quando um menino com uma blusa de caveira se aproximou de mim, com seus dois fiéis amigos, idi e ota.

– Jura? Não vi seu nome nele. – Minha resposta serviu apenas para deixá-lo com mais raiva. Ele se aproximou a passos furiosos de mim.

– Eu não achei graça.

Acreditem quando digo a vocês, eu  lato, mas não mordo. Minha língua poderia ser afiada, mas aquele neandertal tinha o dobro do meu tamanho.

Mesmo com a diferença de força, não queria dar o braço a torcer e permaneci ali, esperando para ser espancada pelo valentão do parquinho.

– Não sabe que é errado bater em meninas? – Uma voz estranha pra mim até então fez meus olhos se abrirem e procurarem de onde vinha.

E adivinhem meu susto? Lá estava ele, o menino estranho que ninguém se aproximava por parecer legal demais para qualquer um de nós. Ele pisou duro na areia, mostrando não ter medo do grandalhão. Seus tênis acenderam quando cravou os pés de forma mais segura.

– Que erro o meu! É mesmo! – Ele respondeu ironicamente. – Mas não seja por isso, acabei de encontrar meu novo saco de pancadas.

O meu suposto herói não se moveu, continuou parado onde estava. Quando já podia ver o punho do grandalhão tocar sua face, ele levantou uma bombinha de asma e disparou com tudo nos olhos dele, o fazendo cair para trás, com as mãos nos olhos.

– Seu mal! – As lágrimas saíram dos olhos de meu agressor. – Eu vou contar pra minha mamãe! – Ele ameaçou, correndo para longe de nós, junto com sua dupla de amigos inúteis.

Eu tive de rir, e ele me acompanhou.

– Obrigada. – Agradeci, meio tímida. Não lembrava a última vez que havia falado isso a alguém.

- De nada. - Ele riu, girando sua bombinha de asma nos dedos e prendendo na alça do cinto. - Quanto maior o tamanho, maior a queda. Como meu mano Devon sempre diz.

- Estou te devendo uma... Não gosto de dever nada a ninguém. - Cruzei os braços. - Então vai logo falando como posso te recompensar.

Ele colocou as mãos no queixo, pensativo. Me distraí com as luzes de seu tênis, pensando seriamente se deveria ou não comprar um pra mim.

- Já sei! - Ele ergueu o dedo indicador. - Que tal me empurrar no balanço?

Eu dei de ombros.

- Tá bem.

Depois daquela tarde, Dylan e eu passamos a nos reencontrar quase todos os dias, e não demorou a criarmos uma amizade forte. Mesmo em dias que anteriormente não ia ao parque, passei a ir, apenas para encontrar aquele garoto novamente.

Exatamente como estava fazendo naquele dia, 6 anos depois de conhecê-lo, já com 12 anos de idade.

Já estava para ir embora, quando o avistei finalmente correndo em minha direção. O sorriso no rosto e a velha bombinha de asma no bolso. Sim, Dylan tinha asma, um dos piores casos. Por ter a saúde fraca, quase sempre, passava metade do seu ano em casa e o outra no hospital. Isso não o impedia de vir até aqui e brincar comigo, nem que fosse de banco imobiliário para não fazer esforço físico.

– Que demora Dyl! Achei que não viria mais. – Sim, eu sempre fui sincera. Não conseguem ver?Isso foi o que sempre achei fofo em mim.

– Me desculpe Chloe, tive alguns problemas hoje. Devon teve de levar Lyn a algum lugar e acabei me atrasando, foi mal, hehe. – Dyl se justificou, assanhando seus cabelos negros.

Até então, eu não sabia o que era aquilo que sentia, mas de uns tempos para cá, ou melhor para aquele tempo, eu não via mais Dylan como antes. Seu sorriso me prendia, assim como seus olhos verdes que realçavam contra a luz. Acho que esse era um dom dos Turner, prender você em um estado quase hipnótico se fitar aqueles olhos verdes por muito tempo.

A questão é, naquela época, eu não sabia. Não sabia o que era amor ou como seria se apaixonar. E sim, a vida é bem mais simples quando não sabemos.

– Então, do que vamos brincar hoje? Pode me empurrar no balanço? – Dyl esfregou seus tênis na areia, como fazia quando estava nervoso.

– Na verdade, Chloe... Eu queria falar com você sobre uma coisa.

Se as reações que temos perto daquele alguém especial são inexplicáveis para adultos, imagina para uma menina de 12 anos. Meu rosto ruborizou levemente e minhas mãos tremeram. Lembro de meu primeiro pensamento ser: Será que estou resfriada?

– J-jura? O que é?

Dylan apontou o balanço com o queixo, fazendo sinal para que me sentasse. Ele se sentou ao meu lado, tirando uma barra de chocolate do bolso e me oferecendo um pedaço. Que criança recusa doces, não é mesmo?

– Bom, Chloe, eu queria dizer que não posso brincar com você hoje, desculpe.

Eu engoli o pedaço de chocolate que mastigava.

– Sério? Tudo bem, podemos brincar amanhã.

Ele fez outra pausa.

– Não posso amanhã também.

Eu estranhei aquela resposta. Se tinha alguém mais a toa do que eu nessa vida, essa pessoa era Dylan Jacob Turner.

– Olha, meu irmão voltou recentemente e, agora que ele terminou a faculdade, ele vai se casar com a Lyn, e vai trabalhar na filial dos Turner... Na Austrália.

Eu fiz que não com a cabeça, tentando segurar as lágrimas.

– Dyl, por favor que não seja o que eu estou pensando...

Ele coçou a garganta e ,mais uma vez, tentou me deixar em estado de transe com suas orbes verdes.

– Eu vou com meu irmão. Vou morar na Austrália.

Foi naquele momento, meus amigos, que meu mundo ruiu. É, mal a garota descobre que gosta de um garoto e já leva um fora. Bem, pessoal, essa é a vida de Chloe Madsen, uma eterna trollagem do destino.

Eu não sabia o que responder a ele. Queria chorar, gritar, espernear, mas também abraçá-lo e implorar para que ele não fosse embora. Foi quando escutei uma buzina insistente do outro lado da rua, e vi o Porsche prata parado na esquina.

– Eu tenho que ir, agora. Se cuida, tá Chloe? – Ele me abraçou, sem pedir permissão. Queria gritar para que ele se afastasse, mas tudo que consegui fazer foi retribuir da mesma forma, com toda a minha saudade, que já estava sentindo.

Eu o vi se distanciar e entrar no banco de trás daquele carro, com seu irmão ao volante e sua futura cunhada atrás, falando ao telefone, enquanto eu ainda segurava a barra de chocolate que ele me dera.

Aquela foi a última vez que eu vira Dylan Turner.

E aqui estou eu, seis anos depois, lembrando disso. Por quê? A resposta é simples, minha amiga leitora, meu amigo leitor. Eu sempre quis ser a protagonista da minha própria história, e parece que a hora finalmente chegou.

Essa é a minha história.

Ao contrário do que pensei, aquele não era o fim de minha história com Dylan Turner, mas sim, apenas o começo.

Um chato pode chegar e dizer que vou contar um clichê.

Talvez.

Ou eu posso contar algo diferente, já que eu sempre gostei de quebrar expectativas.

Se você não gosta de situações vergonhosas, romances impossíveis, enrrascadas clássicas, brigas insanas e mistérios sem fim, pode parar de ler agora.

Mas se, por algum acaso, for maluco o suficiente e decidir continuar, eu só peço uma coisa.

Depois, não diga que eu não avisei.

Bem vindos ao inferno, ou pior, à vida de Chloe Agatha Madsen.

À minha vida.

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