Love to the Next
Oi pessoas!
Gente, eu vim aqui encarecidamente me desculpar com vocês pela demora, mas eu estou estudando demais e o tempo pra escrever tá bem curto mesmo, então, de ante mão, já vou pedindo perdão também pelo tamanho do capítulo e pela recente falta de correção, mas é que eu não tenho tempo mesmo.
Mais uma vez queria agradecer a todos que me acompanham. Olhei o alcance da história e Someone To Save You não é lida apenas no Brasil, não! Leitores em Angola, Portugal e muitos outros países de língua portuguesa, gente, muito obrigado mesmo! (Estrangeirinhos que leem, deem um alô).
Também gostaria de avisar que até o capítulo 20, não teremos mais capítulos narrados por Dylan nem Chloe. Isso mesmo galera! Este capítulo o 17, e os próximos, dezoito e dezenove serão narrados por outros personagens.
Cada personagem secundário vai narrar um capítulo, para assim termos uma visão mais legal, certo? E hoje, temos STSY do ponto de vista do loirinho mais amado, Nathan Roberts! Dois já foram falta quatro.
(x) Alyssa
(x) Nathan
( ) Harriet
( ) Kimberly
( ) Josh
( ) Griffin
Isso mesmo galera, esses personagens ainda vão narrar sim <3
Mas a novidade não acaba por aí. Me diz, já pensou quem você seria em Someone To Save You? Se você tem a coragem e persistência da Chloe? Prepotência do Griffin? Personalidade da Alyssa ou doçura do Nathan? Vou deixar nos comentários o link do teste de QUEM VOCÊ SERIA EM SOMEONE TO SAVE YOU. Mandem as respostas depois, quero muito saber quem vocês tiraram <3
Ufa, falei muito, em? Mas vamos ao que interessa!
Na capa? Nathan e Alyssa
Love to the Next*Amor ao próximo
Boa leitura e até mais!
Quando o policial abriu a porta da cela uma hora depois de eu a ter adentrado, senti um alívio imenso me tomar.
Caminhei em silêncio até a saída, sem me dar ao trabalho de encarar os outros presentes. Homens grandes, musculosos, tatuados e mal encarados. Sentia seus olhares queimando sobre mim, assim como sua inveja por querer estar em meu lugar, ter sua fiança paga e poder sair como se nada tivesse acontecido em liberdade. Bom, nem todos tinham a sorte de ser o melhor amigo e assistente de o herdeiro de uma corporação milionária.
Já eu? Sempre fui um cara que pensa muito antes de qualquer decisão. Afinal, a vida não tem um botão de "reset", para que possamos deletar nossos erros de nossas vidas. Todavia, mesmo fazendo o máximo para acertar, algumas vezes era impossível.
Quando cheguei de volta até a parte da frente da delegacia, Dylan estava sentado no banco, encarando o chão. Lyn estava de frente para o delegado, dando um aperto forte em sua mão agradecendo sua atenção. No instante que seu olhar se cruzou com o meu, soube que iria ouvir muito dela, embora tivesse certeza de que a história de que eu dirigia o carro, essa não havia colado muito bem com ela.
Eu e Dylan seguimos Lyn em silêncio. A esposa de Devon parecia ter dispensado o motorista e havia dirigido ela mesma até ali, abrindo o banco do motorista e ajeitando o retrovisor assim que entrara. Dylan foi ao seu lado no banco do carona e eu me dirigi ao banco de trás.
Bastou o carro dar a partida e Lyn desabafou:
– É bom que os dois tenham uma ótima explicação para terem me feito deixar meu marido e minha filha em casa para tirá-los da cadeia. – Ela ameaçou, de forma ameaçadora.
Lyn sempre encobrira as coisas que Dylan fazia. Coisa que o irmão dele nunca fez. Suspeito ser por isso que a loira era a primeira opção a ser cogitada quando ele se metia em encrencas.
– O carro já está na oficina. Aluguei um idêntico para que Devon não suspeite. Sorte sua ele nunca ter decorado a placa, Dylan. – Lyn avisou, encobrindo tudo como sempre fez. – E você, Nathan? Eu esperava que pelo menos você não estivesse envolvido nisso também.
Meu olhar se encontrou com o de Dylan pelo retrovisor. Lyn não sonhava de meu envolvimento com Phoebe e era melhor que continuasse assim.
– A Phoebe descobriu, Lyn. – Dylan disse de repente. – Ela sabe sobre o Charlie.
O carro freou bruscamente e se não fosse pelo cinto de segurança, eu teria sido jogado de encontro ao parabrisa.
Os olhos de Lyn encontraram os de Dylan, surpresos e assustados.
– Como ela soube disso? – A esposa de Devon mordeu o labio inferior. Senti meu coração bater tão forte de nervosismo que parecia estar quase saindo pela minha boca.
– Não sei, mas ela sabe. Lyn, não existe fiança pra isso. Estou nas mãos dela, no momento que ela quiser, eu posso... – Dylan estava a beira do pãnico.
– Não. Isso não vai acontecer. – Lyn socou o volante. – Pensei ter me livrado de qualquer indício disso em Milão.
– O Devon... – Tentei falar, mas Lyn me interrompeu.
– Não sabe. E não irá saber. Se ele perguntar, fui pegá-los na festa por não estarem em condições de dirigir, estão me entendendo? – Eu e Dylan assentimos. – Deixem isso comigo.
– Como pode ser tão fria em relação a isso? – Eu quis saber. -- Você sabe o que eu e Dylan fizemos e mesmo assim, não fica chocada ou impressionada. Como consegue?
– Digamos que lidei com coisas bem mais graves na adolescência. – Lyn respondeu. – Seu irmão até mais do que eu. – Ela confessou, olhando para Dylan.
O sinal ficou verde e o carro seguiu seu caminho, e nenhum de nós ousou proferir mais nenhuma palavra.
***
As coisas não foram muito melhores no dia seguinte.
Quando o sinal tocou, fechei meu armário com o livro de álgebra em mãos. Aquele era o dia da prova surpresa do senhor Enoch e por ter passado metade da madrugada na cadeia não havia absorvido mais do que oitenta por cento da matéria.
Pra alguns, isso parecia suficiente.
Para mim, significava vinte por cento de chance de falha.
Cruzei com Chloe no caminho da sala, e percebi o quanto ela parecia distante. Harriet chegou conversando animadamente e a ruiva parecia não ouvir uma palavra se quer, imersa nos próprios pensamentos.
– Está me ouvindo, Chlô? – Harriet indagou para a amiga, que estava encostada nos armários abraçando seus livros e cadernos.
– Ah, não, desculpe. – Ela sorriu da forma linda que sempre fazia. – Estou meio distraída, apenas isso.
Dylan passou por ali um instante depois, com Kimberly agarrada ao seu braço como uma tatuagem de chiclete. Ela tagarelava como sempre e fazia questão de falar bem alto para que todos percebessem a presença dela ali, ao lado de Dylan. Porém, Dyl não parecia estar interessado em Kimberly, principalmente quando ele e Chloe trocaram um olhar intenso, e não pude deixar de ficar triste.
Dylan Turner ficava com a garota. Nathan Roberts com a roupa de cama pra levar na lavanderia. Sempre havia sido assim, mas dessa vez, eu estava decidido a me impor.
Chloe havia me encantado como nenhuma garota antes havia e se Dylan achava que ia entregá-la de mão beijada, ele estava muito enganado.
Amigos, Amigos, Chloe à parte.
A decepção de quando Dylan e Kimberly viraram o corredor foi perceptível no olhar de Chloe. Harriet parou de falar por um instante e seguiu o olhar da amiga, parecendo deduzir a mesma coisa que eu, e para diminuir a tensão, voltou a falar sobre vídeos hilários de elefantes arrotando na Internet.
Quando o exame começou, o tique-taque insistente do relógio em cima do quadro branco me desconcentrava de uma maneira que nunca havia acontecido antes. Era como se uma batalha acontecesse dentro de mim, entre a parte que queria lutar para conquistar Chloe e a que ainda queria se abdicar de sua vontade para agradar Dylan.
Foram quase 30 minutos em que olhava fundo para o papel, passando o olho por cima das expressões matemáticas e não vendo a solução de cara, como era comum ocorrer. Dando uma olhada ao redor, via Harriet mordendo o lápis, Chloe de pernas cruzadas balançando levemente o pé e Griffin na última cadeira da fileira, marcando algum item e dando um bocejo.
Resolvi pular a questão um. O mesmo ocorreu com a segunda. E a terceira. Minha mente não raciocinava e senti um ódio absurdo de mim mesmo. Rabiscava o papel com tanta força que a ponta do lápis acabou se quebrando.
– QUE DROGA! – Gritei com raiva de mim mesmo, e toda a sala de prova se virou para me olhar.
– Senhor Roberts. – O Senhor Enoch me chamou a atenção. – Isso é um teste. Fique em silêncio. – O professor pediu e baixei a cabeça com vergonha. – Classe, quinze minutos para o fim do teste.
Senti algo atingir minha cabeça e cair no chão. Era uma bola de papel amassada. Olhei para o fundão e Griffin ria de mim com seus amigos, fazendo o símbolo de otário e me imitando em sinal de deboche.
O toque veio quase que instantaneamente. Todos os alunos fecharam a prova e levantaram para entregar, menos eu, que fiquei ali, completamente chocado em ver meu papel sem uma mísera questão respondida.
– Senhor Roberts, seu teste. – O Senhor Enoch pediu da forma fria e educada de sempre.
– Senhor Enoch, eu gostaria de um pouco de mais tempo se poss...
– O tempo acabou, senhor Roberts. – Ele ergueu a mão em minha direção. – O teste.
Meio encanado, entreguei o teste a ele e pus minha mochila nos ombros, saindo o mais rápido que pude dali, ignorando completamente Harriet me chamando e o olhar preocupado de Chloe.
Parei diante do meu armário e dei um soco ali com toda a minha força, sentindo raiva de mim mesmo.
– Você está bem? – Alyssa cruzava o corredor e me viu ali, com a mão em punho, no instante que havia acabado de socar meu armário. Eu a ignorei. – Nathan?
– Me deixa em paz. – Respondi de forma ríspida, saindo a procura de um lugar onde pudesse ficar sozinho e ninguém me encontrasse.
Fui até o pátio vazio pelo horário. Joguei minha mochila na grama e me sentei abaixo de um carvalho. Muitas coisas cruzavam minha cabeça. Preocupações, deveres, amores e incertezas. Eu sempre soube que teria de lutar por Chloe, mas não sabia que seria contra meu melhor amigo.
Uma folha caiu em minha cabeça. Uma ventania forte fez meus cabelos assanharem e um esquilo desceu de um pinheiro próximo, aflito com sua noz que havia caído, correndo para pegá-la e logo voltando para cima.
Foi quando vi um garoto deixando a escola no horário de aula, caminhando a passos rápidos. Ele estava com as duas mãos dentro dos bolsos do casaco, e correu para atravessar a rua quando o semáforo se fechou e os veículos deram passagem aos pedestres.
Eu conhecia aquele casaco. Era o que havia dado a Josh de aniversário.
Passei a seguí-lo em meio as ruas movimentadas de Sydney. Josh estava se dirigindo ao lado oposto em que ficava a casa de seus tios, e a cada estação que o metrô cruzava, sentia estarmos mais longe do centro e mais próximo do subúrbio da cidade.
E acredite, o subúrbio de Sydney não era nem um pouco agradável.
Quando finalmente Josh desceu na última parada, senti estar a quilômetros da área que eu realmente sabia por onde andar. Era estranho. Jamais imaginei que Josh frequentasse aqueles bairros.
À medida que o seguia atravessando ruas e calçadas, via todos em volta me encarando de forma mal encarada. Passei por algumas casas com a tinta desgastada e por alguns moradores de ruas que dormiam em pedaços de papelão pela calçada. Um cheiro de fumaça invadiu minhas narinas e vi um grupo de homens grandes fumando maconha, em volta de uma lixeira que pegava fogo. O grupo bebia cerveja às nove da manhã e não parecia nem um pouco receoso quanto a isso. Um deles bateu na bunda de uma mulher que passava e os outros riram, parecendo animais.
Senti um calafrio ao avistar aqueles homens de longe e me reprimi por dentro por ter tido aquela ideia de seguir os outros no momento quando Josh atravessou a rua e caminhou na direção do maior deles.
Ele parecia ter quase dois metros de altura, tinha a pele morena e uma barba mal feita. Usava uma blusa rasgada de caveira e calças tão apertadas que jurava que ele tinha a circulação presa. Um piercing atravessava a pela de seu nariz, assim como outro em sua sobrancelha.
Quando ele viu Josh se aproximar, retirou o cigarro da boca e deixou a fumaça escapar, a vendo se fundir ao ar fresco, esvaindo a nicotina em uma nuvem negra.
– Joshua, é bom vê-lo. – Ele falou. Acabei disfarçando a minha presença sentando em um banco e pondo um jornal na frente do rosto.
– Vladimir. – Josh falou.
– Sem rodeios, garoto. Está com o dinheiro? – Vladimir cuspiu no chão de forma mal educada. – O chefe odeia caloteiros.
Josh deu um passo para trás e ergueu as mãos em sinal de rendição.
– Eu não consegui tudo, preciso de mais tempo. – Ele retirou um tufo de notas de cem do bolso. – 600 pratas. Foi tudo que consegui.
Vladimir abriu um sorriso maléfico.
– Isso não é nem a metade da dívida dela, seu pirralho. – O marginal arrancou o dinheiro das mãos de Josh. – Quero a minha grana, entendeu?
– Eu... preciso de mais tempo, posso conseguir tudo. – Vladimir estalou os dedos e seus amigos brutamontes se aproximaram de Josh. – Mais uma semana, é tudo que eu peço.
Vladimir deu uma risada nasal, e puxou a gola da camisa de Josh, praticamente o erguendo do chão.
– Acontece, que você não dá as ordens por aqui, seu merda.
Um dos comparsas de Vladimir deu um soco certeiro na barriga de Josh que cambaleou para trás no instante que foi posto de volta no chão.
Outro deu um soco certeiro em sua mandíbula, e mais atrás, um deu um chute forte em suas costas. Vladimir puxou Josh pela gola de sua camisa e socou seu rosto.
– Vai aprender a não mexer comigo e o chefe. – Todos passaram a dar pontapés e chutes em Josh. Eu não poderia ficar parado ali. Precisava fazer alguma coisa.
Precisava distraí-los.
– EI! VLADIMIR! – Gritei para chamar a atenção da gangue. – A SUA MÃE É TÃO BURRA QUE ELA ROUBOU UMA AMOSTRA GRÁTIS! – Insultar as mães. Dylan dizia que sempre funcionava.
E é, adivinha quem estava correndo atrás de mim?
Quando o assunto era perturbar alguém até que enlouquecesse, acredite em mim, Dylan Turner era um especialista.
– VOCÊ TÁ MORTO, LOIRINHO. – Ouvi ele gritar em meu encalço. Olhei para Josh ainda apanhando dos marginais. Não havia adiantado nada.
Corri por um beco estreito até ter vista para a escada de incêndio de um prédio velho. Comecei a escalar sem medo e gritei dali de cima:
– A sua mãe é tão feia que quando ela nasceu, a mãe dela falou "Que tesouro!" e o pai dela disse "É, vamos enterrá-lo." ! – Vi seu rosto ficar vermelho de raiva. Corri pelo terraço do prédio para tentar descer pelo outro lado. Peguei meu celular e disquei o número de um policial que eu podia confiar.
– Agente Harris, quem fala?
– Vince, é o Nathan! – Respondi. – Preciso da sua ajuda!
– Tudo bem, se acalma, Nathan. Onde você está? – Ouvi sua voz do outro lado da linha, preocupada.
– Subúrbio, perto de Sydney Harbour. Vem logo por favor. – Pedi, deduzindo que ele ia rastrear minha ligação.
Tremi quando vi que Vladimir havia subido até aqui e estava vindo em minha direção. Olhei ao meu redor. Eu estava cercado.
– Você canta demais, passarinho. – Ele blefou. – Será que se eu te jogar daqui você voa?
Meu olhar se dirigiu para calçada. Os comparsas de Vladimir haviam sumido, deixando apenas um Josh inconsciente e um rastro de sangue pela calçada. Seus amigos bobões surgiram atrás dele e tinha a sensação de que eu era o próximo.
Senti que não podia exigir mais nada do meu anjo da guarda quando sirenes de polícia começaram a soar a toda potência, ficando cada vez mais altas. Vladimir olhou assustado para baixo e ao ver as viaturas, desceu correndo.
Suspirei aliviado. Esperei perdê-los de vista para finalmente descer, vendo Vince encostado na porta do carro de polícia com as mãos nos bolsos da calça preta.
– Pode me explicar o que está fazendo na maior área de tráfico da cidade, Nathan?
– É uma longa história, depois conto. - Respondi. - mas agora o Josh precisa de ajuda.
Vince me seguiu rua abaixo até o avistarmos ali, inconsciente e ferido. Vince checou sua pulsação.
– Ele perdeu muito sangue, precisamos levá-lo ao hospital. – O Agente Harris avisou e fiquei preocupado. – Vou ligar para a família dele.
– Não, Vince. Se ligarmos para os tios de Josh, vamos ter que explicar o que ele estava fazendo aqui. – Expliquei, torcendo para que ele entendesse. – E acho que ele não quer que ninguém saiba. Por favor.
Vincent suspirou.
– Está bem, mas se ele piorar, vou ter que chamar os responsáveis.
Respirei aliviado. Tinha me dado bem.
Embora Josh não tivesse tido a mesma sorte.
***
Você sabia quando havia chegado ao fundo do poço quando percebia não ser a primeira vez que estava naquela situação. Eu estava na mesma sala de espera, no mesmo andar, até mesmo na mesma cadeira. Esfregava minhas mãos em minha calça jeans, sentindo uma eletrização por atrito leve em meus dedos.
Não fazia muito tempo em que estive ali, vendo Dylan entre a vida e a morte em talvez uma das piores crises de asma que já o vi passar. Agora, Josh era o sortudo a passar por essa experiência.
Vince me trouxe uma xícara de café quente e senti o líquido aquecer meus dedos frios. Como a vida de alguém pode virar de cabeça pra baixo em tão poucos dias?
– Ele vai ficar bem. Josh parece ser um garoto forte. – Eu forcei um sorriso a ele, e fiz que sim com a cabeça.
– Claro que vai, não estou nem um pouco preocupado com isso. – Menti. Eu estava preocupado.
Pedi licença a Vince e fui até a área comum do hospital, discando o número de Harriet, que rapidamente atendeu.
– Alô, Harriet? – A ouvi responder. – É o That. É melhor você vir para o hospital, urgente.
Não tive tempo de prolongar mais a conversa. Ela já havia desligado e sentia que já estava vindo correndo para cá.
Cansado de ficar sentado e esperar, resolvi caminhar pelos corredores do hospital. Vi algumas pessoas esperando para ser atendidas na emergência e uma garotinha de cabeça raspada, recém saída da quimioterapia.
Eu não tinha estômago para aquele lugar cheio de tristezas.
Duas enfermeiras estavam no balcão, liderando as outras e as distribuindo de acordo com as necessidades dos pacientes. Encostei-me na parede ao lado da cafeteira expressa e vi dois médicos conversando animadamente, com seus jalecos ainda dobrados e em seus braços.
– Oi, Margô, desculpe o atraso. – Uma voz conhecida invadiu meus tímpanos. Pisquei duas vezes para ver se minha visão e audição não me enganavam.
A enfermeira com um estetoscópio no pescoço sorriu pra ela.
– Olá, Alyssa. Muita coisa na escola? – Ela quis saber.
Alyssa Anderson deu um suspiro cansado.
– Mais ou menos isso. O que temos hoje? Como estão meus amigos? Hank? Diane? – A outra enfermeira trouxe um jaleco branco para Alyssa, com o nome "enfermeira voluntária" gravado em azul.
– Estão muito melhores. Você é a única de quem Hank se lembra, e isso é bom, levando em consideração o estado avançado da Alzheimer. – Margô respondeu. – Pode levar o jantar do paciente do quarto 56?
– Claro. – Ela sorriu, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo, puxando um carrinho com comida e sumindo no corredor.
Eu não podia acreditar. Então, era isso que Alyssa fazia todas as quintas a tarde? Lembrei das inúmeras vezes que Kimberly reclamara de a Anderson tê-la abandonado para fazer outra coisa, jamais pensei que ela fosse do tipo caridosa.
Senti-me mal. Além de não tê-la agradecido por cuidar de mim na noite em que fiquei bêbado, também a tratei mal hoje na escola. Alyssa era uma boa garota, no final das contas.
Sem muito o que fazer, caminhei até o balcão onde a enfermeira Margô escrevia em uma prancheta.
– Boa tarde. – Ela me desejou, simpaticamente. – Em que posso ajudá-lo?
– Boa tarde. – Respondi educadamente. – Queria saber, o que tenho que fazer para entrar como enfermeiro voluntário?
***
– Aqui está, senhora Longbottom. – Entreguei o remédio a uma simpática idosa, que estava presa a diversas máquinas.
Aquela foi a última da tarde. Havia avisado a Vince que começaria naquele mesmo dia e que ele me avisasse caso houvesse alguma novidade sobre Josh. Eu estava adorando o trabalho. Era bom fazer algo pelo outro uma vez na vida.
– Senhorita Long... – Alyssa parou instantaneamente ao me ver ali no quarto, deixando a bandeja com os remédios da senhora caírem no chão.
– Oi, Alyssa. – Acenei.
– Nathan? O que faz aqui?
Ajudei-a a recolher os comprimidos que haviam caído e pus ao lado da cama da paciente, fazendo sinal para Alyssa me seguir para que conversássemos no corredor. Assim era melhor para que a senhora Longbottom descansasse.
Assim que chegamos ao corredor, ela cruzou os braços e abriu um sorriso compreensivo.
– O que você faz aqui? – Ela perguntou.
– O Josh. Ele sofreu um acidente. – Alyssa arregalou os olhos. – Mas calma, ele vai ficar bem. – Ela suspirou, aliviada. – Aí eu te vi, com essa roupa de enfermeira. – Alyssa corou? – Não imaginava que Alyssa Anderson uma das top 5 da Vermont fazia caridade.
– Eu não sou uma patricinha cabeça de vento, como você pensa, bonitinho. Sou uma patricinha de coração. – Acabei rindo. Ela riu também. – Mas ainda é recente. Depois do que aconteceu com o Dylan, eu percebi o quanto tudo é efêmero, sabe? – Ela encarou o chão. – Então, senti que devia fazer algo por aqueles que precisavam, sem atrapalhar como eu sempre faço.
– Isso é muito legal, mesmo. – Pus as minhas mãos no bolso.
– Nathan, Alyssa! – A enfermeira Margô passava pelo corredor. – Hora da pausa de vocês, dez minutos e depois voltando ao trabalho.
Nós dois assentimos.
– Olha, eu não posso comer muita besteira, mas que vontade de comer um hambúrguer! – Alyssa falou, manhosa.
– Qual é, uma vez na vida não deve fazer mal.
– É, mas comer na cantina do hospital? Eca. – Bufou.
– Bom... Tem uma lanchonete aqui perto. Se quiser experimentar. – Propus.
– Eu não deveria, mas... – Alyssa olhou para os lados. – Vamos logo, por favor. Preciso comer comida não saudável.
Mesmo correndo contra o tempo, levei Alyssa até uma lanchonete próxima. Começamos a conversar e por incrível que parecesse, não estava sendo uma tortura. Dividimos uma batata frita enquanto esperávamos nossos pedidos.
– Minha nossa, se a Kimberly me visse comendo isso... – Ela comentou, pondo ketchup nas batatas.
– Sério mesmo? Até o que você come ela controla? Você não se cansa disso? – Perguntei a ela, mas também para mim.
– Não sei... Acho que é quase uma dívida, sabe? – Ela fitou a batata em sua mão, quase que velejando em suas lembranças. – Kimberly foi a primeira garota a falar comigo. Lembro que as outras meninas riam de mim, pelo meu aparelho que usava para corrigir meu defeito na coluna.
– Jura? A Kimberly? Foi mal, mas não acredito que estamos falando da mesma pessoa. – Confessei, limpando minha boca com um guardanapo.
– Pois, acredite. – Ela tomou um gole de seu refrigerante. – Kimberly era um doce, mas do nada, ela mudou.
Eu não queria admitir, mas estava curioso para saber essa história.
– A gente estava na oitava série, e pra lá do mês de julho, a Kimberly começou a receber bilhetes de um admirador secreto. Foi o nosso assunto por meses. Quem era o menino doce que escrevia palavras tão lindas pra ela. Só que aí, chegou o dia em que a Kim disse ter descoberto a identidade dele. Eu estava matando para descobrir e ela disse que me falaria no momento certo. – Alyssa deu de ombros. – Mas acontece que o momento nunca chegou. Na semana seguinte, uma Kimberly totalmente diferente apareceu na escola. Cabelo diferente, roupa diferente. Não acreditava que uma pessoa pudesse mudar tanto em um espaço de tempo tão curto. Ela virou outro alguém.
– E mesmo assim ainda quis continuar ao lado dela?
– Kimberly é minha melhor amiga, e as pessoas mudam, Nathan. Ela teve seus motivos, e eu sei disso, e em respeito a pessoa que ela era, eu ainda fico. Sinto que se eu me for, a antiga Kimberly também vai, entende? Sou a última coisa que ainda resta da antiga Kimberly, uma garota que ela salvou de si mesma.
Eu compreendia cada palavra. Quantas vezes Dylan havia mudado e eu fui obrigado a aceitar e permanecer ali? Acho que esse era o ponto da amizade. Mesmo quando imensas barreiras são criadas, é nosso dever derrubá-las, para preservar essa fortaleza ainda maior que construímos.
– Alyssa. – Chamei-a. – Eu queria agradecer. Você me ajudou aquele dia quando eu estava mal, e eu por raiva do Dylan, de mim, do mundo, nem ao menos agradeci. Obrigado.
Ela abriu um sorriso.
– Eu que te devo desculpas, por ter aceitado a chantagem emocional da Kimberly. Sinto muito pelo seu emprego em Bondi Beach. – Alyssa se desculpou.
– Acho que agora ambos estamos quites, agora.
– Mas meu senso de comédia precisa falar. Cueca de florzinha? Sério mesmo? – Quase cuspi meu refrigerante.
Eu estava bêbado. Alyssa tinha me dado um banho.
– Se contar para alguém, eu nego. – Respondi fazendo uma careta séria e os dois rimos logo depois.
Após uma conversa reconfortante, tivemos que voltar ao hospital. Eu e Alyssa passamos a trabalhar juntos, e todas as tarefas acabaram sendo feitas mais rapidamente. Conheci Hank, o idoso internado com Alzheimer, e percebi o quanto ele gostava de colorir cadernos de desenho. Margô de vez em quando aparecia nas portas dos quartos, observando nosso trabalho, dando um meio sorriso de satisfação. Bom, uma satisfação que não era maior do que a que eu estava sentindo.
– Muito bom trabalho, hoje, Alyssa. – Ela elogiou a loira, que retirou o jaleco. – E você garoto, também foi de grande ajuda. Queria saber, não quer se tornar um enfermeiro voluntário fixo?
Eu olhei para Hank em sua cadeira, colorindo o desenho de uma flor sem deixar as margens. Ao terminar, ele sorriu para mim e me ajoelhei de frente a ele.
– Muito bom, Hank. Na próxima, trago outro caderno de desenho e você pinta todinho, que tal?
Alyssa fez o mesmo.
– Aí depois me dá de presente. Ainda tenho aquele quadro que você pintou.
O idoso assentiu, sem poder falar pela máscara de oxigênio. Ele segurou na minha mão e na de Alyssa e as apertou.
– E então, Nathan? – Margô quis saber.
Olhei de Hank para Alyssa, que me pareceu linda sorrindo de forma tão sincera para aquele senhor.
– Eu vou adorar.
Acho que esse era meu maior problema. Não importa as caridades que fiz na vida, todas de algum modo, respingavam em mim. Fazia tudo aquilo, ajudava Dylan, tirava boas notas, mandava dinheiro para meus pais em Nashville, porque aquilo me beneficiava.
Ali, naquele hospital, junto de Alyssa, eu estava ajudando o outro, e essa, sem sombra de dúvidas, é a melhor sensação que pode existir. Um sentimento muito mais gratificante do quê buscar apenas o seu benefício sem olhar ao outro.
Eu posso fazer mais. Vou fazer mais.
Nos despedimos de Hank e passamos pelo quarto de Josh, que já havia sido encaminhado para fora da emergência e dormia na cama, enquanto Harriet estava na poltrona de frente a ele, também adormecida, com a cabeça deitada sobre sua barriga. Eu e Alyssa decidimos não acordá-los e apenas ir pra casa.
Não houve tempo para o silêncio. Fui conversando com a loira durante todo o percurso, até o instante que viramos na calçada e chegamos próximo a sua casa. Pelas cortinas, vi o reflexo da TV ligada e o som alto vindo do quarto Griffin.
– Obrigada por hoje, Nathan. – Ela agradeceu. Alyssa usava o meu casaco, e confesso que gostei de recebê-lo de volta e sentir o cheiro dela. – Foi muito legal.
– Eu também gostei. Hank me deu o desenho do carro que ele coloriu. Vou colar na porta do meu quarto. – Brinquei e Alyssa sorriu.
Por ser alguns centímetros mais baixa, ela teve de ficar na ponta dos pés para me dar um beijo tímido na bochecha. Senti meu corpo tremer dos meus pés até o último fio de cabelo. Apenas a luz dos postes iluminavam a calçada e os olhos acizentados de Alyssa refletiram de forma nítida seu rosto um pouco corado.
– Boa noite. – Ela desejou em um sussurro.
– Boa noite. – Respondi, a vendo caminhar até a porta de sua casa e antes de entrar, olhar novamente para mim e sorrir.
Voltei pelo mesmo caminho em que vim, com a mão no exato local em que Alyssa havia me beijado, sentindo uma onda de felicidade inexplicável. Caminhei alegremente com as mãos nos bolsos e com uma certeza.
De que era oficial, havia certas coisas na vida que eu não poderia planejar.
E Alyssa Anderson, com certeza, era a mais imprevisível delas.
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