Just Friends
Olá pessoas lindas! Tudo bem?
Mais uma vez, sei que não é quarta feira, mas decidi postar o capítulo mais cedo, não ia conseguir controlar minha ansiedade.
Muitas pessoas ficarão mega fulas da vida nesse capítulo, então por favor, compartilhem comigo suas teorias/frustrações/opiniões nos comentários.
Esse capítulo vai ser especial pra LariReed que foi a minha inspiração para a personagem que narrará esse cap, Harriet Gutiérrez!
Agora, sem mais delongas pessoal, vamos ao capítulo!
Just Friends*Apenas Amigos
Na capa? Josh e Harriet
Digamos que eu nunca fui uma pessoa fácil de lidar.
Quer dizer, isso seria um eufemismo. Acho que minha marca sempre foi o orgulho, a coragem e a teimosia. Eu nunca tive medo de dizer o que penso ou de me responsabilizar pelos meus atos, mesmo estando errada. Não sei se essa é minha maior qualidade ou o meu pior defeito.
Ainda me lembro de quando meu pai chegou bêbado em casa, em uma noite em que eu tinha apenas quinze anos. Ele bateu na minha mãe e quando implorei para que parasse, acabei levando um soco no processo. A partir daquele dia, jurei jamais ser ferida ou subjugada por um homem novamente. Quis que minha mãe fizesse o mesmo, mas mesmo assim, ela negou, aceitando permanecer subjugada a ele.
Desde então, eu saí da minha casa em Porto Rico, na América Central, e mudei-me para o outro lado do planeta. Penso que até hoje meus pais não sabem o que fora feito de mim, e para ser sincera, não quero que saibam.
Uma nova vida fora feita para mim, ao lado de tia Bárbara, que diferentemente de meus pais, sempre compartilhou esse meu sonho de ser independente, de maneira que grande parte das mulheres não é. Afinal, homens nos menosprezariam dessa maneira se não nos deixássemos ser menosprezadas? No final das contas, acho que as maiores machistas eram as mulheres.
Jurei jamais me deixar depender de um homem novamente, ou deixar um povoar meus pensamentos, como em todas as noites em que a cena de meu pai me batendo se repetia múltiplas vezes em meus sonhos. Ledo engano. Ele apareceu.
Josh Kellan era o que se podia chamar de luz no fim do túnel. Estava para raiar o dia em que não o visse sorrir para todos ou prestar ajuda aos que precisam. O trailer de minha tia ficava próximo ao pet shop de seus tios, e todas as tardes, desde que cheguei, ele era meu ouvinte.
Minha escola, meu trabalho, minha nova vida. Todas essas coisas que havia conseguido nesses três anos em que vivi aqui foram frutos de minha amizade com ele, e o preço que paguei foi o descumprimento da minha promessa.
Sim, mais uma vez, um homem povoava meus pensamentos. Porém, não da forma de antes, de uma forma boa.
Josh e eu criamos uma espécie de admiração mútua, e um sentimento de irmandade difícil de apagar, e quando pensei estar tudo bem, o destino pratica outra de suas peças e me faz gostar dele mais do que deveria.
E cá estou eu, desesperada, ao lado dele em uma cama de hospital, ferido e inconsciente. Para mim, era impossível qualquer ser humano fazer mal a Josh, fora a Kimberly, mas eu não a considerava bem um ser humano.
– H-Harriet? – Assustei-me com uma voz fraca me chamando, e deparei-me com os olhos azuis de Josh, fitando-me. – O que faz aqui?
– Como assim o que faço aqui? Vim ver como você está. – Forcei um sorriso. – O que aconteceu?
Josh trincou os dentes.
– Não foi nada.
– Não foi nada? Olha pra você, está todo machucado! – Me exaltei. – Vamos Josh, fala comigo. Talvez eu possa te ajudar. Você não confia em mim?
Ele ficou em silêncio por alguns instantes, e eu não me atreveria a rompê-lo. A enfermeira entrou e trocou os lençóis da cama, e ainda assim, mantivemos nosso total silêncio. Era como se uma batalha se travasse na mente de Joshua Kellan. A vontade que ele tinha de me contar, contra o medo do que aconteceria se me dissesse a verdade.
– Josh, por favor. – Rompi o clima tenso de vez.
– Preciso de dinheiro, Harriet. – Suas orbes azuis cruzaram com as minhas. – O mais depressa possível.
Levantei da poltrona destinada aos acompanhantes e comecei a andar de um lado para o outro do quarto.
– Harriet? – Josh me chamou. – Desculpe, eu sabia que não deveria te incomodar com meus pro...
– De quanto você precisa? – Interrompi-o na hora.
– Dois mil dólares? – Josh estimou, e eu mordi o lábio inferior.
– Eu te arranjo.
– O quê? Mas como?
– Eu andei economizando para validar o meu visto. – Dei um longo suspiro. – Mas o seu problema parece mais importante.
– Quê? De jeito nenhum! – Josh negou. – Você junta essa grana a tempos! É a maneira que você tem de ficar legal na Austrália! Não posso deixar que faça isso.
– Josh, eu quero. – Falei a ele. – Você me ajudou muito aqui, me arranjando plano de saúde, matrícula na Vermont, documentos validados mesmo eu sendo ilegal aqui, Josh. É o mínimo que eu posso fazer, mas queria saber, por que deve dinheiro?
– É a minha mãe. – Josh respondeu, e admito, fiquei surpresa.
Embora Josh soubesse tudo sobre a minha vida e meu passado, a história de Josh para mim ainda era um enigma. Tudo que sabia era que ele morava com os tios, mas em nenhum momento mencionava seus pais ou a vida que tinha antes de ir para Sydney com quatorze anos. Em nossas conversas, sentia que aquilo era zona proibida e jamais me atrevi a perguntar. Senti que aquela era a parte obscura da vida de Josh, aquela parte que ninguém quer que seja conhecida.
– Acho que nunca te falei dela, não é? – Ele deu uma risada fraca. – Sadie Kellan, minha adorável mãe.
– Se você não quiser falar, eu vou entender. – Tentei consertar minha burrada, mas ele fez que não com a cabeça. Seu olhar estava distante.
– Tudo bem, acho que já passou da hora de eu contar pra alguém. – Ele admitiu para si mesmo.
Sentei novamente na poltrona ao seu lado, e abracei suas mãos com as minhas. Josh sorriu com meu gesto.
– Eu não gosto muito de falar dos meus pais. Lembrar deles sempre me traz muita tristeza. – Ele confessou, engolindo em seco. – Por muitos anos, fomos muito felizes, sabe? Meu pai tinha esse emprego em uma fazenda e só vinha nos finais de semana pra casa, e era uma festa. – Josh Kellan sorriu com suas lembranças. – Éramos apenas nós quatro.
– Vocês quatro?
– Eu, meus pais e minha irmã caçula, Cindy. – Ele respondeu. – Bom, eu achava que estava tudo bem, mas não estava. Não sei como, mas um dia, cheguei da escola e encontrei minha mãe desmaiada no chão. Eu e Cindy ficamos em pânico, sabe? Ela me abraçou com força e me perguntou o que iríamos fazer, afinal, eu era o irmão mais velho. Levamos ela para o hospital e os médicos concluíram que fora excesso de drogas.
– Josh... – Queria fazê-lo parar de ressucitar tais lembranças, mas ele já não conseguia parar.
– Meu pai quando descobriu que minha mãe era uma viciada, ficou morto de raiva, e ela implorou que iria parar. E assim, meu pai deu a segunda chance. Depois uma terceira, quarta, quinta... Ela não parava, Harriet. Então, sem ter mais escolha, meu pai a internou em uma clínica de reabilitação. Só que dias depois, chegou a notícia de que ela tinha sumido.
– O que aconteceu depois?
– Meu pai quis que nos mudássemos para o interior, ficar mais perto do trabalho dele, recomeçar. Eu quis ficar. Passei a morar com os meus tios na esperança que minha mãe voltasse, para que ela tivesse algo familiar para o qual voltar. – Josh confessou.
– Ela não voltou, voltou?
Josh enxugou uma lágrima e fez que não com a cabeça.
– O fornecedor dela me procurou. Um cara gigante chamado Vladmir, chefe do tráfico da cidade. Ele disse que ela devia dinheiro e como fugiu, eu tinha de pagar. Se eu não pagasse, ele me faria pagar.
– Como ele te faria pa...
Josh desbloqueou a tela de seu celular e mostrou a mensagem de um número desconhecido havia mandado. Tratava-se de uma foto de uma garotinha tomando picolé de frente a uma escola primária.
– Ele faria algo com a Cindy, e com meu pai. Não posso deixar isso acontecer, Harriet. Eu preciso do dinheiro. Se algo acontecer com a minha irmã, eu não vou me perdoar.
– Nada vai acontecer com ela, Josh. Eu te prometo. Vamos dar um jeito, juntos. – Sorri pra ele. – Mas já pensou em falar isso pra polícia?
– A gangue de Vladmir é financiada por muita gente poderosa, pessoas ricas de Sydney. Se eu falar, posso acabar me dando mal. – Ele explicou.
– Onde posso encontrar esse Vladmir? – Perguntei, decidida. – Eu pago a sua dívida.
– Harriet, não, é muito perigoso! Ele é um criminoso!
– Tecnicamente eu também. – Dei de ombros. – Estou em um país ilegalmente. – Sorri sapeca. – Você sempre me disse que eu era forte, Josh. Deixa eu provar que eu posso ser. Confia em mim, ou não?
Josh suspirou, se dando por vencido.
– Eu não vou acreditar que vou fazer isso. – Ele ergueu o braço machucado em minha direção. – Me dá uma caneta.
Teria que ligar para Chloe. Acho que eu não ia chegar a tempo para a última aula do dia.
***
Nojento. Era o que aquele lugar era.
Já havia ido a muitos lugares ruins na vida, principalmente se levarmos em consideração o aspecto de que moro em um trailer com uma tia não muito normal, mas aquele recinto ali? Faria os lugares que fui com tia Bárbara parecerem Dubai.
Um bar, boteco, quase bodega. Quem pisasse naquele lugar sem ver o lado de fora jamais imaginaria que aquilo se localizava em Sydney, que é considerada uma das dez cidades mais bonitas do mundo. Perdendo pra Paris, claro, os franceses tem um jeito meio boiola, mas tinha de admitir, os viados sabiam fazer uma cidade.
Atrás do balcão, um homem com mais tatuagens do que células limpava um copo de cerveja, sem muito sucesso, porque ainda estava muito sujo. Alguns bêbados fedorentos bebiam até cair em umas mesas de madeira corroída, a luz de uma lâmpada que quase falhava. O barulho de bolas de sinuca chocando-se uma contra a outra era o que me impedia de ouvir apenas minha respiração, enquanto meu olfato saturava-se pelo cheiro de álcool e suor.
– Isso aqui é mais obscuro que a mente do Griffin. – Comentei para mim mesma, limpando a cadeira com álcool em gel no papel toalha antes de me sentar ali, de frente ao balcão. – Boa tarde, senhor... Cão Raivoso. – Era esse mesmo o nome dele? Estava no crachá. Que proprietário maluco contrataria alguém chamado Cão Raivoso?
Ele cuspiu dentro do copo que limpava, passando mais uma vez o pano.
Afastei minha cabeça alguns milímetros. Não ia comer nada dali.
– O que quer, menina? Esse lugar não é feito para mocinhas. – Ele sorriu com seus dentes careados e amarelos.
– Ah, eu percebi. Estou procurando Vladmir Hayes. Ele está?
– É a nova putinha do Vladmir? Ele se superou, é a primeira delas que é gostosinha. – Ele dá uma risada sarcástica.
Pois é, nosso amigo Cão Raivoso queria muito perder os dentes.
– Vai chamá-lo ou não?
Ele deu uma gargalhada seca.
– Vladmir está no segundo andar, pode ir lá, bonitinha.
Sem agradecer a informação, peguei minha bolsa e subi a escada giratória em direção ao segundo andar.
Era um corredor enorme, com algumas portas em meu caminho. Não sabia a qual entrar, mas tive uma pequena ideia que seria a do final quando escutei risadas histéricas de pessoas que pareciam acéfalas. Sim. Com certeza era aquela.
Sem bater, abri a porta de supetão, me deparando com um quarto velho cheio de homens jogando baralho. Foquei meu olhar naquele que tinha a descrição que Josh me dera e ao me ver ali, ele sorriu de forma maliciosa.
– Mas olhem rapazes, pela primeira vez a diversão nos encontrou sozinha. Está perdida, benzinho? – Ele perguntou provocativo, e todos os outros começaram a rir.
– Vladmir Hayes? – Obriguei minha voz a ficar mais alta que as risadas. – Preciso falar com você.
– Fique a vontade. Estou todo ouvidos, belezinha. – Respirei fundo para conter minha raiva. Caminhei a passos rápidos até ficar de frente a Vladmir, retirando o envelope com o dinheiro da bolsa e jogando em seu rosto. – Aqui está, os dois mil dólares. Agora, quero que deixe Josh e a família dele em paz, entendeu?
Vladmir deu outra risada, se levantando de onde estava sentado e mostrando ter o dobro do meu tamanho.
– A mocinha se acha muito valente, não é? Para vir aqui com essa ousadia. – Os outros também se levantaram, se aproximando de mim. – Então, quer dizer, que o Kellan agora se esconde debaixo do rabo da sua saia?
– Primeiro, eu odeio saia. – Deixei bem claro. – Segundo, aí está o dinheiro, fica longe deles, entendeu? Agora se me der licença, não tenho mais nada para fazer aqui. – Arrumei minha bolsa no meu ombro e me virei para ir embora, quando senti uma mão apertar meu pulso.
– Onde pensa que vai gatinha? A diversão vai começar agora. Vamos te por no seu lugar. – Vladmir falou de forma machista.
Vamos te por no seu lugar.
Te por no seu lugar,
Por no seu lugar.
No seu lugar.
Seu lugar.
Senti meu sangue ferver dentro de minhas veias e artérias. Quem ele pensava que eu era? Estava cansada de me julgarem inferior porque eu era uma mulher. Muito pelo contrário, eu era muito superior a um lixo de seres humanos como aqueles.
Os dez brutamontes se aproximaram de mim e fizeram menção de tocarem meu corpo. Mudei o meu peso para a perna direita e puxei Vladmir pelo seu pulso que ainda segurava o meu, o jogando no chão em um estalo.
Seus comparsas tentaram em interceptar, mas desviei de um soco certeiro de um e chutei o meio das pernas do outro. Segurei a cabeça do maior deles e taquei com toda a força na mesa, o vendo urrar de dor. Usei a tira de couro d minha bolsa para apertar o pescoço do outro, o deixando roxo por falta de ar e o empurrando para que caísse em cima dos restantes.
Puxei Vladmir pela gola de sua jaqueta e dei um sorriso falso.
– Agora, vamos ver se eu fui clara. Deixe os Kellan em paz. Se não, essa nossa diversão aqui vai ser bem mais radical, entendeu? – Cravei minhas unhas em sua pele.
– S-sim!
Olhei fundo em seus olhos negros.
– Homem que tenta se aproveitar de mulher não é homem. – Falei para ele, antes de dar um gancho de esquerda e nocauteá-lo.
Enquanto os homens se afastavam de mim em pânico, bati a porta e deixei aquele lugar, com a incrível sensação de dever cumprido.
***
Voltei logo ao hospital para contar a novidade para Josh, imaginando o quão satisfeito ele ficaria quando soubesse da novidade.
Estava para entrar no quarto quando a enfermeira me avisou de que ele estava no banho. Então, resolvi esperar na sala de espera.
Fiquei ali por alguns minutos até sentir sede. Bater naqueles caras me deu uma vontade enorme de tomar refrigerante. Fui até a máquina de bebidas que havia perto da mesa onde as secretárias atendiam e paguei uma coca-cola, tomando-a em silêncio, enquanto meus olhos vagavam pelo ambiente.
Estava distraida quando percebi um homem alto passar ao meu lado sem me perceber. Era um dos enfermeiros. Aquela já era a quarta vez que ele passava por ali sem nenhuma razão específica. Fiquei me perguntando o porquê.
Alguns instantes depois, o amigo de Vladmir, Cão Raivoso, surgiu no corredor do hospital. Primeiro, pensei que ele houvesse me seguido para encontrar Josh, mas ele não parecia estar procurando ninguém. Parecia esperar alguém.
O enfermeiro cruzou o local uma quinta vez, mas desta vez com um envelope de um exame em mãos. Foi preciso um olhar rápido pra ver quando Cão Raivoso e o enfermeiro trocaram dinheiro por aquele envelope.
Aquilo não me cheirava nada bem.
Passei a seguir Cão Raivoso, me perguntando o que havia dentro daquele exame. Deixei o hospital e vaguei pelas ruas de Sydney, fazendo o máximo para não me aproximar muito dele.
Quando ele parou no banco para esperar o ônibus, fiquei um passo atrás, o vendo pegar o celular.
– Alô? Sou eu. Fiz o que você pediu, Vladmir. O Exame do garoto Turner está aqui. A chefa vai ficar satisfeita. – Ouvi ele falar para seja quem fosse do outro lado da linha.
Garoto Turner? Por acaso eles estavam falando do Dylan?
Com a adrenalina correndo em minhas veias, adquiri velocidade e peguei o exame da mão de Cão Raivoso, correndo com o bandido em meu encalço.
– VADIA! VOLTE AQUI! – Ele gritou, e eu me esgueirei pelos becos na intenção de despistá-lo.
Quando o vi se aproximar novamente, corri mais até alcançar Sydney Opera House. O local estava fechado para a manutenção e usei o barco velho que os faxineiros usavam para cruzar o mar e atingir a ilha em que o ponto turístico se localizava.
Sabendo que Cão Raivoso não havia desistido da perseguição, invadi o local, me escondendo entre os assentos na plateia. Ouvi o barulho de uma arma sendo engatada. Merda.
– Saia para brincar, menina. Meu nome é Cão Raivoso, mas sabe, eu não mordo. – Pus as minhas mãos sobre minha boca, para que eu não fizesse qualquer ruído.
Porra Harriet, em que merda você se meteu?
Os passos dele ficavam cada vez mais próximos, e para não ser vista, engatinhava por debaixo dos assentos. Esperei para que ele estivesse de costas de onde estou e corri para o caminho oposto, o trancando lá dentro.
– Ei, menina! – Um segurança da casa de ópera me achou. – O que faz aqui?
Saí correndo dele também.
Com toda a energia que me restava, voltei a canoa de antes e remei para longe da Sydney Opera House, escutando o alarme soar logo depois. Ainda agarrada ao exame, me lembrei de ter esquecido minha bolsa quando me escondia de Cão Raivoso, merda.
São e salva no metrô, deixei-me acalmar e minha respiração normalizar, até que finalmente pudesse abrir o exame de Dylan. Era o resultado do raio x de quando ele havia passado mal na festa de Alyssa e Griffin. No susto que nos dera quando acabou sendo hospitalizado. Aquele era o resultado final, e era muito preocupante.
Dylan não estava curado, pelo contrário, estava longe disso. Mas a duvida pior era, quem se beneficiaria se Dylan não soubesse de seu diagnóstico?
Com essas perguntas em minha mente, fui caminhando até o estacionamento de trailers onde ficava meu lar com tia Bárbara. As luzes estavam apagadas e deduzi que ela estivesse dormindo. Já estava para entrar, quando escutei uma voz me chamar:
– Harriet?
Virei-me e lá estava Josh. Não mais em uma cama de hospital. Ainda com alguns arranhões, mas vivo, com suas roupas normais, as mãos nos bolsos e o cabelo meio assanhado. Lindo como ele sempre foi.
– Josh, oi. – Pus uma mecha de meus cabelos atrás da orelha. Ele se aproximou de mim.
– Eu achava que você fosse me esperar. O médico me deu alta. – Josh e eu sentamos nos batentes da entrada do trailer. – Mas quando você não apareceu, fiquei preocupado.
– Desculpe, eu tive umas... distrações. – Sorri cansada. – Mas pode ficar tranquilo, eu já resolvi tudo.
O rosto de Josh se iluminou.
– É sério? – Eu assenti, também sorridente. – Poxa Harriet, você é demais! – Ele me abraçou e eu retribuí.
Ficamos abraçados por um tempo, e eu pude sentir o calor do corpo dele contra o meu.
– Sabe Harriet, você é uma ótima amiga. Muito obrigado. – Ele deu outro sorriso, segurando forte em minha mão. – Bom, acho que eu já vou indo, boa noite.
Josh colocou as mãos nos bolsos e desceu os batentes, caminhando a passos lentos para fora dali. Fiquei paralisada. Será mesmo que ele não percebia que eu não tinha o menor interesse em ser amiga dele? Que eu queria ser muito mais?
– Josh! – Eu o chamei, e ele se virou.
Desci os batentes rapidamente e corri em sua direção, parando de frente a ele.
– O que foi, Harriet?
Eu fitei o chão por um segundo antes de encará-lo e dizer:
– Eu não acredito que vou fazer isso.
Sem esperar uma resposta, circundei o pescoço de Josh com meus braços e selei meus lábios no dele. Primeiro, ele ficou sem reação, mas depois, seus braços rodearam minha cintura e me puxaram para mais perto. Josh pediu passagem para aprofundar o beijo e eu a concedi, sentindo cada canto daquela boca que eu queria provar desde que tinha quinze anos.
Nos separamos por falta de ar e o observei, com a face ainda cheia de arranhões, mas levemente corada e a respiração ofegante.
– O que foi isso? – Josh deu um sorriso.
– Apenas o meu pagamento por um serviço bem feito. – Sorri maliciosa e voltei por onde vi, subindo os batentes de novo e abrindo a porta do velho trailer. – Boa noite, Josh.
Não consegui ver sua reação, pois fechei a porta no mesmo instante e me deixei escorregar pela mesma, não acreditando no que havia acabado de fazer.
– Harriet Gutiérrez, você é muito estranha. – Falei para mim mesma, sorrindo feito boba.
Foi quando observei tudo quieto demais. Quieto demais para tia Bárbara.
– Harriet, é você? – Já estava assustada quando a luz acendeu e Lyn Turner surgiu preocupada da minha cozinha. – Ah, que bom! Sua tia estava preocupada.
– Lyn? – Estranhei a presença dela ali. – O que faz aqui?
– Ah, vim deixar o seu salário, mas sua tia me disse que ainda não havia chegado. – Ela riu. – Bárbara disse que estava sem café, me pediu pra esperar e disse que ia no mercado.
Foi a minha vez de dar uma risada.
– É bem a cara dela. Mas é estranho ver tudo escuro do lado de fora.
– A da cozinha está acesa, não deve ter conseguido ver porque a janela da cozinha é do outro lado. – Lyn deduziu.
– Mas de qualquer forma, Lyn... É bom te ver aqui. – Mostrei o exame de Dylan. – Um enfermeiro vendeu o exame do Dyl para um marginal. Ele me perseguiu, mas eu consegui pegar.
– O quê? – Ela pareceu transtornada. – Me explique isso direito.
– Eles não querem que o Dylan saiba que ainda está doente. Acho melhor você ver, isso é grave. – Entreguei o exame a ela. – Mas não se preocupe, amanhã mesmo eu aviso a ele sobre tudo. Pode ser a Phoebe...
Parei de falar instantaneamente ao ouvir um barulho vir da cozinha e Cão Raivoso surgir atrás de Lyn.
– Ah, Harriet, eu realmente gostava de você. – Ela disse, manhosa. – Mas não devia ter se envolvido nos negócios da minha família.
– A chefa... Você é a chefe do tráfico de drogas? – Afastei-me dela rápido, batendo em uma parede de músculos, deparando-me com Vladmir, que me agarrou. – ME SOLTA!
– Temos de fazer coisas horríveis para nos manter no topo, não é? – Lyn indagou. – Dylan é o futuro da Turner, Harriet, e infelizmente, não posso deixar que ele descubra que nunca se curou de sua doença.
– FINGIDA! FALSA! ELE VAI MORRER! – Tentei me soltar dos braços de Vladmir.
– Ele vai superar isso, os Turner sempre superam, Harriet. – Ela retira da bolsa um envelope. – Aqui. Esse dinheiro pode ser seu se ficar de boca fechada.
– O quê?! Não! Eu jamais brincaria assim com a vida de alguém!
Lyn cruzou as pernas ainda sentada em meu sofá.
– Então, lamento Harriet, mas você não me deu escolha.
Escutei uma sirene de polícia ao fundo e a porta do trailer foi destruída, quando agentes da polícia federal australiana adentraram o local com um mandato.
– Policial, essa é a moça de Porto Rico. Ela e a tia vivem ilegalmente nesse país. Receio que é a hora de voltarem para a América.
– Harriet Gutiérrez, você é acusada de imigração ilegal e será imediatamente deportada. – O oficial avisou, me segurando e me arrastando para longe, ignorando meus gritos.
– Adeus Harriet, mande minhas lembranças aos seus pais. – Lyn acenou de forma cínica, com Vladmir e Cão Raivoso cada um a seu lado.
Fui jogada no carro de polícia e levada como uma criminosa para longe da minha vida. Pensei em Josh e em Chloe, e no inferno em que Dylan estava condenado a viver.
Uma operação milionária circulava a vida de Dylan Turner, e eu havia sido uma ameaça, e agora, estava pagando por isso.
Enquanto a verdadeira responsável por isso, que devia estar aqui no meu lugar, ainda se encontrava a solta.
Minha aventura no novíssimo mundo havia finalmente acabado, e infelizmente, sentia que a de Chloe Madsen também se aproximava de seu fim.
No próximo capítulo de Someone To Save You...
Kimberly Sparks está possessa de raiva que não fora convidada para a festa de Lacey Cross, porém, quem disse que sua noite não será igualmente animada?
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