High Tension

Olá, pessoas!

Antes de tudo, um feliz 2017 pra vocês! 2016 não foi essas coisas todas, então é bom que agora seja um pouco melhor né? auhsuahus

Que esse ano seja melhor e cheio de incríveis realizações pra todos nós!

Que tal começar com o pé direito esse ano, me dando uma estrelinha <3 ou um comment em? Ia ser muito legal ausausuahsuh

No mais, só pra não ser bossal e não dar ano novo! 

Abraços e boa leitura! 

Música do Capítulo: Mercy -Shawn Mendes (vídeo acima) 

  Consuming all the air inside my lungsRipping all the skin from off my bonesI'm prepared to sacrifice my lifeI would gladly do it twice  

A xícara quente aquecia meus dedos frios.

Eu já havia perdido a noção do tempo que passei ali naquela cadeira, de frente para aquele corredor branco, esperando notícias. Alyssa veio até mim e me serviu um pouco de café quente, sendo esse o mais próximo de um contato que permiti ter com ela naquela situação.

Minha meia irmã estava na cadeira de frente a mim, tentando manter a mente ocupada com a última edição da Versalle no colo, sendo essa a única disponível na sala de espera. Nathan caminhava de um lado para o outro do cômodo, tentando a todo custo manter a calma, roendo suas unhas desesperadamente. Harriet falara algo ao meu lado, uma frase que não entendi, devido a minha mente estar presa em Dylan e o que presenciei naquela noite.

Depois dele desmaiar a minha frente, entrei em pânico e comecei a gritar, esforço inútil se a vizinha não tivesse chamado a polícia e obrigado Alyssa e Griffin a diminuir o som. Quando alguma garota sem noção voltou até a piscina para pegar sua bolsa, se deparou com a linda visão de uma Chloe Madsen descabelada e com os olhos vermelhos de tanto chorar, gritando a plenos pulmões por ajuda.

Demorou pouco para que conseguisse ouvir a ambulância descendo a rua, sua sirene barulhenta incomodando ainda mais a vizinhança. Uma multidão se aglomerou ao redor da confusão, observando Dylan ser colocado em uma maca e levado com toda a pressa para o hospital.

O paramédico me proibiu de ir junto dele. Separar-me de Dylan fora de longe o mais difícil em toda aquela situação, principalmente ao ouvir que mais um minuto ali e talvez ele não tivesse resistido. Alyssa que havia dormido minutos depois de prender a nós dois, despertou irritada e um pouco mais sóbria. O arrependimento era visível em seus olhos. Não me dei ao trabalho de dirigir a palavra a ela quando me levou ao hospital. Não havia o que dizer. Aquilo era culpa dela, e seria muito difícil para mim perdoá-la.

Quando chegamos ao hospital, mandei uma mensagem para Harriet, que surgiu com Nathan da porta de emergência. Ao que parecia, os dois resolveram pegar o turno da noite no quiosque em Bondi Beach, e vieram correndo quando souberam da tragédia.

Só parei de chorar quando meu estoque de lágrimas acabou. Pensei em Walter e Laura quando descobrissem o que aconteceu e se Griffin não explodiria a casa enquanto estávamos fora. Não. Aquilo não era o importante. A única coisa que importava naquele minuto era Dylan sair dessa.

Alguém para salvá-lo. Era o que Dylan precisou e eu não pude dar a ele. Se ele morresse por minha causa, jamais me perdoaria.

– É minha culpa. – Eu falei para Harriet, que deitou a cabeça em meu ombro, tentando me consolar. – Se ele não tivesse me seguido, talvez não tivesse sofrido um ataque de asma. Tudo por causa dessa festa idiota! – Senti o sangue ferver em meu corpo. Alyssa se encolheu em seu lugar.

– É minha função tomar conta do Dylan, eu não devia ter deixado ele sozinho. – Nathan se lamentou, socando a parede. – Eu jamais vou me perdoar depois disso.

– Griffin ligou. – Alyssa avisou, com medo de falar e eu pular em seu pescoço, o que eu admito, era minha vontade. – Ele disse que o último convidado já saiu lá de casa. Não precisamos nos preocupar, que ele vai cuidar e arrumar tudo.

– NÃO PRECISAMOS NOS PREOCUPAR? – Eu explodi. Havia chegado ao meu limite. – Viu o estado do Dylan, Alyssa?! Ele tossia sangue! Minha mão ainda está suja do sangue dele! E tudo que você se preocupa é se a casa vai estar em ordem?!

– Chloe, chega... – Harriet pediu.

– NÃO! ESSA MIMADA PRECISA OUVIR! – Eu já estava de pé, tentando não perder o controle. – POR SUA CAUSA ALYSSA, O DYLAN ESTÁ ENTRE A VIDA E A MORTE! ELE ESTÁ MORRENDO E A CULPA É TODA SUA! – Alyssa começou a soluçar. – VOCÊ NÃO SE DIZIA TÃO FÃ DELE? POIS FIQUE SABENDO QUE SEU ÍDOLO ESTÁ MORRENDO POR SUA CAUSA. TÁ FELIZ?!

Nathan segurou meu pulso com força, olhando fundo no meu ser com aquelas orbes castanhas.

– Chloe. Chega. – Ele avisou. – Olha pra ela.

Alyssa estava abraçando as próprias pernas, soluçando e com os olhos vermelhos.

– Eu sinto muito... Não queria que isso acontecesse... Na hora, apenas me pareceu a maneira mais simples de...

– DE QUÊ? ALYSSA, AÍ NESSA SUA CABEÇA DE VENTO, NESSE SEU MUNDINHO ALYSSA ANDERSON QUE VOCÊ VIVE, PODE SER TUDO SIMPLES ASSIM, MAS NO MUNDO REAL, ESSE AQUI, É TUDO MUITO DIFERENTE! ACORDA, GAROTA!

Alyssa se encolheu ainda mais na cadeira. Harriet encarou o chão. Nathan se apoiou na parede. Havia colocado pra fora toda a raiva que sentia, e agora, me arrependia. Ela não poderia ter previsto aquilo. Ninguém poderia.

Triste e desolada, sentei novamente.

– Nathan? – Lyn chegou correndo, com os olhos marejados. – Onde está o Dylan? Cadê ele? Onde ele está?

O loiro segurou a senhora Turner, que parecia muito triste e desesperada.

– Lyn, precisamos que você se acalme. – Ele pediu, segurando-a para que ela não corresse em direção aos quartos. – Estão examinando ele agora, vai ficar tudo bem.

– Não, não vai... – Lyn respirou fundo, sentando em uma das cadeiras e parecendo pensativa.

– Como assim? – Nathan parecia confuso, se ajoelhando de frente a ela e a fitando com seu olhar interrogador. – Lyn? Tem alguma coisa que você sabe que eu não sei?

Ela protelou antes de falar. Seja lá o que ela escondesse, não parecia disposta a compartilhar com o resto de nós.

– Dylan não possui um asma comum. – Lyn explicou, com o olhar distante. – Ele possui o que os médicos chamam de Asma Brônquico IV, o tipo mais severo da doença. Era por isso que ele vivia em hospitais como esse quando era mais novo... – Lyn engolia o choro a cada frase. – Os alvéolos do Dylan possui uma inflamação séria, que dificulta a captação de oxigênio.

– Mas tem uma cura certo? – Nathan estava em negação. – Lyn?

Ela chorou mais um pouco, fazendo que não com a cabeça.

– A inflamação vai se espalhar até comprometer todo o sistema respiratório. – Nathan levantou e puxou os cabelos, como se não acreditasse. – Podemos apenas atrasá-la, mas nunca eliminá-la. Tudo indica que Dylan terminará como a mãe.

Um silêncio se instalou na sala. Nathan já estava com os olhos vermelhos, assim como eu. Harriet começou a bater os pés no chão de forma frenética, enquanto Alyssa chorava baixinho.

O silêncio sepulcral teve seu fim quando o médico adentrou a sala de espera. Todos nos levantamos apreensivos, vendo a expressão imparcial do pneumologista.

– Então doutor, como ele está? – Lyn perguntou, nervosa e esperançosa.

O rosto do médico estava calmo, e um meio sorriso surgiu em seus lábios.

– O garoto é um guerreiro. Ele está bem. – Eu suspirei aliviada. – Dylan ainda terá que permanecer um tempo aqui para alguns exames finais. Quero fazer um raio X dos pulmões e ver a situação. Até lá, é melhor que permaneça em observação.

– Podemos visitá-lo? – Nathan perguntou.

– Desculpem, no momento apenas a família. – Eu, Nathan, Harriet e Alyssa paramos de andar no mesmo instante.

– Eu sou a cunhada dele, além de guardiã legal. – Lyn informou. – Posso entrar?

O médico verificou a prancheta.

– Senhora Lyn Mellark Turner? – Ela assentiu. – É claro. Siga-me por favor.

Lyn olhou para nossos rostos aflitos uma última vez e seguiu o médico pelo corredor.

Ficamos ali por mais um tempo, e comecei a me sentir mal por tudo que falei a Alyssa. Ela ainda não havia falado uma palavra desde que Lyn fora com o médico. Harriet já dormia sentada e Nathan dava uma série de bocejos. Eles estavam trabalhando, por isso deviam estar muito cansados.

– Eu vou pegar mais café. – Avisei para o nada, já que Harriet dormia profundamente como um bebê.

Cruzei a recepção e fui até a cafeteria, comprando outro copo de café quente. Tomei quase tudo ali mesmo, caminhando sem rumo e pensando no que aconteceria de agora em diante.

Depois de jogar o copo no lixo, caminhei distraída pelo hospital, nem percebendo quando acabei esbarrando em alguém.

– Desculpe. – Falei, olhando para cima, tentando identificar em quem havia batido de contra.

Eu arregalei os olhos. Eu estava de frente a um homem, mas não um homem qualquer. Sua semelhança com Dylan era incrível. A mesma expressão séria e bonita, os olhos verdes resplandescentes e o cabelo um pouco mais claro que o de Dyl. Ele usava um terno de linho negro, com um relógio de ouro em seu pulso. Uma marquinha pequena próxima ao seu lábio o dava um ar misterioso e ao mesmo tempo, rebelde.

– Não tem problema. – Ele respondeu, sem olhar pra mim, voltando a caminhar pelo caminho oposto.

Percebi que ele estava indo para a sala de espera, o vendo entrar sem bater. Nathan arregalou os olhos assim que o viu. Corri até lá, parando ofegante. Harriet tremeu o queixo. Alyssa abriu a boca em um "o" perfeito.

– O que foi? – Perguntei, sem entender. – Por quê todos estão assim?

Nathan tremeu um pouco antes de falar.

– D-Devon, o que está fazendo aqui?

Parecia que eu tinha tomado um banho de água fria.

Aquele era o irmão mais velho de Dylan.

O magnata de 32 anos mais poderoso de Sydney.

O dono da Turner Corporation.

Eu estava de frente com Devon Turner.

***

Eu posso dizer com toda certeza que a família de Dylan sempre me intimidou.

Ainda tenho vagas lembranças da primeira vez que visitei a mansão dos Turner em Hawthorne, interior da Inglaterra. Uma escadaria enorme, centenas de empregados e um corredor tão comprido que achei que iria me perder e jamais iriam me encontrar. Eu olhava a pintura da família, os quatro Turners imponentes naquelas paredes, tendo cada detalhe de seus finos rostos desenhados em tinta, e os admirava como verdadeiras beldades.

Reginald Turner sempre foi uma imagem de homem poderoso. Até hoje,ele ainda era mencionado e elogiado pelas maiores empresas do país. O rapaz que veio do nada. Filho de um casal de mercantes que em duas décadas ergueu uma das maiores multinacionais já criadas. O nome dele era símbolo de poder. Seu olhar frio e indiferente que parecia ler a sua alma e seus pensamentos. Um magnata profissional e profundamente calculista.

Enquanto Reginald Turner era sinônimo de poder e riqueza, sua esposa, Joanne Turner, era a mesma coisa que beleza e graciosidade. Os cabelos loiros sedosos na altura dos ombros e o sorriso gentil gravado em seus lábios. Ela parecia um anjo caído do céu, que era capaz de parar guerras com um gesto. A doçura que Dylan possuía era com certeza uma herança dela.

Porém, naquele momento, Reginald e Joanne eram passado. O futuro agora estava em seus únicos herdeiros, os irmãos Devon e Dylan. E olhando para Devon naquele momento, senti-me da mesma forma quando olhei Reginald pela primeira vez. Medrosa e imponente.

Algum dia me sentiria assim em relação a Dylan? Me acharia inferior e menor a ele? Sentiria medo de olhá-lo nos olhos?

– Nathan. – Ele chamou com sua voz grave. – Quantas vezes eu já pedi para Dylan ser acompanhado só pela família? Não gosto de uma multidão de estranhos rondando nossa família.

O loiro abaixou a cabeça, amedrontado.

– Desculpe-me, Devon.

Ele alternou seu olhar entre Alyssa e Harriet, antes de cravar suas orbes verdes mar em meu rosto. Devon Turner ergueu a sobrancelha e deu um sorriso cheio de desdém.

– Acho que conheço você. – O primogênito Turner falou, referindo-se a mim. – Você era amiga do Dylan, estou certo?

Eu assenti, sem graça.

– Qual seu nome mesmo? – Ele perguntou, não parecendo muito interessado.

– Chloe, senhor. – Respondi rapidamente, tentando não soar muito assustada.

– Hm. Interessante vê-la por aqui, tantos anos depois. Você cresceu. – Sua frase parecia atenciosa, mas a frieza em seu tom de voz tirava qualquer afeição que aquelas palavras poderiam carregar. – Nathan, vá pra cobertura, acho melhor esperar em casa, prepare o quarto do Dylan para quando meu irmão voltar pra casa. Aviso quando tivermos notícias.

– Mas Devon, eu queria mesmo...

– Agora, Nathan. – Ele fitou That com aquele seu olhar glacial.

O loiro abaixou a cabeça, irritado e triste, correndo para fora do hospital.

– E vocês três, vão ficar aí paradas como postes ou vão me dizer onde está meu irmão? – Devon perguntou, parecendo não estar muito paciente.

Depois de reencontrar Dylan, as lembranças de todos os momentos que passei ao lado dele pareceram voltar aos poucos, e de acordo com elas, o homem em minha frente era muito diferente do Devon que costumava levar a mim e a Dylan para o fliperama ou tomar sorvete no parque.

Tal conclusão era fácil de ser tomada ao ver sua relação com a esposa nas revistas de fofoca de todo o mundo. Quando era pequena, lembrava de correr com Dylan pelo parque, enquanto Devon e Lyn ficavam sentados em um banco, conversando alegremente e se beijando apaixonados. Agora, a relação dos dois parecia algo artificial e profissional. Como se não existisse sentimento algum envolvido.

– Ele está no quarto. Lyn já está com ele. – Harriet respondeu, não parecendo nem um pouco intimidada com a presença de Devon, o que era contraditório, já que aquele era seu patrão.

Devon nos fitou uma última vez com seu semblante indiferente e caminhou a passos lentos pelo corredor. Seus sapatos de couro italianos fazendo barulho ao se atritarem com o piso liso da emergência do hospital.

– Devon Turner, se acha a pessoa mais importante da face da terra. – Harriet girou os olhos e se jogou na cadeira novamente. – Maior que o ego dele apenas o de Denise Sparks.

Demorou mais alguns instantes para que Lyn surgisse novamente. Seu rosto parecia ainda mais abatido, como se ver o marido não fosse realmente o que estivesse esperando.

– Meu amor, você está aqui! – Lyn demonstrou o que seria o começo de um sorriso, que logo sumiu ao ver a imparcialidade do marido.

– De você eu cuido depois. – Ele respondeu de forma fria, fazendo Lyn parar no lugar com um semblante triste e magoado.

– Lyn, com licença. – Chloe a alcançou no corredor, vendo a dúvida em seu olhar. Ela havia se esquecido. Não tinha se apresentado. – Você não deve lembrar de mim, eu sou...

– Chloe Madsen! – Lyn abriu os braços, como se estivesse impressionada. – Não acredito! A amiguinha do Dylan!

Eu assenti, meio surpresa. Ela me reconheceu. Lyn, mesmo depois de tantos anos tinha se lembrado do meu nome e soube dizer quem eu era mesmo depois de crescer e mudar tanto.

–Sim, eu queria saber se...

– Tia Lyn! – Uma garotinha chegou correndo e se jogou nos braços de Lyn. Olhei para o final do corredor e vi o homem do desfile. O mesmo policial com o distintivo preso ao cinto. Agente Harris.

Ele não parecia muito agente no momento. Usava um jeans surrado e uma blusa de mangas longas, com um pano rosa sobre o ombro.

– Erin, minha pequena! – Lyn abraçou a garota com animação. Ela não parecia ter mais de quatro anos.

– Erin, eu já disse pra não correr! Pode se perder! – O agente Harris cruzou os braços e a pequena fez um biquinho.

– Mas era a tia Lyn, papai! Eu tava com saudades dela! – A menina fez uma careta tão fofa que o agente Harris teve que ceder e não brigar mais.

– Como vai, Vince? – Lyn perguntou, colocando Erin no chão novamente. – O que faz aqui?

– Ah... Bom, a mãe dessa princesa aqui disse que hoje era meu dia de tomar conta dela. Como tinha que trabalhar, acabei trazendo ela. Não é, baixinha? – Erin levantou os braços, como se pedisse para que o agente Harris a carregasse novamente nos braços.

– Trabalho? Aconteceu alguma coisa no hospital? – Lyn perguntou, confusa.

– Uma enfermeira perdeu o celular, sabe como é, nossa vida emocionante de policiais. – Ele girou os olhos. – Mas ainda bem que minha princesa está aqui para animar minha noite! – Erin correu de volta aos braços do pai que fez cócegas na pequena.

Lyn sorriu ao ver pai e filha. Lembrei de Harriet explicar que os dois eram amigos de infância.

– Hora, se não é a moça do desfile. – Agente Harris me lançou um de seus sorrisos irresistíveis. Aquele homem era muito lindo, senhor.

– Vince, essa é uma antiga amiga do Dylan, Chloe Madsen. – Lyn apresentou. – Chloe, esse é meu melhor amigo, Vincent Harris.

– É um prazer, Chloe. – Ele disse, apertando minha mão. – O que as damas estão fazendo aqui?

– Dylan teve uma crise de asma. – Lyn contou, brincando com a aliança em seu dedo.

– Ele está bem? – Vince quis saber, ajeitando a pequena Erin em seus braços, que parecia querer dormir.

– Vai se recuperar. Devon está com ele agora. – Ela respondeu, cansada.

A conversa ia continuar se um chiado estranho não tivesse começado. Vince retirou uma espécie de comunicador do bolso e apertou o botão para falar.

– Harris, qual a situação? – Ele perguntou, enquanto o comunicador fazia barulhos estranhos.

– A quadrilha de Zander. Cafeteria do centro. – Uma voz grossa respondeu do outro lado. Vince guardou o comunicador de volta na calça.

– Tenho que ir. – Ele suspirou. – O dever me chama. Parece que vou ter que deixar a Erin com a mãe.

– Se quiser, eu posso...

– Não, Lyn. Já incomodo o suficiente. – Ele respondeu. – O dever chama. Foi um prazer, Chloe.

Eu assenti, vendo-o sumir no corredor.

Poderia estar errada, mas acho que Vince e Lyn passaram por algo a mais do que uma comum amizade.

***

Esperei por mais quarenta e cinco minutos até que Devon deixasse o quarto.

Perguntei a Harriet mais sobre o tal de Vince e sua relação com Lyn. Ela respondeu a mesma coisa da última vez, dizendo que Vincent era um antigo amigo, que estudara no mesmo colégio que o casal. Ao que parecia, o agente Harris tinha uma fraqueza quando o assunto eram mulheres, e em uma de suas noitadas, acabou engravidando uma de suas pretendentes. Pelo menos, ele parecia ser um pai bem esforçado.

– Por algum motivo que eu não sei, Devon parece não gostar muito do agente Harris. – Harriet me explicou. – Os dois parecem ter algum tipo de rixa, mas não descobri o que é.

Claro. Porque Harriet tinha de descobrir para conseguir dormir de noite.

Já estava dormindo em meu lugar quando Devon deixou o quarto. Ele gritava com alguém ao telefone, caminhando a passos rápidos para o lado de fora, onde poderia conversar melhor. Harriet alternava seu olhar entre mim e a porta do quarto de Dyl, como se me perguntasse se iria fazer o que iria fazer.

– Chloe, me diga que estamos aqui pra treinar suas habilidades de porteira. – Ela tentou, me vendo fazer que não com a cabeça. – Não está pensando em entrar né? O médico deixou bem claro que só podem entrar familiares!

shhhh – Praticamente implorei para que Harriet ficasse em silêncio. – É só por um instante. Não vou demorar. Consegue distrair as enfermeiras por um segundo?

Minha amiga latina deu um longo suspiro.

– Chloe Madsen, você é muito estranha. – Ela falou o que sempre amava dizer pra mim. – Vai logo!

Dei um beijo na bochecha de Harriet e tentei parecer o mais normal possível, abrindo a porta do quarto com as costas, e entrando o mais rápido que pude.

A cena era de partir o coração. Ver Dylan ali, respirando com o auxílio de máquinas, preso a uma cama por vários fios. Era como se lembranças voltassem, das vezes que o esperava no parquinho e ele não aparecia. Lembro de como fiquei irada com ele, pensando que Dylan teria cansado de mim, quando me disseram o que havia acontecido.

O tempo havia mudado. Nós dois havíamos mudado. Porém, a dor de vê-lo ali, naquela cama de hospital, essa era a mesma.

Eu me aproximei lentamente, não entendendo o porquê. Dylan não estava dormindo. Ele estava sedado. A cada passo que me aproximava dele, lágrimas desciam por meus olhos, me culpando e me martirizando por causa disso.

– Dyl... Me desculpa. – Eu pedi perdão, mesmo sabendo que ele não me ouviria. – Acho que se não estivesse tão obcecada com parar aquela festa, talvez tivesse percebido que você estava mal...

Não resisti ao impulso de tocá-lo de leve no rosto, sentindo-o pálido e frio, diferente do Dylan saudável, que tinha a epiderme bronzeada e quente.

– Eu... Só quero que você fique bem. – Segurei em sua mão gelada. – Demorei cinco anos pra te ter na minha vida novamente, Turner. E não quero que saia, tá me entendendo? Você é meu melhor amigo, nunca deixou de ser, e você não sabe o quanto eu... – Parei de falar quando percebi já estar quase gritando. – Senti sua falta.

Foi quando ouvi a porta abrir atrás de mim.

– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – Foi como se meu sangue borbulhasse dentro de minhas veias. Virei-me rapidamente para ver quem havia falado.

Ali estava Kimberly Sparks, usando suas roupas de grife e sua bolsa de couro italiano Chanel. Seu fiel óculos de sol estava no topo de sua cabeça, enquanto ela brincava com suas mechas loiras perfeitamente escovadas.

– Quantas vezes eu já tenho que te avisar, ruivinha, para ficar longe da minha vida? – Kimberly dramatizou e eu cruzei os braços. – Não estou gostando nada dessa sua intimidade com meu Dylan. Olhe como ele está por sua culpa, coitadinho. Como ele irá para a sessão de fotos de amanhã, assim ?

– Sessão de fotos?! – Eu simplesmente não acreditei no que havia acabado de ouvir. – O Dylan quase morreu e você tá preocupada com a sessão de fotos que ele vai perder? Como pode ser tão fria?

– Não estou sendo fria, estou sendo prática. Eu cuido da carreira do Dydy. Isso se chama zelar pelo patrimônio. Afinal, o que a Versalle faria sem seu modelo capa? – Kimberly insinuou. – Agora, saia daqui, quero ficar um momento com MEU namorado.

Eu olhei mais uma última vez para o rosto pálido de Dylan, coberto por aquela máscara de oxigênio.

– Se cuida. – Sussurrei para ele, batendo no ombro de Kimberly antes de sair, propositalmente.

Do lado de fora do quarto, Harriet me esperava com um semblante preocupado, conversando com algumas enfermeiras, que pareciam ansiosas para se livrar dela.

– Então, eu tenho certeza que senti uma dor no meu joelho, mas é só às quintas-feiras, vocês sabem por quê? – As enfermeiras olharam uma para outra sem entender. Assim que Harriet me viu chegando, ela falou: – Ah, ok, deve ser aquele camarão que eu comi, sabem? Obrigadinha pela ajuda, senhoras. – Ela sorriu sem graça e correu até mim. – Nunca mais me faça passar por isso de novo!

– Chloe? – Alyssa surgiu no corredor, com o seu celular na mão. – Griffin disse que minha mãe e Walter já chegaram.

Eu engoli em seco.

– Preciso ir. – Avisei a Harriet. – É hora de escutar o maior sermão da minha vida.

– Vai lá, amiga. Tenho que pegar a tia Bárbara no dentista. – Ela riu. – Se tudo der certo, ela conseguiu a dentadura nova que queria.

Eu e Alyssa passamos o caminho todo em completo silêncio. Sentia-me mal por ter descontado toda a minha raiva sobre ela, considerando que ela estava bêbada e jamais faria tal coisa por vontade, mas ao mesmo tempo, sabia que ela se culpava. Ela era uma boa pessoa, embora tivesse alguns (muitos) parafusos fora do lugar.

– Eu sinto muito, Alyssa. – Falei de repente. Ela apertou os dedos no volante. – Eu estava com medo e descontei toda a minha raiva em você. Me desculpe.

Ela suspirou.

– Tudo bem. Sabe o que mais? Você está certa. Estou muito ocupada vivendo em meu mundinho e esqueço da vida real. – Alyssa respondeu. – Sinto muito por ter trancado vocês dois.

– Não interessa agora. Vamos todos morrer mesmo não é? – Perguntei retoricamente e ela sorriu fraco.

– Sem chapinha pelo resto do ano.

– Pois é.

Quando Alyssa estacionou o carro de Laura na garagem, ambas demos um longo suspiro antes de entrar e encarar as duas feras, e a zona que nossa casa havia se transformado.

Porém, para nossa surpresa, a casa estava impecável. O chão brilhava de tão limpo. Os pratos e copos de plástico haviam sumido das estantes. O sofá parecia novo em folha, colocado de volta em seu lugar. O papel higiênico solto na escada estava de volta no banheiro, e a cozinha completamente arrumada.

Eu e Alyssa nos encaramos sem acreditar.

Laura descia as escadas com a roupa suja em um cesto, quando nos viu ali paradas e sem reação.

– Olá meninas, tenho que dar os parabéns. A casa parece melhor do que quando a deixamos. Estou muito orgulhosa. – Ela deu um beijo na bochecha de Alyssa e na minha. – Vocês lavaram o tapete do corredor do andar de cima? Está cheirando a lavanda.

– Laura, nós... – Eu tentei falar, mas ela riu.

– Não se preocupe, Chloe, Griffin me contou o quanto você e minha Alyssa se esforçaram para deixar tudo organizado. – Ela olhou feio para o cesto de roupas em sua mão. – Se ele pelo menos seguisse o bom exemplo de vocês. – Laura deu um longo suspiro. – Ele também me contou sobre o Dylan, pobrezinho. Como ele está?

– Está bem, talvez acorde em breve. – Eu respondi e Alyssa concordou com um aceno de cabeça. – Onde está o papai?

– Dormindo. Sabe como é Walter. – Laura deu uma risada. – Já que ele está dormindo e Griffin não parece muito animado, o que acham de irmos jantar fora? Só as mulheres da família?

Alyssa bateu palmas, empolgada.

– Vou pegar minha bolsa! – Ela avisou, correndo até a sala de estar.

– Vamos Chloe? – Laura perguntou e eu sorri.

– Claro, só preciso fazer uma coisa antes de irmos. – Avisei e Laura assentiu, seguindo com o cesto de roupa suja para a lavanderia.

Subi as escadas rapidamente, parando em frente a porta aberta de Griffin. Ele usava seus fones, navegando em seu computador. Bati na parede duas vezes, até que ele me percebesse ali. Ao me ver, ele rapidamente tirou os fones e sorriu.

– Oi. Como foi lá?

Eu dei um suspiro, caminhando quarto a dentro e me jogando na cama dele.

– Triste.

Griffin se remexeu em sua cadeira rotatória, ficando de frente a mim.

– Ele vai ficar legal?

– Pensei que não gostasse dele. – Eu ergui a sobrancelha.

– Também não gosto de patos, mas não saio por aí torcendo que eles morram de asma. – Eu não resisti e ri.

– Como conseguiu arrumar a casa tão rápido? – Eu perguntei, muito curiosa.

– Eu não sou tão imprestável quanto você acha que eu sou. – Ele respondeu, piscando o olho. – Também era o mínimo que eu poderia fazer depois de tudo que aconteceu. Foi mal.

– Tudo bem. – Eu respondi. Aquele era oficialmente o dia das desculpas. – Eu tenho que te agradecer, me salvou de uma vida toda de castigo.

Griffin fez que não com a cabeça.

– Não seria justo você ser punida por uma burrada que eu fiz.

– Então... Sem mais festas de agora em diante?

– Sim! – Ele fingiu bater continência como um soldado. – Sem mais festas, a não ser que você queira...

– Griffin.

– Ok, sem mais festas então.

Nós dois rimos.

– Quer jantar fora? Laura nos convidou.

– Se eu quero? Limpar essa casa sozinho me deixou com uma fome de urso. – Ele levantou e pegou o casaco. – Vamos lá, irmãzinha.

Abraçada a Griffin e entre risadas, deixamos o quarto.

Embora estivesse sorridente, minha cabeça estava presa em Dylan Turner, e sua imagem triste naquela cama de hospital.

E que, infelizmente, era uma cena que eu e todos os próximos a ele já estávamos mais do que acostumados a presenciar.




Nos próximos capítulos de

Someone To Save You...

Por quanto tempo eu fiquei inconsciente? – Perguntei a ele, que lia as instruções do médico.

Uma semana. – Devon respondeu. – Mas não se preocupe, irá para casa em breve. O Médico já desligou a máquina, você está respirando normalmente.

Inspirei o ar e percebi que a máquina não fizera seu bip de sempre. Talvez porque ela estivesse desligada e eu estivesse respirando por conta própria.

(...)

Bruxa era o termo que Devon encontrara para designar sua principal sócia, a magnata Phoebe Moretz. Ela e meu irmão já haviam namorado na adolescência, e terem se reencontrado em uma relação profissional tempos depois assustou a princípio. Phoebe era uma mulher ardilosa que sabia como arrancar cada centavo de alguém, e assim fortalecer ainda mais sua rede de empresas que eram espelhadas pelo mundo todo.

(...)

Ninguém sabe quem fez esse ranking ou atualiza o site?

Aquele era um mistério para todos. A garota que atualizava e postava notícias sobre todo o colégio era um mistério, e todos a chamavam de Vermonier. A palavra dela era a lei e tudo que ela escrevia, todos deveriam obedecer. Acho que Kimberly e eu devíamos nossa popularidade a ela.

Vermonier é uma hacker excepcional, sabe disso. – Josh respondeu. – E ao que parece, ela também está com um interesse na novata.

(...)

Quer saber? – Ela me tomou o celular. – Por quê olhar isso não é? Vamos fazer outra coisa, pra você melhorar! Lembra o que a gente fazia quando acabava um dia estressante?

Tomava sorvete? – Perguntei, vasculhando minha mente para lembrar.

Isso também, mas eu quis dizer outra coisa. – Ela esclareceu.

(...)

Nós a avistamos na metade do caminho, mas ao que parecia, ela já havia nos reconhecido muito antes, pela forma como fuzilava Chloe com os olhos e caminhava em nossa direção.

O que está acontecendo aqui? Pode me explicar Dylan? – Kimberly, com seu jeito arrogante, veio me interrogar como se eu fosse um criminoso.

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