Charlie Ryles
Oioi pessoas! Feliz mês de outubro! E os preparativos para o halloween em? Amo *-*
Gente, chegando aqui com essa novidade que alguém me contou (assobia) que eu chegamos aos 4K! Poxa, muito obrigado! sério! Amo demais vocês.
Segundamente, queria dizer que estamos a ONZE capítulos do fim de Someone To Save You. Pessoal, agradeço de coração ao apoio que todos vocês tem dado ao livro. Quando criei, jamais imaginei que esse filho do Enigma das Asas de Ouro ia durar, e não só durou, como ganhou seu próprio fandom e caminha por si só. E pra comemorar, o último POV especial do último personagem que estava faltando. Griffin!
Terceiro, queria dizer que Someone To Save You entrará em hiatus até o dia 13 de Novembro, por motivos maiores chamados ENEM e ainda maiores chamados estudos. É bom e dá aprovação né galera?
Bom, desculpem os erros que vão encontrar no capítulo e boa leitura! <3
Eu poderia muito bem dividir a minha vida em duas fases bem distintas. Como ela era antes e depois da chegada de Chloe Madsen.
Desde que minha mãe e Walter começaram a namorar quando eu tinha por volta dos 13 anos, já sabia que o namorado bobão que minha mãe havia escolhido tinha um passado, que incluía um casamento mal arranjado no velho mundo e uma filha da minha idade. O que eu não sabia, era que, mais cedo ou mais tarde, iríamos ter que conviver.
No começo, pensei que Chloe seria como minha irmã ou qualquer outra garota que vejo pelos corredores da Vermont. Dramática, vaidosa, esnobe e convencida. Acabei quebrando a cara. Minha irmã postiça na verdade era amante do preto como eu, curtia um rock do Led Zeppelin, tinha um cabelo muito diferente do padrão e não gostava de se encaixar em estereótipos, acho que isso me fez engolir a convivência diária que passei a ter com ela.
Mas o que eu não percebi foi que, aos poucos, Chloe Madsen foi virando a minha vida de cabeça pra baixo. Não só a minha, como a de todos da família. De repente, Alyssa não era mais tão egocêntrica, Walter não era mais tão bobalhão e Laura não mais uma simples dona de casa.
Minha rotina de zoar com alguns nerds durante a aula, fumar um baseado depois dela, e ouvir um rock pesado até o dia seguinte foi desaparecendo aos poucos, e me senti quase que alguém descente. E o pior: Eu estava realmente gostando disso. Desse meu outro lado não turrão que estava descobrindo.
Meu relacionamento sem sentido junto com Kimberly tomou um fim, quando ela me despachou, e mais uma vez, Chloe, com seu jeito amável e ao mesmo tempo rude, me retirou da lama. Ela me fez sorrir verdadeiramente, algo que eu jamais imaginei fazer depois de levar um toco da única garota que eu nutria algum sentimento.
Bom, quem sabe Kimberly não fosse a única.
– haha, Chloe, eu preciso te mostrar esse vídeo. – Abri a porta do quarto da ruiva com as costas, e quando não senti nenhuma presença no cômodo além da minha, olhei ao redor, confirmando minha impressão de que não havia ninguém ali fora eu.
Voltei de onde vim e desci as escadas, chamando por Laura:
– Mãe, onde tá a Chloe? – Gritei para a cozinha, escutando o barulho do liquidificador.
– Oh querido, ela e Alyssa viajaram pra excursão da escola, lembra? – Entrei na cozinha e vi Laura concentrada, preparando um de seus doces. – Tem certeza que não quis que eu assinasse sua permissão, Griffin? Está muito tempo em casa, devia sair um pouco e se divertir.
Para eu chegar ao nível de minha mãe pedir pra eu sair de casa e me divertir, era um claro sinal de que o assunto era sério. Embora eu indiretamente acabasse de ter sido chamado de solitário sem vida pela minha mãe, não pude conter um sorriso. A excursão iria ser na semana que vem. Chloe e Alyssa mentiram pra mãe? Interessante. Sinto que acabo de achar um bom motivo para escapar das tarefas domésticas por um mês.
– Ah, jura, mãe? Harriet também foi? – Perguntei, deixando o celular em cima da mesa da cozinha e abrindo a geladeira, procurando algo pra bebericar.
– Sim, sim! Josh também. Nathan. E aquele garoto muito bonito e educado. Qual o nome dele? – Cerrei os punhos involuntariamente. – Oh, sim! Dylan.
Peguei 3 uvas do caxo na porta da geladeira e saí pisando duro da cozinha, ainda irritado. Por que sempre esse cara tinha que rodear minhas irmãs? Harriet era minha amiga, Josh também. Agora você pode se perguntar, mas Griffin, você não odeia todo mundo?
Olha eu até tentei, mas é impossível não amar o Josh.
Mas aquele Dylan e aquela sombra dele eram o motivo da minha raiva. Eu não gostava dos dois. De nenhum dos dois. Um é um cara babaca que se acha o máximo porque é rico,e o outro um loiro tarado que dormiu com minha irmã.
Eu odiava muito aquela duplinha. Ah, como eu odiava.
– Griffin, querido, podemos conversar um instante? – Assustei-me com a voz de minha mãe atrás de mim, e a vi soltar o cabelo loiro, antes preso em um rabo de cavalo, e se sentar na beirada da minha cama. Fazendo sinal para que me sentasse ao lado dela.
Fiz isso logo em seguida.
– Algum problema, mãe? – Perguntei, verdadeiramente preocupado com o olhar profundo de Laura.
– Não, meu filho. Comigo não. – Ela respondeu, me olhando nos olhos. – Griffin, nesses últimos meses, venho percebendo como você vem mudando. Queria ter tido essa conversa com você antes, mas são poucos os momentos que temos sozinhos aqui. E não consigo mais segurar essa minha curiosidade e medo.
– Oh, mãe, não me leva a mal, mas a senhora está me deixando grilado com o rumo dessa conversa, pode dizer logo o que foi? – Minha mãe entreabriu os lábios duas vezes para falar, em duas falhas tentativas.
– Griffin, eu conheço você e a sua irmã mais que a mim mesma. Sei quando estão nervosos, ansiosos, irritados, até mesmo com vergonha. Os dois têm a mania de virar o olhar e retorcer o nariz quando isso acontece. – Ela riu, provavelmente porque eu acabei de fazer exatamente isso. – Mas também sei ler seus olhares. Meu filho, por favor, seja sincero comigo... Está sentindo algo pela Chloe?
Aquela pergunta veio como um tiro na minha testa. Uma pergunta direta, sem rodeios, sem enganação.
– Mãe...
– Querido, por favor, me diga que não. Chloe é como uma filha para mim. Ela é sua irmã. Deve amá-la, mas apenas assim.
– Mãe, eu tenho certeza que você está confundido as coisas...
Laura dá um sorriso triste, e toca em minha bochecha com sua mão fria.
– Queria eu estar, meu filho. Mas eu vi como você a olha. Como age quando Dylan está perto, ou qualquer um que demonstre interesse nela. Griffin, você simplesmente não pode se apaixonar pela sua meia-irmã. – Ela não esperou uma confirmação da minha parte, pois nada que eu dissesse a faria pensar o contrário. – Mas eu vejo que Chloe conseguiu transformar você, ou melhor, conseguir trazer à tona o rapaz doce e carinhoso que se esconde por trás dessas roupas pretas. Eu sempre vou te apoiar em qualquer decisão, meu fillho, desde que não fira a você mesmo e aos outros. Por isso, preciso fazer isso por você. Por mim. Pela nossa família.
– O que quer dizer? – Perguntei, preocupado.
– Você deve se manter o mais longe possível da Chloe. Se não Griffin... – Laura mordeu o lábio inferior. – Vai morar com seu pai em Perth.
Como se não bastasse o primeiro tiro, aí estava o segundo.
Minha relação com meu pai era quase inexistente. Desde que ele abandonou minha mãe e se juntou com outra mulher em Perth, pouquíssimo se tornou nosso contato. De vez em quando, ele ainda mandava algum parabéns por e-mail, ou algum cartão postal de suas viagens pelo correio.
– Eu falei com Steven. – Laura avisou. – E ele acha que realmente é a melhor opção.
– Você vai mesmo me mandar pra longe?! Pra casa de um desconhecido?! – Levantei, tentando conter a minha raiva. Me sentia traído, trocado, e acima de tudo destruído.
– Ele não é um desconhecido. Por mais distantes que vocês possam ser, por mais conturbada que tenha sido nossa relação, Steven ainda é seu pai e quer o seu melhor e o da sua irmã. Assim como eu. – Laura tentou conter suas emoções. – Meu filho, você se apaixonou pela sua meia irmã! E eu bem sei o quanto obcecado você fica quando se apaixona! Olhe o que fez pela Kimberly até hoje!
– E se eu gostar? Qual o problema? Nós não somos irmãos! – Rebati, com toda a minha fúria. – Pois é, tá aí, não era o que você queria ouvir? Eu acho que estou gostando dela sim, e se ela não me ver como eu enxergo ela, tanto faz. Mas isso diz respeito apenas a nós dois, então PARA de se meter no que não te diz respeito!
Sinto um tapa firme em minha bochecha, e a marca dos cinco dedos de minha mãe marcadas em minha face. Levo minha mão ao local avermelhado e a encaro, vendo suas lágrimas de descrença e ódio.
– Eu sou sua mãe, garoto! – Laura esperneou, apontando o dedo pra mim. – E você me deve respeito! Nós somos uma família, e eu não vou deixar que essa sua imaturidade estrague o que conseguimos! Nem que me doa eternamente, mas eu te ponho o mais longe possível da Chloe, se perceber se esse sentimento faz mal a vocês. – Ela se afasta, dirigindo-se à porta. – Já fiz demais a sua vontade, garoto. Tá na hora de correr atrás do tempo perdido e corrigir esse menino mimado que você é.
Sem me deixar responder, minha mãe bateu à porta, e eu senti um ódio enorme correr pelas minhas veias.
***
Pela primeira vez, o trabalho parecia melhor do que ficar em casa.
Após todas aquelas acusações da minha mãe, senti que o melhor era ficar longe daquele ambiente pesado. E por incrível que pareça, o trabalho caiu como uma luva.
Estava trabalhando na floricultura da senhora Krabapel desde o trabalho de classe que a professora de estudos sociais passou. Acabei ganhando uma boa grana nas entregas de flores, e era bom ter dinheiro pelo seu próprio trabalho. Então, acabei ficando.
Assim que entrei, senhora Krabapel regava suas margaridas, assobiando algum jazz dos anos oitenta. Em breve, a floricultura Krabapel seria capaz de comprar o imóvel ao lado e aumentar o espaço para as flores, e a alegria da minha chefe em saber isso era evidente.
– Boa tarde, senhora Krabapel. – Cumprimentei-a, educado, indo para o meu lugar no caixa.
– Oh, olá, Griffin, doçura. – Ela respondeu com aquele seu sorriso de sempre, batendo sua bengala no chão.
– Algum pedido pra hoje? – Quis saber, colocando meu crachá da floricultura.
– Oh, sim. A Revista Versalle pediu alguns lírios para decoração de ambientes. Já os separei. – Ela apontou para a caixa. – Pode entregar?
– Deixa comigo, chefinha. – Segurei a caixa com dificuldade e levei-a até a bicicleta que usava para fazer as entregas.
Durante o trajeto, enquanto o trânsito corria ao meu lado na ciclovia, fiquei pensando no porquê Chloe e Alyssa quiseram ir mais cedo para aquela excursão. Claro, toda a escola estava mais do que empolgada pra ir a Brumby, menos eu. Aquele cubo de gelo em forma de cidade não me atraía em nada.
A não ser que fosse uma desculpa para que ela e Dylan tivessem um tempo juntos. Claro que aquele idiota não poderia esperar uma chance de ficar sozinho com Chloe, longe da mídia e de qualquer um que atrapalhasse uma aproximação.
Era incrível como Dylan Turner sempre era um fardo em meu caminho. Parecia que tudo que ele fazia era para que eu não alcançasse meus objetivos ou a minha felicidade. Qualquer que fosse meu plano, ele sempre estava um passo a frente.
Preso nos meus pensamentos, quase não desviei a tempo de um pedestre, que me xingou de algo que não ouvi. Depois desse semi acidente, resolvi prestar mais atenção no meu caminho até que avistasse depois de uma subida, o prédio da revista Versalle.
Não era segredo pra ninguém que os Turner estavam quebrados, mas o intrigante era que a revista continuava intacta. Aparentemente, a Turner Corp não tinha qualquer relação com a Versalle, e eram empresas isoladas. Mas se a Versalle também era dos Turner e não tinha nada com a corporação, por que não utilizaram a renda da revista para saírem do buraco?
Claramente, o gene Turner não dava inteligência o suficiente para que Dylan ou seus parentes idiotas pensassem nisso.
Ao entrar no edifício, avisei que trazia o pedido feito a floricultura Krabapel e a mulher me instruiu a pegar o elevador de serviços até o último andar. Não que eu precisasse dessa informação, já que conhecia aquele prédio com a palma de sua mão, pela quantidade de vezes que visitei Harriet ali (que agora preferia a companhia de Chloe a minha).
Foi quando vi aquele estúdio de fotos pela milésima vez, e lá estava Lacey Cross em um vestido rodado, sentada em um balanço, tirando fotos para uma marca de roupas. Lembro de quando tive uma paixonite por ela e comprava a Versalle apenas para ver as fotos de Lacey de bíquini. Hoje em dia, ela só me dava ranço mesmo.
– E quem é você? – Um homem alto, careca como Walter, usando uma roupa mais colorida que a pelagem de um periquito surgiu em meu campo de visão. Em seu rosto, um óculos de lentes vermelhas ridículo. – Oh, mon dieu! Meninas, cadê aquela outra modelo? Ai, meu Deus! Minha pele! Ela reage mal ao stress! – Ele começou a abanar o rosto e duas secretárias começaram a abaná-lo e soprar em seu rosto. – Oh, estou morta! – Finalmente, o viado percebeu minha presença. – Quem chamou esse Liam Hemsworth tatuado? – Ele apontou pra mim, como se eu não pudesse ouvir o que ele falava.
– Sou da floricultura, vim entregar essas flores que pediu. – Avisei, trincando os dentes e me controlando para não ser rude e "afugentar" o cliente.
Lacey tirou uma última foto e seu sorriso sumiu, recebendo uma garrafa de água gelada da assistente. Percebendo a confusão entre eu e o periquito careca, ela se aproximou:
– Algum problema, Hewitt? – Ela claramente não gostava muito de mim. Como se eu me importasse.
Hewitt se abanou mais uma vez e se abanou, indo rebolando até Lacey.
– Rien, de cherí. – Ele respondeu, improvisando um terrível sotaque francês. – É só o entregador da floricultura. Isso não me preocupa. Quero saber onde está o modelo que vai participar do catálogo!
– Má notícia, Hewitt. – Lacey viu a tela bloqueada de seu celular. – Parece que o modelo teve um imprevisto e não vai poder vir.
Eu juro que vi o rosto de Hewitt passar de rosado a pálido em menos de meio segundo, como se seu corpo tivesse esquecido de produzir melanina e vitamina D.
– Oh non! Quoi maintenant? – Ele fez um drama, fingindo desmaiar e Lacey girou os olhos.
– Pode dizer onde eu ponho isso e recebo a grana? – Perguntei a Lacey, que apontou para uma porta no final do corredor.
Deixando de lado os gritos e apelos do tal Hewitt, segui as instruções de Lacey Cross e adentrei a última porta. Era o escritório de Lyn Turner. Pude perceber isso com o porta retrato dela e da família acima da mesa. Deixei a caixa com as flores ali e não pude deixar de assobiar ao ver o tamanho daquela sala, que parecia dar umas vinte da sala de estar lá de casa.
Vários cabides de roupas estavam expostos ao lado da mesa. Um deles estava vazio. Devia ser o que Lacey estava usando. Depois de muitas femininas, havia algumas masculinas, entre elas um casaco jeans de cor branca, que me era muito familiar.
Mesmo algo me dizendo que era errado, retirei o casaco jeans do cabide e li o nome gravado na parte de dentro. Charlie.
– Eiei, Charlie... – Eu falei, querendo rir. – Que felicidade é essa? Parece que ganhou na loteria ou algo assim! Recebi sua mensagem, o que foi?
– Grif, você não vai acreditar! – Ele me encarou com seus olhos castanhos, que brilhavam em pura euforia. – A Versalle! Eles me chamaram para fazer o teste para modelo da marca, em Milão!
– Quê? Tá de brincadeira? – Lembrei de todas as vezes que nós dois, ainda moleques, sentávamos do outro lado da calçada, contemplando o arranha céu da Versalle. Pensando se um dia seríamos como os garotos que trabalhavam ali, ricos e poderosos. Quer dizer, eu não. Charlie era diferente. Ele sempre foi vaidoso, exibido, e muito mais ambicioso do que eu. – A gente precisa comemorar! Vamos chamar a galera! Vai ser demais.
– Grif, não vai dar. – Ele disse isso, estranhamente não mais tão empolgado. – O teste, ele é em Milão.
– Milão? Tipo, Milão, na Itália? – Charlie assentiu, com um sorriso triste e fraco.
– Isso. – Não pude esconder um pouco a minha decepção, mas Charlie socou de brincadeira meu ombro. – Mas eu vou voltar, ganhar muita grana e aí,toda aquela farra que a gente sonhou vai virar realidade! Vai por mim, Griffin, o futuro reserva grandes coisas pra Charlie Ryles.
Meses depois, Charlie retornou dentro de um caixão, para ser velado. Vítima de um acidente sem respaldo algum das autoridades legais, o caso de Charlie Ryles foi esquecido pela mídia e pela Sydney. Acho que isso me fez me fechar ao mundo, antes de mais nada. Eu confiei e tive esperanças que Charlie voltaria, e acabei recebendo a pior das notícias. A partir daí, o mundo se fechou para mim.
Mesmo sentindo que aquilo era errado, vesti o casaco que Charlie usava. Era o mesmo que ele usava na primeira capa da Versalle que ele ficou. Aquele bem material que significava toda a vida que meu antigo melhor amigo deixou pra trás.
De repente, escutei conversas indistintas vindas do corredor. Embora não estivesse ali sem consentimento, meus reflexos de vândalo gritaram em meu subconsciente para achar um esconderijo. Rapidamente, me encolhi entre a pilha de roupas fora dos cabides, e fechei a porta de um armário atrás de mim, deixando apenas uma pequena brecha para que pudesse ver e ouvir o que era dito do lado de fora.
Quando duas pessoas entraram, a porta foi fechada de forma bruta. Lyn surgiu em meu campo de visão com toda a classe que tinha, mas seus gestos e movimentos denunciavam sua raiva.
– O Dylan o quê?! – Ela indagou para a outra pessoa, que era Vincent Harris, um dos agentes da polícia de Sydney.
– Ele foi até o meu apartamento, junto com o Nathan. Me falaram sobre o garoto. Charlie Ryles. Acho que consegui convencê-los a ficarem de boca fechada. – Contive um grito de surpresa, tapando a minha boca.
– ACHA? Você acha, Vince?! Tivemos muita sorte do Dylan ter te procurado! E se ele resolvesse falar isso pra outra pessoa? Outro policial? Ele estaria na cadeia e aí sim, Vince, nós estaríamos perdidos. – Lyn massageou as têmporas. – Joanne me deu a tarefa de proteger a empresa e os filhos dela. Os dois.
– Aí vai o Dylan e mata um garoto. – Vince responde, com um sorrisinho.
Mata um garoto
Mata um garoto.
Mata.
Garoto.
Charlie.
Mata.
Charlie.
Era como se o mundo tivesse parado de girar. Uma chuva de perguntas que não tinham resposta caiu em minha mente. Meus membros começaram a tremer, minhas mãos passaram a suar, e a imagem de Charlie me dizendo adeus naquele dia, há três anos atrás, escondido em minhas memórias, retornou com força total.
O ódio se espalhou pelo meu corpo como um vírus letal. Cada grama do meu ser odiou Dylan Turner de uma forma que nunca pensei ser possível. Apenas a lembrança da voz, da aparência, do jeito dele. Tudo me trazia raiva e ânsia.
Ele me tomou meu melhor amigo.
Me tomou Kimberly. Meu primeiro amor.
Eu não ia deixar que ele me levasse Chloe também.
Tudo que eu sei é que Lyn e Vince não demoraram a deixar a sala, mas eu permaneci lá. Se foram segundos ou horas? Isso realmente eu não consegui distinguir.
***
Depois daquela bomba ser jogada em meu colo e a ira ainda correr por minhas veias, acabei esquecendo até do dinheiro das flores. Não importa. Pegaria depois, ou quem sabe tiraria do meu próprio bolso. Naquele instante, apenas choque e dúvidas invadiam meus pensamentos.
Deixei o prédio o mais rápido que pude, peguei a bicicleta e pedalei o mais rápido que consegui daquele berço de mentiras. E então, enquanto pedalava, senti algo úmido e salgado descer pelo meu rosto. Algo que não acontecia desde os meus onze anos, quando meu pai foi embora de casa. Eu estava aos prantos.
– Então... Eu acho que é isso. – Cocei a nuca, na frente do embarque internacional. Charlie estava de malas prontas e preparado para cruzar o portão. Sua mãe estava chorando muito e seus irmãos a levaram para longe para que se acalmasse. – Só se cuida por lá. – Tentando não deixar minha pose de macho orgulhoso, ergui minha mão, para que ele a apertasse.
Mas Charlie não o fez. No lugar de um aperto de mão, ele me puxou pelos ombros e me deu um forte abraço. Durou menos de um segundo para que eu o correspondesse da mesma maneira.
– Você é meu melhor amigo, Griffin. E eu vou sentir muito a sua falta. – Quando nos separamos, percebi seu lábio inferior trêmulo, como se estivesse a um passo de se emocionar.
Eu resisti bem a minhas emoções, mas também já estava prestes a ceder.
– passageiros do voo 345 para Milão, por favor, encaminhem-se ao portão dois. Última chamada.
Charlie colocou os óculos escuros até então guardados no bolso de seu casaco jeans branco.
– Pode olhar esse rosto com calma, Anderson. Na próxima vez que vê-lo, será nas capas da Versalle. - Eu sorri de canto e acenei para ele, que começou a se distanciar.
Naquele momento que eu não sabia que era uma despedida.
Meus pés pedalaram sozinhos até o subúrbio de Sydney. Nem consegui me dar conta de quanto os edifícios luxuosos da orla deram lugar aos casebres e precárias habitações. Um carro alarmava ao fundo e alguns gatos haviam virado uma lata de luxo para atacar seus dejetos. A cada dia que visitava aquele lugar, lembrava-me do porque Charlie queria tanto mudar de vida.
Todavia, ele não era o único de sua família, que procurava subir de alguma maneira.
Ele estava no beco que costumava dar continuidade aos seus acordos. Algum viciado sem futuro tinha os olhos secos e vermelhos, usando trapos em formatos de roupas, falando de forma entrecortada.
– Escuta Vladimir, passa a mercadoria que depois eu te descolo a grana. – O homem de aparência pálida garantiu, que um aspecto terrível.
Vladimir deu um riso nasalizado.
– Eu não seria o maior traficante de Sydney se caísse em promessas de viciados como essa sua. Anda, vaza daqui, seu merda. – Ele empurrou o homem fraco no chão, que desistindo de conversar com o loiro tatuado, se afastou cambaleando.
Foi só aí que Vladimir percebeu minha presença na entrada do beco. Ele deu um meio sorriso e um aceno.
– Griffin Anderson, não sabia que estava na vizinhança. – Vladimir ironizou. – Quer outra mercadoria? Os mauricinhos do seu colégio compram muito não é? – Ele acendeu um cigarro e pôs na boca. – Posso te arranjar uma parcela se eu tiver minha fatia do bolo.
– Não quero suas drogas.
Vladimir sempre foi muito observador, e não demorou a reparar em minhas mãos que tremiam e em meu rosto suado.
– Então, o que você quer, Griffin? – Eu não respondi. Vladimir se aproximou e pôs a mão em meu ombro. – Vamos, sabe que faço qualquer coisa pelos amigos do meu irmãozinho.
Ouvir Vladimir mencionar Charlie fez minha ira aumentar. A imagem de Dylan sorrindo para as câmeras nas capas que deveriam ser dele me fizeram fervilhar de raiva. Tudo era culpa dele. Sempre foi. Devia tê-lo deixado morrer naquela festa que fiz no começo do ano. Como um idiota, havia o salvado.
Eu ia me vingar por Charlie.
– O Charlie. Ele foi assassinado. – Joguei a informação como quem puxa a casca de uma ferida. Vladimir deu um passo para trás, ainda pego pelo baque da notícia.
– O quê? – Vladmir olhava fixamente para o chão, em um ato de pura descrença. Levou apenas um minuto para uma veia saliente saltar em sua testa e seus punhos cerrarem. – Quem foi?!
Eu dei um passo na direção de Vladimir.
– Dylan Turner. O herdeiro dos Turner. Modelo capa da Versalle. Famosinho da Vermont. Favoritinho de todos. – Dei cada um de seus títulos, com vontade de cuspir seu nome.
Os olhos de Vladimir se tornaram sombrios. Ele também havia sofrido pela perda do irmão, e seu ódio era tão grande quanto o meu. Pois eu sabia que só Vladimir, dono do crime de Sydney, seria capaz de fazer o que eu sempre desejei:
Tirar Dylan Turner do meu caminho. De uma vez por todas.
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