Brumby, here we go.
Oioi galerinha! Tudo bom? Feliz Setembro (aquela pessoa bem adiantada que vem desejar feliz setembro quando o mês tá acabando).
Chegamos a fatídica viagem a Brumby e a partir daqui estamos na contagem regressiva para o fim da história, gente! Mais uma vez, agradeço a todos que me acompanharam até aqui e comentaram, curtiram e divulgaram! Obrigado demais!
Erros pra variar tem bastante. Ignorem. Faz bem pra saúde.
Vamos ao capítulo e um abraço!
Brumby, here we go*Brumby, aqui vamos nós.
Nova York, campus da NYU, 1983
Os cartazes de protesto mal pintados tomavam o campus da NYU.
Os jovens universitários gritavam versos rimados e se colocavam de plantão de frente ao prédio da reitoria, distribuindo panfletos para que todos os que passassem tomassem consciência do projeto e da sua importância. Os megafones não tinham um minuto de descanso, e do outro lado do campus, a voz cheia de garra e valentia dos engajados na causa não parecia que ia diminuir.
– Salvem o bosque Curley! – Elias, no auge dos seus 22 anos, usava de toda sua disposição e energia para aquela causa nobre. Seus amigos gritavam no topo do palanque, enquanto ele, o simples estudante de economia da universidade Nova York parava outros alunos que seguiam seus caminhos, a procura de uma simples assinatura. – Apenas uma assinatura pode ajudar a salvar esse lugar que é patrimônio da nossa história! Com licença, senhor...
– SALVE O BOSQUE CURLEY! SALVE O BOSQUE CURLEY! – A multidão enfurecida de estudantes do movimento parecia aumentar a cada instante. Elias gritaria junto com eles, mas tinha de poupar sua voz para abordar os que passavam.
– Se a senhora conseguir me dar um segundo de sua atenção, eu... – Uma senhora de idade passou pela movimentação, e ignorou a causa com sucesso. – Merda. – Elias xingou a si mesmo por não ter sido rápido o suficiente para abordá-la.
– Quantas assinaturas? – Elias se assustou ao ouvir uma voz feminina murmurar atrás de si. Ele se virou e se deparou com uma linda universitária, usando um vestido da moda hippie dos anos sessenta, óculos de lentes redondas vermelhas e uma faixa amarrada na testa. Visual muito parecido com o seu, que usava as calças de couro marrom e o cabelo comprido na altura do pescoço.
– Vinte. Não estou indo muito bem. – Elias coçou a nuca e a garota riu, alcançando a prancheta de sua mão e a assinando rapidamente.
– Aqui. – Ela entregou a prancheta de volta a ele, que deu um sorriso agradecido. – Posso ajudar na causa? O Bosque Curley merece nosso respeito.
Elias assentiu, e entregou a prancheta a garota, que rapidamente parou dois jovens que passavam e conseguiu mais duas assinaturas. Ele então correu até os amigos que gritavam e exigiu que os escutassem e respeitassem aquele bosque tão importante.
– Salvem o bosque Curley! – Mesmo sem megafone, a voz dela era a mais forte que Elias ouvia, e todos que por ali passavam agora notavam a existência da causa. Os olhos verdes dela brilhavam de valentia e coragem.
Tocado pela força de vontade dela, Elias e o grupo se manifestaram com mais vontade. E ao conseguirem todas as assinaturas, comemoraram. A misteriosa ajudante assistiu o momento que o grupo deu um abraço coletivo, deu um sorriso pequeno e se afastou.
– Espera, não vai comemorar com a gente? – Elias a fez parar no meio do caminho, e depois se virar para ele. – Não teríamos conseguido se não fosse você.
– Não é verdade, teriam sim. – Ela respondeu. – Mas essa comemoração não é minha. Preciso ir, Elias.
– Opa, calma aí, como sabe meu nome? – Elias perguntou, curioso. Ela era realmente um enigma, com aqueles olhos penetrantes e o sotaque britânico forte.
– Escutei seus amigos te chamando. – De repente, o mistério passou a ser menos misterioso.
– E nós podemos saber o seu nome? – Nós estava mais para ele.
Ela abraçou o próprio corpo e riu da maneira atrapalhada que Elias se referia à ela, com tanta relutância nos atos e palavras, pensando que poderia falar algo errado.
– Joanne. Joanne Barnes. – Mesmo ela sabendo seu nome, ele sentiu que também deveria se apresentar.
– Prazer, Joanne. Elias. Elias Enoch. – Os dois apertaram as mãos e sorriram.
Já completamente fascinados um pelo outro.
No instante em que Vince viu a mim e a Nathan parados em sua porta, não escondeu a surpresa. Ele gaguejou em sua primeira frase e nos deu passagem.
– O-olá Dylan. Nathan. Podem entrar, fiquem à vontade. – Ele nos guiou até o grande sofá de sua sala, confortável, por sinal. – O que fazem por aqui?
Estava ali para cumprir a promessa que havia feito a Nathan. O loiro me encarava como se esperasse que eu finalmente falasse, mas tinha de admitir que estar com problemas e pedir ajuda a Vincent Harris não era minha ideia de paraíso.
– Preciso de ajuda. Pode me ajudar? – Foi a única frase que consegui proferir sem ter ânsia da situação e de mim mesmo.
Nathan me fuzilou com os olhos e tomou a palavra.
– Vince, a mídia está dando muito em cima dos Turner, e a verdade é que, se investigarem muito os podres da família, podem chegar a um. Não verdadeiramente da empresa, mas um pessoal do Dylan. – Foi óbvio que ele resumiu bem melhor do que eu.
– É verdade, mas eu sinto muito, a menos que tenha haver com a polícia, não posso fazer nada. – Ao ver o sorriso amarelo que Nathan deu, Vince massageou as têmporas. – Ah meu Deus, envolve a polícia.
Nathan assentiu, dando base as suspeitas dele.
– O que aconteceu?
Dylan e eu nos entreolhamos.
– Existia um garoto daqui de Sydney. – Manifestei-me. – O nome dele era Charlie.
– Charlie... – Vince ficou pensativo. – Não me recordo desse nome nos arquivos da polícia.
Nathan fez um "tsc" com a língua, como se quisesse que eu prosseguisse.
– Ele era um modelo da Versalle, nos conhecemos em Milão. Eu era jovem na época, e Charlie era um mundo novo de diversão. Eu e ele aprontamos muito. Coisas que não me orgulho. Até que um dia, a vida cheia de adrenalina que ele escolheu viver causou seu próprio fim. – Fiz um resumo do que basicamente havia ocorrido.
– Entendo. – Não precisei dizer nas minhas palavras o que quis dizer, as entrelinhas haviam sido bem claras. – Mas Dylan, se vou ajudá-lo nisso, eu preciso saber. Esse Charlie... Você tem algo haver com a morte dele?
Fiquei em silêncio, e Vince olhou de mim para Nathan como um olhar incisivo. Seu relógio de prata refletindo a luz do dia que mal havia acabado de nascer.
– Vou ser mais claro na minha pergunta, então. – Ele avisou. – Dylan, você assassinou esse Charlie?
Olhei para Nathan como se pedisse um estímulo, e o loiro assentiu devagar. Se Nathan confiava nele, eu também confiaria.
E então, disse a resposta que jamais imaginei dar a ninguém.
***
Era uma van caindo aos pedaços.
Chloe coçou os olhos para ver se seu olhar não a enganava. Kimberly abriu a boca em um "o" perfeito. Nathan fez um facepalm na mesma hora e Harriet deixou sua mala ir ao chão junto com todas as suas expectativas.
Josh, sendo o único que ainda mantinha a animação, saiu do banco do motorista e bateu de leve no para choque da van, que começou a sair fumaça.
– E aí galera, o que acharam desse meu possante? Uma máquina feroz, não é mesmo? – Josh indagou, acariciando a tampa do motor como se fizesse carinho em um mascote.
– Deve ter sido, na era mesozoica. – Kimberly cruzou os braços. – No calor de trinta graus dessa cidade vamos andar nesse troço aí? Isso pelo menos tem ar condicionado?!
– Muito melhor, minha cara... – Josh balbuciou. – Temos vidros que abaixam para sentirmos o ar natural.
– Seria ótimo se o caminho para Brumby não passasse pelo setor industrial. – Chloe lembrou , dando um suspiro.
– Devia eu mesmo ter cuidado do transporte. – Nathan se lamentou. – Mas agora é tarde né.
– Vamos lá galera, todos a bordo do meu conversível. – Contrariamente a Josh, todos começamos a colocar nossas malas no compartimento de trás, nada animados. Harriet terminou de por sua bagagem e entrou no banco ao lado de Josh. – E aí, amor, acha que posso competir na redoma com a velha Carly aqui? – Ele perguntou, acariciando o painel da van.
Harriet deu um olhar de pena pra Josh e beijou sua bochecha.
– Ah, amor, você tem tanta sorte de ser bonito. – Ela deu um leve tapinha na bochecha dele e todos rimos.
– O que isso quer dizer? – Josh não entendeu a indireta.
– Nada não. – Harriet fugiu do assunto, enquanto todos nós já estávamos em nossos devidos lugares. – Liga logo essa coisa.
– ESPEREM POR MIM!
Antes que Josh pudesse virar a chave, ouvimos um grito vindo da rua. Alyssa corria feito uma desesperada segurando sua mala de rodinhas, acenando para a van. Chloe fez uma careta engraçada e Harriet ficou de joelhos no banco, virada para trás para falar com a ruiva.
– Chlô, ou a Alyssa ou a Kimberly, não tenho paciência pra aguentar as duas. – Kimberly fez uma cara de insultada, mas ninguém mesmo se importava se ela estava insultada ou não.
– Concordo com a Harriet. – Nathan apoiou.
– Oi, turminha. – Alyssa abriu o capô da van e jogou sua mala dentro, abrindo a porta do banco de trás e sentando ao meu lado. – Desculpe o atraso Kim, não estava achando aquele meu cachecol tendência. Pronto Josh, podemos ir.
Josh fez um legal com o dedo e se virou na direção do parabrisa, pondo óculos escuros.
– Prontos ou não... – Ele sorriu de canto. – É hora de pegarmos a estrada!
***
Depois de duas horas na estrada, Josh parou para abastecer.
A viagem não estava sendo muito confortável. O dia estava quente e a temperatura não ficaria mais amena até que começássemos a subir os alpes. O escapamento da van, desculpe, Carly (Josh dizia que ela se irritava quando a chamávamos de van), estava quebrado e conseguíamos inalar a fumaça de onde estávamos.
Chloe estava sentada ao meu lado durante todo o percurso e eu pensei em mil formas de puxar um assunto, mas pareceu que nosso contato só estava mais difícil depois que eu admiti que havia algo a mais em nossa amizade.
Nathan, por sua vez, para a minha alegria, não estava dando a mínima. Seu súbito interesse por Chloe parecia ter desaparecido de vez, já que tudo que ele fez foi dormir a viagem toda, mesmo com os inconvenientes. Ele passou a noite toda tentando convencer Mercedes a deixá-lo em paz pelo celular e agora, estava exausto. Sua cabeça nos movimentos da viagem acabou caindo sobre o ombro de Alyssa, que surpreendentemente, não reclamou, apenas deixando que o loiro descansasse em seu ombro.
Kimberly ficou olhando seu próprio reflexo no fumê do vidro para passar batom. Nos bancos da frente, Josh e Harriet conversavam sobre algo que eu não estava escutando e os pneus de Carly faziam um barulho estranho.
Depois de ir no banheiro com o capuz do meu casaco na cabeça para não ser reconhecido, voltei a tomar meu lugar e Chloe já estava ali, concentrada em seu celular. Acabei olhando a tela e vi que ela estava pesquisando algo no Google.
– Tyler Andrews?! – Minha garganta coçou ao falar esse nome, mas não tanto quanto meus neurônios ao pensar o que Chloe queria saber sobre ele. – Por que está procurando algo sobre o Tyler?
Senti que Chloe paralisou no lugar. Ela deixou a janela de leitura e mordeu o lábio inferior.
– Nada.
– Como assim nada?
– Não é da sua conta! – Ela me cortou, rude.
– Tudo que diz respeito a esse maníaco sempre vai ser da minha conta, Chloe! – Rebati, sério. – Ou não sabe o que esse sujeito fez com meu irmão?
Todos conheciam essa história. Afinal, foi esse o primeiro acontecimento que colocou Devon nas capas internacionais. O fatídico dia em que o aluno do internato inglês de Goldwing sequestrava seus antigos amigos e tentava assassiná-los, entre eles, seu suposto melhor amigo, Devon Turner.
Eu ainda era um garotinho na época, que não percebeu a gravidade da situação, ou não soube dos detalhes até estar preparado para não sair traumatizado. Devon ainda tinha algumas queimaduras espalhadas pelo corpo.
– Sim, eu sei. Eu estava lá, lembra? Também estudava em Goldwing quando isso aconteceu e fecharam a escola. – Chloe explicou, contrariada. – Mas esse é o ponto, Dylan, só sabemos isso. Por que ele sequestrou seu irmão e aqueles outros adolescentes? Você sabe o porquê?
– Chloe, não me leva a mal, mas toda a minha família sofreu muito com essa história, e não quero lembrar dela agora. Muito menos que você se machuque. – Cerrei os punhos, tentando esquecer os momentos horríveis pelos quais meu irmão passou e nunca teve coragem de falar.
– Eu posso me defender sozinha, muito obrigada. – Ela suspirou e guardou o celular de vez. Ambos já estávamos prevendo que se ela não o fizesse, a discussão iria perdurar por mais um tempo.
Os outros voltaram a van depois de alguns minutos e seguimos viagem. Josh ligou o rádio para sanar o silêncio que se instalou depois de todos comerem e adormecerem. Apenas eu, Chloe e Josh que dirigia estávamos despertos.
Mil motivos de o que Chloe queria com Tyler passavam por minha cabeça. Sabia que exigir que ela parasse aquela busca só iria fazê-la ficar com raiva, e a ruiva não pensava racionalmente quando estava tomada pela fúria. Pensando bem, Chloe nunca raciocinava muito bem. Ela era muito de seguir os instintos. Impulsiva. Como Devon. Como Charlie.
Será que Chloe acreditaria em mim se soubesse o que aconteceu ao Charlie? Ou me olharia com aquele misto de dúvida e medo o qual Nathan me olhou naquela noite? Apoiei minha cabeça no banco e olhei para o teto do carro, apenas querendo que chegássemos logo a Brumby.
Não havia nada pior do que passar um tempo conversando mentalmente consigo mesmo. Porque no meu caso, eu era o meu pior inimigo.
***
Chegamos a Brumby na hora do almoço.
Josh teve que desligar o ar-condicionado e ligar o aquecedor assim que começamos a subir a montanha íngrime. Vimos os troncos secos sem folhas passando rápido na paisagem, e aos poucos, outros ainda mais secos surgiam, mas cheios de neve. A tração quatro rodas da van teve de ser ligadas para que não ficássemos presos na neve densa, que aos poucos caís sobre a estrada.
Quando finalmente vimos a placa sinalizando área urbana, Chloe tocou no ombro de Alyssa, que despertou ao mesmo tempo que Nathan. O loiro ficou sem graça de ter adormecido no ombro dela.
– Você baba enquanto dorme. – Alyssa disse ao meu amigo, que virou o rosto, meio vermelho.
– Foi mal. – Nathan respondeu, sem jeito.
Vimos as ruas lotadas de neve e pessoas cruzando as calçadas com suas roupas pesadas. Nos pastos mais atrás, víamos algumas renas se alimentando de feno estocado em celeiros. Alyssa e Kimberly piraram ao ver uma loja com artigos de frio da última moda e Harriet sugeriu que as jogássemos do carro, mas mudou de ideia quando ouviu que Kimberly iria pagar nosso almoço.
O hotel do amigo do tio de Josh ficava um pouco afastado do centro, próximo a saída de Brumby. Antes de deixarmos a van, vestimos roupas mais quentes e logo senti o ar frio dos alpes bater contra meu rosto.
– Parece que um arco íris vomitou em você. – Josh comentou a Alyssa, que causava com sua roupa inteiramente rosa.
– Estou ficando cega. – Harriet resmungou.
– Podemos entrar? Sou do Tennessee e aqui fora tá congelando. – Nathan abraçou o próprio corpo, andando à nossa frente.
O saguão do hotel era bem rústico. Uma grande chaminé, tapete de pele de animal e piso de madeira. Uma lareira ajudava a esquentar a sala da recepção, e um senhor de bigode lia uma revista com uma capa que dizia "Imperdível! Promoção de sofás usados!" Ao ver Josh, o homem abriu os braços.
– Josh, meu garoto! Que bom vê-lo! – Os dois se abraçaram, dando boas risadas. – Como vai seu velho tio?
– Vai bem, Manny. Mandou um grande abraço pra você e sua senhora. – Josh respondeu, guiando o homem chamado Manny até nós. – Gente, esse é o gerente do hotel, Manny.
– Oi Manny. – Todos dissemos em conjunto, tremendo de frio.
Acho que todos nos acostumamos demais com o calor de Sydney.
– Manny, essa é minha namorada Harriet. – Harriet apertou a mão do senhor Manny, e deu um sorriso educado. – E esses são Alyssa, Nathan, Chloe, Dylan e Kimberly. Amigos meus.
Ele cumprimentou a todos nós de forma animada e empolgada, nos contagiando com seu bom humor.
– Muito bem-vindos, garotos. Qualquer amigo do Josh é meu amigo também! – Ele nos recepcionou. – Espero que gostem de Brumby. Nossa cidade é pequena mas é aconchegante. Sintam-se muito à vontade. Venham, vou mostrar os quartos.
Seguimos Manny até o andar de cima. No primeiro andar, andamos até o final do corredor, parando em frente a placa dourada de número 102. Ele abriu a porta e deu passagem às garotas.
– Esse é o quarto das senhoritas. São dois beliches. Desculpem a simplicidade. Meu hotel não é lá muito luxuoso. – Kimberly fez uma careta, mas Chloe pisou em seu pé para que ela soltasse ao menos um riso forçado.
– Está ótimo, senhor Manny. – Harriet respondeu.
– Por favor, senhor está no céu. Me chamem de Manny. – Todos rimos e Manny se afastou, fazendo sinal para que eu, Nathan e Josh o seguíssemos. – Vamos, vou mostrar o quarto de vocês.
Passamos por mais um lance de escadas até que paramos na segunda porta à direita, com o número "208". Manny abriu a porta e entregou a chave a Nathan.
– Aí está. Aproveitem a estadia. – Agradecemos a Manny mais uma vez e ele se afastou, descendo às escadas para voltar ao seu posto na recepção.
Era um beliche e uma cama de solteiro.
– Vocês são um casal, fiquem no beliche. Eu fico na cama. – Não era como se pudéssemos dizer não. Josh se jogou sobre a cama e afundou o rosto no travesseiro.
Arrumamos nossas coisas e descemos para o hall mais uma vez. Pegamos uma mesa no restaurante do hotel e esperamos as meninas descerem. Quando elas chegaram, fizemos o pedido.
– Cadê a Alyssa? – Nathan quis saber. – Quer dizer, não que eu me importe.
– Está procurando a bolsa dela. – Chloe respondeu. – Ela não está achando.
A comida chegou e Alyssa não desceu.
– Será que o quarto engoliu a Alyssa? Vai ter uma indigestão com o tanto de produto pra cabelo que ela usa. – Kimberly soltou seu veneno, dando uma garfada em sua salada.
Bastou a mencionarmos que ela finalmente desceu. Seu rosto demonstrava raiva e muita descrença. Ela parou na frente da mesa e esbravejou sua tensão:
– ESQUECI MINHA BOLSA NAQUELE POSTO. – Ela avisou. Josh riu da expressão dela e Harriet também.
– Se fodeu, então. – Ela falou, nem um pouco tocada com a notícia.
– Vocês não entendem, o Eric me deu aquela bolsa. Preciso pegá-la de volta, mas marquei minha hidromassagem pra daqui a duas horas! Alguém desce a montanha com a van e vai buscar, por favorzinho!
– Ah tá. – Nathan girou os olhos.
– CHLOE! MINHA BOLSA! – Ela puxou a manga do casaco da irma postiça repetidamente. – Vai, por favor.
– Quê? Mas nunca. – Chloe ralhou.
– Lembra do dia que você errou sua tabelinha e tive que correr pra comprar absor... – Chloe tapou a boca de Alyssa com o rosto corado.
– Tá bem, eu vou. – Chloe se levantou aborrecida. – Pera... Eu não sei dirigir.
– TÔ COM DOR NAS COSTAS. – Josh gritou.
– Eu não tenho carteira pra carros. – Nathan se absteve.
– Eu não faço favores a ninguém. – Kimberly se manifestou.
– Eu só não quero mesmo. – Harriet deu de ombros.
Todos olharam para mim. Suspirei cansado. Não era como se eu tivesse escolha. Josh me jogou a chave da van e apontei com o queixo para a saída, onde estacionamos a van, Chloe me seguiu, assim como eu, nada satisfeita.
***
O vento estava forte e o aquecedor não estava mais dando conta de acabar com o frio.
Mas além do frio de fora, o gelo que estava dando em Chloe também não era nada confortante. O silêncio constrangedor reinou na maior parte do tempo, e quando a ruiva tentava iniciar algum diálogo, eu respondia com respostas curtas e sanava o assunto ali.
– Vai ficar assim comigo a viagem toda só por aquela besteira? – Ela indagou, se referindo à pesquisa que a vi fazendo sobre Tyler. – Quantos anos você tem? Oito?!
– Aí está, Chloe! Não tenho oito anos, mas já tive! E sabe o que aconteceu quando eu tinha oito anos?! Meu irmão foi sequestrado por um maníaco que frequentava nossa casa, que o Devon chamava de amigo, e fez coisas terríveis que até hoje ele não consegue nem falar! Serve pra você ou tá pouco?!
– Eu não tô acreditando nisso, Dylan! Estamos mesmo brigando por causa desse Tyler?!
– Se você me respondesse porque esse seu interesse nele, talvez não estivéssemos! – Rebati, irritado, com os dentes cerrados e os dedos apertando o volante.
– Não é da sua conta! – Foi como um soco no meu estômago. Chloe e eu nunca brigamos. Nem quando éramos pequenos. Sempre chegávamos a um acordo.
– Você é muito mimada!
– E você é muito idiota!
– Ah, é? Se sou tão idiota porque você tenta falar comigo?
– E se eu sou tão mimada porque cantou pra mim?!
Chloe tapou a boca assim que falou isso, e eu senti um soco ainda mais forte no meu estõmago. Ela acabou de jogar na minha cara os meus sentimentos?
– Eu... quer dizer, digo, não foi minha...
– Se você se acha assim tão inatingível, tão melhor que os outros, tão poderosa, vai, faz o que você quer, eu não ligo mais.
Parei a van para me acalmar e não causar um acidente. Encarei o chão do carro por um segundo e senti os nós dos meus dedos apertarem ainda mais o volante.
– Dylan...
– Eu me preocupo porque ele já machucou uma pessoa que eu amo. Não posso suportar que ele faça isso de novo. – Dessa vez, senti que eu havia dado um soco em seu estômago. – Quer saber, Chloe? Esse sentimento que tenho por você só me trouxe mais e mais dor. - Às vezes eu penso que teria sido melhor se aquele dia no parque fosse a última vez que eu tivesse te visto!
- Sabe de uma coisa?! - Chloe esbravejou. - eu penso que teria sido melhor se nós nunca tivéssemos nos conhecido!
- Eu acho que minha vida seria bem melhor, mesmo!
Lágrimas desceram pelos olhos de Chloe. Ela cerrou os punhos e me encarou com toda a tristeza que sentia. As palavras que falei da boca pra fora a atingiram muito fundo, e quando tentei contê-las, já era tarde demais.
– Você é um IDIOTA!
Senti sua mão pesada bater em meu rosto e a marca vermelha de seus dedos marcar minha bochecha. Ela me encarou uma última vez e ali, no meio do nada, abriu a porta da van e sumiu no meio da neve.
– Chloe! Volta aqui! Chloe!
Liguei os faróis para tentar vê-la em meio à neblina, sem sucesso. Era como ela tivesse evaporado. Virei a chave e andei alguns metros a frente, mas ela não havia seguido a estrada, devia ter pulado a divisa da pista e ter entrado no bosque.
– Merda! – Soquei o volante, com uma raiva incontrolável de mim mesmo.
Alerta de Nevasca. Todos os moradores de Brumby e região devem se abrigar. A tempestade de neve irá abater os 400 quilometros de alpes australianos e a temperatura deve beirar os graus negativos. Mais uma vez, pedimos que todos fiquem em casa e protejam-se.
Uma mulher no rádio avisou, e eu só fiquei mais preocupado.
Liguei o farol alto e tentei me localizar. Não sabia aonde estava. Em meio à discussão com Chloe, devo ter feito algumas curvas erradas, e agora não tinha ideia de onde estava.
Rotina desastrosa e cheia de azar. Apenas mais um dia na vida de Dylan Turner.
Vesti mais dois casacos que o tio de Josh havia esquecido no porta malas da vã e os vesti, assim como o óculos de proteção. Parei o carro na extremidade da pista e fiz algo não muito inteligente.
Mas à essa altura, eu já devia estar acostumado.
Hospital Psiquiátrico Gardof, Jyväskla, Escandinávia, Dias Atuais.
As enfermeiras se revesavam todas as manhãs para fazer a primeira visita. De todos os malucos que haviam sido colocados naquele lugar, aquele era de todos o mais perigoso. Sua aparência enganava. Sua voz soava como a da mais bela das sereias e se não tomasse cuidado, ele induziria você a se autodestruir.
A azarada enfermeira responsável por dar o remédio a ele tremia como vara verde, enquanto seu salto era o único barulho a ecoar pelo corredor. Ela digitou a senha para desativar a tranca da cela, e as vinte portas que separavam aquele cômodo do resto do ambiente se abriram em um estalar que entrava em ressonância com seus batimentos cardíacos disparados.
Seu tornozelo estava amarrado na cama. Além disso, seu visual não era nada como o dos outros pacientes da ala psiquiátrica de Gardof. Ele tinha seus cabelos penteados, a barba feita e usava um elegante suéter de lã para o frio que fazia lá fora.
– Boa tarde, Esmervina. Pode por na mesa. – Ele falou com sua voz doce e horripilante.
Ele era um homem de 30 anos, lindo como um ator de cinema, mas mortal como uma bomba relógio.
Devon saiu das sombras quando a enfermeira foi embora. Ninguém havia o visto ali até o momento, e não tinha intenções de ser visto. Aquele lugar estava longe de se importar com o bem estar de seus pacientes, e tinha métodos quase que medievais.
Esse era o motivo de Devon tê-lo colocado ali.
– Ela já foi, desembuche de uma vez, Tyler.
O sorriso, que era lindo, mas sádico, surgiu na face do outro. Tyler se ajeitou na cadeira e folheou o álbum de fotos que via, como se estivesse em uma sala de estar relaxando e não preso em um hospício.
– O seu momento de ser herói já se foi, não acha, Dev? – Ele indagou com sarcasmo na voz. – Seu e de seus amiguinhos.
A enfermeira chefe abriu a porta e disse que era a hora de Devon se retirar. Ele lançou um olhar fuzilante para Tyler, jurando voltar no dia seguinte, mas atacou a mulher ranzinza e deixou o quarto.
Tyler riu e passou as páginas do álbum até chegar na última delas. Uma foto de Elias Enoch e Joanne Barnes aos beijos na juventude. Logo abaixo, uma foto de Dylan ainda pequeno, brincando com Chloe no jardim.
Tyler riu compulsivamente.
– Meus brinquedos já estão armados... – Ele acariciou a foto como se passasse o dedo no rosto de um neném. – E adivinhem, minhas bonecas? Está na hora de começar a brincar.
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