Best Friend

Oi pessoas! Tudo bom?

Léozinho na área!

Gente, sei nem o que dizer desse capítulo, além de ele estar ENORME (quase 6000 palavras) para homenagear o fim das férias (Agosto a gente ta aí, firme e forte) , esse capítulo é meu favorito até agora.

Eu pesquisei essa música a muito tempo, foi um trabalho árduo, mas quando a encontrei tive a sensação de serviço feito. Nenhuma música me resumiu mais o sentimento do Dylan pela Chloe que ela. Espero que todo mundo escute, e claro, ame esse capítulo que foi meu favorito até agora.

Preciso dizer que tem erro e eu não corrigi? Não? Obrigado então.

Best Friend* Melhor Amiga

Uma semana se passou desde o escândalo dos Turner sendo expulsos de sua cobertura.

E eu, como uma das vítimas disso tudo, posso garantir: Viver como se fosse um fugitivo da justiça não é nada fácil.

As emissoras, revistas de fofoca e até mesmo blogueiros insistentes (Vermonier no topo dessa lista) me caçavam pelas ruas de Sydney como um leão sua presa. Tive de ficar enfurnado dentro da mansão Sparks junto de Nathan, que também fugia do faro de sua cunhada Mercedes. Era uma verdadeira perseguição à luz do dia, e eu sinceramente estava perdendo a paciência em ficar ali, dentro daquelas 4 paredes do quarto de hóspedes, olhando para o tempo.

Quanto mais os dias passavam, mais eu tinha certeza que a ideia de Josh era apropriada. Precisava de uns dias fora dessa vida, deixar de ser o caçula dos Turner, para ser eu mesmo. Esquecer que eu era Dylan Turner, e por um momento, pensar que eu era apenas Dylan.

Kimberly, por mais chocante que aquilo pudesse parecer, estava se esforçando muito para que nossa estadia em sua casa não fosse tão terrível, como geralmente fora nas outras vezes em que estive ali. Denise Sparks também não reclamara muito, embora eu soubesse que ela fazia aquilo para manter sua própria imagem e não por caridade a mim. O escândalo de um Turner indo a falência iria repercutir em sua própria fama, e aquilo, para ela, seria mais do que catastrófico.

Então, lá estava eu, preso em minha rede de problemas, tentando a todo custo resistir à essas dificuldades.

– A Lyn mandou perguntar se você precisa de alguma coisa. – Nathan me avisou, concentrado lendo as mensagens de seu celular.

Dele? Não preciso. – Respondi sem deixar de fitar o teto, como eu fazia quando não conseguia pensar em nada.

Lyn havia pedido abrigo a Vince, e eu não pude detestar mais quando soube.
Nathan se levantou, ficando sentado de pernas cruzadas no chão.

– Sabe Dylan, só porque seu irmão tem uma rixa com o Vince, não quer dizer que você também precise ter, sabe? Afinal, o Vince jamais fez nada pra você. – Nathan, mesmo no fundo do poço, ainda tinha aquele senso de razão terrível que me fazia querer socá-lo.

– Será que eu sou o único que percebo como ele ronda a Lyn feito um lobo faminto?! Olha na minha cara Nathan, e me diz sinceramente se você acha que ele quer só a amizade dela. – Nathan desviou o olhar, apenas provando pra mim que eu estava certo.

– Ok. Talvez ele seja apaixonado pela Lyn, mas e daí? É exatamente por isso que eu sei que Vince jamais faria nenhum mal a ela, ou a você, ou à
Emeraude. – Mesmo assim, Nathan não se deu por vencido, querendo tomar as rédeas da discussão. – Ele é um aliado importante, Dyl. Mesmo você tendo essa implicância, tenho certeza que ele te ajudaria se soubesse... – Nathan parou de falar por um instante e eu o encarei. – Você sabe... Sobre o Charlie.

– Ah Roberts, vai tomar no olho do cu, mano. – Exaltei-me. Aquele loiro era como uma consciência insistente que martelava sua cabeça e incomodava tanto quanto um mosquito zumbindo em meu ouvido.

– Não Turner, vai você! – Ele rebateu, se levantando. – Dylan, tá tudo ruindo, se tinha uma coisa que livrava sua cara era seu dinheiro, mas agora, nem isso você tem mais! É uma questão de tempo até isso vir à tona, você sabe. Precisamos contar a alguém o que aconteceu com Charlie. E adivinha? A única pessoa que pode livrar sua cara, você maltrata e exclui.

Todas aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Um filme se passou em minha mente daquela noite, quando cheguei em casa sujo de sangue, e Nathan se sujara da mesma forma quando tentou me limpar. Nós arrumando as malas às pressas, correndo até o nosso jatinho particular e deixando toda aquela sujeira do que aconteceu em Milão trás, torcendo que ninguém jamais soubesse de nada.

Aquele carma que me perseguia e não me deixava dormir tranquilo desde então. Aquilo que se viesse à tona, poderia me custar o resto da minha curta vida. Alguém me perdoaria? Chloe me perdoaria? Ela sempre me viu como um símbolo de bondade e pureza, e eu duvidava muito que ela continuasse a me ver daquela maneira, se soubesse a verdade sobre Charlie Ryles.

Era uma sessão de fotos que terminaria cedo. Dylan havia acabado de mandar uma mensagem para Nathan, para que o esperasse para almoçar, naquele restaurante perto da praça. Aquele dia estava frio como nunca, e o jovem Turner usava uma blusa quente de lã e um casaco pesado por cima, assim como um cachecol que Devon o dera de aniversário anos antes. Tomara que a sessão de fotos não fosse sem camisa, se não, Dylan viraria um picolé humano.

Ele escolheu uma cadeira para esperar afastada da janela, para que o vento gelado da manhã não o incomodasse. O Script das posições que ele devia fazer para cada fotografia tinha sido entregue na entrada, e agora, o caçula Turner se atentava aos detalhes para facilitar o trabalho do fotógrafo.

Sabe de uma coisa, assim que eu sair daqui vou comer um cheeseburguer duplo só por me fazerem acordar nesse frio pra uma sessão de fotos. – O garoto que estava sentado ao lado de Dylan resmungou, e Dyl deu um meio sorriso a ele. Um modelo comer fastfood era quase um crime no ramo da moda. – Sério mesmo que essa galera não tem nada melhor pra fazer em um dia gelado desses?

Mundo capitalista, eu acho. – Dylan respondeu acanhado, afinal, não era muito receptivo às pessoas novas, mesmo aquele jovem sentado ao seu lado parecendo muito amigável.

Deve ter um motivo muito bom pra vir aqui, de quem é esse estúdio mesmo? – O garoto questionou, dando de ombros.

Versalle.

Embora fosse uma sessão de fotos curta,  não deixaria de ser decisiva. Aquele era o dia em que a revista Versalle escolheria seu modelo capa, aquele que representaria todo o seu design nos anos que se seguiriam. Lyn havia pedido a Dylan para que se inscrevesse, já que o garoto era dono de uma beleza diferenciada, e os jurados gostaram muito das fotos que foram mostradas a eles. Aquele era o pontapé inicial para Dylan Turner se lançar como modelo internacional da marca Versalle.

Você veio sem nem saber pra que era? – Dylan ergueu a sobrancelha, sem entender a posição do outro.

Eles pagam muito Dinheiro, era tudo que eu precisava saber. – Dylan riu de verdade com a resposta. – Mas eu acho que já perdi, cara. Você é bonitão demais. – O outro brincou e Dyl ficou sem graça.

Ah, valeu, eu acho. – Respondeu, acanhado.

Qual seu nome? – O garoto quis saber.

Dylan Turner. – Ele falou, com desinteresse. – E você?

Prazer Dylan. – Os dois apertaram as mãos. – Pode me chamar de Charlie.Charlie Ryles.

– Dylan! – Despertei de minhas lembranças quando Kimberly surgiu em seu campo de visão, mexendo as mãos como uma louca querendo atenção.

– Oi, o quê? – Mexi-me assustado, pensando em quanto tempo teria passado no mundo da lua.

– O programa da Denise vai começar. – Nathan falou. – E você precisa ver isso.

Como estávamos apenas os três na mansão, descemos para a enorme sala de estar. O sofá dos Sparks era com certeza a única parte boa de visitá-los. Bastava sentar e você afundava, mais parecendo uma cama que um sofá. Só de pensar como devia ser uma maratona de séries ali, minha vontade de sair diminuía consideravelmente.

Kimberly sentou entre mim e Nathan, ligando a TV em seguida. Aquela música pavorosa de apresentação ecoou pela sala, com a imagem de uma Denise Sparks na tela, que apareceu usando um cropped que nem se ela fosse vinte anos mais nova teria idade para usar.

– Muito bom dia, Sydney. Esse é mais um Sparks show. – Ela deu um sorriso afetado para a câmera, e perguntei se as mil e uma plásticas que ela fizera eram a razão que a impedia de dar um sorriso sincero. Ou se era porque ela era uma cretina sem coração mesmo.

– Aquele é meu cropped? – Kimberly se aproximou mais da tela sem se levantar do sofá. Ouvi Nathan sussurrar um "Mocreia".

– Hoje, temos algo sério a tratar no nosso programa. Falência ou pequena controvérsia financeira? Afinal, não é todo dia em que os australianos acordam e se deparam com a notícia de que os Turner foram postos pra fora de sua cobertura. – Denise comentou, com uma empatia falsa pela notícia. Tinha certeza de que ela estava adorando ver meu irmão passar necessidade. – Sei que vocês tem muitas perguntas sobre o caso, e eu, como uma boa ouvidora de meus telespectadores, trouxe aqui a resposta. Senhoras e senhores, vamos receber o advogado e controlador de finanças da Turner Corp, Arthur Lancaster.

A banda maldita iniciou de novo aquela música pavorosa enquanto Arthur entrava no palco, acenando para a plateia com um microfone em mãos. Ele cumprimentou Denise com aqueles dois beijos na bochecha e ela o indicou seu lugar.

– Obrigada por vir, Arthur. – Ela respondeu, tão falsa que pude sentir sua ironia. Nathan me fitou e seu olhar tinha a mesma dúvida. Arthur não viria aqui a toa, a não ser que Devon tivesse um plano. – Onde está Devon? Típico do irmão do meu genro mandar outras pessoas fazerem o que ele deveria fazer. – Seu tom era de brincadeira, mas eu sabia que aquilo tinha sido uma alfinetada verdadeira.

Arthur deu um sorriso tão afetado e falso quanto o dela, rindo como se tivesse mesmo acreditado que era uma brincadeira.

– Tão típico quanto o seu antiprofissionalismo, certo, Denise? – Arthur riu depois, e Denise o acompanhou, mas seu olhar o fuzilava. Essas amizades falsas e alfinetadas por baixo dos panos eram o que me tirava a paciência.

– Bom, Arthur... – Denise começou, lendo algo nas cartelas que segurava e observando Arthur bebericar um pouco de água que ficava disponível aos convidados. – Acho que não apenas eu, mas toda a Sydney quer saber o que anda acontecendo com os Turner. Esses escândalos, pode nos explicar do que se tratam?

– Gente, a audiência do programa da minha mãe nunca esteve tão alta, olha isso. – Kimberly mostrou o celular a Nathan, que arregalou os olhos. – É incrível como esse pessoal não tem mesmo o que fazer. – Ela sorriu fútil. – Que bom, porque graças a eles tenho dinheiro pra deixar meu cabelo assim, maravilhoso.

Girei os olhos e roubei o celular da mão de Kimberly, para verificar o que ela dizia. Enquanto isso, Arthur respondeu ao vivo:

– Todas as empresas passam por altos e baixos, certo? Principalmente durante essa tensão mundial e a crise se espalhando pelos nossos países membros. Temos a América Latina como nossa maior parceira, e as coisas estão difíceis por lá, como temos acompanhado. – Arthur brincou com a aliança em seu dedo. O que eu estranhava o uso, já que ele não era casado. Pelo menos não ainda.

Minhas lembranças mais recentes de Arthur era de quando ele e meu irmão dividiram o dormitório na época do colégio. O Lancaster era um norteamericano de origem quase humilde, nascido em Minnesotta, um dos estados nortenhos mais congelantes. Ele era meio tímido e ruim com as palavras naquela época, mas desde que virara advogado da Turner, Arthur conseguiu demonstrar um profissionalismo que eu mesmo jamais imaginei que ele tivesse. E agora, lá estava ele, driblando as investidas de Denise Sparks como um jogador de futebol campeão do mundo.

– Entendo. Deve ser muito grave, tendo em vista que Lyn e Dylan Turner foram praticamente expulsos de seu apartamento. – Arthur encostou a língua no céu da boca, como se já estivesse esperando aquele comentário.

– Realmente, foi um erro da minha parte não ter me atentado às dívidas internas da corporação, mas em compensação, conseguimos dissolver com sucesso nossos débitos com alguns países, como África do Sul e a própria Inglaterra. A Turner pode estar fraca aqui em Sydney, mas eu lhe garanto Denise, nosso poderio mundial continua o mesmo. – A plateia aplaudiu um pouco e Denise passou a mão em seu cabelo loiro não natural. – Após muitas reuniões com os empresários da Turner, decidimos que o melhor a fazer seria retirarmos a sede australiana, por hora.

Pela expressão embasbacada no rosto da apresentadora, não foi segredo para ninguém que ela não estava esperando aquela resposta. Seu rosto plastificado se contorceu no que ela tentou que parecesse um sorriso, dando sinal para que Arthur prosseguisse:

– Em um mês, a Turner realizará seu primeiro leilão oficial nas areias de Bondi Beach. Os Cross, nossos parceiros de longa data, gentilmente cederam o jardim de sua mansão para que o evento aconteça. Leiloaremos ações mundiais da corporação e ainda alguns artefatos antigos, já que o sucesso da Turner teve início bem antes de mim e de Denise, o que é surpreendente. – Eu contive um sorriso. Arthur, com uma classe absurda, chamara Denise de velha em rede nacional. – O site da corporação está aberto para mais informações. Quem desejar, pode falar comigo nas redes sociais também.

Denise Sparks se recompôs, colocando mais uma vez aquela sua máscara de pura indiferença.

– Obrigado pela presença hoje, Arthur, com certeza tivemos algumas respostas. – Eles se cumprimentaram mais uma vez e Arthur foi saindo, quando Denise se aproximou das câmeras. – E no próximo bloco...

A TV foi desligada. Nathan estava com uma cara de entediado e bocejou.

– Se eu visse essa mocreia mais um minuto eu vomitava. – Sorri de canto. Kimberly estava tão atenta no seu celular que nem pareceu se importar muito com Nathan xingando sua mãe. Devia ser aquela síndrome dos Sparks de só ligar pra si mesmos.

Durante o resto da tarde, quis perguntar a Nathan sobre Mercedes e o que ele faria sobre ela, mas o loiro me garantiu que a partir daquilo, nós dois iriamos tirar o dia para relaxar e esquecer os problemas. Aproveitamos que Kimberly ia sair e ficamos no quarto dela, e começamos a assistir uns desenhos japoneses de que ele gostava.

– Qual o nome disso mesmo? – Perguntei, deitado na cama de Kimberly, comendo pipoca. Nathan estava deitado no chão do quarto, e por um minuto, senti que éramos meninos de 13 anos mais uma vez. – Pra mim é desenho japonês.

Ele colocou um monte de pipoca na boca.

Animes. – Nathan respondeu, com o olhar vidrado na tela. – E esse não é qualquer anime, é Naruto, meu amigo.

– Essa menina de cabelo rosa me irrita. – Comentei, também comendo pipoca.

– Seu poser, a Sakura irrita o mundo todo. – Ele resmungou, parecendo uma criança de tão empolgado que estava com aquilo.

Ficamos o que praticamente foi a tarde toda deitados no ar condicionado, assistindo o tal anime. Era a história de um menino loiro muito estressado, que tinha uns bigodes de gato na bochecha, e enfim, foi legal. Mais ainda porque dei boas risadas e por algumas horas, consegui esquecer tudo isso. Nathan também parecia feliz ao ver que eu estava gostando.

– Sabe, me deu vontade de ser um ninja agora. – Confessei, meio aéreo a tudo. – Fazer esses lances aí e todo mundo esquecer essas tretas.

Nathan sentou ao meu lado e me deu um sorriso.

– Você é bem cheio de problemas não é? – Ele não queria uma resposta. Aquela pergunta não necessitava uma. – E mesmo assim, com tudo contra você, Dylan, você ainda consegue inspirar as pessoas. Não é muito diferente do Naruto, sabia?

– Vai mesmo me comparar com um personagem 2D de um desenho? – Ergui a sobrancelha.

Anime. – Ele me corrigiu, fazendo uma careta. – E vou sim, sabe por quê? Não importa se todos dizem que é impossível, você vai lá e surpreende a todo mundo. É isso que te faz parecido com o Naruto, e é isso que não me deixar sair do seu lado.

– Eu tenho medo, Nathan. – Eu não conseguia admitir aquilo olhando para ele, então apenas fitei o chão. – Medo de acabar sozinho com meus próprios segredos obscuros. No final, esse é o destino de todo Turner. Reginald foi assim. Devon está sendo assim. Eu não...

– Bom, nem o seu pai nem o seu irmão tinham a consciência que você tem. – Nathan sorriu convencido. Só ele pra me fazer sentir melhor elogiando a si mesmo. – E essa consciência, nunca vai te deixar sozinho. Não importa os seus segredos, vou estar sempre contigo, tá me entendendo?

Eu sorri. Aquele era meu melhor amigo.
Posto que antes era de Chloe.Uma das pessoas mais estimadas que eu tinha. E pelo Nathan, pela Chloe, por todos os meus amigos, eu sabia que meu futuro ia ser diferente.

Devon, com medo dos próprios segredos, negou a Lyn e aos amigos uma abertura, e acabou sendo consumido por eles, como Reginald foi. Eu não iria fazer o mesmo.

Não iria resolver aquilo sozinho, porque eu não estava sozinho.

– Vamos falar com o Vincent. – Disse, por fim, decidido, e Nathan assentiu, batendo de leve em meu ombro.

***

Quando a noite finalmente caiu, Josh apareceu na mansão Sparks. Nathan e eu havíamos combinado de visitar Vince no dia seguinte, antes de partirmos rumo à Brumby. Além de ser uma distração pra mim, daria tempo a Vince para processar toda aquela informação, que de uma forma ou outra, tinha de ser contada pessoalmente. Nathan e Lyn eram os únicos que sabiam, e caso algo desse errado, também estariam envolvidos até o pescoço.

– Amanhã cedo nós vamos. – Nathan cochichou apenas para mim, com medo que Josh ouvisse. Ele estava arrumado demais para quem planejava ficar ali com a gente.

– Se as moças terminaram de fofocar. – Josh resmungou. – Vão se aprontar, vamos sair com as meninas.

– Se eu bem me lembro... – Ironizei. – Não posso sair sem ter um bando de repórteres loucos atrás de mim.

Josh passou os braços em volta do meu ombro e de Nathan.

– Amigos, olhem com quem estão falando. Não sou qualquer um, sou o Josh. – Ele piscou o olho e deu um sorriso convencido. – Lacey nos chamou para um Karaokê em East Hills.

East Hills era um dos menores bairros de Sydney, localizado longe da praia, quase no interior australiano. Um local lotado de prédios antigos e históricos, além de condomínios onde a maioria dos moradores eram idosos. O lugar era praticamente pertencente à terceira idade, sendo a área de Sydney com a maior quantidade de casas de repouso e asilos.

– A galera não vai muito pra lá, e as senhorinhas idosas nem lembram o que almoçaram ontem, quanto mais essa sua carinha aí. – Josh explicou. – O Karaokê é bem recente, não tem um público muito certo além de um pessoal que vai pra tomar um porre e desmaiar na mesa. Ou seja, totalmente livre de Vermonier, Sparks ou qualquer outra sanguessuga do meio jornalístico. O que me dizem, tico e teco?

Eu e Nathan nos entreolhamos. Que mal faria? Era uma oportunidade de sairmos da mansão Sparks e além do mais, ninguém pensaria em nos procurar em East Hills. Nos dando por vencidos, concordamos e Josh falou que iria avisar às garotas.

– Uma coisa. – Ele me puxou para longe de Nathan, que entrou no banheiro para um banho rápido. – Acha que pode ter uns... atritos?

– Como assim? – Ergui a sobrancelha.

– Eric vai estar lá junto com a Alyssa. – Josh avisou, e eu honestamente estava torcendo para que não fosse isso.

– Ah, maravilhoso. – Bati a mão na testa. – Por que não disse isso antes da gente aceitar? Agora é tarde. – Dei um suspiro cansado. – Mas deixa. Eu controlo ele.

Depois de Nathan terminar seu banho, foi a minha vez de tomar uma ducha. Não levei mais de dez minutos, porque tínhamos marcado de encontrar as meninas antes das oito. Enrolado na toalha, caminhei até o quarto de hóspedes e me troquei. Embora indo para um local tranquilo como East Hills, ainda optei por uma roupa discreta e um casaco preto com capuz.

Tirei meu celular que ficara carregando o dia todo na tomada e Devon ainda não tinha mandado uma única mensagem. Fiquei um pouco sentido, mas deixei passar quando Josh bateu na porta dizendo que esperavam por mim. Desci as escadas e me surpreendi ao ver Kimberly, também vestida para nos acompanhar.

– Se a gente for mijar você vai nos seguir também? – Nathan ironizou, não escondendo que sua antipatia com a loira não diminuiu em nada, mesmo depois dela ter nos abrigado ali.

– Mais uma palavrinha e eu te ponho pra dormir na dispensa. – Kimberly saiu na frente e vi Nathan sorrir de canto. Ele estava se divertindo com isso.

Kimberly despachou o motorista de sua família e esperou o manobrista da mansão trazer seu carro. Ela tinha um automóvel próprio, mas preferia usar a limusine da família. Mesmo vasculhando minha mente, eu não me lembrava de já ter visto o carro de Kimberly, e ao que parecia, não havia mesmo. Aquela seria a primeira vez.

Era um Jaguar prata. Kimberly agradeceu ao manobrista com um aceno e já se sentou no lugar do motorista. Josh se sentou no carona e eu e Nathan fomos atrás.

– Se segurem meninos, que essa máquina aqui voa. – Fomos todos por inércia para trás quando Kimberly acelerou e saiu em disparada pelo portão.

***

Não foi surpresa para nenhum de nós quando paramos em frente ao local e descobrimos que aquele Karaokê era da família de Lacey. Os Cross eram praticamente donos da Austrália, e do final para o começo do ano que se aproximava, o grande shopping Cross seria inaugurado. Eles não curtiam muito o ibope que os Turner e os Sparks gostavam de ter, e assim, comiam pelas beiradas.

Agora, com os Turner fora do caminho, os Sparks eram de longe a família mais poderosa no novíssimo mundo.

O Karaokê possuía uma fachada discreta, com paredes pintadas em um roxo claro e um estacionamento para os carros. Toda a rua parecia ser de prédios em construção, para assim aquela casa de festas não ter de se preocupar com barulho. Durante o caminho, vi um senhorzinho de mais ou menos 80 anos passeando com um cão pequeno. Emoção não era mesmo o forte daquela vizinhança.

Viemos conversando do estacionamento até a entrada do Karaokê, onde a música alta invadiu nossos ouvidos assim como um timbre horrível cantando uma música da Lady Gaga.

Foi quando meu olhar se dirigiu à entrada e vi as meninas ali paradas que minhas pernas pararam de andar. Eric havia trazido Alyssa e Harriet, mas foi impossível meu olhar não cair sobre aquela ruiva que tanto me fascinava.

E ao que parecia, queria mesmo me deixar louco.

Kimberly estava usando um vestido negro na altura dos joelhos, com um colar de pérolas no pescoço. Aquele era o visual mais inocente que já a vi usar, e me questiono todos os dias quem foi capaz de fazer Kimberly Sparks mudar assim tão drasticamente.

Josh correu para beijar Harriet. Eles finalmente haviam firmado um namoro, o que eu torcia muito, como amigo de ambos. Os dois combinavam em tanta coisa que eu só fazia observar e torcer para que essa felicidade durasse muitos e muitos anos.

O visual da latina também estava diferente. Harriet não era muito fã de roupas curtas, mas naquela ocasião, usava uma blusa sem mangas folgada branca que nos permitia ver um sutiã preto por baixo, assim como uma saia de couro acima do umbigo e um salto alto. Seu rosto estava maquiado e as sobrancelhas delineadas pelo lápis de olho. E o seu cabelo estava solto.

Nathan soltou um gemido inconformado ao ver Eric ali, e algo me dizia que o principal motivo da raiva era a loira agarrada a ele. Alyssa adotou um estilo mais praiano, com uma saia branca longa cobrindo-lhe os pés e um top da mesma cor. Seu cabelo estava preso em uma única trança e havia uma maquiagem leve em seu rosto.

Mesmo as outras estando igualmente lindas, aos meus olhos, nenhuma delas tinha chegado aos pés de Chloe.

Ela estava realmente bonita com aquele cropped preto tomara que caia. O decote formava um coração e meus olhos se prenderam ali por alguns segundos antes de descer para seu corpo. A saia se ligava à blusa e era igualmente justa ao seu corpo, delineando suas curvas. Não ia além da metade de suas coxas, formando um V ao contrário. Aquela cor também parecia combinar com seu tom de pele. Rosa claro? As mulheres costumavam chamar de salmão.
As pernas estavam à mostra e pareciam mais compridas, talvez pela roupa, ou pelo salto. Ela usava uma bota de cano baixo e de salto alto.
Realmente, muito bonita.

Os outros se cumprimentavam ao nosso redor com abraços e beijos na bochecha (ou no caso de Kimberly um aceno desconcertado sobre o que ela fazia ali), mas eu continuava parado feito uma estátua, olhando para Chloe e hipnotizado por sua beleza, que só havia sido favorecida com aquele visual.

Nossos olhares se encontraram por um segundo e ela baixou o rosto ao ver-me encarando-a daquela forma. Ela estava corando? Dei um sorriso bobo quando vi.

– Oi, Chloe. – Falei baixinho, colocando a mão nos bolsos da minha calça jeans. Olhei para os lados e todos ainda se cumprimentavam. Alyssa me deu um abraço e eu só me toquei quando ele já estava sendo desfeito. – Você... está linda. – Respondi, sentindo minhas bochechas também esquentarem. – Quer dizer, todas estão.

– Obrigada, Dylan. – Alyssa respondeu por Chloe, soando muito maliciosa. – Vamos entrando, gente? Ou preferem ficar aqui vigiando os carros?

Todos riram e acompanharam Alyssa boate a dentro.

A Anderson puxou Chloe para que conversassem baixinho, e eu quis muito possuir um ouvido biônico para escutar qual o assunto. Josh e Harriet caminhavam de mãos dadas ao meu lado e a latina comentou:

– Fiquei surpresa quando vi a Chloe se arrumar assim. Achei diferente, mas não feio. Ela devia se vestir assim sempre. – Harriet falou e Josh assentiu, em concordância.

Olhei para trás para ver se via Nathan, mas ele estava mais atrás falando algo com Kimberly. O que, honestamente, me impressionou.

O espaço no salão principal não era muito grande, com algumas mesas pequenas espalhadas pelo ambiente e um minibar ao canto. Uns quitutes pareciam ser servidos pela cozinha do local, que infelizmente não servia porções para refeição. Pedimos à garçonete que juntasse duas das mesas de madeira e sentamos ali.

Acabei ficando de frente pra Chloe e percebi que ela evitava me encarar. Mais uma vez, voltei a festa de Lacey, quando tivemos aquele momento, que ela não lembrava. Será que ela não percebia o quanto me deixava louco?

Senti uma mão tocar meu ombro. Quando olhei para cima, Lacey tinha um sorriso amigável nos lábios. Ela ficou muito animada ao saber que Josh e Harriet estavam namorando e disse que era a responsável da noite pelo Karaokê.

– Dylan. – Lacey apontou para o palco, onde uma tela pequena exibia a letra das canções escolhidas. – Também temos um piano, se decidir tocar alguma coisa pra nós. – Ela avisou, pedindo licença e indo atender outras pessoas.

Ficamos ali apenas bebendo e comendo alguns salgadinhos, rindo das pessoas se divertindo ao cantar. Alyssa e Eric arriscaram uma tentativa, fazendo um dueto ao cantar Heroes da banda Alesso. Até mesmo a própria Lacey teve a sua vez, e surpreendeu a todos com sua afinação e suingue, apresentando-se com Titanium, de David Guetta e Sia.

Porém, eu e Chloe não dávamos bola. Conversávamos distraidamente relembrando o passado.

– Sabe de uma coisa. – Eu falei, e ela parou de rir. – Você era a minha melhor amiga. Quer dizer, ainda é. – Juntei toda a minha coragem e apertei sua mão, e ela sorriu pra mim.

Umas garotas meio bêbadas estavam cantando alguma música da Zara Larrson, e desafinavam tanto que poderia sentir meus ouvidos sangrarem. Quando acabou, foram elas a receber a maior salva de palmas, não por ter sido bom, mas por ter acabado.

– Gente, não via a hora dessas mulheres apitos acabarem. – Kimberly resmungou e todos rimos.

– E essas foram... – Lacey disse o nome das mulheres apito e eu não me interessei. – E agora, pessoal, é mais uma vez o momento do holofote! – Os que assistiam (e ainda não tinham desmaiado de beber) aplaudiram.

– Holofote? – Chloe quis saber, e Josh assentiu.

– Um holofote vai apontar uma pessoa na plateia e se a apresentação dela for muito boa, a mesa da pessoa não paga a conta. – Josh comentou e eu nem liguei muito.

Quando Chloe me encarou com os olhos arregalados foi o instante em que eu olhei para cima, e vi o holofote em cima de mim. Todos da mesa me encaravam com um misto de surpresa e um sorriso nos lábios.

Olhei para o palco e Lacey deu de ombros.

– Você aceita se quiser. – Ela relembrou. Observei atentamente todos os meus amigos me encarando e olhei por último para Chloe. Ela sorriu pra mim e ao ver aquele sorriso, soube exatamente o que tinha de fazer.

Ouvi uma salva de palmas quando subi até o palco, e me sentei de frente ao piano. Lacey pareceu não entender e cochichei algo em seu ouvido, até que ela finalmente pareceu perceber. Quando ela me deu sinal para começar, eu falei no microfone.

– Boa noite, pessoal. – Além da mesa dos meus amigos, havia apenas mais umas cinco pessoas conscientes. – É... Vão me perdoar se eu não cantar bem ou alguma coisa, mas isso realmente não é meu forte. – Cocei a bochecha, como sempre fazia quando estava nervoso. – Bom, galera, essa música... fui eu quem escrevi.

Meus amigos pareceram muito chocados, até Nathan, porque nem a ele eu havia contado aquilo.

– Eu escrevi quando eu tinha quatorze anos, quando sentia saudades de uma pessoa que eu deixei pra trás. – Olhei discretamente para Chloe, que parecia paralisada. – Eu... Espero que vocês gostem.

Cocei a gargante e fechei os olhos, lembrando da época em que minha mãe me tomava em seus braços e dedilhava as teclas junto comigo.

O bom músico é aquele que sente a música, Dylan. Lembre disso.

Meus dedos passearam pelo piano, criando aquela melodia. Ainda não havia criado coragem de cantar, até que lentamente abri a boca e escutei minha própria voz tomar o local:

[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]

Do you remember when I said I'd always be there
Ever since we were ten, baby
When we were out on the playground playing pretend
Didn't know it back then.

Você se lembra quando eu disse que sempre estaria lá?

Sempre, desde que tínhamos 10 anos, baby

Quando nós estávamos no playground brincando de fingir

Eu não sabia naquela época.

Tomei coragem para abrir os olhos e vi que todos me observavam, inclusive Chloe. Inspirei o ar e ainda dedilhando o piano, ouvi uma bateria me acompanhar. A luz estava pouca, apenas focada em mim.

Now I realize you were the only one

It's never too late to show it

Grow old together

Have feelings we had before

Back when we were só innocent

Agora, eu percebo que você era a única

Nunca é tarde para mostrar

Crescermos Juntos

Ter sentimentos que já tivemos

Voltar para quando éramos tão inocentes

Chloe estava paralisada em seu lugar. Uma lágrima solitária descia de seu rosto. Eu conseguia escutar os outros gritando em sinal de estarem gostando, mas o meu olhar estava preso nela, principalmente quando cantei o refrão, com todos aqueles sentimentos que guardei dentro de mim por tanto tempo, sufocados.

Girl, I pray for your love

Your love is só unreal

I just wanna reach and touch you, squeeze you,

somebody pinch me.

This is something like a movie,

and I know how it ends, girl

But I fell in love with my best friend.

Garota, eu rezo pelo seu amor

que é tão surreal

Eu só quero te alcançar, e te tocar e te apertar

alguém me belisque

Isso é como um filme

E eu sei como termina, garota

Mas eu me apaixonei pela minha melhor amiga.

Lacey começou a acompanhar o ritmo do piano com palmas ritmadas, induzindo a todos que assistiam a fazerem o mesmo. Meu olhar estava focado em Chloe, mas eu vi que todos os meus amigos ficaram de pé, acompanhando o ritmo com as palmas. Era incrível como aquela música ainda resumia a nossa história, mesmo fazendo tanto tempo que a compus. Lembrei de quando soube de Nathan, e quase perdi as esperanças.

Through all the dudes that came by

And all the nights that you'd cry

I was there right by your side

How could I tell you I loved you

When you were só happy

With some other guy?

Passando por todos os caras que vieram,

e por todas as noites que você chorou

Eu estive ao seu lado

Como eu poderia contar que te amava

Quando você estava tão feliz

com outro cara?

Encarei o público que me assistia com um sorriso no rosto, vendo que todos aqueles que dormiram bêbados estavam de pé e me acompanhando no refrão. Josh soltava assobios e Harriet gritava algo que eu não estava entendendo. Nathan cruzou os braços e deu um sorriso de canto, e Eric e Alyssa dançavam agarrados no mesmo lugar.

Chloe sorriu pra mim, entre as lágrimas, com as mãos unidas.

I know it sounds crazy
That you'd be my baby
But you mean that much to me

Eu sei que soa maluco

Você sendo minha

Mas você significa muito pra mim.

Ouvindo um sol de teclado ao fundo, levantei-me do piano e agarrei o microfone, fui para o meio do palco e agora, para todos verem, olhei bem nos olhos de Chloe, repetindo o refrão.

Girl, I pray for your love

Your love is só unreal

I just wanna reach and touch you, squeeze you,

somebody pinch me.

This is something like a movie,

and I know how it ends, girl

But I fell in love with my best friend.

Garota, eu rezo pelo seu amor

que é tão surreal

Eu só quero te alcançar, e te tocar e te apertar

alguém me belisque

Isso é como um filme

E eu sei como termina, garota

Mas eu me apaixonei pela minha melhor amiga.

Quando a música finalmente acabou, uma salva de palmas enorme começou. Não só meus amigos, como todos os presentes ali, me aplaudiam de pé. Chloe, ainda chocada, caminhou até mim, enquanto eu descia do palco.

– Essa música... – Ela tentou falar, mas ainda parecia em choque.

Eu cocei a nuca, sem graça.

– Escrevi pra você, logo depois de ir embora. – Respondi, acanhado.

Sem me deixar responder, Chloe me abraçou. Passei meus braços pela sua cintura e senti suas lágrimas molharem minha blusa. Afoguei meus dedos em seus cabelos ruivos e fechei os olhos, me deixando, nem que seja por um segundo, sentir o cheiro dela.

– Eu senti tanta a sua falta. – Ela balbuciou entre o choro e eu a abracei mais forte. Aquele era como se fosse novamente o nosso primeiro encontro, como se eu finalmente desse a prova, de que mesmo depois de todos aqueles anos, eu ainda era o mesmo Dylan. E ela, ainda a mesma Chloe.

Desfizemos o abraço para que eu pudesse tocar em seu rosto e enxugar aquelas lágrimas. Toquei-lhe a pele delicadamente e afastei aquela água salgada que insistia em descer pelos seus olhos. E então, ela sorriu. Não pude evitar sorrir também.

– Eu estou aqui, Chlô. – Eu disse, não me importando se todos os nossos amigos (e a Kimberly) ouviam. – E eu juro que jamais irei embora de novo.

Nos abraçamos novamente e paramos ao ouvir um assobio de Josh.

– E então, galera... – Ele começou, em tom brincalhão. – Essa não é a parte que vocês se beijam?

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