A Day To Walter
Olá Olá mundo e todos que habitam nele!
Primeiro de tudo, sim, leozinho está vivo, obrigado pela preocupação. A demora é por causa vocês sabem né, da vida, do universo, das provas. Muita coisa ao mesmo tempo. UHUAHUA
Queria dizer que nesse meio tempo, Someone To Save You foi alvo de uma divulgação legal demais feita pela @FBotelho do clube de livros que deu o carinho a nossa história! Meu muito obrigado a ela.
Também fui entrevistado pela @Livs_21 sobre o livro e dei várias respostas legais (ou foi a intenção). Enfim, muita coisa, mas agora que estão atualizados, que tal voltamos ao normal com pov da Chloe? Uhuuuuuu. Capítulo não revisado (pra variar) então relevem os erros.
Na capa? Chloe Madsen
A Day To Walter* Um dia para Walter.
Música do capítulo: Stay (Zedd ft. Alessia Cara)
All you have to do is stay a minute
Just take your time
The clock is ticking, so stay
All you have to do is wait a second
Your hands on mine
The clock is ticking,
so stay
All you have to do is
All you have to do is stay
Uma semana se passou desde a festa lendária de Lacey Cross.
Lendária poderia ser um adjetivo forte, mas muitas pessoas compartilhavam dessa opinião. Muitas revistas de fofoca australianas mencionaram o evento em suas colunas sociais, o que não foi impressionante, já que os Cross disputavam o pódio do poder nacional junto dos Sparks e dos Turner.
Quando Laura recebeu sua revista Versalle de manhã, veio me acordar correndo pois havia visto meu rosto em uma das fotos, abraçada com um grupo de meninas que nunca vi na minha vida, mas na fotografia, parecíamos amigas de longa data.
A ressaca também foi inesquecível. Acordei no outro dia em minha cama, com minha cabeça latejando, tentando competir com meu ritmo cardíaco. A música pesada de Griffin quase fez minha mente explodir, e tive de pagar vinte pratas a ele para que desligasse o som e não contasse para meu pai que eu estava de ressaca. Sorte a minha que Walter nunca foi muito observador.
Todavia, minha memória mais memorável (que eu agradecia por ainda conseguir lembrar, em partes) foi o final da noite quando Dylan e eu terminamos naquele quarto (que até hoje não faço ideia de quem era; se era de Lacey, dos pais, de sua irmã). Eu realmente tinha arranhado as costas dele?
Era um misto de felicidade, vergonha e culpa.
Felicidade por estar ao lado dele, da minha paixão desde os 12 anos. Vergonha por ter quase vomitado nele. Mas acima de tudo, culpa por ser a outra. Quer dizer, Kimberly era um ser humano digno de pena, mas não me sentiria muito melhor do que ela se ficasse com seu namorado pelas costas.
As colunas sociais australianas noticiaram ao mundo das fofocas de Sydney que Dylan fizera uma viagem a Inglaterra, junto de Devon e Lyn, sua cunhada. Confesso que fiquei aliviada em saber que não teria que conversar sobre o que aconteceu na festa tão cedo. Não sei se teria coragem de olhá-lo firme nos olhos como gostava ao falar com as pessoas.
Harriet também sumiu no começo da semana, e esse sim era o caso em que eu estava preocupada. Ela não respondia as minhas mensagens e nem deu notícia desde que recebeu uma mensagem de Nathan dizendo que Josh esteve no hospital depois de ser espancado. Estava com uma sensação muito ruim, um pressentimento horrível no peito.
Quando me aprontei para ir a escola na semana seguinte, deparei-me com uma cena já de costume. Laura lavando alguma louça na pia, Walter lendo o jornal na cabeceira da mesa, Griffin com seu humor negro de toda manhã e Alyssa escolhendo que combinação horrível de granola e frutas faria naquele dia.
– Crianças, temos um aviso a fazer. – Meu pai se manifestou, tomando sua xícara de café. Encarei-o enquanto continuava a passar manteiga em minha torrada.
– Vai começar a usar uma peruca? – Griffin ironizou, com seu sorriso convencido.
– Muito engraçado, Griffin, por que não segue carreira como comediante? – Meu pai devolveu o seu sarcasmo a altura. – Preciso que todos estejam em casa cedo esta noite.
– Algum motivo em especial? Preciso saber caso tiver que escolher uma roupa. – Alyssa enfatizou.
– Bom, alguns colegas meus da faculdade estão na cidade e vão vir visitar. Quero que conheçam minha filha, minha amada esposa e meus enteados, mas... – Walter coçou a garganta. – Griffin, sem usar aquela sua blusa de caveira pavorosa.
– Ah, qual é, Walter. – O gêmeo respondeu.
– Alyssa, suas histórias no acampamento de escoteiras também não. – Walter continuou.
– O quê? Todos adoram minhas histórias de escoteira cupcake! – A gêmea insistiu.
– E Chloe, por favor, seja mais educada com eles.
– Aquela tal de Janel vai vir também? Odeio aquela velha. – Confessei, bufando.
– Chloe. – Meu pai fez sua cara ameaçadora.
– Claro, paizinho, vou ser agradável. – Sorri falsamente.
– Isso é importante para o Walter, meninos. – Laura apoiou meu pai, caminhando até a mesa, enxugando suas mãos molhadas em um pano. – Ele apenas quer mostrar aos amigos a bela família que tem. Por favor, podem nos apoiar e se comportarem?
– Tudo bem. – Eu e Alyssa respondemos.
– Que seja. – Griffin girou os olhos.
Depois de tomar café, coloquei minha mochila sobre os ombros e parti para a escola, desistindo de esperar Alyssa, já que daqui que ela se maquiasse poderia ir e voltar umas cinco vezes até a Vermont.
Estava caminhando distraída quando ouvi uma buzina aguda atrás de mim. Virei-me e lá estava Nathan, montado em uma moto novinha, sua pintura azul escuro reluzindo na luz do sol.
– Bom dia, Chloe. – Ele sorriu pra mim. Sorri de volta pra ele. – Quer uma carona?
– Bom dia, That. Quando conseguiu essa moto? – Perguntei, impressionada. – E sim, eu adoraria.
– Isso? Minha cunhada me deu. Não é demais? – Ele acelerou um pouco e pude escutar a potência do motor. – 50 cavalos.
– Nossa, ela é linda mesmo. – Peguei o capacete na garupa e o pus sobre a cabeça. – Achei que estivesse na Inglaterra com o Dylan.
– Eu? Naquela mansão dos horrores? Prefiro tomar ácido nítrico. – Nathan deu uma risasa. – Já foi na mansão Turner? Aquele lugar me dá arrepios. Tenho certeza que aquele quadro da vovó Turner estava olhando pra mim quando fui no banheiro na última vez que estive lá. – Foi a minha vez de rir.
– Eu já fui sim, uma vez, mas era muito nova, eu nem me lembro de muita coisa. – Segurei firme em sua cintura, enquanto Nathan acelerou e saímos em disparada pelas ruas de Sydney.
Paramos no estacionamento da Vermont no mesmo segundo em que o sinal tocou.
– Obrigada pela carona, That. – Agradeci, descendo da garupa, vendo-o fazer o mesmo.
– Disponha. – Ele sorriu de canto. – Qual sua primeira aula?
– Estudos sociais. – Respondi depois de um segundo, revirando meu horário em minha mente.
– Legal, eu também. Aí podemos falar, faz tempo que não falo com você. – Nathan confessou.
– Pois é, né? Faz tempo.
– Nem me contou sobre a festa da Lacey. Como foi?
Parei instantaneamente no lugar quando ouvi aquela pergunta. Logo, senti novamente os lábios de Dylan em meu pescoço e da luxúria que me invadiu naquela noite.
– Terra pra Chloe. – Nathan estalou os dedos em minha face.
– Ah, me desculpe. – Balancei a cabeça, voltando a mim. – Foi legal sim. A Lacey é uma ótima anfitriã de festas.
Nathan sorriu, colocando as mãos nos bolsos.
– Verdade. – Ele olhou rapidamente para trás, vendo o corredor meio vazio. – Vamos, não queremos nos atrasar.
Eu assenti, o seguindo até a sala.
***
Toda a aula de estudos sociais se resumiu a mim no mundo da lua.
A professora conversava algo sobre os tipos de população ativa e passiva, mencionando algo de mercado de trabalho e setores de produção. Eu apenas rabiscava um desenho ridículo de uma borboleta na parte superior da folha do meu caderno, logo ao lado do espaço reservado para por a data. Aquilo era quase um reflexo meu, que acontecia sempre que eu estava entediada.
Senti um toque de leve em meu ombro e vi Josh no lugar atrás de mim, com um sorriso que estava cansada de ver em seu rosto. O sorriso Josh Kellan de ser.
– Chloe, você tem notícia da Harriet? – Ele cochichou para mim, não querendo atrapalhar a aula. – Não tenho notícia dela faz dias. Estou ficando preocupado.
– Também não sei dela, Josh. – Mordi o lábio inferior. – Acha que aconteceu algo com ela?
– Eu não sei, mas a Harriet não é de sumir assim.
– Vamos até o trailer da tia Bárbara depois da aula. – Resolvi, e Josh assentiu, voltando a prestar atenção nas aulas.
– Muito bem, meninos e meninas. – A senhorita Popplewell, a professora de Estudos sociais, retirou uma cesta enorme de baixo de sua mesa. – Como sabem, a semana das profissões está se aproximando. Mal posso esperar para saber que funções os meus queridos estudantes planejam exercer um dia, então, para comemorar essa data tão importante... Resolvi criar uma experiência divertida para nós.
Tinha a leve sensação de que a diversão iria passar longe em sei lá fosse a ideia dessa professora.
– Aqui temos o nome de um profissional e sua profissão. Irão retirar um desses papéis ao acaso e a tarde passar uma semana, todos os dias após as aulas, com o profissional que tiraram no sorteio e aí escrever um trabalho de dez páginas sobre o trabalho dele ou dela. – A senhora Popplewell explicou, parecendo muita animada com sua ideia. – Vamos, meninos, façam fila e façamos esse sorteio.
Esperei pacientemente enquanto toda a classe se organizava em uma fileira única para esperar sua vez. Fiquei pensativa na penúltima posição, quando vi Nathan retirar seu papelzinho, o abrir e correr animado até mim.
– Laura Anderson, chefe de cozinha. – Ele deu um sorriso, animado. – Será que sua boadrasta me deixaria lamber a panela?
– Ela deixa sim, sempre faço isso. – Dou uma risada. – Sortudo, queria pegar a Laura. Iria fazer o trabalho sem sair de casa.
– Opa, foi mal. – Nathan coçou a nuca. – Mas vai lá, vê quem você tirou e vem me dizer, te espero no corredor.
Esperei mais alguns alunos verem sua sorte e analisarem quem tiraram. Alguns pareciam felizes, outros não se importaram, uns ficaram muito irritados. Um em particular, muito mais que irritado.
– Joane Townsend?! Florista?! Tá zoando comigo?! – Griffin jogou o papel na cara da senhora Popplewell, que manteve a calma como uma boa hindu que faia Ioga.
– Senhor Anderson, toda profissão é digna. Agora, vá andando antes que você desalinhe meus chackras com sua emoção negativa, sim? – Ela fez sinal para que meu irmão de criação deixasse a fila andar.
Quando chegou a minha vez, confesso que estava meio temerosa. Quem diabos eu tiraria? E se eu tirasse um marginal? Ou um lixeiro? Meu Deus, uma prostituta? Ou pior, corretoria de imóveis.
– Aqui, senhorita Madsen. – A Senhora Popplewell ergueu a cesta. Fechei os olhos e mergulhei minha mão no mar de papel , pegando um bem no fundo.
Saí da fila para que não atrasasse ninguém e parei perto da porta de saída da sala, desdobrando-o devagar.
– Detetive das forças especiais. Vincent Harris.
Pelo que minha memória me dizia, esse era o nome do detetive amigo de Lyn, cunhada de Dylan.
– Vince, em? – Levei um susto ao ver Nathan ainda ali, me esperando. – Ele é um cara legal, fora que é um detetive muito eficiente.
Vi Josh saindo com seu resultado em mãos.
– Acho que o trabalho da senhora Popplewell estragou nossos planos de ver a Harriet, Josh. – Falei a ele.
– Tudo bem. É a Harriet, ela deve estar bem. – Mesmo falando isso, sentia a preocupação em sua voz. – Sabem quem eu tirei? Denise Sparks.
– Meus pêsames. – Nathan falou.
– Mas o bom é que posso escrever tudo sobre essa mulher. – Josh deu um sorriso malicioso. – Tudo mesmo.
– Não vai dizer que ela come filhotinhos, vai? – Nathan ergueu a sobrancelha.
– Não dá, Roberts, você estraga minhas ideias.
– Meninos, tenho que ir pra aula de matemática, se não o Enoch transforma minha vida em um inferno. Beijos. – Saí correndo em direção a aula de matemática, quase sendo barrada por Enoch, que fiscalizava a porta como um guarda de pedágio.
– 20 segundos atrasada, senhorita Madsen. – Ele me avisou, dando um de seus ultimatos sem noção.
– Desculpe, senhor Enoch, a senhora Popplewell tinha assuntos a tratar no primeiro horário.
– Hm. Entre logo. – Agradeci com um aceno e tomei o meu lugar.
– Muito bem, classe, Vamos lá. Números Irracionais. – Enoch disse qual seria o tema da aula, escrevendo o nome no alto do quadro.
Bastou a aula começar e minha mente vagou outra vez, novamente para aquela noite, para aquele momento. Os beijos de Dylan descendo por minha nuca e me fazendo arfar. Minhas unhas passeando por seu tronco definido, deixando marcas que denunciavam que tudo aquilo me pertencia. Sua confissão dizendo que me amava e toda a minha vontade de dizer que o amava também.
– Senhorita Madsen? – Escuto Senhor Enoch me chamar e só assim desperto daquele meu transe sem nexo.
– Sim?
– Qual a raiz da equação?
– Dylan Turner... – Respondo por instinto e ao perceber a merda que fiz, toda a classe começa a rir.
O Senhor Enoch ergue a sobrancelha.
– Como, senhorita Madsen?
– Não, me desculpe, eu quis dizer, vinte e um. – Respondi rapidamente, querendo afundar minha cabeça em um buraco.
– Foi o que pensei ter ouvido. – Ele virou para escrever outra equação e novamente, ouvi risos baixinhos.
Aquele era oficialmente o momento que eu queria desfalecer.
***
"Oi, você ligou para a Harriet. No momento, não posso atender, mas que tal deixar uma mensagem? Juro que respondo assim que puder. Beijinho."
– Oi Harriet, é a Chloe, de novo. – Repito pela oitava vez. – Onde você está? Eu estou preocupado, o Josh também, me liga de volta assim que ouvir isso, ou as outras dezenove que já te mandei hoje.
Bufo ao guardar o celular.
Era hora do almoço e eu comia sozinha em uma das mesas. Brincava com o purê de batatas e as ervilhas em meu prato e por um segundo me lamentei de não ter deixado Laura preparar meu almoço como fazia com o dos gêmeos. Orgulho Madsen, provavelmente. Queria mostrar que era independente, diferentemente de Griffin e Alyssa.
– Tem alguém aqui? Não?obrigada. – Kimberly sentou de frente para mim na mesa e confesso que fiquei surpresa. Geralmente, tínhamos esse acordo mútuo de negar a existência uma da outra.
– Kimberly, querida... – Disse com todo o sarcasmo que uma voz poderia ter. – Tem várias outras mesas livres, sabia?
– Eu sei, mas precisava falar com você. – Seu olhar desce para o meu almoço. – você come isso? Não tem medo de morrer envenenada?
– Estou correndo o mesmo risco que você corre quando fala, afinal, vai que você morde sua língua. – Sorrio falsamente. – vai, fala logo o que você quer.
– O Griffin. Sei que você sabe sobre nós. – Arregalei os olhos. – E também sei que você é apaixonada pelo meu namorado.
– Vou comer em outro lugar. – Levanto para sair dali, mas Kimberly segura o meu pulso.
– Madsen, vai sentando, agora. – Bufei, voltando a me sentar. – Eu preciso da sua ajuda.
– O quê? Com o quê?
Kimberly deu um longo suspiro.
– Eu preciso que você me ajude a encontrar uma forma de quebrar o tratado entre os Sparks e os Turner. De uma vez por todas.
***
A parte mais chocante da conversa foi descobrir que Kimberly tem sentimentos.
Ao que parecia, o que ela tinha com Griffin era sincero, e ao perdê-lo na noite da festa de Lacey, tudo ao seu redor pareceu desmoronar. Kimberly percebeu que nada importava sem ele e que agora iria lutar para que os dois pudessem começar um romance.
Segundo ela, os Turner e os Sparks fizeram um tratado anos atrás, e nele, os herdeiros das empresas Turner e Sparks iriam se casar, para que a comunhão de bens se mantesse e o poderio das duas famílias se mantivesse ao longo das futuras gerações. Todavia, Devon já era crescido na época, então, o dever de se casar com uma Sparks foi passado ao segundo filho, Dylan Turner.
De início, ela falou que Dylan foi totalmente contrário a ideia, mas ao descobrir os problemas pelos quais o irmão estava passando, acabou aceitando. Ele e Kimberly tentaram por anos transformar o que fosse aquilo em um romance, mas os dois eram muito diferentes.
Kimberly estava decidida a romper seja lá o que mantivesse esse acordo de pé.
– Você não enxerga, Chloe? O Dylan te ama. – Kimberly falou. – Eu cansei de lutar contra o que eu sinto. De lutar contra o que ele sente. Foda-se a empresa. Vou correr atrás da minha felicidade.
Eu disse a ela que precisava pensar. Aquilo era muita informação para se digerir.
Andava sem rumo pela escola quando encontrei Nathan sozinho no ginásio. Ele estava cabisbaixo e parecia um pouco chateado.
– Dia difícil?
– Nem imagina. – Ele me respondeu.
– O que aconteceu?
– Nada. Apenas eu que fiz uma idiotice.
– Qual idiotice?
– É que... Josh me perguntou se agora eu era amigo da Alyssa, e eu respondi que jamais seria amigo de alguém como ela, mas...
– Ah não, vai me dizer que ela ouviu? – Nathan assentiu, triste.
– Eu gosto da Alyssa, ela é uma garota legal, mas... sei lá... Quando eu penso em ser amigo dela parece uma coisa tão...
– Surreal? Sei como é. Eu era amiga do Dylan quando éramos pequenos, lembra? Ele sempre foi simpático e receptivo e eu... Bom, nunca fui uma pessoa muito fácil de se lidar.
– Não queria que ela tivesse ouvido.
Eu segurei sua mão.
– Ela vai esquecer, você vai ver. – Sorri pra ele. – Agora vamos, hora do último horário.
O último horário do dia era Educação Física. Enquanto eu e as meninas fazíamos uma partida de vôlei em uma parte do ginásio, os meninos jogavam queimada. Estava para perder um saque quando Kimberly se meteu a minha frente e deu uma manchete certeira na bola, trazendo ponto para o nosso time.
– Não sei do que sinto mais medo. Você me odiando ou tentando ser minha amiga. – Cochichei para ela e Kimberly riu.
– Eu não estou tentando ser sua amiga, querida. Mas já ouviu aquele ditado, o inimigo do meu inimigo é meu amigo? Então, digamos que seja isso que eu estou fazendo. – Ela respondeu, e voltamos a formação inicial do time.
No vestiário, tomei um banho e enrolada em minha toalha, caminhei até meu armário para me trocar. Alyssa veio até mim, já vestida e enxugando os fios loiros.
– Trouxe a sua escova? Eu esqueci a minha. – Ela perguntou, e eu a entreguei o que ela queria.
– Você esqueceu sua escova? Uau. Nunca esquece nada. Algum problema? – Quis saber. Alyssa parecia mais confusa do que era normalmente.
– Nada não, só umas coisas na cabeça. – Ela sorriu apontando pra escova. – Já devolvo.
Quando terminei de me vestir, deixei meu material no armário do corredor e esperei Nathan chegar. Seus cabelos ainda estavam úmidos porque havia acabado de deixar o vestiário.
– Deixa eu adivinhar, carona pra delegacia?
– Sim... Por favor? – Fiz um beicinho de coitadinha e ele balançou a cabeça.
– Sobe então.
Nathan acelerou a moto assim que subi na garupa. Abracei firme suas costas e ele deu um sorriso.
– Tenta não me matar, pelo amor. – Disse, com minha voz tentando vencer o vento.
Quando paramos ao lado da delegacia de Sydney, desci da moto e entreguei o capacete para ele.
– Vou vir te pegar também, não é?
– Mas claro! – Beijei sua bochecha e acenei pra ele, vendo acelerar a moto e sumir nas ruas de Sydney.
Ajeitando minha mochila no ombro e o caderninho de anotações que usaria para o trabalho, cruzei a porta de entrada.
***
Uma policial mal encarada me recebeu na porta.
– Se liga aí, Ray. Mais uma princesinha se meteu em encrenca! – Ela gritou para o lado de dentro do recinto, dando um sorriso de canto. – Veio confessar o quê, Ariel?
– Não vim confessar nada. – Respondi, irritada com a maneira com que ela falava comigo. – Eu sou aluna da Vermont e vim falar com Vincent Harris.
– O chefe não é muito velho pra você? – Ela ergueu a sobrancelha e cruzou os braços.
– E não é muito novo pra você? – Senti o cheiro do recalque dela de novo. Harriet estava certa quando disse que Vince era um sucesso entre as mulheres.
– Soraya. – Ele surgiu de sua sala, com as mãos nos bolsos do terno. – Deixe que a garota entre.
Dei um sorriso cínico para a tal Soraya e rebolei de propósito apenas para irritá-la. Mulher chata do escambal.
– Desculpe incomodar, agente Harris. – Já fui me justificando por atrapalhá-lo, adentrando sua sala depois dele.
– Não há problema, Chloe. Eu me inscrevi para ajudar no projeto da escola. – Ele respondeu, se sentando em sua cadeira, me encarando. – Feche a porta, por favor.
Fiz o que ele me pediu e me sentei de frente a ele.
– Bom, acho que para começar... Deve saber como um agente trabalha, certo? – Ele deu um sorriso, abrindo uma de suas gavetas.
– Sim, é verdade. Pra ser sincero, não sei qual a sua função aqui. – Dei um sorriso sem graça. Será que ele me acharia burra?
Vince deu uma risada, retirando alguns papéis de sua gaveta, mostrando-os a mim.
– Eu sou um agente integrado das forças australianas. Meu trabalho é investigar e desvendar, basicamente, mas não é qualquer caso que eu aceito. – Ele fez uma pausa, mas logo prosseguiu. – Eu estou em Sydney representando os interesses do Reino Unido. Então, todo caso que aceito é algo que diz respeito às duas unidades federativas.
Assenti, enquanto anotava isso em meu bloquinho.
– Esses são alguns casos em que trabalhei desde quando cheguei à Austrália. –Ele explicou. – Casos de tráfico de drogas, empresas de fachada, corrupção em política e alguns casos de imigração ilegal.
Comecei a folhear os papéis.
– Façamos o seguinte. Estou no meu horário de lanche, agora. Enquanto a gente toma um café você analisa tudo e depois te mostro a minha rotina, de acordo?
Não vou sair do lugar sentada em um carro com um detetive charmoso e ainda tem comida envolvida. Chloe Madsen, seu dia de sorte.
– Por mim, está ótimo. – Vince sorriu, pegando seu casaco atrás da porta.
– Pois vamos. – Como um cavalheiro, ele abriu a porta para mim.
Agradeci com um sorriso e caminhei ao seu lado até o café no fim da rua. Sentamos em uma das mesas mais próximas do balcão e ele fez o pedido, e quando a garçonete foi providenciar, ele sorriu pra mim.
– Lembro de você em GoldWing. Era amiga do Dylan, não era? – Vince mudou o assunto, enquanto eu anotava informações dos papéis no bloquinho. – Os dois eram quase grudados.
– Acho que sim. Era muito pequena quando a escola foi fechada. Até hoje não entendi o motivo. GoldWing parecia tão segura e aí um cara armado entra. – Deixei minhas dúvidas sobre aquela época virem à tona. – Mas passado é passado! Estou na Austrália agora.
– Mas me diz, ainda é muito amiga dele? Do Dylan?
– Não como éramos antigamente, mas sim, somos... amigos. – Sussurrei esta última palavra como se um peso surgisse em minhas costas. – Você parece gostar muito dele.
– Claro que gosto. Dylan é um garoto incrível. Às vezes, um amigo meu e eu ficávamos com ele quando Devon tinha algo pra fazer. Eram bons tempos. – Vincent suspirou, após a garçonete deixar seu café quente e ele mexer o açúcar com a ajuda de uma palheta de plástico.
– Uau. Nunca achei que você e o Dylan fossem amigos. – Respondi, dando um gole em meu café quente e agradecendo meu misto quente.
– Não, não somos. Dylan não gosta muito de mim. Nem ele nem o irmão. – Sentia que uma história bem mais complicada justificava esse ódio. – Ms enfim, estamos aqui para falar do seu trabalho, certo?
Comecei a fazer perguntas para Vince durante toda a refeição e depois que deixamos a lanchonete, fui de passageira de honra em sua viatura. O ritmo de trabalho de Vincent Harris era diferenciado dos policiais comuns. Ele espionava pessoas do alto escalão da sociedade, entregava dociês com informações milionárias a certas fontes, e tinha passagem livre nas alfândegas australianas.
Quando voltamos a delegacia, Nathan lia um livro encostado à sua moto nova. Bati a porta do carona do carro de Vince e ele sorriu pra mim, ainda com a mão no volante.
– Então, consegui ajudar? – Sorri de volta, fazendo que sim com a cabeça.
– Tenho tudo para o meu trabalho, obrigada agente Harris. – Agradeci, animada com as ideias que estava tendo para uma boa dissertação.
– Pode me chamar de Vince. – Ele respondeu. – Sempre que precisar, basta dar uma passada, tudo bem?
– Sim. Muito obrigada mesmo, Vince. – Ele fez um aceno de cabeça e saiu com o carro, já que passara de novo na delegacia apenas para me deixar.
Nathan estava muitíssimo concentrado em sua leitura. Caminhei a passos lentos até ele e fiz cócegas em sua cintura, o assustando.
– Que susto, Chloe! – O loiro deu praticamente um pulo pra longe, rindo um pouco. – E aí, pronta pra ir?
Fiz que sim com a cabeça. Pus meu capacete e apertei a cintura dele quando a moto passou a primeira marcha.
– Como foi com a Laura? – Quis saber, enquanto estávamos no trânsito.
– Ah, foi demais. A senhorita está prestes a comer um jantar preparado com a minha ajuda, sabia? – Ele indagou, em tom brincalhão.
– Sério? Pois vamos parar agora em uma pizzaria pra eu me garantir antes. – Ele fez uma careta. – Tô brincando, That, sei que vai estar maravilhoso. – Abraço-o por trás.
Paramos em frente à minha casa. Estávamos conversando animadamente sobre nosso dia, enquanto eu tirava minhas chaves da bolsa e abria a porta, e foi aí que eu fiquei realmente impressionada.
A mesa da sala de jantar estava posta com uma magnífica toalha branca, coberta por uma de tamanho menor de forma circular, de cor dourada, que ficara no centro da mesa. Laura baixara seus talheres de cristal e os despusera de forma elegante pelos locais. Griffin desceu as escadas usando uma blusa social (coisa que nunca o vi usar), uma calça de terno e o cabelo devidamente penteado.
– O que aconteceu com você? Cadê seu preto? – Referia-me à cor que ele sempre tinha que usar.
– A Mãe quase me engoliu quando me viu com minha blusa do System of a Down. – Ele respondeu. – Me forçou a usar esse treco ridículo de mauricinho.
Eu contive uma risada.
– Ah, você tá fofo, Griffin. Quem não te conhece acha até que você é alguém descente.
Nós dois sorrimos falsamente um pro outro, antes dele ignorar totalmente a presença de Nathan.
– Ei, não vai falar com o That? – Exigi, com as mãos na cintura.
– Não falo nem com o Turner, imagine falar com a sombra dele. – Ele respondeu sem se virar, adentrando a cozinha.
– Chloe, querida, que bom que chegou. – Laura foi a segunda a descer as escadas, correndo em direção ao espelho para ver se colocava seus brincos de forma correta.
Minha boca se abriu em um "O" perfeito.
Laura estava maravilhosa. Seus cabelos loiros estavam soltos, encobrindo seus ombros. Ela usava uma maquiagem leve no rosto e um batom de cor pastel, que combinava lindamente com o vestido rosa claro que minha madrasta escolhera para usar naquela noite.
– Laura, você está maravilhosa! – Eu a elogiei, e ela sorriu.
– Está mesmo, senhora Anderson! – Nathan concordou.
– Obrigada crianças. – Laura sorriu. – Bom, vão se aprontar. Chloe, já que não estava aqui, Alyssa teve de escolher sua roupa. Tome um banho rápido e se apronte, sim, querida? – Eu assenti, subindo as escadas.
– Bom, eu acho que está na minha hora... – Nathan respondeu, querendo sair.
– O quê? De forma nenhuma, querido. – Laura o impediu. – Você vai jantar conosco. Encontrei uma roupa de Griffin que ficará ótima em você. Pode ir tomar banho no quarto de Alyssa, ela não está em casa.
Nathan sorriu, animado.
– Tudo bem.
Laura bateu palmas duas vezes como se chamasse nossa atenção.
– Vamos crianças! Logo os convidados estarão aqui. – Ela avisou, nervosa.
Subi para me preparar, com a consciência de que seria uma longa noite.
***
Quando Laura me disse que fora Alyssa que escolheu minha roupa, já me imaginei parecendo a power ranger rosa. Porém, depois de um tempo convivendo juntas, acho que minha meia irmã captou bem meu estilo.
Ela escolhera para mim uma saia na altura do meu joelho de cor branca, assim como uma blusa de um tom vermelho escuro, tendenciando para o vinho, presa pelo pescoço. Pus todo o meu cabelo para o lado direito e o prendi com uma presilha.
Terminei de passar meu batom vermelho e sorri pra mim no espelho. Estava verdadeiramente uma dama, e não estava sofrendo tanto, quer dizer, até ser obrigada a por o salto alto.
Escutei um assobio vindo da porta.
– Quem não te conhece acha até que você é descente. – Griffin devolveu minha preocupação, encostado em minha porta, tomando leite direto da embalagem.
– Engraçadinho. – Dei língua pra ele.
– Sou mesmo. – Ele respondeu, convencido. – Mas diz aí, cansou do Turner e está se contentando com a sombra dele agora, é?
– O quê? – Encarei Griffin com a sobrancelha erguida. – Não. Nathan e eu somos apenas amigos.
– Ronda você. Ronda a Alyssa. Talvez ele me irrite ainda mais que o Turner. – Soltando aquele indireta no ar e sem me deixar perguntar o que ele queria dizer, Griffin me deixou sozinha.
Terminei de me arrumar e saí no corredor, no exato momento em que Nathan saía do quarto de Alyssa já preparado. Usava uma blusa social do mesmo estilo da de Griffin, porém de cor cinza. Seus cabelos estavam penteados para o lado e os seus dentes pareciam ainda mais brancos.
– Uau. Você tá linda. – Ele me elogiou, coçando a nuca.
– Ah, obrigada. Você também tá lindo. – Elogiei. – Vamos?
– Sim, claro.
No andar de baixo, meu pai ajudava Laura a servir algumas entradas. Frios, salgadinhos, e até mesmo alguns doces. Assim que me viu,Walter abriu os braços.
– Minha garotinha cresceu, está linda! – Corei com seu comentário.
– Pai, por favor, menos suicídio social. – Pedi, vendo Griffin dando uma risada mesquinha.
– Oh é mesmo. – Ele deu aquela gargalhada única de Walter Madsen. – Adolescência. Consideram vergonhoso até o sinal de afeto dos pais. – Ele beijou minha testa. – Vamos filha, me ajude a trazer o maldito balde de gelo.
Dei uma risada e pedi que Nathan me esperasse, ajudando meu pai com o que ele pediu.
– Griffin, Nathan, vocês como os cavalheiros, se importariam de por algumas mesas no quintal? Não terá espaço para que todos fiquem aqui dentro. – Ao que parecia, Laura planejava uma grande festa.
Felizmente, tudo estava pronto antes de todos começarem a chegar. Não via meu pai tão feliz fazia algum tempo, e agora o via sorrir para o nada com a presença de seus antigos colegas de faculdade.
– Bill!
– Walter cabelão! – O homem abraçou meu pai, rindo.
Ao que parecia, meu pai era chamado assim porque seus cabelos iam até os ombros quando mais jovem. Bem diferente de hoje, que sua cabeça era calva e quase um espelho convexo.
À medida que a noite ia passando, mais pessoas iam chegando. Griffin ficou responsável pela música (claro, com a supervisão de Walter) para que tocasse algo agradável para os convidados.
Eu e Nathan ficamos em uma roda com meu pai e seus amigos. Seu colega Bill contava uma história e prestávamos atenção, ao contar o desfecho, todos os presentes riram.
– Nathan? – Laura surgiu, tocando-lhe o ombro. – Tem alguém que quer vê-lo.
– Oi? Quem?
– Nathan?
Uma mulher linda surgiu em um espetacular vestido azul marinho. Ela aparentava ter por volta dos 30 anos, e lembrava muito a Lyn em sua elegância, tirando os cabelos escuros e os olhos da mesma cor.
– Mercedes?! – O rosto de Nathan se iluminou ao vê-la e correu para abraçá-la.
– Quanto tempo em, garoto? – Ela bagunçou os cabelos dele. – Agora é australiano, esqueceu de Nashville.
Nathan deu uma gargalhada.
– Qual é, sabe que nunca esqueci minhas origens. – Ele respondeu. – Mer, essa é minha amiga Chloe. – Nathan me apresentou, acenei pra ela. – Chlô, essa é minha cunhada, Mercedes Roberts.
– Olá Chloe, é um prazer. – Apertamos as mãos.
– Digo o mesmo. – Sorri. – Bom, vou deixar vocês conversando. – Dando mais privacidade a eles, voltei a explorar a festa.
Ajudei Laura a servir mais alguns petiscos para os convidados, quando vi um carro luxuoso parar na calçada. Alyssa desceu do banco do carona, enquanto um garoto de nossa idade desceu do do motorista. Os dois deram as mãos e chegaram ao jardim, cumprimentando os presentes.
– Aly, onde estava? Meu pai quer muito te apresentar ao Bill paraquedas. – Ela fez cara que não entendeu. – Histórias de faculdade.
O garoto ao lado de Alyssa me era familiar. Lembro de já tê-lo visto nas campanhas da Versalle, ao lado de Dylan. Claro! Aquele era Eric James, um dos modelos da Versalle. Tinha ate aula de literatura com ele.
– Ah, Chloe, você conhece o Eric né? – Alyssa pareceu perceber que não tinha nos apresentado formalmente.
Eric abraçava Alyssa por trás.
– Sim. – Ele respondeu por mim. – Fazemos aula de literatura no mesmo periódo.Oi, Chloe.
– Olá, Eric. – Cumprimentei ele, meio confusa.
– Amor, pode ir pegar um ponche pra mim? – Alyssa pediu e prontamente seu pedido foi obedecido. Quando ele se afastou, senti liberdade para falar.
– Oi? Amor? Quanto tempo eu dormi?
– Ah, Chloe, depois eu te explico. Preciso fazer a boa enteada para os amigos do Walter agora. – Alyssa girou os olhos.
Observei parada no mesmo lugar, Alyssa caminhar até onde meu pai estava com os amigos e ser apresentada a cada um deles.
– Ele está tão feliz. – Laura comentou, surgindo com uma bandeja de salgadinhos. – Faz tempo que não o vejo assim.
– É verdade. – Concordei. – Mas o que a cunhada do Nathan faz aqui?
– Mercedes foi aluna de Walter na faculdade de relações internacionais. A favorita dele, pelo que ele diz. – Laura contou. – Mundo pequeno, não?
– Você nem faz ideia. – Ri.
Até aquele ponto, a noite parecia que ia correr tranquila.
Ou pelo menos, foi isso que pensei.
Porque, na vida de Chloe Madsen, o caos nunca tira férias.
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