87| A Dança dos Mortos

DANIEL

Presa com as correntes de que tanto temia e nutria repulsa, Solária agora se encontrava unida a elas, como se fossem sua única companhia durante o tempo como cativa. O calor de Lumen não mais podia mantê-la segura, agora estava enclausurada no frio de Tenebris. Não conseguia outra forma para passar o tempo se não fosse torturando a si mesma. A lembrança da mágoa vinha em medidas altas, fazendo a Deusa mergulhar profundamente no arrependimento contínuo. Pensar que Daniel viria resgatá-la a qualquer momento era seu mais profundo consolo. O querubim invadia seus pensamentos e por alguns instantes afugentava as lembranças ruins. Em seu exílio, ela se perguntava como estaria a guerra, se já havia eclodido ou ainda estava para acontecer. Ela sabia que seu encontro com a irmã aconteceria não importa o que houvesse, e estava determinada a conseguir o seu perdão.

-Você tem que me perdoar Shaya - murmurou para si mesma.

O lugar onde estava era escuro e cavernoso. Qualquer sussurro tornava-se um imenso eco.

-Talvez você queira ouvir cada sussurro que dou, quer me ouvir lamentar e por isso me colocou nesse lugar horrível - tornou a sussurrar.

Solária não tinha dúvidas de que o perdão era quase impossível de ser concedido, mas conhecendo a irmã, sabia o quanto ela podia ser boa quando queria. Ela ouviu passos arrastados. Tentou ao máximo distinguir algo na escuridão, mas parecia estar cega. Nem ao menos conseguiu emitir sua luz, pois a escuridão absorvia qualquer vestígio de luminosidade. O som estava se aproximando, e sendo uma verdadeira celeste, ela teve certeza que a irmã a observava.

-Shaya? - murmurou.

Não houve resposta. De repente uma chama iluminou o rosto de Shaya, ela segurava uma tocha.

-Irmã... - choramingou Solária, conseguindo ver apenas metade da face da irmã. - Fale comigo, pare de me torturar com esse silêncio.

- Pare de me torturar com esse silêncio - repetiu Shaya, em uma imitação tosca. - Fale comigo, pare de me torturar com esse silêncio.

A Deusa chorou enquanto a outra ria debochadamente.

-Por favor... pare! - implorou.

- Por favor pare! - repetiu.

Shaya aproximou a tocha do rosto da irmã, e observou com prazer que o calor a afetava. Solária virou o rosto para proteger-se do calor que acreditava controlar. As chamas ardiam em sua pele. Estar presa em Tenebris foi como te perdido os poderes que tinha. Mal acreditava que aquele calor lhe podia fazer tão mal.

-Você gosta? - não houve resposta, então ela aproximou a tocha. - Acho que você gosta.

- Pare! Está me machucando! - gritou, agitando-se. - SHAYA!

- Continua tão barulhenta como antes - já articulando seu plano, Shaya voltou para trás. - Sabe por que vim até aqui?

- Veio para me torturar - o alívio veio quando as chamas foram afastadas. - Por favor, me perdoe.

- Não sou tão baixa como você a ponto de torturar alguém...

- Você já está me torturando! A sua recusa ao perdão é a mais alta tortura pela qual passei!

- Você mesma se tortura, eu sei que faz isso. Não para um momento sequer de pensar na monstruosidade que fez a mamãe, e a mim...

- Por favor pare! Eu só peço que me perdoe, e se for me torturar, que faça isso em silêncio!

- Se engana profundamente minha irmã, se pensa que vim aqui para lhe torturar - Shaya sorriu ao ver o olhar esperançoso de Solária. - Eu vim aqui para lhe oferecer o meu perdão.

Solária ainda olhava incrédula para ela. A fala não lhe veio, tamanho era a sua surpresa. Não conseguia acreditar, mas ali estava, o perdão que aspirou por longas décadas.

-Vai mesmo me perdoar? - indagou.

- Sim. Não somente vou te perdoar, como também vou te dar a oportunidade de lutar ao meu lado na guerra...

- Guerra? Miguel já iniciou a queda?

- Então você sabia de tudo, lutaria ao lado dele na rebelião? Tinha conhecimento do plano dele e o ajudaria a desencadeá-lo! - rosnou Shaya.

- Não! Irmã, eu juro que não! - sua voz se tornou esganiçada. - Eu sabia o que ele planejava, afinal, era eu quem era responsável por selecionar as almas para suas devidas castas, mas apenas sabia da velha história...

- Que história?

- Que o Trono ainda dorme. Não duvido que isso seja verdade.

- Isso tudo é mentira, é claro que é uma grande mentira. Eles querem que pensemos isso, mas sabemos de toda a verdade, o Trono está apenas testando seus filhos.

Solária nada falou, e aguardou que a irmã retornasse ao assunto que tanto lhe interessava.

-Esse seu olhar patético não me faz ter pena de você, eu só sinto nojo...

- Me perdoe!

- Eu perdoarei, mas sob uma condição, e você terá que cumprir para merecer o meu perdão. Vai aceitar o que eu tenho para oferecer?

- Eu farei tudo pelo seu perdão - ela chorou.

- Ótimo, agora quero que me ouça com atenção - Solária meneou a cabeça. - Vai lutar comigo na guerra, me ajudar a parar a queda de Miguel antes que ele chegue até Statera e mate todos com quem eu me importo. Até o seu precioso Daniel corre perigo se a queda for concluída. Vai renunciar o seu posto como Deusa em Lumen, sei que pode fazer isso - ela parou e pensou se podia se dar o luxo de torturar Solária ao dizer que Daniel amava Ishtar, mas decidiu que não seria bom para seus planos em persuadi-la. - Isso tudo que eu peço é muito pouco, aceita?

- Sim! Eu quero guerrear ao seu lado...

- Ainda não terminei. Depois que ganharmos a guerra, se ganharmos... você vai se matar. Vai deixar de existir quando ver que eu finalmente te dei o meu perdão.

- Irmã, isso é muito cruel...

- CRUEL FOI O QUE VOCÊ FEZ A TODOS QUE EU SEMPRE AMEI! NUNCA VI TANTA CRUELDADE EM UM SER HUMANO, VOCÊ JÁ ERA PODRE ANTES MESMO DE SE TORNAR UMA CELESTE! POR CAUSA DA SUA COBIÇA FÚTIL, EU PERDI MEU MELHOR AMIGO, MÃE E PAI...

- Não, não, não... - Solária tentou bloquear-se, mas a ira de Shaya teria de ser ouvida.

- COMO SE NÃO BASTASSE MATAR QUASE TODO O PRÓPRIO POVO, AINDA CONSEGUIU IR PARA LUMEN POR SUA MALDITA PREDOMINÂNCIA DE ANJO! VOCÊ ME MATOU NO DIA EM QUE FUI MAIS FELIZ, E FEZ QUESTÃO TRANSFORMÁ-LO NO PIOR DE TODOS! E SE NÃO FOSSE POR WILL, VOCÊ AINDA TERIA A OPORTUNIDADE DE TER UMA VIDA LONGA!

- ELE TIROU A MINHA VIDA! EU O ODEIO! - gritou.

-QUEM VOCÊ ACHA QUE É PARA SENTIR ÓDIO? TEVE SORTE POR ELE TER SIDO TÃO GENEROSO E APENAS BANIDO SUA ALMA... MAS O MALDITO MIGUEL TEVE QUE INTERVIR E TE LEVAR PARA LUMEN, REMOVENDO A PARTE QUE ELE ACHAVA SER RUIM DE VOCÊ... - sua voz fraquejou e ela chorou. - E removeu o que achava ser bom em mim ,e agora aquela garota existe para mim lembrar de tudo o que não era para acontecer... mas eu aprendi a não odiá-la.

- Eu tentei de todas as formas proteger Ai, até mesmo a vida de Daniel eu tirei para mantê-la segura, eu me apropriei de sua arte para fazê-lo morrer. Vampiros são mesmo uma desgraça, anjos caídos e renegados.

- Eu tive a ajuda de Alexandria, ela habita o submundo há mais tempo e conhece seus segredos melhor do que eu. Por que quis tanto que ela vivesse?

- Por que ela é a única coisa que nos mantêm unidas, ela é a prova de que nós podemos ser fortes e boas. Aquela garota era o que equilibrava a alma dos mortais.

- Por isso quero que lute comigo na guerra. Vamos na missão de parar a queda de Miguel, e depois você se mata, e assim estará perdoada. Vai aceitar?

Solária refletiu por alguns instantes. Sua única saída estava sempre voltada para a morte. Ela teria que aceitar, pois todos os lados queriam o seu julgamento. Pela primeira vez em sua vida ela não se sentiu acuada pela covardia. Seu destino a aguardava, e ela precisava partir sem que todos a vissem como ela era quando jovem. Queria se redimir de seus erros e fazer o bem que julgava ser necessário. Ela aprumou os ombros, olhou com firmeza para a irmã e aceitou.

-Muito bem - disse Shaya. - Está livre para me seguir e ir adiante com o plano.

Com estalo de seus dedos, as correntes desapareceram de Solária, deixando-a completamente livre para fugir ou matar. Shaya virou-se e viu a irmã se erguer debilmente.

-Pode me matar agora se quiser, pode fazer o que bem entender, mas quero que saiba que estou te dando uma oportunidade de mudar. Não mude pelos outros, mude por si própria, pois você deve ser julgada somente pelos seus olhos. Os olhos dos outros não te oferecerão um julgamento sincero, pois eles querem que você seja exatamente como eles desejam, e isso você não pode deixar que aconteça.

Ela sabia que o perigo de soltar Solária era imenso, mas por Will, ela acreditou mais uma vez na irmã. O perdão viria para ela, mas acompanhado da morte.

-Eu irei com você Shaya, e vou te proteger de qualquer perigo - declarou.

- Ótimo, pois eu odiaria morrer sem antes te perdoar - ela sabia que ao dizer aquilo, Solária lutaria de todas as formas para que ela não morresse, ela articulou muito bem o seu plano. - Venha comigo, vamos adentrar no meio das duas dimensões, no canal *parallel, é onde Miguel preferiu iniciar a queda. Por lá demora mais tempo que o previsto. O motivo da queda? Simples, ele quer ver tudo pronto antes de iniciar o novo dilúvio. Agora vamos logo.

*Parallel: paralelo

- Promete que vai me perdoar? - Solária achou muito estranho o comportamento passivo da irmã, mas resolveu não arriscar.

- É claro que vou, já está quase perdoada.

Daniel retalhava a horda de anjos que havia se acumulado no imenso corredor. Eram todos tolos e despreparados, não sabiam para onde ir, e aquele corredor havia se tornado uma verdadeira carnificina. Alguns tentavam quebrar as paredes para escapar, vendo que o querubim dominado pela ira se aproximava. As asas cortantes de Daniel não eram páreas para nenhuma armadura. Sangue e entranhas eram derramados à medida que ele passava. Correndo com mais velocidade, ele deslizou com os joelhos e ergueu os braços, cortando ao meio, cinco outros querubins paralisados pelo medo. As paredes da mansão voltaram a tremer. O corredor oscilou, a mansão estava ficando inclinada. Ele soube, Ishtar estava colocando tudo para baixo com sua força poderosa.

Olhou para trás e viu apenas cadáveres, havia acabado com todos. Corpos amontoaram-se em seus pés quando o corredor voltou a oscilar. Ele começou a abrir uma fenda na parede com a ajuda de sua maça, e foi interrompido quando ouviu gemidos. Em meio aos cadáveres, ele escutava alguém chorar baixinho. Acuada sobre o corpo de um querubim grandalhão, estava uma pequena anja. Tinha cabelos longos e negros e feições japonesas. Ela olhou horrorizada para Daniel quando o viu descobrir seu esconderijo. A anja jogou sua espada para longe, em sinal de rendição. Ódio e ira dominavam o coração do querubim, mas a visão do rosto assustado dela o fez parar com sua maça. Ela se encolheu mais do que já e estava, e colocando as mãos sobre a cabeça, aguardou sua sentença final.

-Quem é você? - arquejou Daniel.

- Não importa se vou morrer, acabe logo com isso...

- EU PERGUNTEI QUEM É VOCÊ! - gritou ele, demonstrando autoridade.

- Milia! - choramingou. - Milia Hazuri!

- Hazuri? Diabos! Hazael enviou a própria filha para a guerra? - ele riu.

Milia não respondeu, continuou aguardando a morte.

-Você queria isso Milia? Queria esta guerra? Queria sangue e entranhas? - perguntou rapidamente. - LEVANTE AGORA SUA COVARDE!

Ele a ergueu com brutalidade. A anja grunhiu quando bateu as costas e a cabeça na parede. Daniel matinha sua mão envolta do pescoço dela enquanto ela já começava a ficar sufocada.

-Eu... - grunhiu Milia.

Ele a deixou cair no chão. Sabia que ela nada faria, estava ali apenas a mando do pai.

-Eu odeio essa guerra sem sentido, e você começou ela... - ela tossiu. - E agora eu estou pagando por isso.

- E vai pagar mais caro se entrar em meu caminho novamente. Volte para Lumen se quiser continuar cagando em tronos de ouro. Fedelha. Seu pai vai morrer hoje.

Milia voltou a encolher-se e chorou. Daniel percebeu o quanto de tempo havia perdido ali. Quebrou a parede e sobrevoou. Muitos anjos estavam caídos. Outra explosão. Parte da mansão veio abaixo. Ele sorriu ao ver Ishtar sobrevoar dos escombros. Suas asas enormes lançavam correntes fortes de ar em qualquer querubim que tentasse uma aproximação agressiva. Ela carregava uma espada grande demais para seus braços e exibia com orgulho um sorriso presunçoso de vitória. Daniel retribuiu o sorriso e voou para outra direção, em busca de mais inimigos. Uma movimentação estranha o fez adentrar na floresta vermelha. Lá encontrou Uziel e Soren travando um combate arriscado com muitos anjos. Ao verem Daniel, alguns deles levantaram voo, aterrorizados com a presença repentina do querubim.

-Querem ajuda? - indagou enquanto atirava para longe um anjo que pretendia atacá-los.

- Chegou em ótima hora - disse Uziel.

Ele estava coberto de fuligem e tinha cortes por todo o corpo. Daniel estava impressionado com os amigos, pois eles estavam lutando com afinco sem armadura, e continuavam vivos. Um corte feio sobre um olho e uma orelha decepada eram as marcas de guerra de Soren.

-Estou acabado, agora sou um zarolho - ele riu, apontando para o olho cego. - Mas não tanto quanto esses filhos da puta.

Daniel o viu mais uma vez usar suas ondas paralisantes. Não era eletricidade, era pura frequência corporal. Quem o tocava era arremessado para longe, ou então tinha os miolos tostados. Restavam apenas quatros anjos, que tentaram inutilmente escapar. Uziel saltou e segurou o pé de um querubim muito magro. O anjo tentou agitar o corpo para fazer o exilado cair. Vendo que não conseguiria, em seu desespero, ele cortou o próprio pé para fugir. Uziel arremessou sua espada, que perfurou o abdômen do querubim e o fez cair inerte no chão. A temperatura começou a ficar mais quente. De repente eles começaram a suar, o céu adquiriu um tom escuro e pesadas nuvens ameaçaram chover.

-Que estranho, nossa! Meus pés estão queimando ou o chão está ficando mais quente? - exclamou Soren.

- Algo muito interessante está para acontecer, acho que alguém mexeu em algo muito importante para Will - disse Uziel.

- Não entendo...

- Querem ver a dança dos mortos? Will só pode estar muito furioso com alguma coisa, vamos até ele - Uziel segurou a mão de Soren e correu para fora da floresta.

Daniel foi ao encalço deles enquanto sentia os pés esquentarem gradativamente. O calor estava insuportável e um forte zunido estava começando a perturbá-lo. Daniel achou tudo extremamente quieto, nem mesmo as explosões de Ishtar podiam ser ouvidas ao longe.

-Estamos perdendo tempo - falou Soren, retirando quatro cristais do bolso e lançando-os no ar. - Vamos por um portal.

A passagem foi curta, logo eles estavam em um imenso campo. Avistaram Sora sentada no chão com Lieff encolhido. Ela chorava muito e agarrava-se ao amigo desacordado. Ao se aproximarem, viram que metade da perna esquerda de Lieff estava estraçalhada até o joelho. Sora estava com os cabelos agora curtos e carbonizados, queimados por algum anjo. Pelo menos cinquenta anjos estavam prostrados diante de Grendel. Eles queriam Sora, queriam vê-la morta, pois assim acreditavam que Shaya morreria junto. Eles estavam hesitantes em atacar, pois estavam lidando agora com o Sr. Morte. Grendel murmurava palavras estranhas. Eles decidiram não interrompê-lo, pois sabiam que ele planejava algo grande. Daniel ficou ao lado de Sora e passou a mão em seu braço, fechando alguns ferimentos. Lembrou que curou o pulso de Lili uma vez, então resolveu tentar curar a perna de Lieff.

-Sora, está me ouvindo? Vai ficar tudo bem, preciso que solte Lieff por enquanto, vou tentar restaurar a perna dele - sussurrou.

Sora assentiu e o soltou ainda hesitante. Soren e Uziel estenderam o corpo dele, enquanto Daniel tentava ao máximo restaurar a perna. O osso estava quebrado e a carne totalmente exposta e esmagada. Ele sabia que seu poder curativo se limitava apenas em pequenas feridas. Querubins eram anjos guerreiros e feitos para ferir, e não curar. Ele sentiu-se desesperado por Sora, pois o máximo que conseguiu foi restaurar alguns pedaços de pele. A perna começava a necrosar, a oscilação de temperatura estava acelerando o processo. Quando olhou para Soren, ele soube o que tinha que fazer. Erguendo a espada de Uziel, ele cortou a de Lieff. Sora gritou e tentou impedir, mas era tarde demais. Uziel retirou sua blusa e fez um torniquete improvisado. A raiva voltou a tomar conta de Daniel, aquela guerra estava acabando com seus amigos. Ele temeu por Lili, e desejou que ela estivesse na segurança de Nero.

-Sora, ele vai ficar bem. Sabe que Lieff é durão, esse pedaço de perna não vai fazer falta para ele. Olhe só, nem foi à perna toda, só até o joelho. Vamos lá, procure ficar calma.

Ela voltou a aninhar Lieff nos braços. Grendel voltou a murmurar palavrar esquisitas, dessa vez mais audível. Percebeu Daniel, que ele falava em latim, a língua morta. De repente tudo ficou frio quando o Sr. Morte ergueu os braços. Eles sentiram ondas magnetizadas, e logo o cabelo de todos estava para cima.

-¹ Hoc nitentem in nocte, terra inelectum filiis vestris - sua voz estava gutural, e os olhos ficaram totalmente brancos. - Et interrupta per iracundiam provocare filios requiem quaeras ire ad terram qui soporem morti aeternae rumpere ausi.

¹Nessa manhã clara no meio da noite, a terra expurga seus filhos. E os filhos zangados pelo descanso interrompido, procuram devolver para a terra aqueles que ousaram romper o sono eterno da morte.

- ²Expergisci te iubeo. Occidere. Ego sum, rogo ut meo iussu cernat et impletum est. Meum filios viva novum do teammates. Nunc!

²Eu ordeno que acordem. Matem. Sou o seu senhor, e exijo que minha ordem seja cumprida. Levantem meus filhos, façam desses vivos seus novos companheiros. Agora!

A terra tremeu. A temperatura ficou tão baixa que os cabelos de Daniel congelaram. Gemidos estranhos ecoavam para todos os lados. Uma mão esquelética fez Soren pular para o lado quando surgiu. Os mortos estavam levantando da terra. Foi uma visão bizarra e fantástica para eles. Grendel olhou para trás. Estava sério. Quando se certificou que todos estavam bem, ele ordenou seu ataque. Cadáveres de todos os jeitos corriam até os anjos e travavam uma batalha sangrenta. Uziel e Soren se ergueram e voltaram a empunhar suas espadas. Eles percorreram uma fileira de querubins e nada podia pará-los. Eles riam enquanto desarmavam e matam guerreiros tão fracos e despreparados para um combate. Em meio a tantos mortos-vivos, Uziel avistou Hazael fitando-o com ódio. O guerreiro estava parado enquanto milhares caíam e morriam ao seu redor. Hazael ergueu se arco e flecha e apontou para Soren, que lutava sem saber da presença que o ameaçava.

-Hazel. Soren! Hazael está ali - exclamou Uziel.- O covarde resolveu apelar para uma flecha-estelar.

Soren virou-se rapidamente e exibiu um sorriso debochado para Hazael.

-Vá pela direita, eu irei pela horizontal - disse Soren.

- Não, ele está com uma flecha-estelar. É perigoso demais...

- Vamos lá, vai chorar como uma menininha? Vamos ferir os colhões dele! Uma flecha-estelar não é o suficiente para nos parar - ele fitou o rosto sério de Uziel. - O que você tem?

- Sou mais experiente em batalhas do que você, me deixe cuidar dele sozinho e vá ajudar Daniel com Sora - o exilado agora tremia, olhava de soslaio para Hazael. - Vá, agora.

- O que? Por que? Eu vou ficar...

- Não! Parta agora! Eu não quero perdê-lo - ele engoliu seco e corou. - Eu te amo demais para suportar sua perda, você é um maldito filho da mãe que se tornou importante demais.

- Vamos irritá-lo ainda mais - Soren foi até o exilado. - Estamos juntos nessa, meu caro.

Para a total ira de Hazael, eles se uniram em um beijo despreocupado.

-Eu sempre amei você. Nunca vou deixá-lo, amigos morrem para defender uns aos outros, e é isso que eu farei para mantê-lo vivo - ele piscou para Uziel e sorriu.

Eles correram até Hazael, que ficou confuso em qual deles atirar. Uma flecha passou raspando por Soren, que a rebateu com sua espada. Se eu conseguir enviar ondas até ele e paralisá-lo, ganharemos aquelas fechas e mataremos o desgraçado, pensou Soren. Focando somente em Hazael, ele não viu quando um querubim atravessou seu abdômen com uma lança fria. O metal perfurou as entranhas de Soren, ele não gritou, mas seu desespero veio quando viu que Uziel se distraiu quando o viu ser atacado. O foco dele mudou, olhando para Soren, ele começou a correr até o amigo.

-UZIEL, NÃO! EU ESTOU BEM, CUIDADO COM HAZAEL! NÃO OLHE PARA MIM... - gritou Soren, e sangue começava a escorrer por sua boca.

Astuto e trapaceiro, Hazael percebeu a distração do exilado e mirou em seu ombro, acertando-o em cheio. Uziel sentiu a dor trespassar seu corpo, logo sentiu tudo esquentar e depois veio à dormência. Ele viu Soren correndo debilmente até ele. A ferida em seu abdômen jorrava sangue. Correndo o máximo possível, ele sabia que não haveria chances. O exilado sabia que seu tempo estava curto, então agarrou rapidamente seu colar materializador e gravou nele sua última mensagem para Soren. Segurando o colar arremessado, ele estendeu o braço para Uziel, e quando seus dedos se tocaram, o exilado explodiu. Sua poeira varreu o rosto de Soren, que ficou impregnado com as cinzas de seu melhor amigo e amor.



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