81| So Long and Goodnight

SORA

-Acha mesmo que fiz a coisa certa? - perguntei para Li. - Estou meio fora de tempo, às vezes me sinto culpada, outras vezes não. E na hora esqueci o que realmente tinha que fazer lá, e Ellai ainda continua dormindo dentro de mim.

- Parece que temos alguém muito confusa por aqui - ele riu. - Bem, aqui vai a minha opinião, continuo achando que você fez a coisa certa. Sabe, ela acabou provando que não era tão boazinha quanto dizia e você acabou com ela direitinho, estou orgulhoso de você.

Estávamos deitados debaixo de um salgueiro que se estendia sobre as imensas rochas que planavam no lago, foi naquele lugar que conheci Lieff. O dia não estava tão frio como de costume, após uma violenta tempestade. Fazia um pouco de sol e corria vento. Tateei sobre a rocha e peguei uma tâmara dentro da cesta, estavam saborosas. Refleti sobre o que ele me disse, talvez estivesse certo, talvez não devesse deixar que Solária me deixasse culpada.

-Acho que você tem razão, eu fiz a coisa certa. Certíssima.

- Veja só como o meu poder de persuasão é poderoso - gabou-se. - Sou o melhor.

- Se é tão bom quanto acha, então será meu psicólogo a partir de agora...

- Será um prazer - me interrompeu. - Aproveite que ainda não me formei e suas consultas serão gratuitas. Quando abrir meu consultório vai ter que pagar por elas.

- A não ser que... - virei-me para ele. - Eu me case com você, daí não terei que pagar pelas consultas.

Ele virou-se rapidamente para mim com uma expressão séria.

-Está falando sério? - indagou.

- Como assim? - abocanhei outra tâmara.

- Sobre casar comigo, você faria isso? - ele me olhou com mais intensidade e percebi um brilho diferente em seus olhos, parecia suplicar que eu dissesse sim.

- Eu não disse isso - repliquei. - Eu não disse que ia casar com você.

- E eu não insinuei que você disse que queria casar comigo, só quero saber se você aceitaria caso eu te pedisse - resmungou, emburrando a cara.

- Mas é claro que não. Eu nunca me casaria com você - gargalhei vendo ele me fulminar com o olhar.

- E por que não? - grunhiu.

- Por que somos melhores amigos! E li um artigo semana passada sobre melhores amigos que se casam, e nunca dá certo. Sempre acaba em divórcio depois de apenas dois anos.

- Deixe-me adivinhar, quem escreveu esse artigo foi a famosa Kimbra Teixeira?

- Ela mesmo - apoiei a cabeça no braço para observá-lo melhor, aquele assunto estava ficando interessante.

- Ótimo! Você queimou mil neurônios lendo um artigo de uma garota que levou o maior fora de todos os tempos e não suporta ver ninguém feliz!

- E daí? Acho que ela está certíssima. Tipo, nada haver...

- Odeio quando você diz isso - grunhiu.

- Isso o que? - estava adorando vê-lo tentar esconder a irritação, mas a cor de suas bochechas não negava, ele estava ficando irritado.

- Essa palavra, tipo. É uma palavra muito chula e não combina com você.

- Hum! - bufei. - Não está mais aqui quem falou.

Um curto silêncio seguiu-se. Li pegou uma pequena pedra e a arremessou no lago, fazendo-a pular diversas vezes sobre a superfície antes de afundar. Ele estava de costas para mim, continuei deitada. Seu moletom branco carregava pequenos fragmentos de terra. Sentei detrás dele e limpei o seu moletom com algumas batidas.

-Por falar em blogs - suspirou. - Por que você andou pesquisando sobre isso?

- Sobre o que? - também arremessei uma pedra sobre o lago, mas não consegui fazê-la saltar.

- Sobre o relacionamento entre melhores amigos. Por que você andou pesquisando sobre isso? Por acaso está com dúvida em algo sobre nós?

Ele me pegou. Rapidamente tentei encontrar uma resposta qualquer para mudar de assunto em seguida.

-Por que sim - me amaldiçoei.

- Ótima resposta Sora Bloom, muito convincente. Acho que você está com muitas dúvidas sobre nós e não quer se abrir comigo, que posso esclarecer suas dúvidas melhor que uma garota inútil. Melhores amigos podem sim dar certo, em tudo - bufou.

- Esse foi o meu diagnóstico? - brinquei.

- Não - grunhiu.

- Li! Melhores amigos são bons apenas para serem melhores amigos! Não dão certo mais em nada, tipo namoro e etc.

- Você não falou isso quando implorou na última vez...

- Ei! Eu não implorei nada - pigarreei.

- Implorou sim, e gostou bastante das duas vezes que fizemos - ele parecia um garotinho mimado tentando me convencer. - Então sua teoria sobre namoro entre amigos está errada.

- Mas eu só estava me divertindo! E você também... - ele continuou fitando o lago.

- Não, eu não estava me divertindo... eu estava te amando.

Odiei ouvir aquilo, por que senti meu coração apertar. Então aquilo significava que eu me importava. Uma rajada de vento assanhou seus cabelos brancos, deixando-o com um aspecto mais velho. Às vezes me esquecia que Lieff tinha vinte e um anos. Sua barba rala agora era sua mais recente característica. Ele queria ter uma aparência que condizia com sua idade, e estava funcionando. Terminei de assanhar seus cabelos para quebrar aquela tensão. Ele agarrou minha mão e a beijou, depois continuou segurando-a, ainda fitando o lago.

-Que tenso... - sussurrei.

- Verdade, que tenso. Mas podemos resolver isso - ele sorriu e soltou minha mão. - Deixa pra lá, esqueça.

- E se eu disser que quero... - hesitei para ver sua reação.

Ele me olhou. Seu rosto estava impassível, nenhuma expressão vinha dele.

-Que quero...

- O que? Pare de hesitar, que chato - voltou a emburrar a cara.

- Que quero um beijo...

- Sério? - ele virou-se rapidamente para mim com um olhar esperançoso e suplicante.

- Um beijo no rosto...

- Ah, vá se ferrar!

Gargalhei ao ver sua expressão furiosa. Consegui tirá-lo do sério.

-Agora falando sério, eu quero um beijo do meu melhor amigo - me aproximei dele. - Será que ele está afim?

- Sempre estarei - ele segurou o queixo e me beijou. - Algo mais que isso?

- Ainda não...

Mesmo tentando ser mais moderna possível, beijando meu melhor amigo sem querer compromisso algum, ansiei por mais dele. Aquilo só podia significar uma coisa, eu estava me apaixonando por Lieff. A sua ausência, que antes conseguia suportar, agora ficou mais angustiante. Odiava quando ele não estava por perto e me sentia feliz apenas em observá-lo. As noites tornavam-se frias e longas quando ele se ausentava por conta da faculdade, e quando ele chegava durante a madrugada, à noite tornava-se o melhor momento quando ele caia exausto ao meu lado, e descansava em meu peito. Aqueles momentos estavam tornando-se um conforto, um refúgio. Mesmo odiando saber que fui fraca e deixei que ele me conquistasse, minha felicidade era enorme por me apaixonar pelo meu melhor amigo.

-Você me faz tão bem... - consegui falar.

Ele me olhou sem entender.

-O que foi? Eu disse algo errado? - senti meu rosto corar e baixei a cabeça.

- Não sei. Desculpe, é que você nunca falou algo assim para mim, então achei um pouco estranho - ele voltou a segurar minha mão. - Mas obrigado, fico feliz em te fazer bem.

- Hum, é que eu gosto muito de você Li - os efeitos colaterais de se estar apaixonado são terríveis, por que você não consegue encarar quem você gosta, mesmo que isso não tenha sido um problema antes de se estar apaixonado.

Ele sorriu e me abraçou.

-Você me deixa muito feliz ao dizer isso, muito mesmo.

Vê-lo sorrir me deixava contente, mesmo que estivesse com mil problemas.

-Mas, e o que acontece agora? - indagou ele, após consultar as horas.

- Agora... vamos esperar de tudo. Li, quero sair daquela casa. Aliás, quero que você e Lili saiam.

- Não entendi.

- Vocês correm perigo se estiverem conosco, quero que voltem para casa...

- Está louca se pensa que vou deixar você sozinha, e Nero? Por que ele tem que sair também?

- Ele fica comigo, está tão encrencado quanto eu. Li, me escute. Toda aquela conversa em que Nero entra como vilão da história já passou. Já resolvemos tudo. Ele não tem mais que me matar. Shaya nos criou para sermos inimigos, mas acabou que o destino nos fez amigos e tudo se encerrou bem, pelo menos por enquanto. Somos aliados agora. Você não percebeu que as duas histórias se conectaram? E acabamos envolvidos em uma enrascada e fizemos inimigos poderosos.

- Você fala de sua história com a de Nero?

- Não. Falo da nossa história com a rebelião. Por coincidência, Daniel era nosso amigo e morreu... bem, digamos que aquilo foi quase um assassinato! Tudo se conectou no final. Solária o tomou como seu guardião para me proteger de Shaya, mas ele deve ter percebido algo muito errado em Lumen, então mesmo não querendo, acabou nos envolvendo.

- Tudo está conectado, é verdade. Eu sempre estive com você desde o começo, lembra? Desde que Nero acordou debaixo da sua casa até agora. Eu morri e voltei por você, não vai ser agora que vou te deixar - ele voltou a me beijar. - Eu amo você mocinha.

- Li! - suspirei. - Acho que dessa vez você não tem escolha...

- É claro que tenho, e eu escolho você.

- Não, não. Você precisa compreender que eu quero você e Lili fora de perigo até tudo isso cessar. E eu sei que vocês vão fazer isso, por mim.

- Está errada. Já sabe a minha resposta. Podemos tirar Lili de lá...

- Não! Você vai junto com ela! - pigarreei, estava ficando difícil tentar convencê-lo.

- Por que insiste tanto?

- Eu já disse...

- Não disse.

- Por que eu amo você! Quero vê-lo fora de perigo por que não vou suportar te perder outra vez! Eu sempre te amei, mas só agora que percebi que eu não vivo sem você.

Ele me colocou em seu colo e me fitou por alguns segundos antes de me beijar como nunca havia feito. O efeito de um beijo após uma declaração boba de amor é sempre mais forte do que um porre, por que além de deixar você sorrindo como um idiota, seu mundo se prende somente naquela pessoa. De todos os nossos beijos, aquele foi o melhor. Pois eu já não me sentia tão culpada como antes, eu o amava e pronto. Um vento soturno me fez parar de beijá-lo. Foi como uma espécie de déjà vu. Observei rapidamente de onde vinha aquele som estranho, depois comecei a sentir a presença de algo. Estávamos sendo vigiados.

-O que foi? - perguntou Li, ainda com os braços em minha volta. - Algo errado?

- Shh - joguei meus braços ao redor de seu pescoço e fingi que ia beijá-lo, não queria que nosso espião achasse que foi descoberto. - Continue me beijando...

Novamente outro vento soturno. De repente a cara carrancuda de Grendel surgiu entre um portal que acabava se se fechar. Sorri para ele. Querendo ao não, senti saudades de ficar ao seu lado em Tenebris. Ele sorriu de volta e começou a caminhar até nós. Levantei e pulei para a próxima pedra, depois para o chão.

-Que saudade - ele teve que se curvar para me abraçar. - Como está?

- Preocupado - ele segurou meus ombros e olhou para Lieff. - Mande-o embora, não é seguro para ele ficar perto de você no momento.

- Você estava escutando nossa conversa? - indaguei.

- Cheguei na parte em que você finalmente se declarava...

- Espera aí! Você está estranho, está muito sorridente.

- Isso é tão notável? - ele votou a sorrir.

- Sim, você sempre fica fazendo careta, o que aconteceu?

- Papai rompeu o protocolo, posso ver Shaya quando quiser agora... - sua felicidade era tamanha que até mesmo sua voz estava diferente. - Eu fui vê-la ontem, depois de tantos anos, ela ainda continua linda e adorável.

- Não acredito! Fico feliz por você, por que seu pai fez isso?

- Não sei ao certo, ele apenas falou que aquilo não era justo comigo. Eu perguntei o motivo, então ele disse: Mesmo para os imortais, o tempo não é suficiente para curar todas as feridas.

- Talvez ele não queira que você passe pelo que ele passou, tipo um amor perdido, sei lá.

- Você acha? Papai nunca me conta nada - percebi que ele olhava para trás, Lieff estava vindo até nós. - Seu namorado está vindo, acho que ele não gosta muito de mim.

- Você foi um ordinário com ele...

- Está bem, é verdade que eu fiquei com muito ciúme de você, mas o que eu podia fazer? Você se parece demais com Shaya e eu não a via por anos. Não pude evitar de ter uma queda por você, mas já passou.

- Está perdoado, afinal, você me trouxe de volta - Li apertou a mão de Grendel. - Finalmente tenho a chance de te agradecer. Por tudo, inclusive por cuidar de Sora, ele é muito burra de vez em quando e não sabe o que faz.

- Concordo...

- Ei! - pigarreei. - Ainda estou aqui.

- Sora, quero que venha comigo. Você e Nero correm grande perigo agora. Soube o que vocês fizeram, Solária está presa conosco em Tenebris. Quero que saiba que Hazael virá atrás de vocês, ele ordenou que Daniel os matasse, mas ele com certeza não fará isso. Ele tentará de tudo, até ameaçar quem está a sua volta para lhe atingir.

- Certamente que ele não fará isso. Quem é Hazael? - senti algo muito ruim sobre isso.

- É o capitão do exército de Miguel, e ele não gostou nadinha do que aconteceu com Solária. Sabe, ele matou três anjos quando vocês invadiram Lumen, e não vai hesitar em tentar matá-los. Por isso peço que venham comigo.

- Quero saber de uma coisa, o que acontece quando um anjo é atingido por uma flecha estelar? - indaguei.

- Deixa de existir. Todo ser vivo que é atingido por essas malditas flechas, elas dilaceram a alma - ele olhou para o meu pescoço. - Onde está Soren?

- Não sei. Ele sumiu faz algum tempo e não deu notícias...

- Aquele filho da mãe! Ah! Ele só pode estar com Uziel - ele retirou seu relógio de bolso e consultou o tempo. - Lieff, você precisa vir comigo. Não está seguro por aqui.

- Quem é Uziel? Grendel, estou ficando com medo...

- Calma, está tudo bem por enquanto. Quero que vocês venham comigo para Tenebris, Hazael não é ousado o suficiente para entrar lá. Lieff, traga sua irmã e quem mais achar que ele pode usar para atingi-los. Façam isso e rápido, não importa quantas pessoas sejam, pois a guerra começou.

- Vamos - disse Lieff, me puxando com ele.

Andamos o mais rápido possível até em casa. A ansiedade nos deixava com a sensação de que nunca íamos chegar a tempo de ver alguém vivo. Meu coração estava acelerado, parecia que a qualquer momento sairia pela boca. Um forte pressentimento tomou conta de mim, foi quando comecei a correr mais rápido. Grendel foi em nosso encalço por todo o caminho. Me amaldiçoei por ter ido tão longe para dentro da floresta, agora o caminho não parecia ter fim. Chegamos finalmente na última clareira, atravessamos correndo e percebi que estava prendendo a respiração quando avistei minha casa. Adentrei chamando por Kaia e Lili. Não houve resposta. Comecei a entrar em pânico.

-Nero! - exclamou Lieff. - Onde está todo mundo?

Olhei para cima e vi quando Nero nos observava do alto da escada.

-Kaia ainda está dormindo, e Lili também, com aquele idiota...

- Ele está aqui...

- O que? - olhei para Grendel, que carregava uma expressão sombria. - Quem?

- Ele... Neil, ele está aqui! Rápido, ninguém está seguro...

- Neil? O namorado de Lili? - indaguei.

- O que você está me dizendo? Estão convivendo com o inimigo? É mesmo muito burra, como não sentiu a presença dele? Nero! O que aconteceu com o aviso que eu dei para você?

- Eu não podia matá-lo sem antes descobri suas fraquezas...

- Ora, ora... se não é o velho Will - ouvimos a voz de Neil. - Acho que você deve ter esquecido que eu oculto muito bem a minha presença.

Agora tudo estava ficando muito bizarro. Neil descia a escada com Lili adormecida nos braços. Nero agora exibia uma expressão de horror, não podendo agir. Neil olhou para cada um de nós com um sorriso mesquinho no rosto. Ele sentou-se calmamente no sofá e beijou o rosto de Lili.

-Ela fica ainda mais linda quando dorme, não acha Nero? - ele riu.

- Largue ela, seu covarde - grunhiu Nero, descendo rapidamente as escadas. - Largue ela...

- Eu acho que ela ficaria ainda mais linda... se estivesse morta - ele lambeu o pescoço de Lili, temi que ela já estivesse morta, pois não se movia. - Ela tem um gosto bom.

- Diga-me Neil, está trabalhando para quem agora? Miguel? Hazael? Vai matar todos aqui como fez com a família de Blair? - ralhou Grendel. - Vai voltar a fazer papel de covarde?

- Blair - repetiu ele, com sua voz sinistra. - Continua tão linda quanto antes. Eu poderia matá-lo Will, mas ninguém mata o Sr. Morte, não é? Não se mata o que já está morto...

- COVARDE! - gritei. - LARGUE ELA!

Ele não olhou para mim, nem sequer escutou. Seu olhar estava perdido enquanto ele alisava o braço de Lili. Li apertou minha mão e disse que ia ficar tudo bem. Tentei acreditar que sim, mas estava ficando difícil quando se tinha sua melhor amiga como refém de um louco.

-Se essa rebelião não tivesse começado, ninguém aqui iria morrer hoje - sibilou Neil, sorrindo para Grendel. - O que foi Will? Você é o Sr. Morte, por que quer todos vivos?

Prendi a respiração. Sem saber, lágrimas já jorravam de mim. Tremi e temi por todos. Olhei para Nero e segui seu olhar. Kaia descia silenciosamente da escada e trazia consigo uma das adagas que Dandy havia deixado conosco, ele as forjou com flechas estelares, então elas tinham os mesmos efeitos de uma flecha estelar. Imediatamente entendi o que ela queria. Torci para que ela desistisse, mas não podia fazer nenhum sinal para não denunciá-la. O clima tornou-se muito tenso quando um terrível silêncio prolongado abateu todos. Neil continuava acariciando o braço de Lili e fitando o vazio.

"... ele está aqui... venha até nós... precisamos de sua ajuda... somente você pode pará-lo..."

Escutei a voz de Grendel, mas ele não mexia os lábios. Foi então que percebi que ele falava por telepatia, eu apenas captei uma pequena frequência.

-Sinto que alguém deseja me pegar desprevenido...

- NÃO! - Nero gritou quando Neil segurou o braço de Kaia e a jogou para frente.

Ela gritou quando caiu no chão com o braço ainda preso nas mãos de Neil. Ele tomou a adaga da mão dela e adquiriu um tom sério.

-Vejam só... essa é nova para mim. Uma adaga forjada com flecha estelar? Quem foi o gênio que fez isso? - todos permaneceram calados. - Sinto o cheiro de imortalidade por aqui...

Seus olhos negros fitaram Kaia. Ela tentou se soltar, mas ele aumentou o aperto. Seu sorriso doentio voltou a aparecer em seu rosto. Ele deu uma longa inspirada perto dela.

-Então você é mesmo uma imortal! - exclamou. - Deixe-me adivinhar, foi você vampiro? Com certeza foi. Imortalidade em alguém que foi destinado a ser mortal é um terrível pecado. Temos que eliminar essa raça imunda de Statera, não é mesmo? Mas você possui descendência demoníaca Kaia... isso me faz entrar em um impasse. Matar ou não matar você?

- Sou imortal seu inútil, não vou morrer nem que você queira! - grunhiu kaia, seu rosto estava contraído por causa da dor.

- É verdade, você não pode morrer, mas como você não possui mais uma alma... se eu lhe acertar com isso - ele colocou a adaga no pulso dela. - Já era, você não morrerá, mas ficará no vazio... como uma morta-viva... então é a mesma coisa que morrer...

- Não faça isso! Deixe-a ir - Nero estava entrando em pânico como eu, sua voz estava esganiçada. - Deixe-me ficar no lugar delas... sou eu quem você quer destruir!

Eu entendi sua dor. As pessoas que ele mais amava estavam praticamente entre a vida e a morte. Ouvimos passos. De repente Blair adentrou na sala. Seus coturnos e casaco negros a deixavam com uma aparência intimidadora. Ela não falou com ninguém, apenas entrou em silêncio e caminhou até Neil, ficando em sua frente. Sua expressão mudou completamente. Ele olhou para Blair e captei um brilho diferente em seu olhar, parecia saudade e respeito. Engoli em seco quando Blair estendeu o braço para ele. Por um momento ele pareceu querer aceitar, mas voltou a torcer o braço de kaia e sorrir com maldade.

-Você só tem que segurar minha mão - Blair estava muito calma. - Vamos Neil, faça isso.

- Blair, Blair... - ele sorriu para ela. - Blurling... Bran... Blurling... Bran...

- Vamos Neil - acho que ele estava tentando afetá-la de alguma forma, pois sua voz vacilou um pouco. - Eu já disse que o perdoo, venha comigo e solte as garotas.

- Blurling... Bran... - era óbvio que ele queria torturá-la psicologicamente. - Blurling...

- Venha Neil...

- Você nunca disse isso para mim, que me perdoava - seu tom demonstrou irritação. - Acho que está querendo me enganar, apenas para salvar essas garotas.

- Não. Estou aqui, você tem uma segunda chance para me matar. Então venha! - ela ousou dar mais um passo para frente. - Por favor.

Ele suspirou. Pela primeira vez estava vendo ele afetado.

-Nero, Neil vai deixar que você pegue Lili em segurança - ela falou sem desgrudar os olhos de Neil. - Agora vá, pegue-a.

- Vai Nero - sussurrei para ele se mover.

Ele andou com calma até o sofá. Neil olhou para ele e depois para Lili. Senti um enorme alívio quando ele deixou que ela fosse retirada de seus braços. Nero afastou-se rapidamente com Lili em seus braços, mas ainda restava Kaia. Blair deu outro passo, ela estava conseguindo convencê-lo aos poucos.

-Solte-a Neil, venha comigo e tudo vai ficar bem...

- Está mentindo - grunhiu.

- Você vai pegar um resfriado por causa desse gelo em seu coração - ela voltou a estender o braço. - Eu te perdoo.

Ele pareceu ficar espantado, por um instante pareceu ser outro Neil, mas logo voltou a ficar com a expressão sombria. Olhando para cada um que estava presente na sala, ele sorriu. Kaia voltou a gritar quando ele torceu seu braço até quebrar, fazendo o osso perfurar a pele dela e rasgar. O som do osso partindo-se ao meio me deu agonia. Sangue espirrou no rosto de Neil, deixando-o com uma aparência mais sombria. Nero estava mais pálido do que o habitual. Ele observava com horror o quanto ela estava sofrendo.

-POR FAVOR NEIL! DEIXE-A IR - gritou Nero, e chorei com mais intensidade quando vi que ele também chorava.

- Não acha que eu já fiz um enorme favor em deixar Lili sobreviver? Imortais são imundos, eles quebram o equilíbrio da vida, onde todos devem nascer, viver e... morrer.

Com essas últimas palavras, ele passou a adaga pelo pulso de kaia. De repente seu rosto não transparecia mais agonia, nem desespero. Não transparecia nada, pois ela já não estava mais ali.


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