𝐂𝐎𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐄̂𝐒 - 𝐄𝐂𝐎𝐒 𝐃𝐎 𝐀𝐁𝐀𝐍𝐃𝐎𝐍𝐎

Naquela noite de Halloween, uma névoa pesada cobria a cidadezinha de Blackwood. As árvores despidas dançavam sob o vento frio, suas sombras projetadas pela lua cheia criavam figuras inquietantes nas paredes das casas antigas. Entre as ruas desertas, a lenda da Casa Hollow preenchia os sussurros de quem ousava mencioná-la. Diziam que quem entrasse naquela mansão não sairia o mesmo, se é que sairia.

A Casa Hollow era uma construção esquecida no final da Rua das Cinzas. Seus portões de ferro estavam enferrujados, e a madeira da estrutura rangia ao menor toque do vento. Para os moradores, era mais do que uma casa abandonada: era um monumento ao abandono em si. Contavam histórias sobre Eleanor Hollow, a última moradora, uma mulher que, traída pelo amor e pelo destino, passou seus últimos dias em solidão, tecendo lamentos que ainda ecoavam nas paredes.

Três jovens, movidos pela curiosidade e pelo desejo de provar coragem, decidiram explorar o local naquela noite. Clara, a mais destemida, liderava o grupo. Ao seu lado, estavam Lucas, sempre desconfiado, e Helena, cuja relutância transparecia a cada passo. Eles atravessaram o portão com lanternas tremulando nas mãos e corações pulsando acelerados.

O hall de entrada era um retrato de decadência. Um lustre quebrado pendia do teto, e o cheiro de mofo impregnava o ar. Nas paredes, retratos empoeirados revelavam os rostos da família Hollow. Mas havia algo estranho: os olhos das figuras pareciam seguir os visitantes.

— Isso é só impressão nossa — disse Clara, forçando um sorriso. — Vamos continuar.

Eles subiram a escada central, que rangia sob seus passos, e chegaram ao segundo andar. Ali, encontraram um corredor longo, com portas dos dois lados. Cada uma delas estava entreaberta, como se convidasse os jovens a entrar. Lucas sugeriu que explorassem juntos, mas Clara insistiu que cada um verificasse um quarto para ganhar tempo.

Clara escolheu a porta no final do corredor. O cômodo era um antigo quarto, com uma cama de dossel coberta por um tecido esmaecido. No centro, havia uma boneca de porcelana, com um vestido azul que parecia novo demais para o ambiente. Quando Clara se aproximou, um soluço abafado preencheu o ar.

— Quem está aí? — ela perguntou, mas a única resposta foi o ranger da porta se fechando sozinha.

Lucas entrou em uma biblioteca. As estantes estavam cheias de livros com capas desgastadas, e o cheiro de papel velho era intenso. Ele pegou um dos volumes e o abriu, mas as páginas estavam em branco. Um suspiro gelado atravessou sua nuca, e ele se virou rapidamente, apenas para encontrar o reflexo de uma figura indistinta no vidro empoeirado de um retrato.

Helena, por sua vez, entrou em uma sala que parecia um ateliê. Paredes cobertas de quadros inacabados e cavaletes abandonados criavam um cenário inquietante. No centro, uma tela coberta por um pano chamou sua atenção. Quando ela o retirou, viu seu próprio rosto pintado, mas com olhos que choravam tinta negra.

O pânico os reuniu novamente no corredor. Cada um tentou explicar o que havia visto, mas suas palavras eram atropeladas pelo desespero crescente. Foi então que um som ecoou pela casa: passos lentos e pesados vindos do andar inferior. Sem alternativa, eles desceram, apenas para encontrar a porta da entrada aberta. A noite os chamava de volta, mas quando cruzaram o limiar, perceberam que não estavam mais em Blackwood.

A paisagem era um reflexo distorcido da cidade. As casas estavam em ruínas, as ruas desertas e o silêncio era opressor. Uma figura feminina surgiu na penumbra, envolta em um vestido negro, o rosto escondido por um véu.

— Vocês vieram me visitar… — disse uma voz etérea, cheia de tristeza.

Eleanor Hollow estava diante deles.

— Não queríamos incomodar… — Clara tentou dizer, mas a mulher ergueu a mão.

— Vocês conhecem o abandono? — perguntou Eleanor, aproximando-se. — Sabem o que é ser esquecida? Só querem olhar, mas ninguém escuta.

Os jovens tentaram correr, mas seus corpos não obedeciam. Eleanor os fitava, e em seus olhos havia um abismo de desespero. Um a um, eles desapareceram na penumbra, engolidos pela solidão que Eleanor carregava.

Na manhã seguinte, a Casa Hollow estava como sempre: em silêncio, envolta pela aura de um abandono que agora tinha novos ecos. As lendas cresceriam, e outros seriam atraídos pela mansão. E Eleanor, na eternidade de sua dor, esperaria pacientemente..

FIM.

Escrito pela Autora Júlia (AutoraLorenzin)

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