𝐂𝐎𝐍𝐓𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒 - 𝐀 𝐂𝐀𝐒𝐀 𝐃𝐎 𝐄𝐂𝐎

Em uma pequena cidade esquecida pelo tempo, havia uma casa que todos evitavam. A Casa do Eco, como era chamada, ficava no final de uma rua cercada por árvores retorcidas e mortas, com um ar sombrio que parecia repelir a luz do sol. Os moradores contavam histórias sobre seus antigos habitantes, uma família que havia desaparecido sem deixar rastros, e sobre os ecos de suas vozes que ainda assombravam os corredores empoeirados.

Um dia, Luísa, uma jovem estudante de psicologia, decidiu que precisava de um tema para sua tese. A Casa do Eco despertava sua curiosidade, e ela viu ali a oportunidade perfeita para explorar os limites do medo humano e do abandono. Sem pensar duas vezes, ela armou-se com uma lanterna, um gravador e um caderno, e partiu para a casa.

Ao entrar, um frio cortante a envolveu. O cheiro de mofo e decomposição pairava no ar, e os móveis, cobertos por lençóis brancos, pareciam sombras de um passado distante. Luísa se sentiu estranha, como se a casa estivesse viva, observando cada movimento seu. Ela começou a explorar, anotando suas impressões e registrando sons estranhos que ecoavam ao longe.

Enquanto caminhava pelos corredores estreitos, ouviu um sussurro. Parou, o coração disparado.

— Alguém está aqui? — Ela chamou, mas a única resposta foi um eco, como se as paredes estivessem rindo da sua presença. Ignorando o medo, Luísa seguiu em frente, guiada pela curiosidade.

No segundo andar, encontrou um quarto que parecia intacto. As paredes estavam cobertas por fotos em preto e branco da família que ali vivera. As expressões dos rostos pareciam tristes e melancólicas, como se soubessem de um destino terrível. Luísa se aproximou e, ao tocar uma das fotos, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Naquele instante, uma voz baixa e angustiada ecoou em seu ouvido:

— Ajude-nos…

Assustada, ela recuou e decidiu que era hora de ir embora. No entanto, a porta pela qual havia entrado agora estava trancada. Desesperada, tentou forçar a fechadura, mas sem sucesso. A casa parecia ter ganhado vida, e Luísa percebeu que estava presa. Os ecos dos sussurros aumentaram, envolvendo-a em um coro de vozes desesperadas, clamando por ajuda.

A sensação de confinamento se intensificou. Cada som, cada eco, parecia uma manifestação da dor e do sofrimento daquela família que havia sido esquecida. Luísa começou a correr pelos corredores, tentando encontrar uma saída, mas cada porta que abria a levava a mais uma sala vazia, como se a casa a estivesse brincando. Cada esquina parecia girar em um labirinto sem fim.

Finalmente, ela chegou a um porão escuro, onde o cheiro de terra úmida e putrefação era quase insuportável. Ao acender a lanterna, viu algo que a fez estremecer: uma mesa coberta com velas queimadas e bonecos de pano, cada um representando um membro da família. Os rostos dos bonecos eram distorcidos, e suas expressões refletiam a dor e o desespero que Luísa havia ouvido em forma de eco.

A voz voltou, mais alta agora, ecoando em sua mente: — Fomos abandonados! Não podemos partir!.

Luísa percebeu que a casa não era apenas um lugar; era uma prisão, alimentada pelo abandono e pela dor. Os ecos eram as almas da família, condenadas a vagar eternamente, e ela estava prestes a se tornar parte daquela história sombria.

Com a coragem renovada, Luísa decidiu enfrentar o que quer que a casa quisesse dela.

— Eu não vou deixá-los aqui! Vou ajudar vocês! — gritou. E, em resposta, a casa gemeu, como se estivesse ouvindo sua promessa. As vozes começaram a se acalmar, e a atmosfera pesadona se dissipou um pouco.

Luísa começou a desenhar um plano em sua mente. O que se precisava era que alguém soubesse da sua presença. Ela pegou o gravador e começou a falar para as almas aprisionadas.

— Vou gravar suas histórias. Vou contar ao mundo o que aconteceu com vocês!

O eco de sua voz parecia preencher a casa com uma nova esperança. Os ecos se tornaram menos agudos, mais melodiosos, como se, de alguma forma, tivessem compreendido que estavam sendo ouvidos. Mas, ao mesmo tempo, a casa começou a tremer, e o chão sob seus pés parecia querer engoli-la.

Desesperada, Luísa correu para o centro do porão, onde havia uma velha porta. Ela sabia que tinha que tentar mais uma vez. Com um empurrão forte, conseguiu abri-la. A luz do dia a envolveu, e Luísa teve um último vislumbre da casa, que parecia agora uma criatura ferida, sua fachada deteriorada e suas janelas como olhos chorosos.

Luísa correu até a cidade, seu coração ainda acelerado. Ela tinha uma história para contar, uma história de abandono, dor e esperança. Assim que alcançou a segurança, virou-se para a casa e sussurrou:

— Eu prometo que vocês não serão esquecidos.

A Casa do Eco, por sua vez, permaneceu em silêncio, como se tivesse recebido um pouco de alívio. No entanto, à medida que o sol se punha, uma nova sombra se projetou em sua entrada, e uma nova voz ecoou na escuridão:

— Estamos prontos para contar nossas histórias. Não estamos sozinhos.

E assim, a casa continuou a guardar seus segredos, com novos ecos surgindo a cada visitante que se atrevia a entrar, cativa de sua própria maldição.

FIM.

Escrito pela Autora Júlia (AutoraLorenzin)

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