03) Os solitários reconhecem
No dia seguinte levantei-me, percebi o raio de Sol ainda fraco entrando pela janela, me aproxiemei da janela para apreciar o quão pacífica a fazenda de Hershel era, fazia-me pensar que não existia mais mortos lá fora, que eu poderia ajuda-lo na fazenda pela manhã, andar à cavalo pela tarde e assistir TV antes do jantar. Voltando a realidade lembrara que Carl estava no quarto de baixo ainda baleado, me vesti e desci as escadas quase correndo Rick e Lori ainda permaneciam ao lado da cama do filho com seus olhos cansados, não conseguiam dormir em uma situação como esta.
- Como ele está? - perguntei tentando notar alguma diferença em seu tom de pele pálido.
- Vai melhorar. - Lori disse e sorriu esperançosa.
Estiquei os lábios e os deixei, caminhei até a varanda e como no dia anterior voltei a sentar-me nos degraus, podia ouvir o som dos grilos vindo da grama alta, estavam escondidos mas próximos, por acidente recebi ouvi a notícia de que Shane e Otis foram na noite anterior buscar suprimentos para Carl e o caçador que atirou nele acabou morrendo, Glenn, Shane, Hershel e os familiares de Otis discutiam sobre fazer um enterro para ele, que acabou se sacrificando para que Shane pudesse trazer os suprimentos para ele.
Estava tudo tão silencioso que foi fácil ouvir o som gritante do motor que a moto de Daryl fazia, levantei-me e forcei a visão para identifica-los de longe, o nosso grupo estava finalmente vindo ao nosso encontro, fui até o quarto em que Carl estava para avisar a Lori e Rick que eles estavam vindo mas a surpresa foi ainda maior ao ver meu amigo acordado.
- Carl! Você acordou! - gritei eufórica.
Seus olhos ainda estavam meio escuros e a pele muito pálida, mas estar acordado era um sinal de que ia realmente melhorar, ele sorriu com minha animação.
- Cuidado querida, ele ainda está se recuperando - Lori disse, aproximei-me.
- Encontraram a Sophia? - perguntou preocupado.
Estava prestes a responder que infelizmente não tivemos tempo de procurar mais assim que ele foi baleado, mas Lori impediu-me.
- Está bem - respondeu por mim, olhei para ela e Rick e seus olhares bastaram para mim entender que não era hora para isso.
Mas não entendia o motivo, Carl merecia saber que nossa amiga ainda estava perdida e sozinha lá fora, Lori pediu para que eu a acompanhasse para fora do quarto enquanto Rick conversava com o filho.
- Não vamos falar a verdade para Carl ainda, está bem? - assenti.
- Por que não?
- Pra ele não ficar preocupado, não é bom para a saúde dele, principalmente porque ainda está se recuperando.
Concordei novamente, não sabia ao certo com o quê, mas eles eram adultos e se achavam que era certo mentir para o filho por enquanto, talvez realmente fosse.
Rick saiu do quarto e decidiu conferir o resto do grupo que acabara de chegar a fazenda, Lori decidiu ir com ele, voltei para o quarto e sentei-me na cadeira em que Rick estava bem ao lado da cama de Carl.
- Você está péssimo. - disse fazendo-o rir - Como se sente?
- Costurado.
Agora era minha vez de gargalhar, de repente senti culpa por ele ter sido acertado pelo tiro e não eu, Carl ainda tinha família, ele ainda merecia viver e crescer.
- Carl... me desculpe.
- Eu perdoo você - disse sem nem saber o motivo de estar me desculpando.
- Mas você nem sabe porque pedi desculpas.
- Não importa mais agora.
- Fico feliz que esteja bem, vou deixar você descansar agora. - disse e deixei o quarto mesmo que não quisesse, Carl entendia, seus olhos pesavam ele precisava dormir um pouco e por isso não me pediu para ficar.
Otis teve um enterro digno naquela tarde, calmo e em baixo de uma grande árvore, Hershel dizia belas palavras ao falecido amigo enquanto sua esposa e filho choravam por sua morte. Nunca cheguei realmente a ir em um enterro, era o meu primeiro, e nem conhecia Otis o bastante para sentir o luto de seus familiares mas ao menos compartilhávamos do mesmo sentimento, de que agora ele estava em um lugar melhor.
Nosso grupo decidiu voltar a busca pela Sophia, que até então ainda não havia aparecido, com exceção de Maggie que sugeriu que ela e Glenn fossem para a cidade em busca de suprimentos o resto do nosso grupo se organizou em duplas e trios para buscar pela garota.
- Eu vou sozinho. - Daryl discutia.
- Eu quero ir - sugeri ao Rick.
- Não sei, depois do que aconteceu na floresta... não acho seguro.
- Sei me cuidar.
Rick olhou para o mapa em cima do capô do carro e então olhou para Daryl.
- Posso ir com o Daryl. - sugeri falando em voz alta a mesma ideia que ele teve.
- Não sei, ele quer ir sozinho.
Fui até ele que estava em cima de sua moto apenas sentado, não tinha intenção de utiliza-la na busca.
- Posso ir com você?
- Eu não cuido de crianças.
- Posso me virar muito bem sozinha.
- Ou acabar desaparecida - suas palavras me afetaram mais que o normal, ele estava certo mas eu também.
- Sophia é minha amiga, quero encontra-la mais que todos vocês.
Ele olhou-me dos pés a cabeça julgando-me ou tentando descobrir se eu poderia mesmo me cuidar sozinha.
- Ta certo, mas vai me obedecer sem questionar. - concordei com cada palavra.
Antes que pudesse deixar a fazendo com ele Rick certificou-se de pedir para mim realmente me cuidar lá fora, disse o mesmo para ele que cobrou também de Daryl com um único olhar.
- Vou cuidar dela - disse.
Entramos na floresta, as pernas de Daryl eram muito mais longas e por isso ele sempre andava na frente mais rápido, fomos mais longe que a maioria e por isso acabamos encontrando uma cabana abandonada, senti esperança.
- Sophia! - gritei, Daryl puxou-me pelo braço impedindo de avançar.
- Ela pode não estar lá e pode atrair mortos. - avisou bravo, não tinha pensado por esse lado.
- Desculpe.
Entramos na cabana e estava realmente abandonada, somente depois de conferir que Daryl chamou por ela, restara um pouco de comida na cozinha e alguém parecia ter dormido ali mesmo no chão, em uma cama improvisada.
- Acha que ela esteve aqui?
- Pode ser.
Ele saiu da casa gritando pelo nome dela, fiz o mesmo, principalmente agora que podia estar perto. Voltamos para a floresta e vi de perto Daryl acertar um morto com sua besta.
- Como aprendeu a atirar com isso? - perguntei curiosa.
- Eu caçava com meu pai.
Ele foi direto e voltamos ao silêncio.
- E você?
Olhei para a arma em meu cinto, Daryl tinha esta curiosidade desde o primeiro dia que me vira no acampamento, como uma criança aprendera a atirar tão jovem?
- Uma policial me ensinou.
- Ela morreu? - perguntou como se fosse óbvio.
- Foi mordida. Tive que atirar nela. - ele assentiu - Acho que agora é o que acontece com todos.
Seguimos em frente, ninguém, nem animais, nem mortos, nem mesmo alguém do nosso grupo apenas o sombrio silêncio.
- Poderia me ensinar algum dia? - me referi a besta em uma de suas mãos.
- É pesado para você, mas sim, algum dia. - estiquei os lábios, mesmo que ainda estivesse sério sentia afinidade por mim, os solitários reconhecem um ao outro e Daryl era um.
- Talvez use melhor um arco.
Sorri lembando-me que no acampamento de verão havia aprendido a atirar com arco e agora poderia servir de grande ajuda. Voltamos para a fazenda, mesmo que Daryl e eu encontramos a cabana na floresta fora um dia de buscas em vão, Sophia continuava desaparecida.
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