02) Em legítima defesa
Um dia depois...
Não tinha certeza se eram realmente pessoas, mas nossos vizinhos conheciam James, sabiam que era policial, começaram a bater na porta desesperadas por ajuda ou era o que eu me fazia pensar porque os sons que emitiam não eram humanos, nunca pensei que passaria um dia sozinha em casa mas foi o que aconteceu desse que eles se foram, minha mãe sempre dizia para ter fé então a única coisa que me restara para me apegar, a fé de que voltariam para me buscar, mas ainda estava com medo, assustada, sozinha e cercada por minhas paranoias do que havia acontecido com James? Ou se minha mãe havia sobrevivido? Ou se meu irmãozinho estava bem? Eu devia sair? Pedir ajuda?
Não aguentava mais ouvir aqueles sons na porta, meu rosto ainda estava úmido de tanto chorar, levantei-me e sequei com a manga de minha camiseta decidindo não ter mais medo, esfreguei tão forte que senti o arder em meus olhos, coloquei a arma no coldre e fui até o banheiro, lavei o rosto, troquei de roupa e simplesmente decidi que não ia ter mais medo, porque de algum jeito, consegui me convencer de que os monstros lá fora não iam conseguir entrar aqui nunca.
Dois dias depois...
Ainda não perdi a esperança, sei que em algum momento eles vão voltar, vão entrar por aquela porta, nem notei que ainda estava com o presente do papai, estava em meu quarto, eu nunca ia conhecer-lo, depois de tudo o que aconteceu.
Os sons na vizinhança foram diminuindo, me mantive em silêncio para que não viessem bater na porta de novo, tudo que comia agora eram biscoitos e enlatados já que nunca tive a oportunidade de aprender a cozinhar, ao menos sabia que o domínio do fogo não era uma de minhas habilidades, o feijão enlatado não era tão ruim, mas os pepinos tinham gosto de plástico.
Dois dias e a energia já havia acabado, tudo que tinha era um rádio de bateria, mas não o ligava para não fazer barulho, pela noite ligava uma lanterna perto da minha cama por baixo das cobertas para não chamar atenção, assim como fazia no acampamento, para me distrair ainda me sobrara algumas folhas em branco para desenhar, também aprendi a atirar o canivete em um alvo que desenhei na parede para passar o tempo, era engraçado quando pensava que mamãe iria brigar se estivesse aqui agora, e no momento era tudo que eu queria.
Uma semana depois...
Toda a esperança? A fé? Se foram em mais dias sozinha, solitária, eles não iam voltar... deviam estar mortos, todos mortos, a vizinhança já estava deserta ou com novas companhias, essas pessoas diferentes... mortas, elas andavam pelas ruas fazendo sons estranhos e as vezes até se arrastavam ou ficavam apenas paradas olhando para o vazio, já não aguentava mais estar presa em casa, precisava de ar.
Peguei meu canivete, minha arma e os coloquei no cinto, abri a janela do meu quarto no segundo andar e saí, fiquei sentada no telhado de casa, os mortos não me alcançavam ali e eu sentia o ar bater em meus cabelos, era bom e calmo, fechei os olhos e fiquei até que os mortos começaram a fazer barulhos altos, devem ter sentido meu cheiro como carniceiros, assustei-me e voltei para dentro, quando espiei pela janela vi um homem de moletom e capuz azul escuro, vinha em direção a minha casa, ele forçara a porta tentando entrar, desci as escadas com a arma carregada em mãos, ainda não havia usado nenhuma bala. Ele conseguiu entrar e fechou a porta respirando fundo, parecia cansado, me escondi e o homem começou a andar pela casa, ele poderia me ajudar então decidi sair de onde estava escondida mas com a arma atrás de mim.
— Oi garotinha! — disse surpreso ao me ver — Você mora aqui?
Ele olhou em volta procurando por mais alguém, assenti segurando firme a arma atrás de mim.
— Qual é o seu nome?
— Trinity. — fui direta.
Ele reparou na foto em família na mesa de centro da sala ao lado e voltou a olhar para mim.
— Seus pais estão por aqui?
— Estão mortos.
— Entendi. — disse recuperando a postura, ele reparou que eu estava escondendo algo atrás de mim — e... o que tem aí? Hã?
Me afastei, subi as escadas lentamente degrau por degrau, ele esfregou um dos braços no nariz e respirou fundo, um viciado, James me ensinou sobre eles.
— O que está escondendo?! — gritou perdendo a paciência, tirei a arma de trás segurando firme bem na minha frente, ele levantou as mãos rendendo-se.
— Para trás! — avisei com o dedo no gatilho, minha mão ainda tremia.
— Cuidado garotinha, n-não quero uma bala no meu peito.
— Eu disse para trás! — gritei.
O medo era maior que minha vontade, estava muito assustada, não sabia o que fazer então fui à frente fazendo-o recuar, quando pusera meus pés fora da escada ele puxou o tapete bem em baixo dos meus pés fazendo-me cair e atirar para cima, bati minha cabeça em um degrau da escada e tudo escureceu, tentei subir as escadas ainda caída mas ele puxou meu pé me fazendo-me bater novamente a cabeça no degrau, mas desta vez de frente, quando virou-me dei um chute em sua mão que o fez largar, peguei o canivete no meu cinto e esfaqueei seu braço fazendo-o afastar-se e gritar de dor, no mesmo segundo a porta se abriu e uma mulher com uniforme policial entrou, ela segurou-o jogando contra a parede.
— Achei você filho da puta! — gritou pressionando-o.
Alcancei minha arma novamente e apontei para os dois, a policial virou-se para mim com as mãos para o alto e o homem também, eu estava assustada meu coração acelerado, a policial fez sinal para que eu atirasse no homem mau e não hesitei, puxei o gatinho e num piscar de olhos ele estava no chão com um buraco no rosto, apontei a arma para ela, minha cabeça estava sangrando e minha boca tinha um corte de quando bati o rosto na escada, aquele homem havia feito um estrago em mim, minha respiração estava ofegante podia sentir o meu peito subir e descer.
— Calma mocinha, eu sou da polícia. — disse apontando para o distintivo no peito.
Abaixei a arma e comecei a chorar, estava realmente assustada, havia acabado de atirar em um homem qualquer sem nem hesitar, a sangue frio, ele havia tentado me matar ao menos foi em legítima defesa. Larguei a arma no chão e caí a tempo de ver a mulher fechar a porta e correr em minha direção antes de fechar os olhos.
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