Memórias antigas
Senti a respiração de Jungkook acelerar.
— Desculpe, Jimin! — Eu devo ter assustado ele, pois sua mão se livrou do meu toque e a música foi pausada em seguida.
Soltei o ar pela boca e puxei com pressa o lenço que cobria os meus olhos. A dor da ereção estava me incomodando e só piorou quando olhei para Jungkook, mas ele virou o rosto rapidamente, não pude ver sua expressão.
— Poxa. Já acabou? Estava tão bom! — alguém reclamou e a sala acompanhou.
Pareciam não ter me ouvido. Agradeci por isso.
— Sim, já acabou. — Jungkook parou do meu lado e me agradeceu. — Obrigado por hoje, Jimin. E desculpe por qualquer coisa.
— Está tudo bem! — Abri um meio sorriso e olhei uma última vez para o seu rosto, que estava um pouco corado.
Ele estava com vergonha? Ele se lembrava de mim!
— Nossa próxima aula é daqui uma semana. Peço que façam esse exercício de concentração em casa. — Jungkook sentou no chão. — Estão dispensados.
Pelos próximos minutos, as pessoas levantaram e trocaram algumas palavras umas com as outras até deixarem a sala. E eu fiquei no mesmo lugar até a última pessoa sair. Agora era apenas eu e Jungkook. Isso seria hesitante, faz tanto tempo que não o vejo.
— Queria pedir desculpas novamente pelo ocorrido — ele disse rapidamente. — Eu sinto que passei dos limites.
— Tudo bem! — tranquilizei, balançando a cabeça antes de mudar de assunto. Ficar duro em momentos errados não era legal. — Quantas aulas eu perdi?
— Três, mas não vai te prejudicar. Para a próxima aula, eu quero que você traga os patins — disse. —, mas é aquele de quatro rodinhas, sabe? Vamos treinar primeiro com ele dentro dessa sala e, quando os movimentos de vocês estiverem bons, vamos para a pista de gelo que fica no fundo da casa.
Ficamos conversando por alguns minutos antes dele olhar as horas na tela do celular e dizer que tinha que ir. Naquele dia, quando retornei para a casa e comecei a me arrumar para trabalhar, me peguei pensando nos acontecimentos daquela manhã.
Jungkook se lembrava de mim, disso eu tinha certeza. Mas não sabia o porquê dele está fingindo, afinal, tínhamos terminado o namoro de um jeito saudável. Memórias antigas invadiram a minha mente, me fazendo recordar como eu havia lhe conhecido e como nos tornamos mais do que amigos.
O sol já se escondia atrás das nuvens, indicando o fim da tarde. A rua onde morávamos, estava movimentada devido ao grande número de crianças que estavam loucas para brincar. Nessa época eu estava com quinze anos e não gostava de estudar. Em qualquer oportunidade, eu estava jogando bola com os garotos da rua. E naquela tarde não tinha sido diferente. Kim Seokjin, o vizinho da frente, me chamou para bater uma bola depois que o sol se foi.
— Vamos jogar bola hoje? Minha mãe finalmente comprou a tão sonhada bola de couro! — Entre nós, Jin era o que tinha a melhor condição financeira.
Sem me dar trabalho em calçar o meu chinelo, bati o portão da minha casa e corri para a rua, louco para jogar uma partida de futebol. Porém, o garoto que morava na casa da esquina tinha se juntado a nós, o que era incomum, já que ele nunca participava das nossas brincadeiras.
— O que ele está fazendo aqui? — perguntei.
— Ele se chama Jungkook e eu o convidei para jogar. Sabia que ele fica no canto do portão olhando a gente? — Jin me respondeu.
Daquele dia em diante, Jungkook passou a fazer parte do nosso time de futebol. Ele não era nada bom no que fazia, mas a gente se divertia muito, principalmente quando ele era o goleiro. Mas eu não sabia que a nossa amizade de rua passaria pelo portão da escola, fazendo a gente ser melhores amigos de vez.
Eu estava no intervalo das aulas, sentado na cadeira do refeitório, quando Jungkook, com suas roupas pretas e cabelos castanhos, sentou-se na cadeira à minha frente. Nunca tínhamos nos falado no ambiente escolar antes.
— Posso me sentar aqui? Trouxe uma coisa de casa para te dar! — disse, empurrando uma vasilha amarela na minha direção.
Sem saber como reagir, puxei o objeto e levantei a tampa. Ali dentro havia dois bolinhos de arroz.
— Pedi para a minha mãe fazer para você. Espero que goste! — Jungkook estava tímido.
— O-obrigado! — respondi constrangido. Eu nunca havia ganhado nada dos meus amigos. Não tínhamos esse costume.
Dali para frente, ficamos mais próximos. Ele sempre me esperava na porta da escola para irmos embora juntos, e eu guardava um lugar no refeitório para ele sempre que dava a hora do recreio. Seguimos assim e para a nossa sorte, as nossas mães viraram amigas também. Não saímos mais da casa um do outro.
Em um fim de tarde, eu estava no quarto dele, esperando-o se arrumar. Iríamos ao cinema com nossas mães naquela noite.
— Que cara é essa? — perguntei.
— Nada! — Jungkook continuou penteando o cabelo enquanto falava.
— Tudo bem. Fique com os seus segredos, eu não quero ouvir mesmo. — Eu sempre usava essa tática para arrancar coisas dele e sempre funcionava.
Ficamos em silêncio pelos próximos minutos. Eu continuei sentado na cama esperando minhas palavras gerarem efeito enquanto ele estava olhando sua própria imagem no espelho.
— Você já beijou alguém? — finalmente perguntou.
Um ponto para mim!
— Não, por quê?
— Você não tem vontade de beijar alguém? — respondeu com outra pergunta.
Eu não me importava com isso. Os garotos da nossa idade eram loucos para beijar pela primeira vez, passavam horas conversando sobre aquilo, mas eu não era assim. Eu gostava mais de brincar na rua até tarde e assistir desenho do que me tornar um "adulto". Sim, para mim, beijar alguém era o que adultos faziam.
— Você tem? — devolvi a pergunta.
— Os garotos da minha sala estão me enchendo por eu nunca ter beijado alguém.
— Sabe que não deve se importar com isso. Tudo acontece no seu tempo — falei, mas ele desviou o rosto e eu vi algo brilhar em seus olhos. — Está chorando?
— Não estou.
— Está sim, olha para mim!
— Eu não quero.
Então eu levantei e me aproximei dele. Tentei visualizar seu rosto, queria confirmar se alguma lágrima escorria por ali. Aparentemente ele tinha os olhos marejados.
— Hey! — levei uma das minhas mãos no seu ombro e puxei na minha direção.
— Ji, você não pode simplesmente me beijar? Somos amigos e estaremos nos ajudando! — Jungkook disse tão rápido que quase perdeu o fôlego. Eu não fiquei surpreso diante das palavras.
— Eu não posso roubar seu primeiro beijo! — Eu sabia como aquilo era importante para ele. Queria que fosse especial, como ele gostava de fantasiar.
— Eu não me importo. Só quero beijar alguém. Quero ver como é a sensação.
Jungkook me olhou com aqueles olhos grandes e intensos, que precisei piscar algumas vezes e desviar o olhar. Para mim não custava nada beijá-lo, já que eu não ligava para aquela bobagem. Mordi os lábios e alisei o ombro dele.
— Tudo bem, vamos sentar na cama que eu vou te beijar!
— Sério? Obrigado! — Seus olhos brilharam.
Subimos na cama e sentamos no colchão, cruzamos nossas pernas em seguida. Estávamos de frente um para o outro, olhando nos olhos. Daria tudo certo.
— Ok! O que devemos fazer? — perguntei. Agora era eu que estava começando a me sentir nervoso com a aproximação.
— Acho que eu coloco as mãos no seu rosto e você segura na minha cintura. Depois juntamos nossos lábios. Pelo menos foi assim que eu vi na novela.
Meneei a cabeça e atendi o seu pedido. Levei as duas mãos na cintura dele, enquanto ele segurou o meu rosto. Senti meu estômago revirar de nervosismo quando olhei dentro daqueles olhos negros, e perguntei:
— Temos que fechar os olhos, né.
— Acho que sim.
Segurando a respiração, fechei os olhos antes de sentir seus lábios macios contra o meu. Primeiro, foi só um selinho, mas ele abriu a boca e eu coloquei a minha língua ali. Foi uma bagunça. jungkook virou a cabeça para o lado e apertou suas mãos no meu rosto, e eu apenas me concentrei em passar a minha língua na dele. Sem ar, nós dois nos separamos ofegante. Agora, estávamos com os rostos corados e lábios úmidos.
— Cara, isso é estranho! — falei sem saber que nos próximos dias, iríamos nos beijar até sermos bons naquilo.
— É molhado. Eca! — Jungkook riu alto, limpando a boca com as costas da mão. Levantou da cama e voltou a se arrumar. Parecia estar mais feliz.
Penso que foi naquele instante que me apaixonei por ele. Pois, passamos a ficar mais grudados do que nunca e sempre se beijando. Lembro-me de ter começado a me sentir ansioso e feliz todas as vezes que o via. E foi no último ano do ensino médio que pedi Jungkook em namoro. Ele aceitou sem pensar duas vezes. Mas para a nossa infelicidade, terminamos um ano depois, quando nosso relacionamento caiu na rotina e quase não nos via mais. Ou talvez nós dois fossem imaturos demais para regar e cuidar daquele amor.
Era noite quando Jungkook apareceu na minha casa. Como de costume, fomos para o cinema e depois acabamos deitados na cama dele, fazendo amor enquanto a chuva caía do lado de fora.
Eu amava vê-lo sentando em mim enquanto eu beijava a curva do seu pescoço. Com minha boca, eu deixava marcas avermelhadas por toda aquela região, mostrando que pertencemos um ao outro. Tínhamos muita sorte por ter sido o primeiro um do outro.
— Já está dormindo? — Jungkook perguntou.
Estávamos agora abraçados e esperando o coração desacelerar enquanto o prazer dissipar dos nossos corpos.
Respirei satisfeito antes de responder:
— Não estou.
— Acho que precisamos conversar.
— Sobre o quê? — Eu sabia o que era, mas me fiz de desentendido.
Jungkook não respondeu de imediato e um silêncio frágil pairou sobre nós.
— É sobre a gente. Demoramos um mês para nos vermos, não acha estranho?
Eu achava. Ainda mais ele sendo meu namorado, mas eu já sabia que nossa relação estava chegando ao fim, não tinha muita coisa para fazer em relação a isso. Estávamos empurrando com a barriga.
— Acha que deveríamos terminar? — perguntei.
— Não sei, mas do jeito que está não pode continuar. Sinto que estou te prendendo e tomando o seu tempo.
— Isso não é verdade. Não diga isso.
— Acho que temos que terminar, mesmo amando um ao outro. Não quero que os momentos bons estraguem enquanto forçamos para as coisas voltarem a ser como era antes.
Naquela noite, dormimos juntos pela última vez. Aproveitamos a companhia um do outro e, quando o dia amanheceu, nós nos beijamos e terminamos o relacionamento.
Naquela época eu sofri muito. Ainda mais depois que Jungkook e a família deixaram o bairro. Eu pensei que não suportaria, mas eu me concentrei em cuidar de mim mesmo até esquecer aquele homem.
Somente a saudade passou a existir no meu coração, mas agora, reencontrar ele depois de anos, tinha a leve impressão de que eu voltaria a ser aquele garoto apaixonado pelo Jeon. As coisas poderiam caminhar para essa direção, né. Só não sabia sobre os sentimentos dele.
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