7- Contrato: Berna, Suíça
– Basicamente, essa é a ideia, senhor Brülhart. Caso aceite vender pelo menos metade de suas ações para nós, garantimos que o lucro anual de eletricidade dobrará em, pelo menos, 12,7%, isso se não mais, algo que já provei para você com as informações que lhe forneci cerca de dois meses atrás dos outros países que aceitaram fechar negócio conosco da Corporação Magnos. – Carine terminou de falar, a combinação de sua frieza, beleza e inteligência atraindo os olhos dos seguranças e de alguns chefes na sala, junto com o recém-eleito presidente Mattas Brülhart.
– É uma ideia bastante... promissora, devo admitir. – Respondeu o presidente, se sentindo desconfortável com a forma que Carine o encarava. – Mas, senhora...
– Senhorita, por favor. – Carine o interrompeu, o presidente respirando fundo, tentando não soar frio.
– Certo, senhorita Bogusz. Bom, é uma ideia bastante promissora e tenho que dizer que tivemos tempo para investigar as fontes de seus dados e, realmente, não há como negar o quanto é tentador. Mas isso significaria ir contra algumas das coisas que prometi na minha campanha e eu pretendo mudar esse país para melhor. As consequências desse acordo, no entanto, não parecem visar isso. Então, sinto lhe informar, mas terei que recusar. – Disse, se levantando e entregando para ela os papéis que ela tinha lhe passado antes. Ela pegou, se agachando para pôr os papéis em sua bolsa, os seguranças não conseguindo evitar olhar toda a parte de trás de Carine, suas curvas bem desenhas com a saia cinza que ela usava, combinada com uma blusa azulada e um blazer cinza claro. Ela se voltou para o presidente, estendendo a mão para ele que fez o mesmo, a cumprimentando.
– Bom, senhor presidente, é uma pena que tenha decidido isso. Tire mais um tempo para pensar, entrarei em c...
– Não, eu já disse, não farei isso. É bem simples. Desculpa se estou sendo muito ríspido, mas não farei isso. – Ele disse, a interrompendo. Os músculos de Carine se tencionaram, por um instante pensando em matá-lo ali mesmo. "Não é a hora" pensou. Com um sorriso forçado, assentiu, pegando sua bolsa e saindo da sala. O presidente fez um sinal para que os seguranças a acompanhassem.
– Eu sei onde fica a saída, senhor presidente, não preciso disso. – Ela disse, sem mesmo olhar para trás. Antes que o presidente tentasse dizer algo, ela se virou para ele, seu olhar penetrando em sua mente, o desconcertando. – Eu disse... não. Obrigada. – As últimas palavras dela saindo com tanto peso que ela mal conseguiu falar a palavra "obrigada", voltando a caminhar, saindo da sala.
Enquanto caminhava pelo corredor por onde vários empregados e políticos caminhavam, ela notando claramente cada pessoa que a seguia com o olhar. Ela pegou o celular e ligou para o número salvo na discagem rápida.
– Deixa eu adivinhar... ele disse não? – Roger perguntou, sua frase carregada com sarcasmo.
– Se você ama sua vida, te aconselho a não debochar de mim, Roger. – Carine respondeu, evitando fazer uma careta de tanta raiva que sentia. – Envie uma mensagem para os contratantes, o plano deles não funcionou.
– É... seria incrível se ele aceitasse, consigo até imaginar o que talvez fizessem: usariam isso para fazer da vida desse presidente um inferno. Depois, revelariam tantas coisas podres relacionadas aos seus ideais que seria deposto em menos de um ano, isso se não em menos, caso abdicasse de seus serviços. Acho engraçados eles nos contratarem para fazer a parte do diálogo em vez de simplesmente nos contratar para matar logo o presidente.
– Eles estão pagando muito, mas muito caro. Pelo que nos forneceram, não querem absolutamente nada ligando eles ao que viesse a acontecer com o atual presidente. Por isso nos pagaram até mesmo para fazer essa parte da negociação, o tal plano A. – Carine parou de falar enquanto passava pela vistoria mais uma vez, ao sair do Parlamento, ignorando a forma como o guarda mordia os lábios enquanto passava o detector de metais por todo seu corpo e o outro analisava seu raio-x. Roger a esperava a algumas ruas dali, numa BMW X6–M preta. – Mas... eu... eu não aceito isso. Foram cinco meses estudando esses papeis, as formas de política que esse babaca apoia, como convencê-lo. Inferno, até mensagens subliminares sutis para persuadi-lo a aceitar e o desgraçado me diz um não... um não... – Carine abre a porta do SUV e o fecha com violência, o carro balançando com a batida da porta, assustando Roger que terminava de comer um sanduíche.
Carine virou o rosto para Roger, irritada, evitando ofegar, seu olhar mudava de Roger para o sanduíche e vice-versa. Ele olhou para o próprio sanduiche, respirou fundo e o estendeu lentamente para Carine, que tomou com força de sua mão e antes de comer parou para ver o que tinha dentro.
– É natural. Um pouco de pimenta, calabresa, pão integral, fatia bem fina de tomate, algumas fatias de peito de peru, folhas de alface. – Roger disse, enquanto Carine ainda analisava o sanduiche. Ela o encarou, Roger recuando um pouco com o modo como ela o olhou, ela dando uma enorme mordida no sanduiche.
– É bom que seja isso mesmo... senão eu mato você enquanto você dorme. – Ela ameaçou, terminando de comer o sanduíche.
– Eu realmente não entendo seus estados de humor... você uma hora é mais fria do que gelo, outra hora fica tão irritada que até John ficaria com medo. Pois bem, já mandei um e-mail para nossos clientes dizendo que você frac... não conseguiu convencê-lo. – Roger disse, engolindo seco enquanto Carine o encarava, a mão dela ameaçando abrir o porta-malas para pegar a faca que deixou ali dentro guardada e cortar a garganta de seu parceiro. Ele pegou no fundo do carro uma maleta prata revelando um tipo de notebook ao abrir. – Eles disseram que podemos prosseguir com o plano B. Teremos quatro dias até o discurso de Brülhart em Zurique. Como fará? – Roger perguntou.
– "Como fará"? O certo seria "como faremos". Nós dois eliminaremos o alvo. Seguinte: vá para Zurique hoje, o discurso será no Jardim Botânico. Estude o local, rotas de fuga, faça o que deve fazer. Quanto a mim, preciso visitar o chefe da segurança de Brülhart, com certeza terá o que preciso. Agora vamos, você tem um trem para pegar.
...
Roger não demorou muito para conseguir as informações que queria. Já tinha toda uma planta do Jardim Botânico, além de como era feita a segurança – local, não de como seria a do presidente –, alarmes, troca de turnos e os locais menos vigiados pelos guardas do Jardim. Os equipamentos já estavam prontos, bastava chegar em Zurique, em pouco menos de uma hora, ir até os locais específicos e esperar o que Carine precisava descobrir.
...
A mira de Carine já estava apontada para a SUV que o segurança dirigia. Ela prendeu a respiração por uns segundos, abrindo a boca e permitindo o ar sair lentamente, enquanto seu dedo tencionava com calma o gatilho do rifle, até o som do disparo, quase como um assobio, ecoar pelo terraço do prédio em que se encontrava.
O tiro foi certeiro.
Não era um tiro qualquer. Se tratava de uma das últimas aquisições de seu arsenal: um rastreador com o qual poderia segui-lo. Conseguir o que ele tinha era de grande importância, não apenas para ela, porém muito mais para Roger. Aquelas informações seriam essenciais para ele se preparar.
...
Roger desceu do trem, olhando ao seu redor. Havia poucas pessoas no ambiente, dois ou três jovens que pareciam ter usado recentemente algum tipo de droga. Mas ninguém que ele esperava. Respirando fundo, com um olhar de quem já imaginava que isso talvez acontecesse, pegou seu celular e discou alguns números.
– Pois bem, minha bagagem, como está? – Perguntou, assim que atenderam sua ligação.
– Está tudo sob controle, senhor. Ela chegará no destino no horário marcado. Os preparativos já estão prontos também, a sua disposição. – Uma voz feminina respondeu.
– Muito bem. – Roger entrou num taxi e pediu para que dirigisse até o Jardim Botânico. – Quero que minhas bagagens especiais estejam lá em quarenta minutos, armadas e prontas para o serviço.
– Certamente, senhor. Até breve. – A mulher disse, começando a falar algo em russo, desligando. Passados alguns minutos, Roger fez uma ligação para Carine.
– E então...? O que descobriu? – Ele perguntou.
...
Carine estava sentada numa poltrona, no escritório do chefe de segurança, enquanto mexia em seu computador, conseguindo com sucesso o que precisava.
– Já estou dentro. Foi fácil, até demais, tirando o cachorro...
– Ai meu Deus, você matou um cachorro? Que tipo de monstro é você? – Roger indagou. Carine sentiu uma leve vontade de socar Roger, revirando os olhos.
– Eu não matei o cachorro. Ele está bem, só fiz ele... dormir um pouco. Estarei enviando para você a posição em que se encontrará o presidente e os pontos dos atiradores, todos estarão em vigilância de até 1,5km do local. Também rotas de fuga em caso de ataque, entre outras coisas. É bom que você e seus amiguinhos façam o trabalho direito.
– É... o Basta deveria ter vindo, eu bem que avisei. Mas não se preocupe, tenho tempo para estudar todas as características necessárias. Relevo, clima, rotação da terra, velocidade do vento e todos os detalhes que Basta faria provavelmente sem equipamento nenhum. Ah, já estou vendo algumas das plantas chegando e já cheguei no local. Depois eu retorno. – Roger disse, enquanto pagava o taxista e saia com sua bagagem.
O Jardim era lindo durante a noite. A arquitetura, os domos de vidro, o clima frio, mas reconfortante, as incontáveis espécies de plantas no Jardim, a iluminação de toda a área, tudo se combina num lugar prazeroso de estar. Enquanto caminhava tranquilamente em direção às estufas, do meio das árvores começaram a sair algumas pessoas, sete, no total, carregando caixotes pesados. Enquanto caminhavam o celular de Roger tocou.
– Conforme o combinado, quarenta minutos, senhor. – A mulher disse. Um dos homens que saiu em meio às arvores, todos vestidos com casacos e gorros pretos, se aproximou de Roger, o entregando um detonador. – Senhor, aqui o preparativo. Decidimos providenciar algumas outras coisas também, já que o senhor e seus colegas são alguns de nossos melhores clientes. – Roger olhou para o detonador durante alguns segundos, vendo a alguns metros de distância algumas pessoas caminhando tranquilamente, sem medo. Dois ou três guardas puderam ser vistos ao longe, nada preocupante. Ele olhou para os homens fazendo um sinal para prosseguirem, Roger apertando o botão do detonador. Um carro, ao longe, começou a soltar fumaça, labaredas crescendo logo em seguida.
As chamas foram o suficiente para atrair a atenção de quase todos no lugar. Enquanto a maioria corria para apagar as chamas, ligando para a polícia e os bombeiros, tentando descobrir o que havia acontecido, Roger e outros três homens já estava dentro de uma das estufas.
Em cada uma das estufas deixaram, carregadas e camufladas, quatro AS50, conectadas a um dispositivo que permitia a movimentação delas e o disparo sem precisar de um atirador. Assim que finalizaram as conexões, uma voz surgiu, gritando.
– Ei, você! – Roger olhou na direção da voz. Era um rapaz, no máximo vinte anos, sendo um dos guardas do lugar. Roger o encarou de cima a baixo, pensando em algumas coisas que faria, os homens próximos a ele segurando suas pistolas por debaixo dos casacos. Roger fez um sinal para não agirem, enquanto caminhava na direção do rapaz. – Quem é o senhor? O que está fazendo nessa área?
– Meu nome é Noah Lars Dessonnaz, chefe de segurança do presidente. Já deve estar ciente de que ele fará um discurso aqui dentro de alguns dias. Meus homens e eu estávamos estudando a área, antecipando qualquer ataque contra o presidente. – Roger respondeu, puxando um cartão de identificação, falso, e entregando ao jovem, o qual arregalou os olhos, surpreso.
– Meu Deus! Sim, sim, senhor Lars, eu sabia! Perdão, não me avisaram e...
– Você não viu nada. Quanto menos souberem o quanto sabemos, melhor, por proteção. – O jovem assentiu, tenso. Roger passou a mão em sua cabeça. – Bom garoto. Volte para o seu trabalho e tenha uma boa-noite. – Roger disse, se virando e partindo. Alguns minutos depois ligou para Carine. – Está tudo sob controle. Como vai as coisas por aí?
...
Carine caminhava tranquila e solitária pelas ruas pouco iluminadas de um dos bairros mais pobres da cidade, fumaça saindo de sua boca e narinas enquanto respirava.
– Tudo perfeitamente bem. Eu... – Ela parou de falar quando sentiu algo tocar suas costas. Antes que se virasse para saber quem era, a pessoa cruzou o braço pelo seu pescoço, a enforcando.
– Não faça nada idiota. – A voz, em alemão, rouca de um homem, talvez por volta de trinta anos, sussurrou em seu ouvido, enquanto a arrastava para um beco próximo a eles. Ele a jogou contra a parede, sorrindo, uma faca na mão. Do outro lado da linha, Roger ouvia, despreocupado, o que estava acontecendo. – Não vai falar nada? Tudo bem... – comentou o homem, pouco mais de 1,80m, forte, os cabelos negros com alguns fios grisalhos, a virando de costas e tentando desabotoar a calça dela. – Acredite, meu anjinho, você vai adorar o que...
– Eu odeio estupradores. – Carine disse, em português, despreocupada, sem ao menos se dar ao trabalho de impedi-lo.
– Estuprador? Sério? Que merda. – Roger disse do outro lado da ligação. O homem a encarou, com raiva, sem entender o que ela tinha dito.
– Como é que é, sua puta? – Xingou, colocando a lâmina da faca contra o pescoço dela. Antes que tentasse mais algo, Carine agarrou a mão dele e deslocou um de seus dedos, em seguida atingindo seu joelho com tanta força que foi possível ouvir o som da patela saindo do lugar, o derrubando no chão. O homem gemia de dor, tentando se levantar, irado.
– Eu disse... odeio estupradores. – Ela respondeu, falando em alemão para que ele entendesse, enquanto tirava da sua bolsa uma pistola e acoplando um silenciador. Ignorando os pedidos de misericórdia, descarregou o pente contra a genitália do estuprador, fazendo gritar em agonia. Algumas pessoas se aproximaram da entrada do beco, buscando descobrir o que acontecera. Guardando a arma, Carine pegou o canivete que o homem tinha. – Você deu o azar de me pegar num péssimo dia. – Gosto de me encontrar com pessoas como você, para fazer isso... – ela disse, enfiando a navalha num determinado ponto do pescoço dele, o homem apenas tremendo com a dor. –... voilá! Você agora é, oficialmente, um tetraplégico capado. Viva com isso. – Disse, se levantando e saindo do beco, várias pessoas a encarando, sorrindo para elas e seguindo até a sua SUV e saindo do lugar.
– Tetraplégico? Sério? Essa é nova. – Roger comentou, enquanto alugava o quarto de hotel.
– Gosto de inovar. E então, como estão as coisas por aí?
...
– Tudo seguindo perfeitamente. E quanto ao plano C? Sempre existe a remota possibilidade de ele sair vivo. – Roger perguntou, recebendo a chave de seu quarto e indo em direção às escadas.
– Bom... isso é com você, já que quem executará o plano B sou eu. – Carine respondeu, o som do vento contra o carro em alta velocidade atrapalhando um pouco o entendimento de suas palavras.
– Como assim? Não seria eu?
– Mudança de planos. Sabe que sou melhor atiradora do que você. Além disso, explosões são sua especialidade.
– Tirando o fato de que eu levaria cerca de seis dias para conseguir tudo que eu precisaria...
– Consigo para você em dois. Apenas me informe do que precisa e o local do tiro. – Carine disse, desligando. Roger olhou para o celular, como se olhasse para ela. "Não entendo porque ninguém hoje em dia tem mais a decência de se despedir antes de desligar" pensou, enviando sua localização do GPS para Carine. Seu quarto ficava no quarto andar, a janela dando para uma bela vista da cidade. Deitado em sua cama, adormeceu.
Sua mente o levou para longe, anos atrás, quando ainda não estava nessa vida. O som dos gritos e tiros misturados na confusão, o calor escaldante tornando seu uniforme um forno, o suor escorrendo pelo seu rosto enquanto alguns traficantes atiravam contra ele. Dois de seus colegas foram atingidos, mortos. Ele ergueu a M4A1 sobre a cobertura em que se encontrava e disparou, ouvindo alguns gritos de dor. Assim que viu a oportunidade, correu até um dos seus colegas caídos. O uniforme sujo com o sangue que saía da garganta de um deles, o mesmo se afogando no próprio sangue.
– Não morra soldado, fique comigo! – Sua voz ecoava distante. Mas já era tarde demais, a vida já havia o corpo de seu colega abandonado. Num ataque de fúria, conseguiu matar os três últimos homens que ainda atiravam.
O local estava limpo, ele fazendo um sinal para que os outros seguissem, até chegarem numa porta que estava trancada e, a arrombando, se depararam com uma escada que descia até um porão. Com velocidade, conseguirem executar mais dois bandidos. Quando estava prestes a sair, o som de um choro chamou sua atenção.
O som de choro chamou sua atenção. O choro lhe era familiar, pertencente a alguém que ele se importava. Motivo pelo instinto, correu até achar uma pequena cela, da qual não podia ver o interior. Atirou contra o cadeado, destrancando a porta da cela. Uma garota estava presa, seu rosto coberto por um pano. Ele se aproximou, com calma, até que tirou o pano do rosto dela...
– Hey, acorda. – Carine disse, dando alguns tabefes em seu rosto. Imediatamente ele puxou uma faca de debaixo do travesseiro, agarrando Carine e a jogando na cama, ficando por cima dela. No mesmo instante Carine conseguiu tomar a faca dele e trocando as posições, colocando a faca contra o pescoço dele, seus corpos grudados, seus rostos tão próximos que podiam ouvir e sentir a respiração um do outro. Seus olhos se encontraram, permanecendo a se encarar durante algum tempo, fosse segundos ou minutos. Tão juntos estavam seus corpos que Roger sentia o coração de Carine acelerando cada vez mais.
– Ah... pelo visto te assustei, não foi? – Roger perguntou, sorrindo.
– Por... por quê? – Carine perguntou, sua boca cada instante mais próxima da de Roger, mesmo que sem perceber.
– Seu coração está disparado. – Respondeu, enquanto seus olhos focavam nos olhos de Carine e sua boca que estava tão próxima que quase conseguia sentir o gosto de seus lábios. Carine ameaçou mostrar um sorriso, alguns resquícios de pensamentos felizes surgindo.
Mas isso não durou.
Seus olhos, de repente, piscaram velozmente, como se despertasse de uma hipnose, saindo de cima de Roger e ajeitando a roupa.
– Não está, impressão sua. Agora vá logo. No caminho conversei com alguns amigos. – Ela jogou um celular no colo dele. – O número está salvo como KABUM. Simples assim. Agora vá, não temos tempo a perder. – Ela terminou sua frase, começando a tirar algumas coisas da mala que trouxe. Roger respirou fundo, pegando o celular, pondo no bolso e caminhando até Carine. Ele estendeu a mão, relutante, acariciando seus cabelos, ela resistindo para não demonstrar que estava gostando.
– Está tudo bem, Carine? – Roger perguntou, ajoelhado ao seu lado, os olhos fixos nela.
– Está sim... está tudo perfeitamente bem, tirando o fato de que ainda não me conformei com aquele desgraçado não ter aceitado fechar negócio. – Respondeu, balançando a cabeça, fazendo com que Roger tirasse a mão.
– Entendo... eu posso ficar, temos tempo o bastante para repassar o plano e...
– E eu acho que você tinha dito que levaria semanas para fazer algo como aquilo. As rotas de fuga do presidente também estão no celular. Você só precisa fazer o que sabe fazer de melhor.
– Só isso que preciso fazer, nada mais? – Roger perguntou, torcendo para que ela dissesse algo que o fizesse ficar. Ela apenas assentiu, fazendo um sinal com a cabeça para ele ir. – Bom... até mais, então. Nos vemos em breve, Carine. – Disse, saindo do quarto e fechando a porta. Carine começou a saltitar, ficando nervosa, seus olhos lacrimejando, até que ela sentiu uma lágrima escorrer pela sua bochecha, ela a limpando, olhando aquela gota na ponta de seu dedo, como se nada ao redor importasse, exceto aquela demonstração de sentimentos. Num impulso de raiva, começou a socar e chutar o colchão, seu rosto e olhos ficando avermelhados. Ela espancou o colchão durante todo o tempo que aguentou, até que simplesmente pegou uma arma, pôs por debaixo da camisa e saiu do prédio, pegando um trem, descendo numa cidade qualquer.
Carine caminhou durante algumas horas pela madrugada, a noite fria e escura, seu sangue fervendo. Vez ou outro alguém passava por ela, mas não chamava sua atenção. Não conseguia entender ou compreender o motivo de não falar. Ela não sentia medo, nem hesitava em fazer nada, exceto falar o que sentia a Roger. Um grupo de jovens caminhava na direção dela, até que ela se esbarrou num deles. Revoltado, o garoto com o qual ela se esbarrou agarrou seu ombro.
– Aí, vadia, não vai... – antes de terminar a frase, Carine agarrou sua mão, a torcendo e enfiando o dedo dele dentro do próprio olho com tanta força que ele simplesmente caiu no chão, gritando de dor. Antes que os outros reagissem, Carine sacou as armas e matou um a um, inclusive o que estava no chão, até sobrar o mais novo do grupo, que se ajoelhou.
– Por favor moça, eu não fiz nada! Eu estava voltando para casa, só isso. – O garoto disse, desesperado, as mãos erguidas, lágrimas descendo de seus olhos vermelhos, tanto pelo choro quanto pela maconha que estava fumando. Carine pôs a arma em sua testa.
– Não, meu jovem... você fez sim. Você está no lugar errado, na hora errada e ainda por cima me viu. Acha que eu te deixaria sair vivo? – Ela perguntou, encostando o cano quente da pistola na testa dele.
– Por favor, eu não quero morrer, eu só quero ir para casa, eu nunca mais saio na rua essa hora, nunca mais faço nada, moça, prometo. – Implorava o jovem, sua calça ficando molhada, o chão com uma mistura de sangue dos rapazes mortos e a urina do garoto. Carine respirou fundo, abaixando a arma. – Eu... posso...
– Vá logo antes que eu mude de ideia, moleque. – O interrompeu, o garoto não pensando duas vezes, se levantando e correndo o mais rápido que podia, quando um som alto ecoou pelos ares e o garoto caiu girando no chão. Uma linha de fumaça saía da pistola que Carine carregava, a nuca do garoto destruída pelo tiro que levou da arma de Carine, sequer tendo um instante de segundo para perceber que havia morrido. – Desculpa, mudei de opinião. – Ela disse, respirando aliviada, sentindo–se mais leve. Ela olhou ao seu redor, notando algumas casas e apartamentos com as luzes ligadas, à procura do som dos tiros. Felizmente, para todos, a rua escura impedia que vissem quem quer que fosse o atirador. O som das sirenes ecoou distante, aumentando cada segundo a mais. Não seria problema, ela teria partido antes que chegassem.
Carine caminhou tranquilamente pela rua escura e desértica, dando mais dois tiros contra o crânio do garoto quando passou ao seu lado, se certificando da morte.
...
O dia estava nublado, uma brisa vinda do Norte balançando levemente as folhas das árvores. Milhares de pessoas se encontravam amontoadas no Jardim Botânico, à espera do presidente, que chegava numa gigantesca limusine, junto às outras duas, uma na frente e outra atrás, todas idênticas. Além das limusines, várias escoltas o acompanhavam. Dezenas de seguranças, agentes do governo e soldados circulavam o local. Era possível ver em poucos lugares alguns atiradores de elite, com certeza tendo mais em outros lugares.
Pouco antes do carro parar e ele descer, as pessoas já aplaudiam e gritavam seu nome, animadas. Ele estava sendo considerado um dos presidentes mais queridos do país, apesar de não ser algo relevante para os dois assassinos contratados.
Roger estava sobre um prédio, a várias quadras longe dali, vendo tudo pelo celular. O presidente caminhou em direção ao palanque enquanto cumprimentava e até tirava "selfies" com as pessoas, brincando, carismático, mostrando ser o presidente tão amado. Finalmente subiu ao palanque, ainda cumprimentando, as pessoas gritando seu nome, o presidente que mudaria o país. Roger recebeu uma ligação, ele atendendo pelo fone bluetooth.
– Pois não? – Perguntou, ouvindo a respiração lenta e calma de Carine, que demorou um pouco a responder, ajustando a mira da CheyTac M200 Intervention, o foco totalmente nítido em Brülhart. Ela coçou entre os dedos. Usar luvas sempre a incomodavam, mas precisava usar.
– Como estão as coisas? – Carine perguntou, olhando para um laptop ao seu lado, com várias imagens de Brülhart, de ângulos diferentes.
– Tudo ótimo, o labirinto do rato já está preparado, caso você erre o tiro, o que é, tipo, impossível. – Roger respondeu, olhando para baixo. Ele se encontrava no topo de um prédio com cerca de dez andares, uma das esquinas dando num beco sem saída. Ele voltou seu olhar novamente para o palanque em que Brülhart estava. – Consegue ver o mesmo que eu, correto?
– Vidro a prova de balas super reforçado? É, estou vendo. – Carine respondeu, voltando para o laptop e ajustando as imagens que via, sendo essas de outros rifles que foram montados em posições estratégicas. Roger ergueu as sobrancelhas.
– "Super"? É só um vidro a prova de balas.
– Não mesmo, é super reforçado. Eu estou vendo daqui. Não se atreva a me questionar, eu sei o que estou vendo! – Carine disse, terminando a rápida discussão sobre o vidro. O presidente começou a fazer seu discurso, as pessoas tranquilas, o ouvindo, os soldados e a guarda atenciosa, tensos, preocupados com qualquer possível ataque ao presidente, seus corações batendo rápido, tentando manter a respiração mais controlada possível.
O dedo de Carine tocou o gatilho, nenhuma tensão, totalmente focada. Ela moveu lentamente a mira para um dos carros, alguns centímetros ao lado da porta da limusine. – Obrigado por fazer desse jeito o ataque, é meio exagerado tudo que fizemos, mas a certeza é o mais essencial.
– Disponha...
– Dez... nove... oito... sete... seis... – Carine começou a contagem regressiva, um dedo no gatilho, a outra mão sobre o "enter" do laptop. –... cinco... quatro...três... dois... um... hora de morrer. – Ela disse, apertando o enter.
Nas estufas, os rifles que haviam armado começaram a atirar na direção do presidente, o vidro aguentando os tiros.
Caos tomou conta do lugar.
As pessoas correram desesperadas, alguns tiros na direção delas, acertando algumas pessoas. A segurança se desesperou, certos de que não havia ninguém dentro das estufas, mas não era tempo para pensar em como não notaram, simplesmente entrando em ação, atirando na direção dos tiros, as armas descarregando e os tiros parando. Alguns seguranças agarraram o presidente e correram em direção ao carro, um já abrindo a porta da limusine. Poucos segundos antes de chegar na porta do carro e entrar, Carine apertou outro botão no notebook.
Um último rifle automático disparou, matando o homem que segurava a porta para que Brülhart entrar. No momento em que a bala atravessou a garganta do homem que foi arremessado ao chão com o impacto do tiro, Brülhart e seus seguranças hesitaram, assustados. Carine sorriu, contente. Brülhart havia parado exatamente no ponto em que ela queria, onde sua mira estava. "Powinnam zaakceptował ofertę" (polonês) Carine pensou, soltando todo o ar em seus pulmões, apertando o gatilho.
O coice do rifle faz seu corpo tremer, a bala viajando à velocidade supersônica, o mundo parando enquanto apenas o projétil voa em direção ao alvo.
Mas o inesperado aconteceu.
Durante o momento de hesitação e temor, o segurança que segurava o braço do presidente deu um passo em falso, puxando o presidente para trás ao mesmo tempo em que o tiro foi efetuado, o tirando da linha de fogo. Carine observou aquela cena e, como em câmera lenta, seu sorriso se transformou numa expressão de surpresa, sem conseguir acreditar no que havia acabado de acontecer. Sua cabeça começou a tremer, seus músculos tencionando. Ela começou a ranger os dentes, o rosto ficando avermelhado, sendo possível ver algumas veias do seu crânio.
– Carine, nem se atreva a atirar de novo! Saía, agora, eles já estão indo na sua direção. – Roger gritava, mas sua voz não parecia chegar ao outro lado da ligação, a mente de Carine numa espécie de transe, não acreditando que errara. – Carine... me ouça. Pegue suas coisas e saia daí... Carine... CARINE! – No terceiro grito de Roger, o mundo voltou à mente dela. Ofegante, trêmula, tentando não perder o controle de seus pensamentos, pegou alguns equipamentos essenciais, guardou na mala e ativou uma bomba em cima da cama, saindo do quarto em que estava.
Sua feição mudou de uma hora para a outra, indo de séria para aterrorizada. Ela chegou no saguão chorando, desesperada, junto a outros hóspedes, assustados com os tiros.
– Meu Deus, moço, o que está acontecendo? O que foram aqueles tiros?
– Senhorita, não se preocupe, mantenha a calma. – O homem mandou, ela correndo para fora do prédio chorando, junto com outros hóspedes, indo até seu carro. Ao entrar nele, novamente sua expressão mudou, ela limpando as lágrimas falsas e dirigindo para longe dali. Pouco antes de virar a esquina, ela pôde ouvir um imenso estrondo e pelo retrovisor ver uma parte do hotel explodir, chamas saindo do quarto andar.
...
As limusines dispararam, o presidente na do meio. Roger ficou sentado na ponta do prédio, acompanhando o movimento dele. Os carros cortavam as ruas e avenidas, indo para o abrigo. Quando estavam prestes a virar numa esquina... "não mesmo, continuem" Roger pensou, acionando uma bomba que estava num carro no início da rua em que a primeira limusine virou, a explosão tão forte que a limusine perdeu o controle e bateu. Desesperados, os outros dois carros seguiram em frente. Poucos metros depois, outra bomba, os forçando a ir em outra direção, e assim seguia, até que uma outra bomba tirou a limusine de trás do caminho. Roger começou a descer do prédio, colocando um capuz, cobrindo seu rosto. A última bomba fez com que a limusine entrasse direto num beco sem saída. O carro parou e começou a dar ré, mas o motorista sequer percebeu a quantidade de C4 que estava no chão, que explodiu assim que a traseira da limusine ficou em cima, jogando a limusine pelos ares, caindo de cabeça para baixo. A porta do fundo da limusine se abriu, o presidente descendo dela, ferido, assustado. Antes que pensasse no que fazer, sua visão ficou escura, seu corpo perdendo movimento. Um tiro atravessou sua cabeça, Roger alguns metros atrás dele, uma Walther PPK/S .22 com silenciador acoplado, um baixo e fino assobio sido ouvido apenas por Roger quando o tiro saiu pelo cano e ceifou a vida de Alexander Brülhart. Ele caminhou até o corpo, pegando uma lata de spray e pintando um símbolo sobre o mesmo, voltando para dentro do prédio e desaparecendo.
...
– Cara, eu até agora não estou acreditando no que aconteceu.
– Tá falando do quê, hermano?
– Como assim, pedejo? Não viu o que teve lá na Suíça?
– Ah, o assassinato do presidente? Vi sim! Hey, não me chama de pendejo. Mas... como foi essa loucura?
– Cara, pelo o que vi na TV, foi um grupo terrorista aí que não aprovava a eleição dele, sei lá. Loucura, não é?
– Verdade, Hermano, loucura...
– Pero agora quem será o presidente será esse cara aqui, tá vendo? – Disse o irmão, mostrando pelo celular o novo presidente, um homem caucasiano, por volta de cinquenta anos, bilionário.
– Esse cara? Parece aquele presidente dos Estados Unidos com nome de pato. Gostei do anel de prata dele. Deve valer uma fortuna.
– Deixa de vício por anéis e colares, hermano. Daqui a pouco papa te dá uma surra por gastar tanto dinheiro com essas coisas.
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