4 - O Contrato
Um ano e três meses antes
– Tenha uma boa-noite, senhorita. – Disse César, chefe de segurança da gigantesca casa de Daphne. Ela olhou para César, um homem alto, cerca de 1,80m, pele clara, olhos verdes, o cabelo raspado, porte militar, com sua característica tatuagem no pescoço semelhante ao olho de Hórus que sempre chamava sua atenção.
– Obrigado, César, tenha uma noite tranquila. – Respondeu, entrando em casa, César entrando em contato com os outros seguranças, conversando com eles. Ela caminhou um pouco pelo saguão de sua mansão, apreciando alguns quadros que possuía. Pegou o controle do som e o ligou, uma música sendo tocada ao fundo num piano. Ela vai até a cozinha, abre a geladeira, pegando uma garrafa de vinho e enchendo uma taça, bebendo um pouco.
Não demora muito até a garrafa estar vazia, Daphne soluçando uma ou duas vezes, decidindo ir ao seu quarto, no primeiro andar.
Ao chegar ao primeiro andar, continuou a caminhar, no final do longo corredor que dava em seu quarto, uma grande janela permitia observar a área de fora da casa, o jardim imenso que se expande até um lago. Ela observa pela janela durante alguns instantes, vendo alguns seguranças indo e vindo. Por fim, ela se espreguiça e entra no quarto, fechando a porta atrás de si e despindo-se, jogando as roupas pelo chão enquanto caminha até o banheiro.
Nua, ela entra debaixo do chuveiro e o liga, a água morna escorrendo pelo seu longo cabelo loiro, descendo pelo seu rosto e passando por todo seu corpo, a água se moldando às suas curvas. Os problemas, a pressão que tem sofrido, todas as coisas começaram a pesar em sua cabeça, Daphne começando a choramingar, se sentando no chão do banheiro, a água talvez sendo a única coisa a consolá-la.
Depois de quase trinta minutos ali, ela se levanta, tentando enxugar as lágrimas num movimento automático. Ela se enxugou e foi direto à cama.
Daphne pega o celular e observa as câmeras da casa, observando cada cômodo, até chegar numa câmera em que mostrava César, falando com dois seguranças, dando-lhes ordens, ambos saindo após ele fazer um sinal para seguirem. Ela o observa durante um tempo, ela mudando para as câmeras o seguindo.
Ela morde os lábios enquanto o observa. O conhecia desde criança, sempre teve interessada nele. Após anos distantes um do outro, ela descobriu que ele saído do exército e estava trabalhando como chefe de segurança para agentes de alta patente, como ela, no caso. Após mexer alguns "pauzinhos" conseguiu fazer com que ele virasse chefe de segurança de sua casa, o tendo agora sempre por perto, mas nunca tendo coragem para falar que o desejava.
– César... – ela deixou o nome escapar enquanto o observava. Ao seu lado, olhou o rádio com o qual ela poderia chama-lo. Ele iria correndo, preocupado e quando a visse não resistiria. Ela não conhecia um único homem que tivesse resistido aos charmes dela. Sua mão alisou o rádio durante alguns instantes, desejando chamar César, mas no fim, mais uma vez, desistiu. Esperneou na cama, nervosa consigo mesma, depois de algum tempo deitada, caindo no sono.
...
Daphne se ergueu rapidamente, puxando a pistola debaixo do travesseiro e apontando para a porta, acordando ao ouvir um barulho estranho. Havia sido apenas a porta que rangeu ao se mover um pouco com o vento.
O problema era que ela sempre fechava a porta quando entrava no quarto.
Ela se levantou lentamente, ainda mirando na morta, pegando o celular e observando as câmeras. Os seguranças ainda estavam na mesma posição, como sempre. Ela procurou por César e lá estava ele, na frente da casa, vigiando. Ela pegou um roupão, se vestiu e em seguida acendendo a luz do quarto, o rádio ainda em mãos, vasculhando o cômodo a procura de algum intruso. Nada. Desligou a luz e saiu lentamente do quarto.
O barulho fraco da chuva inundou o ambiente, as gotas de chuva batendo contra a grande janela do corredor. Ela caminhou pela casa, entrando em alguns quartos, se certificando de que não havia ninguém.
Algo caiu no andar debaixo.
Parecia o som de algum talher caindo no chão, coisa assim. Daphne respirou fundo, mantendo-se concentrada. Já havia passado por situações muito piores. Aquilo não a assustaria nem faria que ficasse tremendo.
– César, venha para dentro da casa imediatamente. – Ela o chamou pelo rádio, mas não obteve resposta. – Tem alguém aqui dentro. César? – Nada. Estaria com defeito o aparelho? Ela pegou o celular novamente e ficou observando. César ainda estava na frente da casa, fazendo seu trabalho. Foi quando Daphne percebeu uma espécie de falha e seu coração gelou. A imagem não passava de uma gravação em loop. Seu maxilar tencionou, ela apertado a arma com força, guardando o celular no bolso do roupão e continuando a descer as escadas, o dedo no gatilho, preparada para derrubar quem viesse.
Assim que chegou na cozinha, se deparou com uma cena um pouco diferente do que imaginava: havia uma mulher de pele cor de chocolate sentada numa cadeira, com uma xicara de chá na mão, bebendo alguma coisa. Seus cabelos negros bem curtos, um pouco bagunçados, além de ela estar usando o que parecia ser um dos pijamas de Daphne.
– O quê? – Daphne indagou, a mulher se engasgando com o líquido, se assustando. Ela riu um pouco.
– Ai meu Deus, que susto! Não se chega assim de mansinho! Quer me matar do coração? – A mulher disse, limpando a boca e colocando a xicara de chá sobre a mesa.
– Primeiro... se não me disser quem é e o que está fazendo aqui, te mato. Segundo... esse é o meu pijama? – Daphne perguntou, a mulher olhando para a própria roupa e rindo.
– Ah é, peguei emprestado, deveria ter avisado. É que a minha roupa sujou enquanto eu esfaqueava aquele cara ali. – A mulher disse, apontando para um canto da cozinha. Daphne olhou na direção em que a mulher apontava, quando notou algumas gotas de sangue. Ela começou a caminhar naquela direção, as gotas se transformando em uma poça que dava até o corpo esfaqueado de César, facas e garfos cravados em todo seu peito e garganta. Daphne começou a tremer, os olhos enchendo de lágrimas. – Não se preocupe, depois limpo a bagunça. – A mulher disse, chamando atenção de Daphne, que virou a arma para ela.
– Antes de eu te matar, quem é você? – Perguntou, se aproximando dela. A mulher olhou para ela, sorrindo, pondo calmamente em cima da mesa um cartucho de arma.
– Você tem nos caçado faz dois anos... e não sabe quem sou eu? – Ela perguntou. Daphne encarou o cartucho, tensa, apertando o gatilho, nenhuma bala saindo do cano da pistola. Ela apertou duas vezes, nada. Três. Quatro. A arma estava descarregada.
– Você é a que chamamos de Vampira. – Daphne disse, caminhando lentamente para trás enquanto a mulher se levantava e caminhava em sua direção, o sorriso parecendo crescer em seu rosto.
– Oh... esse é o apelido que vocês me deram? Gostei... mas prefiro meu nome mesmo. – Após alguns passos, parou. – Por que está recuando? Sente medo de mim? Porque, se eu fosse você, não teria medo de mim. Teria medo... – a mulher parou de andar quando se esbarrou em algo. –... dele. – Daphne olhou para trás, vendo um homem, pele morena, cabelo crespo curto, raspado dos lados, pouco mais de 1,70m, vestido com uma roupa social cinza, o colar do exército pendendo em seu pescoço.
– Olá Daphne. – O homem disse. – Creio que você, apesar de ter nos caçado durante todos esses anos, não saiba meu nome. Me chamo Jonathan, ou "Líder" como vocês me apelidaram na agência. Por favor, sente-se. – John disse, as lágrimas de Daphne escorrendo pelas bochechas, mesmo tentando não chorar. Ela o obedeceu, sentando–se num banco. – Sinto muito pelos seus seguranças, eu não queria matar nenhum deles, mas Letícia estava entediada e decidiu brincar um pouco. – John falava, enquanto puxava uma cadeira e se sentava em frente a Daphne.
– Se você quer me matar... faça logo. – Daphne disse, sua voz firme, mesmo tremendo de medo.
– Matar você? Não... eu não quero matar você. Eu quero saber se tem alguém que você deseja que eu mate, exceto a garota ali. – Daphne pareceu se assustar com a pergunta, arqueando as sobrancelhas.
– Como... como assim?
– É simples... se fosse por Letícia, você morreria, mas matar você não vai parar com que a CIA, Interpol, KGB, BND, a Inteligência Chinesa, entre todas as outras, parem de nos caçar. Mas... visto que você é uma das cabeças mais influentes da CIA, a que conseguiu unir todas essas unidades com um grupo especializado em nos caçar... creio que seja a melhor pessoa para me dar exatamente o que quero: liberdade. Vocês nos caçam e isso é ruim para os negócios. Preciso que você se livre de todos os dados que possui sobre a gente, simples assim.
– E por que acha que eu faria isso? – Daphne perguntou.
– Porque eu sei que você quer viver, sei que não quer saber como eu posso ser mais cruel do que Letícia, além de que... pelo que andei lendo, você está... encalhada na patente em que se encontra. Não consegue subir graças a alguém acima de você que está com um projeto que aparenta ser mais... interessante e promissor do que o seu de caçar pessoas como eu, fantasmas, os quais até mesmo seus superiores duvidam existir.
– Albert...
– Um nome, já começamos bem. Sinceramente, Daphne, eu estou com muita pressa, então, se puder decidir logo, seria bom, preciso visitar uma velha amiga...
– Uma puta. – Letícia disse, com raiva.
– Uma velha e ótima amiga... ignore o que Letícia disse. Então... se livrar de alguém que está te impedindo de muita coisa e sair viva... ou ser morta por mim. Você decide. – John disse, enquanto pegava o celular e digitava algumas coisas, tranquilo, Letícia caminhando ao redor da poça de sangue de César, cantarolando alguma coisa.
– Uma prisão... – Daphne disse, chamando a atenção de John. – Albert Alex Lins, ele é responsável por uma prisão que "não existe", a denominou de Inferno. Criada para abrigar os mais cruéis e procurados do mundo inteiro. Todos os países estão, em segredo, apoiando o projeto, enviando recursos, pessoal, participando. É incrivelmente lucrativo a ideia dessa prisão e é impossível fugir dela... se você quer que eu te contrate, então terá que fazer isso. Não apenas mata-lo, não adiantaria, precisaria destruir o projeto dele.
– Já que é assim, seria bom que a morte dele fosse durante uma rebelião, correto? Isso mostraria que o projeto é falho e não vale a pena tanto investimento. – Jonathan comentou, jogando o celular nas mãos dela.
– Assim que estiver feito, você deve ir para a agencia, apagar todos os arquivos que tiver sobre nós e plugar esse celular em seu computador. Só isso. Não deve ser ligado antes do serviço ter sido finalizado, apenas depois, no prazo máximo de um mês, entendeu? Depois disso... pode ficar com o celular se quiser, é um ótimo celular... e muito caro. O celular fará apenas uma varredura no sistema, procurando qualquer informação que haja sobre nós. Se ele encontrar qualquer coisa relacionada a gente... iremos atrás de Marília, sua adorável mãe, de James, seu lindo filhinho e de Brad, seu ex. E nem se dê ao trabalho de tentar escondê-los... será muito pior. Entendido? – Jonathan respondeu, se levantando, ajeitando a roupa. Daphne soluçou, tensa e assentiu. – Tenha uma boa-noite. Vá para sua cama, tranque o quarto e... não importa o que ouvir, não desça até as sete da manhã. Adeus, Daphne, torça para não nos ver nunca mais. – Daphne se levantou, trêmula, cada passo pesando uma tonelada, voltando para seu quarto.
Ela não conseguiu dormir, porém desmaiou ao lado da cama, não aguentando o medo que sentiu naquele instante. Ao acordar, se viu deitada em sua cama, eram pouco mais de onze horas da manhã. Ela desceu correndo até a cozinha. Estava tudo em ordem, nenhuma mancha de sangue. Teria sido um pesadelo? Ela começou a se sentir aliviada, quando um dos seguranças apareceu.
– Senhora... não encontramos César em lugar algum, a senhora o viu noite passada?
Vinte dias após a fuga...
– E... ela fez. Levou quase o prazo inteiro, mas ela fez. O celular acaba de ser plugado. – Edson disse, mexendo em seu laptop. Estava junto com todos os outros, num belo quarto de hotel, na Cidade do Cabo, Jonathan na varanda, vendo o imenso azul do oceano, sentindo a brisa em seu rosto. – Agora temos total acesso a todos os computadores da CIA e de brinde alguns de outras Inteligências. Como você a convenceu de fazer isso, mesmo?
– Não a convenci. – John respondeu, retirando a camisa, ficando apenas com um short de banho. – Eu falei que o celular faria uma varredura no sistema a procura de informações sobre a gente, não que instalaria um super vírus, ou seja lá o que for isso, que invade o sistema e nos dá acesso total, quase indetectável. Se não se importa... vou mergulhar um pouco, afinal de contas, não vou pagar esse belo quarto e não aproveitar das coisas boas que ele tem. Você deveria vir também, Edson. Todos estão lá fora, fazendo o mesmo.
– Não gosto de água... prefiro revisar nossos trabalhos. – Edson respondeu, conectando um mouse ao laptop, colocando um fone de ouvido e se ajeitando numa mesa, lendo algo.
– Você é negão com dois metros de altura, tão musculoso que passa de lado pela porta, super nerd e... tudo bem, que seja, nem sei o que diabos estou falando. – John disse, Edson sequer o ouvindo. Rindo, sai do quarto, deixando Edson a sós com seu laptop.
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