CAPÍTULO 9-MARCOS VOLTA A ACUSAR LÚCIO




Enquanto isso, na escola de Neitan, Marcos Atalla estava prestes a se arrepender amargamente  por ter se atrasado para buscar o filho.

Cácia, a garota que ainda estava na portaria da escola e que tinha sido responsável pela liberação de Neitan,   ficou pálida quando reconheceu o empresário e logo percebeu que estava em apuros.

_Senhor Atalla? _ ela falou apreensiva.

_Vim buscar o meu filho Neitan. _ disse o empresário muito sério.

A moça piscou diversas vezes sem saber como explicaria aquilo:

_O tio do Neitan já veio buscá-lo, senhor Atalla.

O empresário quase perdeu o fôlego!

_Como assim o tio do Neitan  veio buscá-lo?

Escutando o empresário alterar a voz, outra  funcionário aproximou-se:

_Algum problema, senhor Atalla? Posso ajudar?

Cácia explicou o que tinha acontecido para a colega e foi repreendida:

_ Como você pode liberar o garoto sem a autorização, Cácia? 

_Eu me distraí por um segundo, pois estava  entregando um outro garoto..._ a garota mentiu. _Não me lembrei de pedir a autorização ao tio do Neitan.

Marcos Atalla já estava fora de si quando falou:

_A mãe do Neitan é filha única  e o meu único  irmão morreu! Que tio poderia ter vindo buscar o Neitan aqui? Você ficou louca?

Um pequeno tumulto se fez na portaria da escola.

_Estou ligando para a polícia! _disse o empresário nervoso. _Vocês vão ter que dar conta do meu filho agora!

_Por favor, senhor Atalla..._ a diretora havia chegado e entrou  em pânico. _Isso nunca aconteceu em nossa escola...eu tenho certeza de que tudo não passa de um grande mal entendido...eu lhe garanto que o seu filho está bem e que logo ele estará de volta...

_Como você pode garantir uma coisa dessas, sua infeliz? O meu filho só tem sete anos e foi levado por um desconhecido! _ Marcos apelou grosseiramente.

Cácia, cercada pelos colegas de trabalho, não se conformava:

_ Como eu iria saber que o Neitan estava mentindo, gente?

_Você vai querer colocar a culpa no meu filho, sua débil mental? 

A garota se desesperou: 

_Mas ele reconheceu o taxista como o tio dele, senhor Atalla!

Marcos levou um susto:

_Taxista? Você entregou o meu filho a um taxista?

_Sim...o seu filho viu o táxi parar aqui em frente e ele gritou o nome do tio e saiu correndo...era evidente que ele o conhecia...

Na mente do empresário surgiu o rosto de Lúcio e ele entrou em pânico:

_Mas que loucura é esta? Um taxista chegou aqui e chamou o meu filho pra ir embora com ele  e você simplesmente o entregou sem nem confirmar nada? Mas que porra de escola é esta que entrega uma criança de sete anos para o primeiro que chega aqui?

Emílio, o motorista, veio correndo oferecer ajuda.

_Algum problema, senhor Atalla? Posso ajudar?

_Ligue para a polícia, Emílio! Um taxista sequestrou o meu filho e estas incompetentes estão aqui tentando me convencer que ele era o tio do Neitan! Eu vou mandar que fechem esta porcaria de  escola! _o empresário explodiu alterado.

Os funcionários  entraram em pânico tendo a certeza de que aquele homem certamente tinha poderes para fazer aquilo!

Marcos Atalla já estava se afastando, quando escutou Cácia  desabafar:

_ O Neitan gritou tão naturalmente o nome do tio que eu não tinha como não acreditar nele!

_Pelo menos fale o nome deste homem que o filho do senhor Atalla reconheceu pra gente ter alguma pista, Cácia! _ a diretora falou cheia de esperança.

_Assim que viu o taxista, Neitan gritou: tio Darlen!

Marcos Atalla estacou e virou-se para Cácia:

_Você tem certeza de que foi este o nome que o meu filho gritou?

_Eu tenho certeza absoluta, senhor Atalla,  porque eu achei o nome bonito, assim como o dono dele! _ Cácia já não estava se importando em se expor daquele jeito diante de todo mundo.

_Pois descreva logo este homem, Cácia, pra gente acabar logo com este pesadelo! _ berrou a diretora histérica.

À medida que a garota ia descrevendo, a imagem de Lúcio ia se confirmando na mente do empresário.

_É o mesmo homem do outro dia, senhor Atalla! _o motorista se adiantou em alerta. _É o taxista que tentou sequestrar o senhor! Foi ele quem pegou o Neitan!

_Eu vou matar aquele desgraçado! _ Marcos explodiu  acelerando o passo em direção ao carro. 

Emílio informou ao patrão que a polícia queria falar com ele e o empresário deu o serviço completo afirmando que o taxista Lúcio havia sequestrado Neitan!

Enquanto a polícia garantia que iria se esforçar para encontrar o garoto, Marcos Atalla ordenou que o motorista percorresse as avenidas da cidade à procura do taxista Lúcio.

O coração de Marcos doeu ao pensar que já havia perdido o irmão caçula e que agora era o seu filho quem estava correndo perigo por causa dele.

A culpa lhe caiu novamente sobre os ombros...Por que havia impedido a polícia de prender aquele marginal? Por que não havia interrompido uma ligação que julgava importante, quando a secretária veio lembrá-lo de que ele deveria buscar o filho na escola? Se não tivesse se atrasado, nada daquilo estaria acontecendo! 

Marcos  se sentiu um idiota...Que tivesse mandado Emílio sozinho buscar o menino, ao invés de querer atender  as exigências da sua ex-esposa Valéria que estava do outro lado do mundo!

Depois de muito rodarem pela cidade  sem sucesso, Marcos decidiu ir pra casa.

Minutos depois,  Emílio  anunciou exaltado:

_Olhe o marginal aí, senhor Atalla! 

Neitan ficou pálido quando viu o pai descendo do carro seguido pelo motorista e percebeu que os dois vinham furiosos.

_Meu pai! _o garoto gemeu  assustado. _Ele deve estar com raiva porque a gente demorou a chegar, tio Darlen!

Lúcio estranhou a urgência do garoto em descer do carro. 

_Tchau, tio Darlen! Tchau, Lúcio!

O pequeno até que tentou correr com as suas perninhas curtas a fim de evitar que o pai precisasse chegar até o táxi, mas Marcos Atalla agarrou o filho pelo braço e o sacudiu com brutalidade:

_Por que você fugiu da escola e não me esperou? Quer me matar do coração?

A mudança era gritante: o pequeno, até alguns segundos tão à vontade e feliz, olhou sem voz para o rosto vermelho do pai e simplesmente não disse nada.

Lúcio ficou revoltado, especialmente porque mais uma vez Darlen não tomou atitude alguma.

_Ei, você não vai lá ajudar o seu sobrinho?

Lúcio só percebeu naquele momento que como da primeira vez, Darlen simplesmente havia evaporado no banco de trás.

O taxista deduziu que mais uma vez ficaria no prejuízo, pois não receberia a corrida.

Lúcio não se conteve vendo o empresário  agir daquela forma com o filho  e saiu do carro revoltado.

Emílio se posicionou ameaçador  entre o taxista e o patrão, mas Lúcio não se intimidou:

_Ei, pare de sacudir o seu filho assim! Quer machucar o garoto?

Marcos Atalla olhou para Lúcio furioso:

_Desta vez você não escapa, seu safado...Primeiro tentou me sequestrar e agora foi atrás do meu filho!

Lúcio ficou irritado  ao imaginar que os dois irmãos estavam mais uma vez fazendo aquele jogo idiota com ele:

_ Ficou louco? O seu irmão foi comigo buscar o seu filho na escola! Disse que você o havia incumbido dessa tarefa! Se não foi esse o combinado entre vocês dois, não desconte em mim ou no seu filho, seu covarde!

_Quero ver você repetir esta história pra polícia, seu marginal! _ gritou Marcos ainda agarrado ao braço do filho que não entendia o que estava acontecendo ali.

Lúcio apelou:

_Que polícia o quê, seu louco? Vá resolver as suas diferenças com o seu irmão e não me meta nesta história de novo...E não desconte as suas frustrações numa criança inocente, seu babaca!

O taxista virou-se pra ir embora, temendo fazer uma besteira.

Emílio, que já havia chamado a polícia,  se adiantou para detê-lo, assustando o pequeno Neitan que gritou, alertando Lúcio que estava de costas:

_Você não vai bater no amigo do meu tio Darlen!

Lúcio conseguiu se esquivar da abordagem do motorista de Marcos.

Emílio perdeu o equilíbrio e caiu no chão.

Sob o efeito da adrenalina do momento, Marcos Atalla avançou pra cima do taxista, enquanto mais uma vez, o seu filho gritava para não baterem no amigo do tio dele.

O empresário ficou em choque quando, num ato reflexo impressionante, Lúcio deteve o murro que Marcos queria dar no rosto dele!

_Não seja ridículo, cara! _Lúcio sussurrou  com ironia trazendo Marcos para bem perto dele, sem porém demonstrar violência. _Está passando vergonha na frente do seu filho, além de assustá-lo!

Por alguns segundos, que pareceram uma eternidade, os rostos ficaram próximos demais para um sentir o hálito do outro...café forte contra enxaguante bucal de menta...

Marcos estava ofegante e  confuso ao perceber que aquele homem se preocupava com o bem-estar do seu filho...percebeu que Lúcio estava mais controlado e aquilo o irritou:

_Como ousa, seu...

Lúcio, bem mais forte do que Marcos, continuou a dominar o empresário e  deu tapinhas nas costas dele, simulando uma cordialidade que não havia e  sorrindo para Neitan que ainda estava em pânico.

_Calma, Neitan...ninguém está brigando aqui...a gente está só conversando...

Marcos ainda tentou reagir, mas Lúcio o conteve novamente sussurrando firme com um hálito quente perto do ouvido do empresário:

_Tome vergonha na cara, homem! Pare com esta palhaçada! Respeite pelo menos o seu filho que está aqui! Se eu quisesse mesmo sequestrar o Neitan, acha que eu estaria com ele aqui em frente a sua casa?

Marcos ficou sem ação percebendo a lógica nas palavras do taxista.

Neitan sentiu a necessidade de intervir:

_Ele fala a verdade, papai! O tio Darlen foi me buscar na escola no  táxi do Lúcio!

_Está aí o seu filho confirmando o que eu acabei de falar! Acredita agora?

Marcos teve a respiração suspensa, quando olhou de um para o outro, como se quisesse avaliar o impacto daquela declaração nos dois.

Emílio, já recuperado do tombo, avançou em direção a Lúcio, mas foi detido por um gesto do empresário.

_Leve o Neitan pra dentro, Emílio. _ordenou Marcos.

Mesmo a contragosto, o motorista pegou o garoto nos braços.

Neitan ainda dirigiu  um último olhar para o taxista e foi levado para dentro.

Marcos apontou o dedo para Lúcio, tentando controlar a voz que ainda estava trêmula diante daquele homem que era uma incógnita pra ele:

_Eu não sei qual é a sua, rapaz, mas já te aviso que você não sabe onde está se metendo...

Lúcio não tinha a intensão de recuar e continuou encarando o empresário que também sustentava o seu olhar:

_Quer saber? Eu sei sim onde eu estou me metendo...Estou servindo de brinquedo nas mãos de dois irmãos que parecem viver em conflito e colocam o filho no meio e quem mais estiver na reta!

_Mas você é muito cínico...É você quem deveria ter vergonha de envolver o meu filho neste seu plano...

Lúcio respirou fundo, percebendo que não tinha mais nada a fazer ali:

_Bom, o seu filho está entregue, mais uma vez eu é que vou ficar no prejuízo da corrida que não vai ser paga  e eu quero que você dê um recado para o seu irmão folgado... Diga que eu vou quebrar a cara dele se ele entrar novamente no meu táxi!

Marcos gritou quando viu que o outro tinha a intensão de ir embora:

_Então é assim que vai ser...você convenceu até mesmo o meu filho de que o tio dele estava aí dentro do seu táxi...

Lúcio voltou sobre os próprios passos:

_Certamente você acha que eu simplesmente adivinhei que deveria ir buscar o seu filho na escola...

_Me avisaram que ele simplesmente entrou no seu carro...

_Entrou porque o tio dele estava junto comigo...

_E então este é o álibi que você pretende apresentar quando eu te denunciar pra polícia...

Emílio surgiu com mais dois homens vindo na direção de Lúcio!

_Quer que a gente  dê um jeito nele, senhor Atalla?

Era evidente que o motorista queria mostrar serviço ao patrão, já que tinha falhado na primeira tentativa.

Lúcio não desviou os olhos dos de Marcos, mais uma vez não demonstrando estar intimidado pela ameaça ali tão perto.

Naquele momento, não se sabe como, Neitan veio correndo de dentro do prédio e entrou na frente de Lúcio abrindo os bracinhos para protegê-lo:

_Vocês não vão bater no amigo do meu tio Darlen!

_Neitan, eu já mandei você ir pra dentro..._Marcos falou sentindo que perdia o controle da situação.

Emílio encarava o taxista com os punhos fechados, visivelmente louco para agir e só esperando o sinal verde do patrão.

Uma mulher apareceu correndo  quase sem fôlego:

_Me desculpe, senhor Atalla...eu não pude detê-lo...Vamos pra dentro, Neitan...por favor...

_Neitan, entre logo! _ordenou o pai.

O garotinho não se intimidou daquela vez, talvez por se sentir seguro diante de Lúcio:

_Você e a mamãe mentiram pra mim! Vocês disseram que o tio Darlen estava morto!

Marcos Atalla não sabia como agir, percebendo que o taxista havia feito a cabeça do filho dele.

Lúcio piorou mais ainda a situação:

_Vocês não deveriam mentir para o seu filho desse jeito! Ele adora o tio e o tio também gosta dele! É maldade demais querer separar os dois!

O taxista  ignorou os homens que olhavam para ele de forma ameaçadora, abaixou-se e ficou na altura da criança:

_Toca aqui, amigão!

Neitan tocou a mão do taxista e num impulso abraçou Lúcio que correspondeu sorrindo. 

_Eu gostei muito de te conhecer, garoto!

_Eu também gostei de você, Lúcio. Você parece ser legal como o meu tio Darlen!

Marcos perdeu a paciência:

_Agora chega, Neitan! Vá para o seu quarto e só saia de lá quando eu mandar!

O menino olhou para o taxista como se pedisse socorro, mas Lúcio sabia que já tinha se envolvido demais naquela história e que o mais sensato seria ir embora logo.

_Então prometa que não vai fazer nada contra  o amigo do tio Darlen, aí eu entro! _chantageou  o pequeno.

_Neitan..._Marcos tentou se controlar. _Entre agora!

_E que não vai proibir o meu tio Darlen de me ver novamente quando ele quiser!

O empresário agarrou o filho pelo braço e entregou para a mulher que segurou o pequeno firme e praticamente o arrastou para dentro.

_Eu te odeio pra sempre, papai! _gritou Neitan revoltado. _Se você morrer, ninguém vai chorar de saudades de você, porque você é mau!

Marcos Atalla sentiu o impacto das palavras do filho...especialmente tendo todas aquelas pessoas como testemunhas. 

_Deveria tomar cuidado...Um dia, isso que ele falou poderá se tornar verdade. _ disse Lúcio antes de se afastar.

Marcos admirou a coragem do homem que simplesmente foi andando de costas para o grupo sem nada temer. 

O som de sirenes se fez ouvir cada vez mais próximo. 

_Senhor Atalla, a polícia está chegando... quer que detenhamos ele? _perguntou o motorista quase numa súplica.

_Deixem ele ir. Dispense a polícia, Emílio. _disse frustrando as expectativas de Emílio.

Marcos se virou  sem disposição alguma de entrar e ter aquela conversa com o filho.



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