CAPÍTULO 6-SEGUNDO ENCONTRO COM DARLEN




Lúcio soltou um palavrão quando viu Darlen, irmão do empresário Marcos Atalla,  sentado no banco de trás do seu táxi. 

Será que os irmãos Atalla não o deixariam em paz? Por que haviam implicado com ele, com tantos outros taxistas que rodavam pela cidade?

O taxista havia parado para comprar um lanche e quando retornou já deu de cara com o irmão do empresário que lhe causara tantos aborrecimentos.

Lembrava-se do nome dele, Darlen, e também daquela cara safada. Ele estava  com aquele sorriso de quem iria aprontar novamente. Daquela vez, porém, o taxista já estava prevenido e não baixaria guarda.

Os irmãos Atalla podiam ser ricos, mas isso  não lhes dava o direito de atazanar a vida de trabalhadores honestos que só queriam ficar em paz, Lúcio pensou revoltado.

_Realmente você é muito abusado pra aparecer aqui novamente... Quer dizer que além de palhaço, você também é arrombador? _Lúcio foi logo falando, mesmo antes de entrar em seu carro. 

Darlen levantou ambas as mãos em sinal de paz:

_Culpado, confesso! Eu costumava arrombar o carro do meu pai quando eu era criança, pois ele não me deixava dirigir quando eu ainda não havia tirado carteira. 

Lúcio encarou o homem no banco de trás sem dar o menor sinal de estar gostando da presença dele ali.

Darlen pareceu não perceber que não era bem-vindo ali, pois continuou:

_Realmente eu não fui muito camarada com você no outro dia...Quero pedir que me perdoe pelo transtorno...Especialmente pela postura idiota do meu irmão surtando daquele jeito e quase te ferrando.

Lúcio entrou no carro, olhou pra trás disposto a expulsar o intruso e falou em tom intimidador:

_Cai fora do meu táxi, porque pra mim já deu  desde aquele dia! Quase fui preso por causa da brincadeira de mau gosto de vocês dois e agora você vem me pedir perdão? 

Darlen se defendeu parecendo visivelmente arrependido:

_Eu não tenho culpa se o meu irmão é estressadinho e chamou a polícia pra você... O Marcos tem enfrentado alguns problemas e perdeu o controle da situação. 

_Isso já é problema do seu irmão, eu não tenho nada a ver com isso! Que ele procure um psiquiatra, coisa que eu não sou!

_Pois é... O Marcos está sim precisando do divã de um analista...precisa tomar um floral, talvez...ou tirar umas férias, porque ele trabalha demais!_ Darlen coçou a cabeça parecendo analisar a situação do irmão. 

_Já disse que a vida do seu irmão não é problema meu! Agora, me deixe em paz!

_ Calma, Lúcio...vamos conversar, cara! Eu até tentei te ajudar outro dia, mas não deu tempo...Quando percebi, a polícia já estava chegando...

Lúcio o interrompeu irritado:

_Não, você não fez nada pra me ajudar! Ficou evidente que você foi conivente com o seu irmão! Por isso, novamente eu ordeno que saia do meu carro e desapareça da minha vida agora!

_Não, cara...espera aí...Estou falando sério...A minha intenção não era te prejudicar...eu juro!

Lúcio não deu ouvidos ao seu passageiro inconveniente  e  começou a listar as consequências da omissão de Darlen naquele dia:

_Eu fui algemado...fui jogado na parte de trás de uma viatura de polícia...fui chacoalhado de um lado a outro da viatura...isso sem falar que os meus irmãos e amigos tiveram que interromper o trabalho deles para tentarem me socorrer...

Darlen olhou para Lúcio de mãos postas, implorando por perdão:

_ Vacilo meu, cara...sério...Não sabe o quanto estou arrependido...Eu lamento muito...juro que falo a verdade! Me perdoa, vai? Por favor!

Mais uma vez, Lúcio não deu ouvidos ao seu passageiro indesejável:

_Isso sem falar que a minha mãe quase enfartou naquele dia, pois a pressão dela foi lá nas alturas! Se eu tivesse sido preso realmente, nem sei o que teria acontecido com ela!

_Eu realmente sinto muito pela dona Maria Inês...e confesso que me tornei um grande fã da sua mãe, Lúcio! Parecia uma leoa defendendo a sua cria! Fiquei até emocionado vendo a cena!

Lúcio queria esganar o irmão de Marcos Atalla!

_Então quer dizer que você estava lá...presenciou tudo e não falou nada pra me defender? 

_Claro que eu estava lá! 

O taxista explodiu indignado:

_E então por que não me defendeu, cara? Você viu que eu não fiz nada de errado! Você viu que eu era inocente!

_Já disse que tentei ajudar, mas não deu pra impedir o meu irmão de chamar a polícia...simplesmente perdi o controle da situação, confesso. 

Lúcio pegou o celular decidido a tomar uma atitude mais severa contra Darlen Atalla:

_Pois agora quem vai chamar a polícia sou eu, porque eu não vou ficar aqui esperando novamente você atrapalhar a minha vida...Isso se não roubar o meu carro, só pra se lembrar do tempo em que você roubava o carro do seu pai!

_Calma, cara...eu sou de paz...não te quero mal..._ Darlen ainda tentou. _Só quero ser o seu amigo...A gente vai se dar bem, você vai ver...

_Você vai sair daqui por bem ou por mal! Nem que eu precise te tirar à força, você vai sair...ah, se vai...

Naquele momento, um colega de Lúcio também parou perto da lanchonete e o taxista se distraiu tempo suficiente para olhar pelo retrovisor no minuto seguinte e perceber que Darlen já não estava mais lá.

_O desgraçado já deu o fora! Só veio aqui para me atormentar mais uma vez! 

Inicialmente, Lúcio ficou surpreso com a rapidez com que o seu passageiro inconveniente havia ido embora, mas, no minuto seguinte, lembrou-se que ele realmente devia ser bem habilidoso em entrar e sair dos carros, pois também na primeira vez ele havia entrado sem ser notado.

O amigo de Lúcio  veio até ele puxando conversa:

_E aí, Lúcio? Movimento fraco hoje? Tá até falando sozinho?

_Sozinho nada, Antenor. Tinha um capeta até agorinha mesmo aí no banco de trás...Você acredita que aquele cara, irmão do tal de Marcos Atalla, apareceu de novo?

O outro taxista não disfarçou a revolta:

_Não acredito...Aquele que não te defendeu quando o irmão chamou a polícia pra você, te acusando de tentativa de sequestro?

_O próprio...tão filho da mãe quanto o irmão!

_E o que ele queria? Gozar um pouco mais da sua cara, Lúcio?

_Pelo jeito, ele queria repetir a dose e confesso que a minha mão estava coçando pra eu mesmo tirar aquele sorriso sacana da cara dele!

_Filho da mãe... _o taxista falou olhando em volta a fim de vasculhar o local e percebendo que provavelmente  Darlen não estava mais ali. _Devia ter alguém de carro esperando por ele e os dois evadiram rapidamente, porque nem sinal do maldito, Lúcio! 

Lúcio também ficou intrigado com a rapidez que aquele homem desapareceu e desabafou com o colega de trabalho:

_Ele arrombou o meu carro, sentou-se aí no banco de trás e ficou jogando conversa fora me fazendo perder o meu tempo...Claro, já estava querendo me levar na lábia...Mas isso não vai acontecer de novo não...o que é dele está guardado e uma hora dessas ele acha o que merece.

O amigo, vendo o quanto Lúcio estava alterado, colocou a mão no ombro do rapaz e tentou acalmá-lo:

_ Fica assim, não, Lúcio... Gente como estes dois irmãos Atalla não merece que você se aborreça deste jeito... São dois riquinhos que não têm um boleto pra pagar no final do mês e aí precisam inventar algo pra passar o tempo!

_Exatamente isso! Dois desocupados que não têm nada melhor pra fazer do que ficar desrespeitando gente de bem!

_Você precisa pegar pesado com eles...sem dó! Você  deveria ter chamado a polícia, colega, e denunciá-lo pelo arrombamento!

_Mas era isso o que eu ia fazer, se ele não tivesse simplesmente evaporado quando eu falei que iria chamar a polícia.

_ Ixi! Deve ter a ficha suja, por isso fugiu!

_Ah, com certeza...foi só ouvir falar em polícia e ele escapou...você está certo...deve ter algum rolo...vai ver até já foi denunciado por algum outro infeliz que caiu na lábia dele...

 _A gente devia é se unir, ir lá na delegacia, falar com aquele delegado amigo  da sua mãe para dar uma prensa neste cara.

Lúcio suspirou desanimado:

_Duvido que daria algo para aqueles dois...Gente rica, você sabe...Talvez até me processassem por perseguição, sei lá. Deixe pra lá. Espero que ele tenha entendido que eu não estou brincando e me deixe em paz. 

_Também espero, porque se algo daquele tipo acontecer uma segunda vez por causa desses dois safados, acho que dona Maria Inês vai arrancar a cabeça deles!

Lúcio não tinha dúvidas sobre isso, afinal, o pai Roberto Carlos até podia ser mais manso, mas a mãe Maria Inês sempre dizia:

_Eu dou um boi pra não entrar numa briga, mas dou uma boiada pra não sair quando mexem com os meus filhos!

_Se eu fosse você, já passava lá na delegacia, falava com este delegado que é amigo da sua mãe e resolvia isso logo! Já registrava  um B O (*boletim de ocorrência) contra este tal Atalla folgado!

Lúcio avaliou a sua situação...Em breve parecia que seus dois irmãos mais velhos  iriam se casar e sair de casa, mas ele, ao que parecia, não o faria tão cedo. Porém, não queria ser um peso para os pais, muito menos envolvê-los em sua vida profissional e na resolução de seus problemas. 

_Quero a minha mãe fora disso, Antenor. Isso é assunto meu e eu não vou usar da amizade dela com este tal delegado pra me favorecer de jeito nenhum! 

_ Você é quem sabe... Então eu vou indo, colega e vou ficar ligado...É só você me dar um toque no celular que eu já vou chegar com a frota toda pra dar uma lição naqueles dois...Se fosse comigo..._o taxista cochichou no ouvido de Lúcio. _Teria passado fogo nos dois vagabundos e desovado na beira da estrada! Não é a toa que já ando armado o tempo todo pra me defender...

Lúcio ficou chocado com aquela sugestão do colega.

Antenor, percebendo o choque do filho de dona Maria Inês, achou que já havia falado demais...melhor ir embora cuidar da própria vida. Antes, porém, se defendeu:

_Você ainda é solteiro, mora na casa dos seus pais, tem a vida mais tranquila...eu não, Lúcio. Tenho esposa, dois filhos pequenos...são três bocas pra eu tratar. Acha justo deixar que dois vagabundos desses ferrem comigo? Eu passava fogo sem pensar duas vezes! Tiveram foi sorte por  terem entrado no seu táxi...você é manso demais, Lúcio...daqui a pouco, até já perdoou. Comigo teria dado ruim pra eles...ah se teria...

Quando Lúcio finalmente saiu do posto de gasolina, decidiu tentar esquecer tudo aquilo...esquecer Marcos Atalla...Darlen Atalla...toda aquela confusão na delegacia...todo aquele pesadelo...e torceu para nunca mais precisar se encontrar com nenhum dos dois irmãos Atalla.


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