Marcos estava trêmulo, quando abriu o resultado do exame de DNA.

Ele já tinha decidido que mesmo que Neitan não fosse o seu filho, assim mesmo o manteria sob os seus cuidados, pois sentia que gostava realmente do garoto e o sentimento parecia recíproco. 

Neitan estava se mostrando uma criança muito especial. Estava  mais carinhoso, mais amoroso com todos e chegava a deixar o empresário com um sentimento de culpa, por um dia ter  pensado em manter por mais tempo o filho longe dele e mais perto da mãe, quando Valéria ainda estava viva.

O empresário sentiu um alívio enorme quando confirmou que era o pai de Neitan!

Uma euforia, um alívio  e um entusiasmo tão grande o envolveram que ele simplesmente deu ordens para que a secretária cancelasse todos os compromissos do restante daquele dia.

Marcos pegou o filho na escola, o que deixou Neitan surpreso, levou-o num shopping, encheu Neitan de presentes e a todo momento criava situações para ter a oportunidade de chamá-lo de filho. 

O pai de Neitan não havia percebido a real dimensão daquilo...ele estar criando o filho de uma traição daquela magnitude  estava mexendo com ele mais do que ele admitia.

Vários dias haviam se passado desde a última vez em que ele tinha visto Lúcio e, certamente, aquela boa notícia sobre Neitan era um bálsamo para aliviar a sua dor pela separação do homem pelo qual estava apaixonado.

À medida que o tempo passava, o empresário só confirmava que  independente do que Lúcio havia feito...independente dele ter envolvido tanto Neitan quanto a sua mãe naquele jogo de mentiras absurdas, nada disso parecia importar naquele momento.

A mãe, fã confessa do taxista, havia retomado aquela discussão com o filho e havia repetido várias vezes que tinha sido ela a ir atrás de Lúcio e que ele não tinha nada com a decisão que ela tinha tomado de procurar um centro espírita a fim de tentar fazer contato com  Darlen. 

Marcos havia adiado  a conversa  com o pai a respeito da postura da mãe.  Ele temia a reação de Júlio Atalla,  que iria brigar com a esposa,  e também tinha receio que a partida dos pais pudesse interferir na sua relação com Neitan.

Uma noite em que Cristina Atalla saiu de casa, Marcos pegou o carro e a seguiu, indo dar justamente em frente ao centro espírita  de dona Rosa. 

O filho ficou num lugar discreto e observou o quanto a mãe já parecia estar entrosada com aquelas pessoas que chegavam. Todos cumprimentavam Cristina com carinho.

Dava pra ver que o grupo havia chegado mais cedo, justamente para poderem se encontrar antes dos trabalhos no centro espírita, o que deixou claro para Marcos que a mãe havia falado a verdade na conversa que haviam tido.

_É como se fôssemos todos uma única família. _ ela havia dito com a expressão emocionada. _ Todos são amigos...todos se respeitam...Me sinto muito bem lá, como não me sentia há muitos anos, Marcos. É como se a ferida deixada pela partida do Darlen tivesse simplesmente cicatrizado. Lúcio pra mim é como um filho e eu sinto que ele também gosta muito de mim. Por favor, não comente nada com o seu pai, filho, pois realmente eu estou disposta a fixar residência no Brasil justamente por causa do centro espírita  de dona Rosa.

Marcos ficou surpreso com o próximo anúncio feito pela mãe:

_Eu mesma já estou providenciando uma casa pra eu e o seu pai morarmos. Claro, estou esperando o melhor momento pra dar a notícia pra ele de que decidi não voltar mais  para os Estados Unidos.

Marcos havia ficado impactado com aquela conversa, pois realmente dava pra ver o quanto Cristina Atalla havia mudado depois que havia começado a frequentar o tal centro. Ele sabia que não tinha o direito de tirar aquilo dela por simples capricho.

Assim que viu Lúcio chegando com dona Maria Inês, o empresário admitiu que seguir a mãe até ali  só tinha sido um pretexto para ver o homem pelo qual estava apaixonado. 

Lúcio era abordado por todos e às vezes o cercavam de tal forma que Marcos o perdia de vista. Foi num desses momentos que ele desapareceu, deixando o empresário agoniado. Será que ele já tinha entrado no centro espírita?

O susto foi enorme, quando Lúcio bateu na lateral do carro que Marcos dirigia.

Pego em flagrante, o empresário ficou extremamente constrangido. 

O taxista fez um sinal para que ele abrisse a porta e Marcos sentiu o seu corpo praticamente implorar pelo toque daquele homem.

O perfume másculo de Lúcio e a força da presença do taxista fez com que o empresário imediatamente ficasse nervoso, sem saber o que dizer...onde colocar as mãos...pra onde dirigir o olhar. 

Lúcio, se percebeu alguma coisa, soube disfarçar muito bem. 

_Por que não entra um pouco? _ convidou o taxista com um sorriso amigável.

_Eu? Não...só estou de passagem... _mentiu. _Estava dando uma volta e vi a minha mãe passando. Vim atrás dela e dei de cara com ela chegando aqui.

Lúcio despistou um sorriso, pois tinha sido Darlen a contar que o irmão tinha ido ali com a intenção de vê-lo. 

_Eu vou atrás dele, Darlen! _ Lúcio havia dito num momento de agonia.

_Não, você não vai. _Darlen tinha sido firme. _Espere que ele venha atrás de você, Lúcio. 

_E se ele não vier? _ Lúcio havia perguntado  aflito.

_Ele virá, eu lhe garanto!

O filho de dona Maria Inês esperou que Marcos falasse primeiro.

_O resultado do exame de DNA ficou pronto. _ Marcos falou se sentindo um idiota, pois era óbvio que a mãe já tinha contado pra Lúcio.

_Ah, ficou? Que bom!

Marcos alisou o volante do carro, visivelmente nervoso, tentando não olhar para Lúcio...temendo perder o controle, se jogar sobre o taxista e implorar que ele o desculpasse.

_Pois é...o Neitan é mesmo o meu filho.

_E aí? Ficou feliz?

_Claro que fiquei!

_Feliz porque descobriu que não foi traído pelo seu irmão e pela sua esposa, ou feliz porque gosta do Neitan?

Marcos deu um sorriso desconsertado:

_Confesso que pelas duas coisas. Eu nem estava conseguindo dormir direito pensando nisso...admito que estava simplesmente pirando pensando que...

Lúcio tomou a iniciativa, agarrou o empresário e o calou com um beijo apaixonado!

Marcos se entregou àquela deliciosa manifestação de desejo do taxista e correspondeu ao beijo com a mesma intensidade. 

O empresário não quis pensar em mais nada e acreditou que na sequência poderiam sair dali e ir para um outro lugar onde poderiam matar as saudades.

_Eu não estava mais aguentando de saudades, Lúcio! Achei que iria morrer! Você me tira do sério, cara...me deixa louco de tesão! _ falou Marcos sem se conter e não se importando com o que o outro poderia pensar. 

_Eu também estava morrendo de saudades, meu querido! _ Lúcio confessou.

Quando Marcos se preparava para abrir o zíper da calça de Lúcio, porém, o taxista o deteve, mesmo já estando ofegante e visivelmente cheio de tesão. 

Aquele ato de segurar a  mão do amante  a fim de impedir que aquela carícia continuasse doeu fundo em Marcos!

_Eu quero você, Lúcio! Eu preciso te sentir novamente dentro de mim! Vamos sair daqui...vamos pra outro lugar...eu estou carente de você! _ disse Marcos suplicante e  já rouco de desejo.

Lúcio, porém, tentava recuperar o controle respirando fundo e se justificou:

_Esta noite eu não posso, meu querido. ..eu sinto muito...

Marcos o encarou decepcionado:

_Mas por que não? Você não me quer?

Lúcio fez um carinho no rosto do homem amado...roçou os lábios nos dele...

_Você não imagina o quanto te desejo, Marcos...mas tenho um compromisso muito sério com a casa! _ disse apontando para o centro espírita. _Eu vou trabalhar no centro esta noite  e dentre outras coisas, prefiro não fazer sexo antes de dar passes nas pessoas necessitadas.

Marcos afastou-se indignado e encarou o amante:

_Espere aí...você está me dizendo que não me quer porque prefere ir benzer as pessoas, é isso?

_Eu já assumi um compromisso esta noite...Eles estão contando comigo!

_ Vi umas trinta pessoas ali, Lúcio! Que alguém te substitua! _Marcos desabafou inconformado.

_A casa está cheia, estamos com pouca gente para atender...Muitas pessoas vieram de longe...Não posso fazer isso com elas.

Marcos afastou-se do taxista se sentindo extremamente rejeitado e humilhado por isso!

_E por que você veio até aqui me atiçar pra depois ir embora me deixando deste jeito?

_ Desculpe...você está certo...fiz errado. _ Lúcio falou humildemente. _ Não deveria ter vindo aqui te ver, até porque já estava me  concentrando para atender as pessoas...me preparei o dia todo pra isso. Confesso que era pra ser apenas um beijo, Marcos e eu achei que poderia te convencer a entrar um pouco...receber um passe...ver o trabalho que realizamos aqui...

Marcos não disfarçou a raiva que sentiu:

_Ah! Então quer dizer que você não está satisfeito de enfiar a minha mãe nesta sua seita e agora também quer que eu entre nela?

Lúcio sentiu logo que a energia do carro havia mudado e viu Valéria no banco de trás, sorrindo pra ele.

_Eu nunca vou deixar que vocês dois fiquem juntos! _ Valéria falou com a expressão vingativa.

Percebendo que o taxista havia focado um ponto no banco de trás, Marcos apelou:

_O que foi? Está vendo algum fantasma no banco de trás? Vai me dizer que é quem? O Darlen...a Valéria...O meu avô, talvez!

Valéria caiu na gargalhada:

_Acho que vai faltar espaço aqui atrás, Lúcio!

O médium percebeu que a falecida ex-esposa de Marcos parecia ela mesma estar invocando outros espíritos sem luz que foram chegando e cercando o carro de forma assustadora.

Marcos esmurrou o volante do carro já completamente alterado:

_Vai, pode rir na minha cara, seu puto! Vim aqui feito um trouxa, me expus deste jeito pra você e agora levo um belo pé na bunda pra voltar pra casa chupando o dedo! 

Lúcio tentou se concentrar...dar um passe em Marcos aproximando a mão, mas foi rejeitado pelo empresário com brutalidade.

_Não me toque, porque eu não sei mais quem é você que prefere se juntar a esta gente e dar as costas ao nosso amor!

Valéria fez uma careta enojada:

_Acho que vou vomitar!

Lúcio, sentindo a energia pesada demais  ali dentro, começou a ficar aflito...um mal-estar parecia sufocá-lo...vultos pareciam tentar invadir o carro...ele sentiu medo!

_Darlen... _ chamou sem mesmo perceber. _Onde está você?

_Não acredito! Você está chamando pelo meu irmão? Agora foi demais!

Marcos, influenciado pelo espírito de Valéria, expulsou Lúcio de seu carro:

_Desça deste carro e me deixe em paz, Lúcio!

O médium, porém, esforçou-se para convencer o outro a ficar:

_Espere, Marcos...Eu preciso que você fique...preciso que você me escute...Não pode ir embora deste jeito...

_Ele quer te arrastar lá pra dentro, seu imbecil...vai fazer uma lavagem cerebral em você, como fez em Neitan e na sua mãe... _ instigou Valéria.

_Saia, já disse!_ Marcos berrou.

Lúcio percebeu que sozinho não daria conta de resolver o que estava acontecendo ali, especialmente porque estava emocionalmente envolvido demais e não conseguia se concentrar. Queria ter tido tempo de chamar dona Rosa, médium bem mais experiente, mas não deu.

Marcos foi embora deixando Lúcio em pânico, por saber que ele estava sozinho com Valéria e os parceiros dela. 

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