Marcos acordou no dia seguinte se sentindo um lixo.

Tomou um banho gelado...ingeriu dois analgésicos para a dor de cabeça pesada e tentou lembrar-se do que havia acontecido na noite anterior.

Lembrava-se nitidamente de tudo, o que o impressionou bastante.

Ele havia feito a idiotice de ingerir álcool na tentativa de esquecer por um momento a grosseria que tinha feito com Lúcio.

O empresário lembrou-se que na tentativa de se afastar das pessoas que queriam comemorar junto com ele o sucesso do negócio que iriam fechar com o americano, ele havia se isolado  no escritório.

Lúcio não saía da sua cabeça...Lúcio simplesmente dominava todos os pensamentos de Marcos e ele o desejou como nunca havia desejado outra pessoa em sua vida! Era uma exigência da carne e algo quase que vital!

Ele lembrou-se que provavelmente sob o  efeito do álcool,  tinha tido um desejo meio louco...uma vontade de tirar toda a roupa...ir ao local onde os pais recepcionavam os visitantes...gritar para que todos fossem embora dali, porque ele precisava descobrir como iria se desculpar pela besteira que havia feito com o homem pelo qual estava apaixonado!

Marcos tinha a certeza de que a sua postura no final da noite anterior havia chamado a atenção das pessoas que ainda estavam ali e que certamente havia prejudicado o pobre Lúcio. 

Apaixonado...definitivamente ele estava apaixonado pelo taxista e naquele momento ele se sentia um adolescente capaz de jogar tudo pra cima só pra ter a oportunidade de ver Lúcio mais uma vez!

Marcos lembrou-se que aproveitando a privacidade do escritório e também sob o efeito do álcool que o havia deixado mais solto, ele havia se permitido sonhar um pouco... e se permitiu acariciar o próprio corpo...fingir que eram as mãos de Lúcio...gemer chamando por Lúcio e gozar com tudo só  por sentir todo aquele tesão por  Lúcio!

O empresário lembrou-se que tinha sido encontrado pela mãe naquele estado vergonhoso, deplorável! Ela o havia ajudado a chegar na cama, tomando o cuidado para não chamar a atenção de ninguém! Ele sabia que a mãe devia ter se desculpado por ele com os visitantes pela ausência do filho no final das comemorações.

Quando Marcos saiu de casa naquela manhã, ele já tinha tudo planejado...Encontraria George na parte da manhã  para acertar tudo e depois daria um jeito de ir atrás de Lúcio.

O que havia acontecido entre os dois  no banheiro tinha sido forte demais para ignorar! O que havia acontecido na mesa tinha sido grosseiro o bastante para ele  não tentar  se desculpar! O que tinha acontecido no escritório, mesmo que fosse sob o efeito do álcool,  tinha sido intenso o bastante para ele não investigar quais eram os seus reais sentimentos em relação ao taxista!

Estava tudo traçado em sua mente...Primeiro, ele  se desculparia com o taxista...depois procuraria fazer com que Lúcio esclarecesse, numa boa, o porquê de ter inventado que via Darlen e o porquê de ter influenciado Neitan  para que também  pensasse que estava vendo o tio! Também iria perguntar o que Lúcio  estava fazendo naquele evento na noite anterior, pois duvidava que aquilo tinha sido apenas uma coincidência. Tantas  perguntas e praticamente nenhuma resposta, admitiu o empresário!

Lúcio também  acordou no dia seguinte se sentindo um lixo!

Também tomou um banho gelado na tentativa de clarear os pensamentos naquela manhã. 

O taxista ainda podia se lembrar nitidamente das ameaças de Valéria e temia por Marcos!

Marcos havia sim sido indelicado com ele no final da noite, mas agora Lúcio sabia que era porque o empresário  acreditava que tinha perdido aquele negócio milionário com o americano devido aos minutos a mais que ele havia  passado no banheiro. 

Lúcio tentou trabalhar no período da manhã, mas Marcos não saía da sua cabeça...Marcos  simplesmente dominava todos os pensamentos de Lúcio  e ele também  o desejou como nunca havia desejado outra pessoa em sua vida!

O taxista tentava se controlar para não dirigir até a empresa de Marcos, procurar por ele nem que para isso precisasse invadir o local! Lúcio  estava apaixonado e sabia que um homem apaixonado como ele  faria de tudo pela simples  oportunidade de rever a pessoa amada pelo menos mais uma vez!

Valéria, sem saber, havia lhe dado aquele presente tão desejado! Então Marcos havia se masturbado pensando nele, havia chamado o nome dele enquanto gozava, havia desejado ele certamente tanto quanto o taxista também o desejava!

Lúcio esperava que tudo tivesse dado certo no final...esperava que aquela maldita interferência de Valéria não tivesse provocado qualquer cena inconveniente  para o seu amado Marcos.

Era muito importante para Marcos aquele contrato e foi por isso que Lúcio controlou-se dando tempo para que ele e o tal George se encontrassem naquela manhã a fim de finalizarem aquela transação.

Era estranho demais aquilo tudo...Por que será que o americano havia ido embora sem falar com Marcos e depois havia aceitado fazer acordo com ele? Realmente aquilo deixava Lúcio curioso.

Enquanto dirigia contando as horas que faltavam para passar do meio-dia...poderia até ser no final da tarde,  se ele suportasse esperar mais, Lúcio também lembrou-se do episódio no banheiro. Aquilo tinha sido realmente marcante,  inesquecível! Algo tão sutil e tão forte ao mesmo tempo! Algo tão forte que ele nem faria questão de ouvir um pedido de desculpas de Marcos...bastava estar perto dele e tudo já seria esquecido, Lúcio tinha certeza!

Lúcio sabia que não dava pra confiar em Valéria, mesmo entendendo que ela não teria por que mentir sobre o que havia visto e ouvido na noite anterior, mesmo assim, ele queria estar frente a frente com Marcos para que o empresário admitisse que havia rolado uma química gostosa entre os dois. 

O taxista esmurrou o volante do carro, enquanto mordia o lábio inferior, desejando aquele homem com tanta intensidade que chegava a doer!

Lúcio decidiu que não poderia realmente esperar mais...não dava pra esperar o dia seguinte...seria naquele dia mesmo, ou ele  enlouqueceria!

O taxista listou tudo o que precisariam conversar...Ele esperava que Marcos  no mínimo revelasse como havia conseguido fechar o acordo com o americano. 

Lúcio sabia que tinha que se controlar, pois era prioridade máxima, conforme havia combinado com Darlen na véspera, novamente tentar convencer Marcos de que Neitan era filho dele...ele ainda não sabia de que forma também precisaria revelar que ele e Neitan estavam sim vendo Darlen...e na sequência, a pior parte! Ele precisaria revelar o que Valéria estava tentando fazer e também alertar sobre  as ameaças dela!

Darlen havia dito uma coisa que convenceria Marcos de que realmente o espírito de Valéria o havia visitado. 

Lúcio sabia que precisaria revelar a Marcos que Valéria o vira se masturbando e chamando pelo seu nome! Aquilo sim provaria para o empresário que ele estava sendo influenciado pelo espírito da ex-esposa que o odiava  e que assim como Valéria podia ainda estar vagando pelo mundo dos vivos, também Darlen podia fazer o mesmo!

A certeza de que finalmente tudo seria esclarecido havia dado um certo alívio ao taxista. Ironicamente tinha sido Valéria a fornecedora de uma prova incontestável de que os mortos podiam sim visitar e também  influenciar o mundo dos vivos! 

Assim como Lúcio, também Marcos decidiu sair à tarde, logo após o meio-dia,  para ir atrás do homem que tanto desejava!

Assim como Lúcio, também Marcos decidiu que precisava esclarecer tudo o mais rápido possível, ou não teria paz!

Os dois não saberiam dizer se aquele encontro num posto de gasolina, Lúcio com o táxi na frente e Emílio estacionando logo atrás, tinha sido uma coincidência ou providência divina!

Marcos viu o táxi na frente do seu carro, identificou a placa e  sentiu o coração disparar quando tomou aquela decisão de não perder a oportunidade de encontrar-se ali mesmo com Lúcio!

Foi adrenalina pura que invadiu o empresário naquele momento surreal!

_Vou descer aqui, Emílio e você pode ir embora!

O motorista achou que o patrão estava louco, mas obedeceu sem questionar ao destravar a porta para que ele descesse.

O taxista abriu a boca surpreso quando viu aquele homem praticamente se materializar ao  lado do seu carro, batendo na porta para que ele a abrisse,  como se fosse um milagre! Obviamente Lúcio  destravou a porta para que Marcos  entrasse!

Enquanto acalmava o coração diante daquela cena surreal, Lúcio pagou pelo serviço do frentista.

O filho de dona Maria Inês manobrou o carro em silêncio  para fora do posto de gasolina, enquanto o seu passageiro parecia ter se paralisado no banco do passageiro.

Marcos se perguntava naquele momento que loucura era aquela que tinha feito em dispensar o seu motorista e arriscar-se a ser expulso do táxi daquele homem que deveria no mínimo estar com raiva dele pelo que tinha acontecido na noite anterior.

_Bem...me desculpe...eu não queria invadir o seu táxi desse jeito... _ Marcos gaguejou perdido diante do silêncio do outro. 

_Boa tarde! Quer que eu o leve aonde, senhor? _ Lúcio tentou soar profissional.

O que Marcos  esperava ouvir de Lúcio? Nem ele mesmo sabia!

_Não...eu não entrei aqui para que você fizesse uma corrida pra mim...não foi pra isso que vim... aliás, pra falar a verdade...nem sei mais por que vim... ou o que estava  pensando quando eu entrei no seu táxi... _ Marcos se confundiu todo, pois não conseguia pensar direito naquele momento...tão próximo daquele homem!

Lúcio decidiu  que não iria ajudar Marcos a se explicar, pois o empresário  estava fofo demais  desconsertado daquele jeito!

_Nós precisamos  conversar! _ disse Marcos com ênfase exagerada. _E tem que ser agora, Lúcio! 

_Precisamos? _ perguntou Lúcio se fazendo de desentendido.

Marcos sentiu as mãos suando,  temendo parecer ridículo demais diante daquele homem que mexia tanto com ele!

_Você sabe que sim! _Marcos falou quase gritando.

Lúcio sentiu uma ternura imensa pelo homem ao seu lado naquele momento! Resolveu ajudá-lo finalmente, pois dava pra ver o quanto Marcos estava nervoso!

_É...eu sei que sim. Quer ir a algum lugar em especial?

Marcos olhou para Lúcio praticamente em pânico diante da possibilidade do outro ter pensado que iriam para um motel!

_Não! _ respondeu meio agoniado. _Não quero ir com você para nenhum lugar especial!

Lúcio olhou para o outro controlando o riso:

_Não? Então quer que fiquemos apenas rodando pela cidade?

_Sim...quer dizer...sei lá! _ Marcos se enrolava com as palavras. _Só nos leve a um lugar onde possamos conversar sem ninguém nos incomodar, ok?

Lúcio deu de ombros:

_Ok... O senhor é quem manda, senhor Atalla!

Marcos não gostou do tratamento...sentia necessidade de que Lúcio mais uma vez falasse o seu nome para ele ter certeza de que o taxista  realmente estava ali tão próximo.

Aquelas mãos enormes  ao volante...a calça  que deixava o contorno das pernas bem visíveis...uma camisa que se ajustava aos braços fortes e bem torneados e ao bíceps à medida que Lúcio ia movimentando os músculos...e que músculos...que rosto...que boca!

Marcos já não sabia se aquela tinha sido uma boa ideia...tinha sido? Ele não sabia mais de nada!

Quando Lúcio parou numa área tranquila fora do movimento da cidade, ele também já não tinha mais ideia do que precisava falar com Marcos!

Por alguns minutos,  ambos ficaram em silêncio...apenas olhando pra frente, como se esperassem que algo fosse surgir ali.

_Aqui está bom? _Lúcio  perguntou finalmente. _ Se quiser podemos ir pra outro lugar...

Marcos não deu tempo para que Lúcio falasse mais nada, pois livrou-se rapidamente do cinto de segurança e voou para cima do taxista como se dependesse daquilo para sobreviver!

Lúcio não deixou o outro esperando e também abriu o cinto de segurança e agarrou o empresário o envolvendo com os braços fortes e cheios de desejo!

As bocas praticamente se chocaram com violência sentindo fome uma da outra...uma necessidade desenfreada de devorar uma a outra num beijo apaixonado que parecia ter demorado demais pra acontecer!

Marcos agarrou o rosto do homem amado firme com ambas as mãos, pois queria olhar para aqueles olhos quando falasse aquilo:

_Eu não sei o que você fez comigo, Lúcio...só sei que não consigo pensar em outra coisa senão em você... Você me tira do sério e me faz perder o juízo!

Já Lúcio não conseguia falar mais do que o nome do empresário:

_Marcos...Marcos... Marcos...

O empresário viu o sonho da noite anterior se realizando quando o taxista acariciou todo o seu corpo e não houve um único centímetro de sua pele  que não estivesse implorando por aquele toque...por aquela boca úmida e morna que roçava suavemente por onde passava...

Marcos gemeu fechando os olhos deliciado, sentindo o quanto Lúcio o desejava e o quanto ele era carinhoso.

_Você é gostoso demais, Lúcio e eu quase enlouqueci ontem à noite depois que...

Lúcio não deixou Marcos terminar a frase, pois precisava beijar a boca do empresário novamente ou iria enlouquecer!

Os dois se entregaram ao momento sem pressa...sem pressão...sem cobranças da parte de nenhum dos dois.

Não houve medo de alguém chegar...não houve necessidade de, naquele primeiro contato irem mais além ali mesmo...dentro do carro...em plena luz do dia!

Eles não queriam transar naquele primeiro momento e não precisavam de mais nada,  porque daquele jeito já estava muito  bom...já estava perfeito...já estava satisfatório, prazeroso... Sabiam que não eram dois animais no cio, sabiam que aquele não era um bom lugar para se entregarem completamente um ao outro.

Carinhos...gemidos...declarações sussurradas...Aquele foi um momento mágico que eles queriam que tivesse durado pra sempre! Ali...juntinhos, um nos braços do outro...seguros de que era ali que queriam estar, simples assim.

Marcos não pediu desculpas e não perguntou sobre Darlen ou contou como havia fechado o negócio com George...

Lúcio não falou de Valéria e nem alertou Marcos sobre ameaça alguma, ou mesmo insistiu que Neitan era sim o filho do empresário...Parecia que nada daquilo tinha mais importância! Não naquele momento só dos dois e sabiam que muitos outros encontros aconteceriam a partir daquele dia!

Marcos e Lúcio  deixaram o encanto daquele momento envolver os dois corpos de maneira tão intensa, que acreditaram que estavam protegidos do restante do mundo! 

Eles não perceberam que alguém os olhava e não estava gostando do que estava vendo!

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