CAPÍTULO 36-QUESTIONAMENTOS




Lúcio não se importou quando o homem que o contratou apareceu visivelmente irritado para perguntar o que havia acontecido com o senhor Atalla que ele havia saído tão nervoso.

O taxista não estava se importando se aquele homem iria ou não pagar pela noite, pois, afinal de contas, ele tinha ido ali especialmente para encontrar-se com Marcos e o pagamento pelo seu trabalho  só seria um bônus.

Lúcio saiu deixando o contratante falando sozinho, sem acertar com ele e ignorou os olhares dos colegas que pareciam criticá-lo por terem visto o novato contrariar  um dos clientes justamente no final do evento.

Ele foi para o ponto de ônibus ainda confuso com tudo o que tinha acontecido.

Antes de sair, havia perguntado a um colega o que tinha  acontecido e juntando as informações ficou claro que o homem que estava sentado conversando com Marcos não era o tal americano e sim um concorrente da Cosméticos Atalla.

Osvaldo Magalhães, Lúcio ficou sabendo, estava ali provavelmente para se regozijar diante do outro que havia perdido o encontro com o americano.

Foi assim que Lúcio ficou sabendo que Osvaldo tinha acompanhado o americano até a porta após vê-lo saindo do banheiro masculino.

Não precisava ser um gênio pra deduzir que provavelmente o homem havia visto o dono da Cosméticos Atalla preferindo gastar o seu tempo conversando com um dos garçons no banheiro do que esperando por ele.

Mesmo se tivesse sido aquilo, Lúcio avaliou tentando entender o que tinha acontecido, ele não se conformava com Marcos tendo o tratado daquela forma grosseira depois de um momento tão bonito quanto o que tinham vivido.

Então o que havia acontecido no banheiro não tinha significado nada para o pai de Neitan?

Será que Lúcio havia entendido mal  quando pensou que o empresário também estava interessado nele?

O passe espiritual que ele tinha dado em Marcos então não havia servido pra nada?

Será que Darlen não havia cumprido a sua parte no acordo que era distrair Valéria e a ex-esposa de Marcos tinha ferrado com tudo?

Como se tivesse sido chamada, a falecida apareceu ao lado de Lúcio:

_Marcos se fodeu  mesmo com o gringo lá, você viu? Está cuspindo marimbondos e sobrou até para o puxa saco do Emílio! 

Aquele tom maldoso...aquele sorrisinho de vitória...então tinha sido mesmo ela a estragar tudo naquela noite?

Lúcio queria jogar na cara dela que ela já estava morta e que deveria seguir o seu rumo, mas estava sem disposição para tanto...especialmente porque temia a reação que ela teria ao saber daquilo.

_E ainda teve que tolerar aquele vadio do Osvaldo Magalhães rindo da cara dele. A vida toda aqueles dois disputaram o primeiro lugar no mercado dos cosméticos e agora, finalmente, o Osvaldo vai desbancar o Marcos! A Cosméticos Atalla deu o primeiro passo em direção ao abismo! _ ela gargalhou.

Darlen também apareceu ao lado de Lúcio,  mas novamente Valéria não o enxergou.

_Mas o que ela ainda está fazendo aqui? _ Darlen perguntou incomodado, mas  Lúcio ignorou.

O filho caçula dos Atalla não entendeu aquela postura de Lúcio.

_Ei, calma aí, cara...a gente precisa conversar...Algum problema, Lúcio? 

_Não estou a fim de conversar! _ disse Lúcio sem olhar para Darlen.

Como nas vezes anteriores, Valéria entendeu que o comentário era pra ela:

_Eita, que você também parece nervosinho hoje...O que foi? Não conseguiu ajudar o seu amiguinho  Marcos, adivinhei?

_Cale a boca! _ Lúcio e Darlen falaram ao mesmo tempo, mas, claro, Valéria só escutou Lúcio.

_Tudo bem, já estou indo...Já fiz o que precisava por hoje. Depois a gente se vê.

Valéria desapareceu e só ficou Darlen.

_Você me enganou... _começou o taxista magoado.

_Eu não te enganei...

Lúcio interrompeu a fala do outro:

_Enganou sim! Você prometeu afastar esta peste pra dar uma chance do Marcos fechar o negócio com o americano...

Foi a vez de Darlen interromper Lúcio:

_Mas eu afastei!

Lúcio ignorou o comentário de Darlen e continuou:

_Além do mais, você  não impediu que o tal George fosse embora antes do tempo...antes de falar com o seu irmão, Darlen! Dei o passe no Marcos, ele estava bem, estava pronto para fechar o negócio e quando voltou pra mesa, o cara não apareceu...Agora Marcos perdeu o contrato, foi humilhado pelo seu maior concorrente e está colocando a culpa em mim!

Darlen ignorou a maioria das  informações e focou no principal:

_Mas por que o meu irmão  está colocando a culpa em você, Lúcio? Não entendi!

_Porque trocamos umas duas palavras no banheiro e por conta disso ele acredita que o atraso foi suficiente para perder a chance de falar com o tal George!

_Então vocês dois conversaram? Sério? Me conta aí como foi! _ Darlen parecia animado.

Lúcio não iria dividir aquilo com o outro...ele não iria dividir aquilo com ninguém, afinal, começava a acreditar que tudo podia ter sido fruto de sua imaginação, nada mais.

_Não mude de assunto, Darlen! O que eu quero saber é por que você não impediu que aquele homem fosse embora! Não sabe o quanto a Cosméticos Atalla precisava fechar este acordo com o americano?

_Caso não se lembre, eu estava ocupado demais distraindo a Valéria. Esse era o acordo...eu distraía a mocreia, enquanto você dava o passe no Marcos, simples assim.

_Eu também achei que era simples assim, mas a coisa não deu em nada...A Valéria venceu!

Darlen falou tranquilamente:

_ Valéria não venceu nada, meu amigo, fique calmo! 

Lúcio olhou confuso para o desencarnado:

_Você não escutou o que eu falei? Marcos perdeu o contrato com o americano! A noite foi uma merda, pois tudo deu errado!

_Deixa de drama, Lúcio...não é nada disso...

Lúcio ficou mais confuso ainda ao ver Darlen tão seguro do que falava:

_Pelo jeito a noite deu tão certo que vocês dois até conversaram e fique tranquilo...o contrato é sim da Cosméticos Atalla! Nós vencemos a concorrência, pode comemorar!

Lúcio parou a sua marcha acelerada imediatamente!

_O quê? Como assim?

_Assim, do jeito que eu te falei...o americano vai fazer negócio com a empresa da minha família. 

_Mas pelo que entendi...

_Esquece o que você entendeu...Se o Marcos foi grosso com você, Lúcio, foi  porque  ele ainda não sabia que tinha ganhado da concorrência. 

_Mas eles nem conversaram! Como foi possível?

Darlen deu de ombros:

_Eu nunca me interessei pelo mundo dos negócios, meu amigo...só sei que no final  deu tudo  certo!

_Isso é verdade mesmo? Você não está inventando?

_Já está na mídia, rapaz!

Lúcio fez menção de tirar o celular do bolso, pois desconfiou que Darlen pudesse estar mentindo, só para acalmá-lo.

_Não aqui, Lúcio! Está ficando louco, cara? Olha onde você está! Quer ser assaltado?

Somente naquele momento, o filho de dona Maria Inês percebeu que estava numa rua completamente vazia e que realmente seria arriscado tirar o celular ali.

Lúcio dirigiu-se a um ponto de ônibus e se conteve até chegar em casa pra confirmar que Darlen estava falando a verdade. Desejava mais detalhes, mas viu que o irmão de Marcos já não estava mais ali.

Mesmo feliz por Marcos, o taxista ainda se sentia triste por lembrar-se que o empresário não demorou muito para desprezar o que haviam tido no banheiro.

_Sou um romântico bobo mesmo...um completo idiota... _ falou para si mesmo. _Quando um homem como aquele  vai dar bola para um homem como eu?

Talvez Marcos tivesse se arrependido de ter dado atenção ao outro no banheiro...talvez, com aquela grosseria, ele apenas tivesse percebido o quanto estava se expondo dando a liberdade para um simples taxista vir falar com ele na mesa, no meio de outras pessoas...talvez tivesse sentido vergonha por ter fraquejado no banheiro e agora estivesse apenas querendo esquecer tudo aquilo...

Lúcio foi repassando cada gesto de Marcos  dentro do banheiro...cada expressão daquele rosto bonito...Será que tinha imaginado tudo aquilo? 

Marcos havia agarrado o braço de Lúcio...havia dito que depois se encontrariam...tinha sido tudo uma ilusão de um homem apaixonado? O que afinal tinha acontecido dentro do banheiro?

Talvez Marcos tivesse percebido as intenções do outro e temendo um escândalo gerado pelo assédio do garçom, tivesse achado melhor fingir que estava aceitando a abordagem só para ganhar tempo...seria isso?

Lúcio havia entendido o que queria entender, agora já analisava...e ainda havia dito a Marcos que quando ele quisesse estaria esperando por ele.

Na mesa, o taxista havia tentado tocar a mão do empresário ali, na frente das outras pessoas, um gesto que poderia indicar uma intimidade que Marcos não queria que vissem...talvez uma intimidade que ele repudiasse...seria isso?

Lúcio já não tinha certeza de nada! 

E aquele contrato que não havia sido fechado  no restaurante tinha sido fechado  quando...onde? Será que Marcos saiu dali e foi atrás do tal George e os dois haviam chegado a um acordo? Será que afinal Marcos tinha conseguido ajeitar as coisas com o americano? Parecia que sim...Mas como?

Darlen não estava mais  ali para esclarecer aquilo...para dar mais detalhes de como as coisas tinham ocorrido...mas espíritos de luz que haviam percebido a agonia do taxista vieram  acalmar a sua mente e também o seu coração. 

O médium finalmente se conformou em acreditar que se o homem que amava tinha alcançado o seu objetivo, certamente o passe que ele havia lhe aplicado dentro do banheiro tinha surtido o seu efeito. 

Lúcio deixou aquele assunto de lado e focou naquele encontro no banheiro...Marcos tinha tocado no braço dele...por um momento, tinha dado a ele a ilusão de que um relacionamento entre os dois  seria possível...e foi apenas isso...nada mais...Uma bobagem para o empresário...um momento lindo para o taxista...simples assim...e essa foi a conclusão do filho de dona Maria Inês que sabia que precisava tentar dormir para trabalhar no outro dia.

Provavelmente, naquele momento, a família Atalla estava comemorando o sucesso obtido naquela noite! 

Lúcio sentiu-se melhor quando desejou que Valéria tivesse ido embora pra sempre, acreditando que Marcos havia  se dado mal...desejou que o resultado do  exame de DNA fizesse com que Marcos se aproximasse mais do filho...desejou que a Cosméticos Atalla tivesse prosperidade...com tudo isso, todos ficariam bem... Darlen, dona Cristina, o senhor Júlio, Neitan, Marcos...

_Marcos... _ foi o último nome sussurrado pelo taxista, antes de cair num sono profundo e reparador.


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