CAPÍTULO 34-O PRIMEIRO ENCONTRO




Lúcio confirmou que realmente Marcos não estava bem. Dentro do banheiro, o empresário  estava recostado na beira da pia e de olhos fechados massageava as têmporas.

O filho de dona Maria Inês olhou o homem que amava com ternura, se esforçando para controlar o desejo intenso de tomá-lo nos braços e confessar tudo o que sentia. 

O taxista sabia que precisava agir logo, pois Valéria poderia chegar a qualquer momento, por isso  se arriscou a levantar as mãos a fim de dar o passe espiritual no homem amado.

O médium suplicou mentalmente que os espíritos de luz viessem socorrê-lo naquele momento, o ajudando a lutar contra o espírito obsessor que tanta influência negativa  estava exercendo sobre a sua vítima.

Como da primeira vez em que havia ajudado dona Rosa a dar o passe em Marcos, o taxista deixou aflorar dentro do peito todo o amor que sentia por aquele homem! 

Lúcio não saberia dizer o que aconteceu a partir dali, pois ele percebeu surpreso que estava sendo abençoado  por uma energia tão forte e tão positiva  que ia além daquela que o dominava nos passes que ele dava no centro espírita.

Era importante não perder o foco ao se empolgar com aquela sensação tão abençoada e, por isso, ele tentou se concentrar apenas naquele socorro espiritual que era dado com tanta fé e humildade, sabendo que ele era apenas um instrumento, pois o poder para conseguir ajudar Marcos viria do plano espiritual. 

Aquele era o homem por quem ele estava apaixonado...aquele era o homem que lhe tomava todos os pensamentos...aquele era o homem com quem ele sonhava todas as noites...dono do seu primeiro pensamento assim que acordava...dono do seu último pensamento antes de dormir. 

Lúcio  foi aquietando a alma...aquietando também o coração...foi adotando uma respiração profunda e suave...o pensamento foi  elevado a Deus... e o médium percebeu que  estava pronto para dar o passe.

Marcos Atalla, que estava tenso e ainda se apoiando na pia, pareceu por um momento igualar a sua respiração à respiração do homem que o estava abençoando com uma energia tão pura, tão limpa, tão sincera que o empresário pode sentir o corpo todo sendo tomado por um bem-estar que o fez relaxar e até sorrir!

Os pensamentos do empresário pareceram fluir com mais clareza...Ele estava ali para fechar um negócio que poderia impulsionar a Cosméticos Atalla a um patamar que ele sempre havia almejado alcançar! 

Não foi prudente ter bebido, ele agora sabia...também não foi  prudente ter se afastado da mesa, pois George poderia chegar a qualquer momento e não o encontrar lá.

Marcos respirou profundamente pela última vez ainda de olhos fechados, sentindo o ar entrar pelos pulmões, naquele banheiro limpo, aquela fragrância suave de desinfetante que pareceu literalmente limpar o seu sangue dos já perceptíveis efeitos do álcool...e foi como se todo o mal-estar que estava sentindo simplesmente evaporasse!

O irmão de Darlen  não queria sair dali, essa era a verdade, porque sabia que  George merecia todos  os adjetivos que lhe davam... Ele era intragável... insuportável...arrogante... inconveniente...  certamente estaria ainda pior agora, pois sabia que seria tratado como um rei, por todos aqueles que estavam de olho em seu acordo  milionário. Talvez o cretino até já tivesse fechado aquele acordo com alguma empresa internacional e estava ali apenas para ver os outros se arrastarem aos seus pés.

Marcos havia chegado ali pensando inseguro na fila dos  outros concorrentes, todos empresários de peso...Marcone Figueiredo...Alírio Dutra...Osvaldo Magalhães...Francisco Aureliano Mota... Mas ele percebia que aquela insegurança não existia mais!

Como num passe de mágica, ele voltou a se sentir seguro, como nos bons tempos,  percebendo que a Cosméticos Atalla tinha todas as chances de agarrar aquela oportunidade! Ele reconhecia que tinha  feito algumas besteiras inexplicáveis nos últimos tempos, mas se conseguisse convencer George de que a Cosméticos Atalla  era a mais competente para atender as suas exigências, o resto se encaminharia sozinho.

De repente, parecendo perceber que não estava sozinho, Marcos abriu os olhos assustado e viu Lúcio ali tão próximo  dele!

_Mas o que você está fazendo aqui? _ perguntou se afastando do taxista.

Lúcio ficou sem ação, ali, tão perto daquele homem que mexia tanto com os seus sentimentos num lugar tão inusitado e íntimo como aquele. 

_Estou trabalhando como  garçom. _ conseguiu falar simplesmente. 

Inundado por uma energia que não sentia há dias, Marcos logo se recuperou do susto:

_Devo acreditar que você é mesmo garçom, além de taxista, ou devo acreditar que só veio aqui para me atazanar as ideias?

O taxista acreditou que o empresário iria agredi-lo, quando deu um passo em sua direção sem perder o contato visual com ele.

_Confesse logo que você veio atrás de mim!

Lúcio de repente havia perdido o foco que era apenas entrar, dar o passe e sair...de preferência sem ser notado. Ele já deveria saber que não seria tão fácil assim se afastar daquele homem!

Aquele era Marcos Atalla e aquilo fazia toda a diferença, Lúcio tinha que ter previsto! Não dava simplesmente para entrar, dar o passe e sair como se ele fosse um estranho!

Engraçado somente agora Lúcio perceber que Marcos o havia atraído mesmo quando estava  ao lado do falecido Darlen, no primeiro encontro, aceitando ajuda de um desconhecido que prometia levá-lo até o aeroporto para que ele não perdesse o avião...mesmo quando o havia levado até a polícia o acusando de sequestro...ou mesmo quando o enfrentara, quando ele havia tentado defender Neitan...ou mesmo no parque, quando Marcos  quase havia morrido engasgado...

Simultaneamente, o empresário também via passar por sua mente  todos aqueles momentos que o  haviam levado a se sentir tão atraído por aquele homem! Era como se o universo inteiro tivesse conspirado  a favor daquele sentimento, tornando aquele momento tão revelador para os dois homens!

Eles  se encaravam em silêncio já sem saber por  quanto tempo estavam ali...cinco ou cinquenta minutos? Não importava...pois novamente aquela sensação dos dois corpos grudados um ao outro...como havia acontecido naquela noite no parque...e que havia tido tantos likes na internet... tomou conta dos dois!

Lúcio sentiu todo o corpo se arrepiar de tesão, percebendo que Marcos parecia estar sentindo a mesma energia que os atraía! 

De repente, era como se todo o mundo fora daquele banheiro tivesse simplesmente deixado de existir! Era como se o tempo simplesmente tivesse parado!

Marcos desfrutava  ainda do bem-estar do passe recebido e ainda  tinha a sensação de que da mesma forma como havia acordado se sentindo tão bem na casa de dona Rosa, justamente tendo Lúcio ao seu lado...também agora o mesmo milagre havia acontecido!  

Lúcio não pensava mais em Darlen lá fora tendo que se virar com Valéria, porque queria acreditar que o passe pudesse se perpetuar para sempre na vida de Marcos ao ponto de blindá-lo contra as influências negativas daquela mulher!

Foram sendo invadidos por um desejo quase incontrolável  de se  agarrarem ali mesmo! Sentiram um tesão gostoso e quase irresistível de um  tomar posse do corpo do outro sem medo de alguém entrar ali a qualquer momento... e aquela vontade de mais uma vez colarem os dois corpos na mesma posição em que eles haviam se colado no parque! Vontade de pedir perdão um ao outro...de confessar o que sentiam um pelo outro...de pedir pra esquecer o passado e começarem do zero...vontade de não dizerem  nada para não quebrar aquele primeiro encontro com um sabor tão diferente dos anteriores!

Em algum ponto de sua mente, Lúcio sabia que precisava sair dali logo, ou um dos colegas viria atrás dele para ver o que estava acontecendo.

Marcos também  sentia que precisava sair dali logo, não apenas porque acreditava que poderia perder a oportunidade de fazer a sua oferta a George, mas porque sentia que poderia se trair se ficasse por mais tempo tão próximo daquele homem que definitivamente atiçava em seu corpo regiões que ele nem sabia que poderiam ficar tão afoitas por um toque!

_Lúcio... _ Marcos falou num sussurro quase inaudível.

_Marcos... _ Lúcio falou no mesmo tom. 

Tanto a dizer...tanto a querer fazer...mas aquele definitivamente não era o melhor lugar, disso os dois tinham certeza! 

_Depois... _ disse Marcos sentindo o coração disparar agarrando o braço de Lúcio como se temesse que ele fugisse e nunca mais se vissem. _Depois a gente se vê por aí...

Lúcio  temia tocar naquele homem e não conseguir mais parar, por isso, apenas sorriu pra ele e disse:

_Quando você quiser...eu estarei te esperando... 

Marcos também sorriu, antes de sair. 

Foi a vez do taxista se apoiar na pia do banheiro e fechar os olhos, tentando recuperar o controle da respiração ofegante, antes de sair. 

Lúcio ainda  sorria, quando finalmente saiu do banheiro,  pensando que se algo assim tinha acontecido, tudo seria possível!


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