CAPÍTULO 20-UMA SITUAÇÃO DELICADA
O empresário havia tido uma péssima noite, pois não conseguia conciliar o sono tentando primeiramente entender a atitude de Lúcio...depois a atitude de Neitan e, por último, tentando entender os próprios sentimentos.
O taxista não deixava claro o que ele realmente queria com o empresário e com o seu filho...Seria sequestro? Seria chantagem? Seria algum tipo de esquizofrênico que acreditava realmente que estava ouvindo vozes do além? Sendo a última possibilidade a ser avaliada, teria a questão de por que ele teria escolhido justamente usar Darlen para se aproximar da família Atalla? Não bastaria chegar e colocar o seu plano em ação, ao invés de ficar fazendo aquela tempestade psicológica?
Lúcio realmente tinha que ser um homem talentoso, porque havia envolvido Neitan de uma forma que Marcos nunca imaginou que alguém faria com uma criança. O garoto realmente não tinha dúvidas de que o tio ainda estava vivo e odiava o pai cada vez mais por ele duvidar daquilo! Parecia realmente que Lúcio havia hipnotizado Neitan a ponto dele ficar completamente envolvido naquela alucinação toda.
Marcos havia rolado na cama inquieto durante toda a noite sem conseguir se livrar da imagem de Lúcio e sem entender por que aquele homem mexia tanto com ele!
Na internet, as imagens do salvamento ainda estavam em alta, mesmo o empresário tendo exigido que elas fossem banidas das redes sociais. Ele descobriu da pior maneira que nem com todo o dinheiro do mundo ele conseguiria frear a ousadia dos hackers que tinham o prazer de burlar as leis e darem um jeito de publicarem o que quisessem e pelo tempo que quisessem. Muitas pessoas ainda estavam dando likes no vídeo que mostrava a atitude heroica do taxista que havia salvado a vida do milionário.
O empresário se pegava, às vezes, voltando àquele vídeo e mais uma vez se sentindo excitado por ver Lúcio o dominando daquele jeito... Aqueles movimentos que deveriam ser vistos apenas como uma manobra para salvar a sua vida tomavam cada vez mais um sentido extremamente erótico! Aquele encaixe firme e até agressivo por trás mexia com a libido de Marcos!
A mente dele divagava criando situações completamente surreais! Imaginava que Lúcio poderia facilmente simular uma morte acidental! Ele não levantaria suspeitas, já que estava no papel de salvador, de herói diante das pessoas que estavam vendo a cena. As pessoas em volta estariam lá para endossar as palavras do taxista que poderia alegar que havia tentado sim liberar as vias aéreas da vítima, sem sucesso. Lúcio inclusive poderia ter omitido aquele socorro sem mover um dedo para salvá-lo, sem revelar que sabia aquela manobra!
Marcos usava o recurso que lhe permitia assistir o vídeo quadro a quadro...congelava a imagem...aumentava para ver os detalhes...isolava apenas o rosto de Lúcio...Não estivesse ele morrendo sem ar e teria aproveitado melhor aquele abraço de urso, de macho...e o pensamento assustou Marcos!
O que estava acontecendo com ele? Ele não era homossexual, disso ele tinha certeza, mas estava sentindo tesão ao assistir a cena do próprio salvamento? Estaria enlouquecendo, ou havia se tornado masoquista de repente? Talvez um depravado que via sensualidade onde não havia!
Ele se agitava na cama inquieto tentando afastar aqueles pensamentos...sentia o corpo todo febril...a alma dividida entre atração e repulsa...desejo e medo...dúvida e certeza...um desejo quase incontrolável de ver Lúcio imediatamente e um desejo maior ainda de não vê-lo nunca mais!
Maldita a hora em que aquele homem havia entrado na vida dele e na vida de seu filho!
As primeiras luzes do dia fizeram o empresário saltar da cama e ir tomar um banho frio, demorado, que de nada adiantou para aliviar toda a tensão que sentia. Ficaria em casa, se a agenda não estivesse lotada de compromissos, como sempre, e se ele não tivesse a certeza de que se envolver com outros assuntos poderia ser uma boa estratégia para fugir de si mesmo!
Marcos assustou-se quando o seu motorista veio lhe apresentar dois homens truculentos e com cara de poucos amigos...dois verdadeiros trogloditas que davam medo só de olhar!
Antes mesmo que o seu funcionário o cumprimentasse, Marcos falou alterado:
_Mas o que significa isso, Emílio? Quem são estes homens?
O motorista ficou visivelmente constrangido com aquela recepção pouco calorosa do patrão:
_O senhor ontem pediu para eu conseguir dois seguranças de minha confiança para acompanhar o senhor e o seu filho a fim de evitar a aproximação daquele taxista, senhor Atalla.
Marcos franziu a sobrancelha...ele havia pedido aquilo? Ele não se lembrava de ter dado aquela ordem a Emílio, apesar de ter feito diversas ameaças contra Lúcio. Claro que ele não admitiria diante do seu empregado e especialmente diante de dois estranhos que já não tinha certeza se tinha falado aquilo ou não.
Emílio se adiantou nas apresentações, demonstrando ter segurança quanto a saber exatamente o que o patrão queria:
_Este é o Rômulo e este é o Otávio, senhor Atalla. O currículo deles é excelente e eles são de minha inteira confiança. Se quer a minha opinião, que o Rômulo acompanhe o senhor e que o Otávio fique por conta do seu filho.
Marcos queria saber em que momento havia dado ao seu motorista tanta autonomia para tomar todas aquelas decisões em seu nome!
Enquanto os dois homens se apresentavam melhor, Marcos simplesmente se sentia praticamente acuado no meio de tantos músculos, quase dois metros de altura de cada um e aqueles corpos que mais pareciam dois guarda-roupas capazes de intimidar qualquer pessoa.
_Claro que os dois trabalham armados e se o marginal forçar a barra, eles não hesitarão em atirar, senhor Atalla._ Emílio finalizou parecendo orgulhoso de si mesmo.
A cabeça de Marcos fervia, enquanto ele reprovava aquela postura arrogante de Emílio diante daquela situação desagradável. O empresário sabia que o seu motorista ainda estava com o orgulho ferido com o fato de Lúcio tê-lo derrubado no chão...ele sabia que certamente havia deixado transparecer o quanto estava irritado com a postura de Lúcio...ele sabia que logicamente o certo seria um homem em sua posição já ter um segurança mesmo antes de Lúcio aparecer...Talvez Emílio estivesse se sentindo sobrecarregado por estar praticamente fazendo aquelas duas funções...estar acumulando os cargos de motorista e de guarda-costas...
_Eles são muito rápidos e eficientes, senhor Atalla! Têm uma pontualidade britânica! Aquele marginal nem vai saber o que o acertou, caso tente mais alguma abordagem._ Emílio falou triunfante. _Eu garanto que o senhor nunca mais terá que se preocupar com ele!
Imagens de Lúcio dominado, machucado e até mesmo morto invadiram a mente de Marcos Atalla que não conteve uma enorme repulsa diante daquele cenário. Ele podia estar irritado com o filho de dona Maria Inês, mas daí a desejar que ele sofresse nas mãos daqueles homens havia uma grande distância!
_Pode dispensar os dois, Emílio. Não vou precisar dos serviços deles. _disse Marcos virando as costas para os três homens que ficaram sem ação.
O empresário refugiou-se em seu escritório, momentaneamente entrando em pânico ao pensar no que poderia acontecer com o taxista, caso ele aceitasse aqueles dois seguranças.
Marcos se questionou mais uma vez... Onde ele estava com a cabeça quando havia dado tantos poderes...tanta liberdade para Emílio? Como Emílio agora se via no direito de trazer a sua presença aqueles dois homens de aparência tão assustadora? O motorista realmente era de sua inteira confiança, mas daí a fazer aquilo pareceu realmente ousado naquele momento...ou ele não deveria avaliar como ousadia e sim como eficiência por parte de Emílio em cumprir uma ordem tão rápido?
Foi sobre o motorista que Marcos despejou toda a sua instabilidade emocional naquela manhã:
_Nunca mais traga este tipo de gente até aqui sem me consultar, Emílio! Nunca mais, entendeu bem?
O motorista levou um susto e acompanhou o patrão que ia se afastando:
_Me desculpe, senhor Atalla...eu não entendi...só estava seguindo as suas ordens...
Marcos o interrompeu de forma grosseira, tentando não levantar suspeitas sobre o real motivo de não ter dado qualquer chance aos dois homens indicados por Emílio:
_Achou mesmo que eu iria querer aqueles dois homens andando armados perto de mim ou do meu filho?
_Como quiser, senhor Atalla...eles têm técnicas de dominar rapidamente um homem, eu posso dizer a eles que o senhor prefere que eles não trabalhem armados...
Novamente, Marcos interrompeu o seu funcionário alterando mais ainda o tom de voz:
_Você está surdo? Eu mandei você dispensar os dois, Emílio!
Emílio engoliu o orgulho e acatou a ordem humildemente:
_Sim, senhor Atalla. Como queira. Providenciarei outros candidatos para que o senhor possa avaliá-los...
O empresário apelou impaciente:
_Cancele a ordem que eu dei! Não quero guarda-costas para mim ou para o meu filho! Entendeu agora, ou vou ter que desenhar?
_Entendi sim, senhor Atalla. Como queira. _respondeu Emílio submisso.
_E não se fala mais neste assunto!
O motorista abriu a porta para o patrão e colocou o carro em movimento, tendo a certeza de que Marcos Atalla devia estar se sentindo de alguma forma refém do taxista, daí não ter forças para tomar a melhor decisão que seria colocar homens de prontidão para deter Lúcio.
Emílio sentiu o ódio dominá-lo ao pensar em alguém como Lúcio intimidando o seu patrão e jurou para si mesmo que seria ele então a por um fim nas ameaças daquele homem contra Marcos e Neitan.
Ele perdoaria a forma como Marcos o havia tratado, pois sabia que o patrão ficaria agradecido e saberia recompensá-lo quando finalmente se livrasse de vez de Lúcio com a ajuda do seu fiel funcionário.
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