CAPÍTULO 17-UMA SITUAÇÃO INSUPORTÁVEL
A relação do empresário com o filho não melhorou depois que eles foram passear no shopping...ou que o pai deixou que o filho levasse o que quisesse pra casa...nem mesmo quando ele permitiu que Neitan escolhesse o filme que iriam assistir no cinema.
O garoto até podia agradecer as gentilezas do pai, mas não passava disso.
Marcos vivia mal humorado...estressado...e reconheceu que nunca seria o amigo que o filho precisava.
Ele não tinha nascido para ser pai, simples assim! Darlen, ao contrário, seria um pai perfeito para Neitan, Marcos reconheceu mais uma vez.
Quando saíam do shopping, Neitan viu o táxi de Lúcio estacionado ali perto e sem pedir permissão ao pai, saiu correndo gritando o nome do taxista.
_Lúcio! Espere aí! _ o garotinho gritou percebendo que o taxista se preparava para ir embora, após ter deixado um passageiro.
_Neitan, volte aqui! _ ordenou Marcos contrariado com a atitude do filho.
Lúcio escutou o chamado do pequeno, abaixou-se sorrindo e o recebeu de braços abertos, levantando o filho de Marcos Atalla no alto, enquanto Neitan dava gritinhos de pura euforia:
_Que saudades, Severide! Ou você é o Casey?
Neitan riu satisfeito e o empresário lembrou-se que também assim ele ria quando se encontrava com Darlen.
_Pode me chamar como quiser, chefe Bolden! _ Neitan entrou no jogo de mencionarem os personagens da série Chicago Fire.
Marcos se sentiu excluído da conversa dos dois, que relembravam episódios e salvamentos dos bombeiros de Chicago Fire aos quais o empresário não tinha conhecimento. Era como se o taxista e o garotinho falassem uma linguagem completamente desconhecida para o empresário.
Próximo a eles e sempre em alerta, Emílio se continha para não avançar em Lúcio, pois ainda estava com o orgulho ferido depois do taxista ter levado a melhor sobre ele num encontro passado.
O pai de Neitan disfarçou que estava vigiando o filho, mas, na verdade, não conseguia tirar os olhos de Lúcio.
O filho de dona Maria Inês tinha um sorriso lindo que parecia capaz de iluminar o mundo inteiro espalhando energia positiva. Um corpo moreno sarado, bronzeado de sol, cheio de vitalidade que deixava o empresário, sempre preso em seu escritório, mais pálido do que realmente era.
O empresário pegou-se avaliando qual seria a idade de Lúcio...já teria feito quarenta? Não...parecia ter uns trinta e cinco...talvez menos...Será que tinha cursado uma universidade? Provavelmente não, daí ainda ser um taxista...e aí Marcos sentiu-se mal por se achar preconceituoso, ao avaliar que um taxista não poderia ter cursado uma universidade.
Como se, de repente, tivesse se lembrado que não estava ali sozinho, Neitan chamou eufórico:
_Vem cá, papai! É o Lúcio, o homem que salvou a sua vida!
Os dois se olharam e, de repente, ambos desviaram o olhar como se não suportassem aquele contato visual.
_Filho, precisamos ir embora. _disse o empresário sentindo-se desconfortável na presença do taxista.
Marcos tinha sentimentos conflitantes...pensamentos desconexos...desejo de esmurrar aqueles braços fortes e ao mesmo tempo vontade de morder e cheirar aquela pele que exalava masculinidade! Será que estava perdendo o juízo?
Neitan agarrou a mão de Lúcio e choramingou:
_Não, pai...a gente quase não vê o Lúcio e ele ainda não me falou do meu tio Darlen!
O pequeno de repente estacou, parecendo assustado, talvez lembrando-se que o pai não queria que ele falasse sobre o tio.
Lúcio, que não sabia do acordo entre pai e filho, falou:
_Seu tio Darlen sempre aparece...Outro dia mesmo, eu me encontrei com ele...
O pequeno não deixou o taxista terminar a frase e gritou entusiasmado, olhos brilhantes:
_Sério? Ele perguntou sobre mim, Lúcio? Falou quando virá me ver?
Lúcio ficou revoltado mais uma vez por ver o quanto o pai fazia mal ao filho o afastando daquele jeito do tio que tanto amava.
_Claro, a primeira coisa que ele perguntou foi sobre você, afinal você é o sobrinho preferido dele!
Marcos sentiu o sangue ferver, afinal, aquele homem ainda continuava com aquele jogo perverso com o seu filho. Ele perdeu o controle quando falou em tom autoritário:
_Neitan, venha aqui, agora mesmo!
O pequeno assustou-se, percebendo tarde demais que realmente havia quebrado o acordo que havia feito com o pai de não mais falar sobre o tio.
Antes de se afastar, porém, o garoto falou sem se conter, mesmo se arriscando a irritar o pai mais ainda:
_Lúcio, diga ao meu tio Darlen que o meu pai não quer que eu fale mais o nome dele e diga também ao meu tio Darlen que eu amo ele e gostaria muito de vê-lo, mas o meu pai não deixa...
Marcos explodiu:
_Neitan, entre no carro, agora!
Percebendo o sofrimento da criança, Lúcio não pensou duas vezes antes de pegar Neitan pela mãozinha e caminhar decidido até Marcos.
Vendo aquele homem aproximar-se, Marcos sentiu todo o corpo ser invadido por um certo frenesi que ele nunca havia sentido na vida! Era como se um desejo incontrolável gritasse dentro dele, exigindo que ele ficasse ali mesmo onde estava e se permitisse interagir com aquele homem, ou se arrependeria pra sempre.
Lúcio falou discretamente, para que Neitan não escutasse:
_De boa, cara...isso que você está fazendo com o seu filho não está certo...É muita crueldade com o garoto!
Marcos sentiu vontade de se jogar contra o taxista e exigir que ele calasse a boca e sumisse da vida dos dois imediatamente. Porém, ele estava tão alterado que teve certeza de que faria uma cena ali, bem na frente do filho, piorando mais ainda a relação entre os dois.
_Neitan, entre no carro! _ Marcos falou com os dentes cerrados ainda tentando se controlar diante do filho.
_Não vá brigar de novo com o Lúcio, papai..._gemeu o garotinho. _Ele salvou a sua vida e é amigo do tio Darlen e também é o meu amigo!
_Neitan, entre no carro! _Marcos não se conteve a alterou mais ainda o tom de voz.
O pequeno virou-se rapidamente e num impulso desesperado abraçou as pernas de Lúcio, como se pedisse socorro e foi aí que o empresário fez sinal para que o motorista mal encarado viesse pegar o seu filho a fim de que ele fosse colocado dentro do carro.
Neitan, talvez temendo nunca mais ver o amigo, não se intimidou em começar a chorar alto e de forma estridente chamando a atenção de algumas pessoas que passavam, irritando mais ainda o empresário.
Marcos esperou o seu motorista fechar a porta do carro e apontou o dedo em riste diretamente para o rosto de Lúcio e falou em tom ameaçador, apesar de ele mesmo perceber que tinha a voz trêmula:
_Você não sabe com quem está mexendo, rapaz!
Lúcio não desviou o olhar e encarou Marcos:
_Ah, pode ter certeza de que eu sei sim...Estou diante de um pai sádico que tenta privar o irmão e o filho de terem uma relação que certamente fará muito bem para os dois! Especialmente porque o garoto tem em casa um homem frio, insensível, que mal deve dar atenção para a criança...
Marcos bufou e não deixou o outro terminar de falar:
_Eu acho que vou ter que meter um processo em você por brincar assim com os sentimentos do meu filho, idiota!
_Tenho certeza de que a acusação de que você está fazendo o seu filho acreditar que o tio está morto soaria muito mais grave diante do juiz, palhaço!
Emílio deu um passo a frente e Marcos fez um sinal para que ele se mantivesse onde estava.
_Mas afinal de contas, onde você quer chegar? _ Marcos perguntou sem se conter.
Lúcio colocou o dedo no peito de Marcos e devolveu a pergunta no mesmo tom:
_Onde você quer chegar?
_Papai, vamos embora! _ Neitan chamou aflito temendo o pior. _Por favor, papai!
Os dois homens se encararam desafiadores, até que finalmente Marcos decidiu que era hora de sair dali, temendo fazer uma besteira.
Antes de sair, porém, ele fez uma última ameaça a Lúcio:
_Vou exigir uma medida protetiva contra você! Não quero nunca mais que você se aproxime de mim, ou do meu filho! Se isso acontecer novamente, eu juro que você irá pra cadeia! Pra cadeia, ouviu bem?
O filho de dona Maria Inês ficou sem voz e deu um passo atrás, chocado com a postura daquele homem.
Enquanto Lúcio olhava ainda incrédulo para o carro que se afastava, Marcos se sentia um completo tolo imaginando que na verdade não tinha sido o taxista quem havia se aproximado de Neitan e sim o contrário.
_Você nunca mais verá aquele homem, entendeu, Neitan? Nunca mais! _ Marcos explodiu descontrolado ainda dentro do carro.
O garotinho soluçava completamente arrasado e inconsolável, mas aquilo não amoleceu o coração do pai, que tinha certeza de que estava protegendo o filho de um golpista.
Assim que chegaram em casa e desceram do carro, o pequeno gritou ainda chorando muito:
_Eu nunca mais vou falar com você! Eu vou ligar pra minha mãe e vou dizer que quero ir embora daqui pra sempre e nunca mais quero te ver! Eu te odeio e quero que você morra e eu não vou ficar triste por isso, porque você é mau! Eu queria que o tio Darlen ou o Lúcio fosse o meu pai, mas você...nunca!
Marcos fechou os punhos temendo agredir o próprio filho e já se sentindo um monstro por não conseguir lidar com ele.
_Nem mais um pio, porque senão eu vou te mandar para um colégio interno fora do país, ouviu bem? Agora, vá logo para o seu quarto e fique lá até eu disser que é pra você sair!
O empresário ainda estava trêmulo quando entrou no escritório, diante dos olhares assustados dos empregados, e fechou a porta .
Neitan não precisava verbalizar aquilo...era evidente, mais uma vez, que ele preferia que o pai e não o tio estivesse morto!
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