Capítulo 4

Alguns possuem vidas de contos de fadas, já outros vivem em realidade miseráveis. O pior é que não adianta somente um ou dois tentarem mudar o mundo.

Entraram pela parte de trás da casa, todas as janelas possuíam grades, até a porta dos fundos possuía leitor de íris para ser liberada a passagem. Uma tecnologia que ela nunca havia visto antes, sabia que não era qualquer um que moraria em uma casa como aquela, moradores normais não tinham com o que se preocupar.

— O que iremos fazer, Rodolpho? Não é possível entrar! — Sharaene exclamou ao perceber o nível de segurança da moradia.

— Eu já lhe disse, soldada, nada é impossível. — Rodolpho falou começando a contornar a casa.

— Está indo para onde? — ela perguntou enquanto o seguia.

— Aqui está nossa entrada. — ele respondeu parando em frente a parede lateral esquerda da casa.

— Que entrada, Rodolpho? — ela indagou confusa, não existia nenhuma porta ali.

— Ah, Sharaene, você ainda precisa aprender a enxergar além do que a situação permite. — ele disse calmamente. — Olhe para baixo, soldada.

Ela olhou, porém só existia plantas e arbustos ali.

— Pense, soldada, você precisa prestar atenção em tudo, nem tudo é o que aparenta ser. — ele orientou, sempre fazia de tudo para ensinar ela a lidar com várias situações, não sabia o que os aguardava no futuro, deixar ela preparada para tudo era uma das coisas que mais desejava.

Ela observou atentamente até perceber o que ele queria dizer. Rapidamente se abaixou e vasculhou entre as plantas, ali existia uma porta meio desgastada que provavelmente era ligada a um porão.

— Você é um gênio! — ela exclamou feliz por ele ter encontrado aquela passagem.

— Não sou. Somente observo e penso em tudo que normalmente passaria despercebido. — ele respondeu rindo.— Na verdade vou lhe contar um segredo.

Ele se aproximou para sussurrar em seu ouvido, sua repentina aproximação fazia o corpo da mulher tremer.

— Isso existe em todas as casas.— ele falou rindo, passou anos vigiando e entendendo sobre a estrutura de Potissimum.

Logo Rodolpho tomou a frente e abriu a porta com um grampo, ele sempre teve habilidades para destrancar portas com simples materiais.

Como esperavam, aquela porta dava entrada para um porão. Rodolpho logo acendeu uma lanterna, o lugar era somente um cômodo vazio cheio de poeira.

O som de seus passos ecoavam pelo grande vazio do lugar. Quando chegaram ao outro lado do porão, a porta que dava entrada para a casa já não era tão simples. Sharaene não entendia aquilo, uma pequena tela cheia de números se encontrava no local onde deveria existir a fechadura.

— E agora? — ela indagou.

— Isso é fácil resolver. —Rodolpho respondeu indo até o aparelho.

Ela o observou atentamente, o homem digitou 3 vezes a sequência *0000# e em segundos a porta se abriu.

— Nunca mais duvido de nada em relação a você. — ela falou sorrindo, apesar de já ter visto ele fazer coisas incríveis, sempre se surpreendia.

A casa era o lugar mais belo e bem estruturado que ela já esteve. Toda a decoração possuía uma coloração neutra que trazia uma sensação de paz.

— Esse lugar é incrível! — Sharaene sussurrou.

— Não se iluda, soldada, o que a casa tem de incrível o dono tem de crueldade. — Rodolpho falou, o nojo era visível em seu tom de voz.

— Você o conhece?

— Já o observei várias vezes. — ele respondeu e saiu andando.

Ela o conhecia bem para saber que ele não queria falar naquele assunto, provavelmente algo que ele tenha visto não foi bom. Optando por respeitar seu silêncio, começou a vasculhar.

O corredor era enorme, várias portas haviam ali. Quando abriu a primeira se deparou com um enorme quarto, pela arrumação dele era notável que era para hóspedes, porém aquele cômodo tinha o tamanho de sua casa, os móveis provavelmente valiam mais que o salário que recebeu em toda sua vida. Aquilo doeu em si, não por inveja, mas sim por perceber que ali as pessoas tinham mais do que precisavam e já em Inferius tinham menos do que necessário para uma vida digna.

— Vem soldada, nesse corredor só existem quartos vazios , precisamos ser rápidos. — Rodolpho alertou aparecendo na porta.

Todos os cômodos da casa eram luxuosos, possuíam artefatos caríssimos, porém isso não importava, a meta deles era o escritório.

Quando chegaram na porta que dava entrada para o escritório, ela também era fechada por senha.

Com uma rapidez impressionante Rodolpho a destrancou, da mesma maneira que fez com a primeira.

— Como você acerta a senha?— ela perguntou curiosa.

— Eu não acerto, somente uso um código chave.— ele respondeu já entrando no cômodo.

Sharaene não disse mais nada, não entendia sobre aquele tipo de tecnologia, tudo era confuso demais para ela.

O escritório era tão sofisticado quanto o restante da casa, possuía inúmeras aparelhos eletrônicos, tecnologia mais evoluída já inventada.

— Você vasculha as gavetas, eu fico com restante do cômodo. — ele orientou.

Ela caminhou até a grande mesa do centro. Tudo possuía uma perfeita arrumação.

— Está tudo trancado, Rodolpho. — Sharaene disse enquanto tentava inutilmente encontrar uma gaveta aberta.

— Olhe perto dos objetos e pelo chão, talvez esteja por aí. — ele falou enquanto mexia nos livros da estante.

Como ele havia orientado ela começou a procurar. Olhou em baixo dos objetos e livros em cima da mesa e cômodas porém não encontrou nada. Se abaixou pretendendo olhar em baixo do tapete felpudo que cobria o chão embaixo da mesa, um sorriso abriu em seu rosto quando o levantou e achou as chaves.

Rapidamente abriu as gavetas, inúmeros papéis cheios de cálculos e estratos de gastos estavam lá.

Não existiam escolas em Inferius, sabia ler e escrever pois sua mãe havia a ensinado quando criança, o que agradecia todos os dias.

A decepção era visível em sua expressão, todas as gavetas só possuíam papéis, nada do que queriam.

Quando estava guardando a chave após trancar tudo novamente, algo colado na parte debaixo do tapete chamou sua atenção. Um papel preto dobrado, era quase impossível o notar pois possuía a mesma coloração do tapete.

— Sharaene! — Rodolpho gritou.

Sem pensar duas vezes enfiou o papel no bolso de sua calça e foi de encontro a seu parceiro.

Aonde estava a estante, agora havia uma pequena sala com um enorme cofre que já se encontrava aberto.

— Como você conseguiu? — ela perguntou incrédula.

— Não sei como você ainda se surpreende. — ele respondeu com um sorriso convencido, mas ela sentia como se algo não estivesse certo e isso lhe causava medo.

Ele abriu a mochila e começou a encher de dinheiro.

— Rodolpho, você está pegando muito. — a menina alertou.

— Não se preocupe, primeira vez que temos chance de pegar tanto dinheiro, dessa vez vamos conseguir fazer tanta coisa. — ele respondeu sem parar.

Rodolpho estava estranho, era notável isso, nunca foi de deixar seu ódio pela situação que viviam subir a cabeça, porém ela também entendia. Era tanto dinheiro ali na sua frente, nunca havia visto tamanha quantia, aquilo ali deveria dar para pagar várias entradas para Potissimum.

— Calma, capitão. Vamos embora, já chega. — ela falou carinhosamente pegando na mão dele. — Você prometeu que sempre me protegeria e faria tudo dar certo, agora é minha vez de cumprir a mesma promessa.

Ele parou, naquele momento percebeu que estava pela primeira vez arriscando tudo.

— Me desculpe. — sussurrou sem ter coragem de levantar os olhos para a encarar.

— Está tudo bem, somente vamos embora.

Depois de deixarem tudo da maneira que estava antes e partiram de volta para Inferius.

A volta foi tranquila, agradeciam mentalmente por aquilo.

Somente existia um orfanato na região, crianças de Potissimum que os pais não desejavam eram levados para ali e viviam de uma maneira desumana. Mas o pior não era serem abandonados e obrigados a viver daquela forma, mas sim pois os pais os rejeitavam por ter alguma necessidade especial. Sharaene sempre se perguntava como alguém poderia abandonar seus próprios filhos sendo que possuem ótima condições para cuidar deles, mas nunca encontrava uma resposta, às vezes achava que a humanidade já não tinha mais salvação.

Rodolpho pegou uma boa quantia de dinheiro e colocou em frente a porta batendo na mesma em seguida. Logo depositaram dinheiro em outras várias casas, distribuíam pela maior quantidade de moradias que conseguissem.

Sempre faziam isso e se escondiam esperando ver o sorriso que se formava no rosto das pessoas. Era tão gratificante! Era impossível não sorrir e se sentir feliz também.

Rodolpho acompanhou Sharaene até a casa dela.

— Agora você poderá salvar sua mãe. — ele disse sorrindo.

— Como assim? — ela perguntou confusa, ainda não tinha a quantia suficiente.

Rindo ele entregou a mochila para ela. Dentro da mesma existia uma enorme quantidade de dinheiro. Com certeza um pouco a mais do que ainda precisava.

— Eu não acredito! — ela exclamou incrédula, porém sua expressão logo ficou triste. — Por que está me dando tanto dinheiro? — perguntou confusa. — Tem pessoas que ainda precisam.

— Não podemos salvar o mundo todo antes de salvar a nós mesmos, soldada. Não discuta! Você merece! — ele falou a abraçando.

— Obrigada, Rodolpho! Muito obrigada! — ela sussurrou chorando de felicidade. — Amanhã mesmo irei comprar a entrada.

— Não agradeça. Eu faria de tudo por você! — ele sorria. Ver ela feliz fazia sua existência valer a pena.

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