Capítulo 39

                 16 anos atrás

Organizar a derrubada do governo não foi algo fácil. Yarique perdeu noites de sono em busca de um plano perfeito. Por sorte Esteban havia aceitado o ajudar; sem ele provavelmente não conseguiria realizar o que tanto desejava.

— Esconda logo. — Esteban pediu enquanto entregava uma maleta a ele.

Yarique retirou rapidamente os objetos de dentro da maleta e a devolveu ao soldado.

— Obrigado. — ele agradeceu.

Esteban não falou nada, somente virou as costas e voltou a andar. Era arriscado o que estava fazendo, porém também era contra aquela situação em que os moradores de Inferius eram obrigados a viver.

— Pai! — Sharaene gritou enquanto corria até ele.

— O que foi, querida? — ele perguntou enquanto a pegava no colo.

A menina estava cada dia maior, crescia com saúde e isso tranquilizava seus pais. Yarique amava sua filha mais do que tudo no mundo e por isso estava disposto a arriscar sua vida para a proporcionar um futuro justo.

— O que é isso que o tio te trás quase todo dia? — ela perguntou com inocência.

Yarique ficou apreensivo, nunca poderia contar a ela o que de fato eram aquelas coisas.

— Não é nada, princesa. — ele respondeu apertando as bochechas da pequena. — Vá brincar um pouco com os filhos da vizinha e não conte nada sobre isso para a mamãe.

— Tá bom, papai.

Sharaene logo desceu do colo de seu pai e correu para a casa da frente.

Viviane estava trabalhando, mas Yarique só trabalharia a tarde. Ambos só trabalhavam por meio período para poder cuidar bem de sua filha. Viviane era uma das pouquíssimas mulheres de todo Inferius que trabalhava, o que deixava seu marido orgulhoso de sua força.

Ele se sentia mal por esconder coisas de sua mulher, mas tinha medo de contar e ela não aceitar. Com rapidez e cuidado escondeu as armas que Esteban havia trazido debaixo da cama. Era arriscado esconder aquilo, ainda mais pela grande quantidade que já possuía, porém era necessário.

Esteban era responsável por várias coisas. Com seu alto cargo e confiança de Adolf não era difícil surrupiar armas dos grandes estoques, mas o medo de ser descoberto aumentava a cada dia.

Yarique já havia conseguido juntar vários homens, seu plano estava indo bem, tinha esperanças de que tudo daria certo. A data da invasão já estava decidida: em um mês tentariam assassinar Adolf .

Os dias se passaram rapidamente. Yarique confiava totalmente em seus homens e talvez isso tenha sido seu maior erro.

Esteban havia avisado sobre um buraco no chão do muro, aquilo era algo quase impossível, uma falha sem explicação e a passagem deles para dentro de Potissimum. Teriam uma semana para começarem a se colocarem dentro da classe, a cada noite um grupo de homens entrava e se escondia em uma pequena casa vazia que se encontrava próxima aos muros. Yarique iria ir somente no dia do ataque.

Quando finalmente o dia chegou ele acordou com uma enorme dor no coração. Se sentia mal e não sabia o motivo. Observou sua esposa e filha que ainda dormiam; as amava mais que tudo. Elas eram sua vida.

— Bom dia, queridas! — ele exclamou sorridente enquanto fazia cócegas nelas para acordarem. — Amo vocês!

Viviane e Sharaene acordaram gargalhando, logo uma guerra de cócegas começou. Estavam felizes. Yarique parou e puxou as duas para um forte abraço.

— Vocês são o motivo de minha vida. — ele sussurrou. — Nunca se esqueçam que eu amo vocês mais que tudo.

Ao falar aquilo se sentiu estranho, como se soubesse que aquela seria a última vez.

Durante o decorrer do dia se sentia apreensivo, com medo, era a primeira vez que se perguntava se realmente valia a pena se arriscar tanto. Um lado seu gritava para desistir de tudo, mas o outro insistia que ele não podia voltar atrás. Várias pessoas já estavam dentro de Potissimum o esperando, ele havia arquitetado tudo, era o líder; líderes não voltam atrás.

Quando a noite chegou esperou sua mulher e filha dormirem. Deu um beijo na testa de cada uma e se levantou para sair.

— Vai aonde, papai? — Sharaene perguntou enquanto abria lentamente os olhinhos, estava mais dormindo que acordada.

— Vou lhe buscar um presente meu amor, um presente incrível. — ele falou enquanto voltava até ela e passava as mãos por seus cabelos encaracolados. — Agora volte a dormir. Pela manhã estarei aqui.

Sharaene tentou abrir um sorriso e logo em seguida estava dormindo novamente. Após isso Yarique saiu de casa esperando realmente voltar pela manhã.

Oito homens esperavam ele próximo ao muro, já havia distribuído as armas uma semana antes. Todos pareciam estar preparados.

A passagem para dentro de Potissimum não foi difícil. Naquela parte quase não existiam casas e a escuridão da noite os ajudavam a se locomover com facilidade.

Quando Yarique chegou na pequena casa encontrou quase cem homens a sua espera.

— Quero agradecer a todos por aceitarem participar desse plano. Pela madrugada iremos em direção a casa presidencial, tudo dará certo se continuarmos unidos.

Os homens prestavam atenção em suas palavras, todos nutriam admiração por Yarique.

— Vocês estão prontos? — ele perguntou enquanto erguia uma mão fechada em punho para o alto.

Ninguém gritou que sim, porém todos também levantaram os punhos. Estavam prontos.

Quando a madrugada chegou todos saíram em silêncio usando a escuridão como esconderijo. Não encontraram nenhuma pessoa na rua, o que já era de se esperar. Quando chegaram na área onde moram os cientistas e as pessoa mais importantes esperavam encontrar algum guarda, porém nada novamente.

Yarique ia sempre na frente sendo seguido pelos demais. No momento em que avistou a casa presidencial seu coração se apertou, sentia algo ruim. Estranhava o fato de até aos redores da enorme moradia tudo estar vazio e silencioso, mas não podia reclamar da sorte que estava tendo.

Esteban havia avisado que deixaria a porta dos fundos aberta. Ele não participava da invasão, pois não podia arriscar, caso algo desse errado seu alto cargo ajudaria a diminuir as consequências.

Yarique sabia que precisavam seguir até o salão principal e depois subir as escadas até o segundo andar, conhecia bem aquele lugar. Não seria difícil. Enquanto caminhavam, todos se guiavam somente pelo som dos passos, tudo estava estranhamente escuro e silencioso, isso incomodava Yarique. Quando chegaram no grande salão eles já iam em direção a escada quando uma risada ecoou pelo local. Em segundos as luzes foram acesas, inúmeros soldados apontavam armas para o grupo. Não tinham nem chances contra eles. Adolf estava sentado em uma espécie de trono ao fundo.

Yarique parou, deveria ter esperado algo do tipo, havia sido tolo, seu plano perfeito tinha falhas.

— Olá, velho amigo. — Adolf falou com rancor.

Ele não respondeu, sabia que deveria tomar cuidado com suas palavras.

— Achei muito audacioso da sua parte querer invadir minha casa.

— Como você descobriu? — ele perguntou sem se conter.

— Olhe para trás e descubra. — Adolf respondeu com indiferença. — Observe bem todos seus queridos aliados.

De início Yarique não entendeu, mas quando olhou para trás e começou a analisar seus homens, eles mantinham uma expressão de medo. Não demorou para perceber que faltava um, aquele que esteve sempre ao seu lado.

— Pela sua expressão percebo que já descobriu o seu belíssimo traidor.— o vice presidente falou com zombaria. — Denzel, entre!

Um homem alto e loiro entrou por uma porta próxima a Adolf, ele mantinha um sorriso vitorioso no rosto.

— Como você foi capaz? — Yarique gritou tentando avançar, porém várias armas foram direcionadas a ele.

— Essa eu mesmo respondo. — o vice presidente falou. — Ele veio até mim e me ofereceu informações em troca de uma vida boa em Potissimum.

— Eu confiei em você! — Yarique gritou transtornado, jurava que conhecia Denzel, mas estava enganado. Ele foi seu primeiro aliado, estava incrédulo.

— Isso foi um erro que você cometeu. — ele respondeu com indiferença.

Adolf estava impaciente, olhar para Yarique lhe trazia más lembranças e aumentava o ódio dentro de si.

— Prendam logo eles! — ele ordenou aos soldados. — Caso tentem fazer algo serão mortos agora mesmo.

Ninguém ousou se mexer. A desesperança estava presente em todos. Não esperavam por aquilo, haviam sido ingênuos demais. Quando os soldados os algemaram perceberam que nunca mais veriam suas famílias, haviam perdido tudo.

— Sabe, Yarique, é um prazer enorme poder lhe ver nessa situação. — Adolf falou sorrindo sadicamente. — O seu fim será o mais prazeroso para mim. Irei me vingar de você.

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