13. PRINCESA ATRIZ


"É ele de novo", Antonella me mostra a tela do celular com o nome LORDE IDIOTA piscando. Eu apenas volto a me concentrar na estrada, nada disposta a facilitar para Tobias. Não importa o quão insuportável seja a sua insistência. O toque da chamada para e Antonella suspira. "Até quando pretende continuar o ignorando?".

Eu dou de ombros.

"Ele me ignorou por três dias, então acho que pretendo superá-lo".

É simplesmente muita cara de pau de Tobias me ligar depois de ter me tratado feito lixo e dado uma festa enquanto eu me debulhava em crises de consciência. Sempre soube que ele não era flor que se cheire, mas, ainda assim, conseguiu me surpreender. Dar o troco o ignorando de volta é o mínimo, depois de tudo. E, felizmente, isso o mundo parece compreender.

Fiquei ocupada trabalhando com madame Katrina boa parte dos últimos dois dias, o que não foi nada fácil e nem prazeroso. Com certeza, a parte difícil sobre seguir o meu sonho. O gênio da madame não é nada bom quando sou Rosalyn Green e por vezes me pego tentada a revelar quem sou de verdade, só para lhe dar um bom susto. Mas fazer isso seria um mero capricho arriscado, então o contenho.

"Achei que fosse querer aproveitar que está de folga hoje para descansar. Nem a melhor das maquiagens esconde bem a sua cara de cansaço, Lizzie", Antonella torna a falar. "Por acaso quis participar desse evento só para ter um motivo plausível para evitar as ligações do lorde?".

"Talvez", eu nem nego e nem concordo.

Por um lado, ficar sem fazer nada no meu quarto me deixaria mais tentada a parar de evita-lo, mas, por outro, também gosto de participar de eventos oficiais. Fazer isso faz com que a minha mãe não tenha razões para reclamar de mim por, pelo menos, o resto da semana.

"Mudando de assunto", antes que Antonella continue tentando ligar as minhas ações à Tobias, tomo as rédeas da conversa: "hoje é o seu encontro com o tal do Ryan Hastings, não é?".

Isso deixa a minha prima animada. O sorriso no rosto dela demostra o tamanho da sua expectativa com a ideia do encontro arranjado.

"É sim. A Cassie disse que era às cinco, na casa de chá. Portanto, assim que sair daqui, irei direto me encontrar com o intelectual de Cambridge".

"Isso é ótimo", fico feliz que uma de nós esteja contente hoje.

Apesar do sorriso que ilumina o meu rosto quando Ella e eu entramos no salão do Museu de Dominique para a reinauguração dele alguns minutos depois, estou completamente aborrecida e cansada por dentro.

Cumprimento as outras pessoas importantes e sorrio quando noto um dos jornalistas responsáveis pela cobertura de imprensa do evento apontando a sua câmera para mim, mas, secretamente, fico contando os minutos para ir embora e contendo as minhas mãos de pegarem o celular dentro da minha bolsa-carteira quando ele volta a tocar.

"Olha só quem veio", Antonella me dá uma cotovelada discreta e aponta para o outro lado do salão. Por um momento, fico em alerta achando que vou encontrar Tobias, mas me pego murchando (de alívio, ora) quando percebo que não. "De todos os netos do sr. King, que não são poucos, o último que eu esperava ver em um museu é o Bram".

Nisso, eu tenho que concordar.

"Talvez ele seja o mais desocupado e tenham prometido um bom dinheiro para isso", palpito. "Alguém tinha que vir promover o conglomerado dos King e não estou vendo mais ninguém da família, além dele".

De tanto o olharmos, Bram (infelizmente) acaba nos notando. Ele sorri e ergue uma taça de champanhe para nós, como se estivesse promovendo um brinde. Quando eu e Antonella apenas acenamos discretamente de volta, o neto dos dois homens mais ricos do país leva isso como uma deixa para se aproximar.

"Princesa Elisabeth. Lady Lawrence", ele nos cumprimenta dando beijos nas costas de nossas mãos, como se fôssemos donzelas em livros românticos da era pré-colonização.

"Olá, sr. King", deixo que Antonella conduza a conversa e sorria para ele de modo cortês. "Confesso que é inesperado encontrá-lo aqui".

"Por quê, lady Lawrence? Eu já recebi várias cantadas alegando justamente o contrário, sobre eu ser tão bonito que deveria ser exposto em um museu", Bram ri, como se houvesse acabado de falar uma coisa muito engraçada, e Antonella tenta acompanhá-lo (o que soa muito forçado). Em uma única palavra, ele é terrível. E, pior de tudo, tem uma quedinha por mim que todo mundo está ciente: "no entanto, preciso dizer que as senhoritas são quem quase podem ser confundidas com as belas artes deste lugar", Bram me encara ao falar isso.

"Que gentil", tento sorrir.

Não sou nem um pouco chegada na personalidade dele. Se há alguém em Orion que pode competir acirradamente pelo título de Devasso Oriano com Tobias, esse alguém é Bram. Mas ele é bonito, confesso. E sabe se vestir com estilo.

Para aparecer no evento, Bram optou por uma blusa de tricô azul-escuro com gola rolê, calças pretas e justas, um blazer xadrez em tons de cinza (com pedrarias nas mangas e na gola em V) e sapatos prateados, que realçam ainda mais o tom platinado dos seus cabelos.

No entanto, ao invés de focar no fato de que a combinação cai bem em Bram, pego-me imaginando essas peças em Tobias e a imagem do lorde só se esvai quando Bram pigarra, tirando-me dos meus pensamentos e me fazendo perceber que o encarava.

"Que tal tirarmos uma foto juntos, altezas?", ele propõe.

Penso em negar, mas Bram é mais rápido ao pedir que um dos fotógrafos se aproxime e capture uma fotografia dele, comigo e com Antonella.

"Lorde Durkheim não quis acompanhá-la, vossa alteza?", o fotógrafo resolve perguntar enquanto Bram se posiciona entre Antonella e eu.

Uma das regras acerca das famílias reais de Orion é que, não importa o quanto a mídia nos trate dessa forma, nós não somos celebridades. Portanto, só concedemos entrevistas por meios oficiais e fornecendo previamente as perguntas que queremos responder. Qualquer coisa fora desses termos, deve ser ignorada. Assim, apenas sorrio para o fotógrafo.

Ele parece insatisfeito, mas não questiona. Leva a câmera à um dos olhos e captura três fotografias seguidas.

"Talvez se torne manchete", é a última coisa que diz antes de se afastar.

Bram parece feliz com isso.

"Como sempre, foi um prazer encontrá-las, altezas", ele se curve brevemente, antes de se afastar e voltar para o lugar em que estava antes de vir até nós.

Eu troco um olhar insatisfeito com Antonella, mas minha prima apenas ri.

"Ele não é tão ruim", ela fala. "E tem uma quedinha há anos por você".

"Uma quedinha bastante questionável, dada todas as manchetes em que Bram aparece acompanhado de alguém", retruco.

"Você nunca o dá bola. Acha mesmo que ele vai viver se dedicando inteiramente à endeusar Elisabeth Greenhunter, como os padres fazem com Deus?".

Eu rio.

"É uma ideia interessante".

Antonella revira os olhos.

"Devia sair com o Bram pelo menos uma vez, depois que o contrato com o Tobias acabar. Sei que evita sair com garotos por causa da sua mãe casamenteira, mas viver um relacionamento falso está começando a te afetar. Até DR com o Tobias está tendo".

Fico indignada, mas, talvez, Ella esteja certa. Tobias foi o meu primeiro beijo e o meu primeiro relacionamento (mesmo que falso). Querendo ou não, isso está me afetando de alguma forma. Se eu beijar outro cara...

"Altezas", a aproximação repentina de Elio Prescott acompanhado de duas mulheres me faz esquecer o meu fluxo de pensamentos. Tenho a incômoda impressão de conhecer uma das mulheres e não lembrar de onde. Ele, assim como elas, se curva em reverência.

"Olá, sr. Prescott", Antonella e eu o cumprimentamos.

Ele é tio do meu irmão mais velho e irmão da primeira esposa do meu pai, mas também é reitor da Aureum College e, pelo que me lembro, um dos coordenadores do museu.

"É um prazer que a casa real tenha aceitado o nosso convite para a reinauguração", ele continua. "Por favor, deixem-me apresentá-las à uma das investidoras no processo de restauração do museu", ele indica uma das mulheres, a que parece ser mais velha. "Essa é Lilian Moore", diz.

Como um flash de memória, reconheço o nome e o ligo à pessoa. Antonella também.

"A sua ex-mulher!", minha prima exclama, jogando fora qualquer tipo de discrição. Mas, felizmente, isso parece divertir o sr. Prescott e Lilian.

"Sim", Elio concorda. "E essa aqui é Evelyn, minha filha", ele indica a mulher mais nova, a que eu tinha a sensação de reconhecimento, porque, de fato, a conheço. Há alguns anos atrás, ela costumava ser namorada do meu irmão. Ou algo próximo disso.

"Quanto tempo, alteza", Evelyn me oferece um sorriso.

Ela e a mãe são quase idênticas. A diferença existe apenas em algumas rugas a mais no rosto da mais velha e no fato de que, diferente de Lilian, Evelyn tem olhos claros que denunciam que ela não é realmente filha de Elio. Lembro-me brevemente de ouvir Theo falar uma vez, em tom defensivo, que os dois não eram primos de verdade e que o tio apenas a adotou com o casamento.

"Sim, realmente", concordo. "Pensei que houvesse se mudado para a Alemanha".

Também me lembro de que esse foi o motivo para ela e Theo se separarem.

Evelyn assente.

"Ainda moro lá", ela explica. "Mas minha mãe resolveu voltar para Orion e eu vim para ajudá-la com a mudança".

"Ah...", fico tentada a comentar algo sobre Theo e se, apesar da distância, eles ainda se falam. Mas seria extremamente forçado. Tenho certeza de que Elio tem maior propriedade para falar sobre ele com a filha do que eu.

Felizmente, Antonella vem ao meu auxílio:

"Que tal uma foto nossa?", ela propõe.

Durante quase uma hora, minha prima e eu permanecemos no museu como representantes da coroa, até que Antonella resolve ir para o encontro com o tal Hastings e eu aproveito a chegada tardia de Kyle com Aeryn para também ir embora.

Assim que entro no meu carro e saio do estacionamento, noto o carro da minha equipe de segurança me seguindo e fico tentada a parar em um acostamento e pedir que um deles dirija para mim, pois me sinto exausta. Exausta de sorrir e acenar, conversar sobre tolices e, principalmente, ignorar as ligações de Tobias.

Aparentemente, não sou tão forte quanto devia. Assim, quando o lorde liga outra vez, eu uso o sistema Bluetooth do carro para atender:

"O que foi? O que você quer?", mal o deixo perceber que aceitei a ligação e já o ataco.

Do outro lado da linha, ao invés de respostas, ouço um sonoro "PUTA MERDA, ATÉ QUE ENFIM".

Eu bufo, impaciente.

"O que você quer, Tobias?", repito, entredentes.

"O que eu quero?", ele questiona, não muito mais simpático do que eu. "Falar com você, é óbvio".

"Ah, é?", rebato. "Isso é interessante, considerando que fugiu na última sexta-feira e ignorou todas as minhas tentativas de contato depois disso", além de ter dado uma festa.

"Eu estava ocupado", o cara de pau ousa mentir.

Ocupado dando uma festa?, uma parte mesquinha minha gostaria de pergunta. Mas, o que digo é:

"Eu também estou, então vou desligar".

"Não ouse, Princesa Maldita!".

"Princesa Maldita?", se estivesse na presença dele, esse seria o momento em que o acertaria com alguma coisa. "Você age como um canalha e depois ainda se acha no direito de me chamar assim?".

"Você sempre soube que Canalha era meu nome do meio", Tobias faz pouco caso. Ele tem certa razão, mas, ainda assim... "E eu não liguei por mim, mas pela minha mãe".

"Sua mãe?", isso sim é inesperado. "O que eu tenho a ver com a sua mãe?".

"Ela veio para Dominique e quer te conhecer, visto que não sabe que todo o nosso namoro é uma grande farsa", ele frisa a última palavra. "Então me pediu para te convidar a vir jantar conosco aqui em casa hoje".

"Hoje?", namoro falso ou não, conhecer a mãe dele é algo do qual não estava contando. Fico tão abalada pela ideia que até paro o carro no acostamento. "Você não pode me pedir que eu me encontre com a sua mãe sem me dar tempo nem de me preparar direito".

"Você já a conhece dos eventos da Coroa", Tobias recorda.

"Ainda assim. Não fui apresentada a ela como nora, mesmo que falsa", a simples ideia me deixa nervosa, mas o lorde ri.

"Foi exatamente a mesma coisa que a minha mãe falou quando eu disse que não havia necessidade do jantar, mas Sara insiste em te conhecer", disse ele. "Quanto eu tempo... Se tivesse me atendido quando liguei da primeira vez, teria não apenas mais horas para se preparar como dias", ele faz questão de destacar.

Eu reviro os olhos.

Cara de pau filho da... Mãe. Mãe que vou conhecer hoje.

"Para sua informação, ando mesmo ocupada. Ao contrário de você, não disse isso só como uma desculpa, uma tentativa de justificar covardia", antes que ele absorva o que digo e tente rebater, eu prossigo: "Chego à sua casa às sete", e então desligo.

xXx

Eu provavelmente não devia levar a sério a ideia de jantar com a minha falsa sogra. Mesmo que ela não me aprove, o meu contrato de namoro com Tobias só tem mais dois meses de duração e pouco devia importar se Sara Evans gostará de mim ou não, mas importa. Quero que ela goste de mim. Quero que me ache uma pessoa incrível e não apenas finja isso, porque sou princesa de Orion.

Assim, fico um bom tempo me aprontando cuidadosamente para ir até o apartamento dos Durkheim pela segunda vez essa semana (espero não ser recebida por um sorriso embriagado hoje). Dispenso as minhas ajudantes de todo dia e faço uma maquiagem leve, prendo o meu cabelo em uma trança propositalmente frouxa e caída sobre um ombro, e visto um vestido branco, de aparência etérea. A saia dele vai até meus joelhos e as mangas são longas, com uma gola de botões, a qual deixo aberta para que isso deixe à mostra minha gargantilha de pérolas.

Opto por um sapato branco de salto baixo (ficarei apenas poucos centímetros mais alta que Tobias) e estou terminando de calçá-los quando vovó Zhong entra, trazendo um buquê de tulipas brancas consigo.

"O jardineiro colheu as flores que pediu. Posso saber quem irá presentear?", é claro que a governanta do palácio quer estar por dentro de tudo o que ocorre debaixo deste grandioso teto.

"A mãe do Tobias", fico de pé após calçar os sapatos, pego o buquê e beijo a bochecha de vovó. "Não se preocupe. Os meus seguranças me seguirão, como sempre, e eu voltarei cedo. Não pretendo ficar fora por muito tempo", me antecipo em dizer, antes que ela tenha tempo de iniciar o seu sermão sobre minhas constantes saídas nos últimos dias.

A governanta não fala nada. O único sinal de sua insatisfação são os lábios franzidos em desgosto.

"Tchau, vovó".

Pego a mesma bolsa que usei para ir ao evento do museu, onde meu celular ainda está, e saio dos meus aposentos. Assim que entro em meu carro no estacionamento, recebo uma ligação que penso ser outra vez de Tobias, mas acaba sendo Antonella.

"Deu tudo errado e eu vou matar a Cassiopeia!", tenho minhas razões quando afirmo que o meu lado dramático veio dos Greenhunter. A primeira da lista é que Antonella também tem esse sobrenome e ela é a maior rainha do drama que eu conheço.

"O encontro foi ruim?".

"Foi terrível", Ella responde. "Para começar, o Ryan deixou bem clara a insatisfação dele por ser eu a encontrá-lo e não a Cassiopeia. Ele ficou o tempo todo me chamando de burra de forma implícita, falando sobre coisas que não entendo. O babaca até duvidou quando eu disse que estava na mesma graduação que a Maximoff!".

"Que droga. Mas a Cassie não tem culpa".

"É claro que tem! Ela não me precaveu que o Ryan era um idiota. Tenho certeza de que a Cassiopeia não quis se encontrar com ele por estar ciente disso e aí empurrou para mim".

"Isso você terá que descobrir perguntando para ela", não quero estar entre as duas se elas brigarem. Não seria a primeira vez, mas, ainda assim...

"O que você está fazendo agora?", Antonella muda de assunto de repente.

"Estou me preparando para ir até a casa do Tobias".

"Vocês dois fizeram as pazes?".

"Não".

"Então resolveu que vai matá-lo?".

"Não".

"Então...".

"Vou para conhecer a mãe dele", antes que ela monte mais algum questionamento, adianto a resposta.

Antonella fica em silêncio por um momento, antes de deixar um assovio baixo (e agourento) escapar:

"Falso ou não, vocês estão levando esse namoro bem a sério", é o que ela diz. "Boa sorte com isso".

"Obrigada".

Não preciso me despedir dela, porque Antonella encerra a chamada de repente. Assim, ligo o carro, saio do estacionamento e depois do palácio. Assim que chego ao cruzamento da avenida Carpentier com outras duas ruas, noto a BMW da guarda real me seguindo, assim como disse para vovó Zhong que eles fariam.

Quinze minutos depois, estou no maldito elevador do maldito prédio dos Durkheim. Dessa vez, quando chego ao hall do último andar, não ouço barulho de festa ou encontro um casal aos beijos, o que levo de modo positivo.

Assim que toco a campainha, a porta se abre.

É Tobias, em toda a sua presença que me traz à mente cenas que gostaria de esquecer com a mesma facilidade que ele: o corpo do lorde sobre o meu, sua boca na minha...

"Elisabeth?".

Balanço a cabeça em negação, sendo trazida de volta para o agora. Caramba, Elisabeth. Talvez Antonella esteja mesmo certa sobre eu precisar sair com outro homem e beijá-lo assim que possível. Ficar me lembrando de sexta-feira só me fará ficar corada como uma idiota, tipo agora.

Eu pigarro.

"Oi", digo.

Inesperadamente, a roupa de Tobias combina com a minha. Ele está usando uma camisa branca, com estampas em tons de rosa, parcialmente ensacada em uma calça de cetim creme, mais larga do que as que costuma usar, presa na cintura com um cinto da mesma cor. Por fim, em seus pés há um All Star azul-claro e seu cabelo, como sempre, cai sobre os olhos.

"Não vai entrar?".

É só quando o babaca fala isso que percebo que Tobias se afastou para que eu passe por ele e entre. Tentando não me abalar por estar mais desatenta que o normal (e a culpa ser do lorde e de possíveis hormônios que o seu beijo feiticeiro despertou em mim), passo por Tobias e entro na sala.

É quando a mãe dele aparece, vinda de um corredor:

"Chegou!", ela exclama, rapidamente caminhando até mim e me surpreendendo com um inesperado abraço. "Seja bem-vinda, Elisabeth".

Eu não tenho ideia do que fazer. Isso fica vergonhosamente claro quando Sara se afasta e fico apenas a olhando com cara de peixe tirado do aquário, o que a faz rir. Uma risada inesperadamente parecida com a do filho. Aliás, ela lembra Tobias em muitos aspectos. São os mesmos olhos escuros, o mesmo cabelo da cor do céu à meia-noite, a mesma pele clara e a mesma baixa estatura. Ela bate na altura do meu ombro.

"São para mim?", Sara aponta para o buquê de tulipas que ainda seguro, como se fosse um escudo.

"São sim, senhora", estendo as flores para ela.

"Apenas Sara, querida", até o sorriso dela lembra o de Tobias. "Vou colocar o arranjo em um vaso na cozinha e volto em um minuto. Muito obrigada pela gentiliza".

Assim que ela sai, sinto-me aliviada e libero a respiração que vinha prendendo sem perceber. Às minhas costas, Tobias ri.

"Ela não é difícil de agradar, sabia?", é o que o lorde diz quando me volto para ele. "Meu parente problemático é o meu pai. Minha mãe é um doce".

"Sorte a sua", retruco.

Agora que o efeito sobre a sua aparência passou, a raiva dos últimos dias tenta ganhar a espaço. É muito fácil para mim deixar o meu lado emocional me conduzir quando estou com Tobias.

Felizmente, a mãe dele volta a aparecer e impede que continuemos de onde paramos na ligação. Ela traz uma bandeja com uma cestinha de biscoitos, um bule e xícaras.

"Preparei um chá para tomarmos enquanto o cordeiro não fica pronto", explica Sara após pôr a bandeja na mesinha de centro. "Sente-se aqui, Elisabeth", ela dá uma palmadinha no lugar ao seu lado no sofá.

Enquanto me conduzo para perto de Sara, Tobias ocupa uma poltrona.

"Tobby me contou que se aproximaram durante os últimos eventos no palácio", ela me serve uma xícara de chá ao falar. "Mas confesso que ainda estou surpresa com o namoro de vocês. Foi algo bem inesperado".

Tobby. Quase rio com a careta que Tobias faz pelo uso do apelido.

"Também foi inesperado para mim", ouço-me dizer. "Tobias e eu nos conhecemos há vários anos e foi estranho quando começamos a nos ver de maneira diferente".

"Imagino que sim", Sara beberica o seu chá. "Mas formam um casal lindo. Aliás, querida, devo dizer que consegue ser ainda mais bonita de perto. Vossa alteza tem um olhar marcante".

"Use apenas você ao falar comigo, por favor", peço. "A senhora também é linda. Agora sei a quem o Tobias puxou", noto o lorde arquear uma sobrancelha ao ouvir isso, como se se perguntasse se ouviu certo, mas ignoro.

Sara ri.

"Realmente o Tobias é o que mais se parece comigo, dentre os meus filhos, apesar do David não ter ficado muito atrás".

Um barulho, provavelmente do forno anunciando que o carneiro assou, soa e ela rapidamente se coloca de pé.

"Volto em um minuto, querida", Sara diz, antes de ir até a cozinha.

Eu beberico o meu chá – apesar de não ser a minha bebida favorita – e evito o olhar de Tobias ao máximo, ficando feliz quando o meu celular toca outra vez (pelo visto, hoje todo mundo quer falar comigo) e o impede de puxar assunto. Sem nem conferir antes, atendo a chamada tão logo pego o aparelho na bolsa e fico momentaneamente confusa quando ouço a voz de Bram King me saudando do outro lado.

"Como é que você conseguiu o meu número pessoal?", definitivamente, não me lembro de ter passado tal informação para ele.

"Com o seu irmão, é claro".

Kyle não dá bola para Bram, Niklaus nem o conhece e Theo está no exército, então só sobra o queridíssimo gêmeo, que eu provavelmente deveria ter enforcado até o final com o cordão umbilical para evitar essa catástrofe.

Suspiro.

"O que quer comigo, Bram?", a minha pergunta faz com que Tobias fique em alerta e simplesmente saia do seu lugar na poltrona e se coloque do meu lado, para tentar ouvir o que o neto do senhor King diz.

"Somos o assunto mais falado no Twitter de Orion agora, graças à foto que tiramos hoje. Vossa alteza sabia que as pessoas acham que nós dois formaríamos um belo casal?".

Os olhos de Tobias se semicerram em julgamento e ele sussurra um "que foto?", mas eu o ignoro e apenas continuo minha conversa com Bram:

"Por acaso você se esqueceu de que eu já tenho um namorado?", questiono.

"Infelizmente, não. Essa é a única coisa que me impede de não te chamar oficialmente para sair agora, alteza".

"O que gosta em mim, Bram?", fico curiosa sobre isso e acabo perguntando. "Sei que sou bonita, mas existem outras garotas em Orion que são mais e que podem te dar atenção. Além de mais simpáticas".

"Vossa alteza é um desafio", ele responde como se houvesse acabado de me elogiar. "Sempre evitou sair com alguém antes do lorde Durkheim e eu me perguntava o porquê disso. Agora me pergunto o porquê de ser ele".

Eu o chantageei...

"Eu gosto do Tobias", isso sai mais fácil do que devia e me pergunto se estou mesmo mentindo como quero acreditar que estou. "Então, sinto muito, Bram. Vou ter que encerrar a nossa conversa aqui".

"Tudo bem", felizmente, ele não insiste. "Mas, se terminar com o Durkheim, espere por outra ligação minha".

"Não vai bloquear o número dele?", Tobias questiona, assim que encerro a chamada.

Eu franzo as sobrancelhas, confusa.

"Por que eu faria isso?".

"Para evitar ter de dispensá-lo na próxima ligação", o lorde fala com obviedade.

"Não terei mais motivo algum para evitá-lo na próxima ligação. Nós dois já vamos ter terminado".

Por um momento, Tobias me encara com indignação, mas ele logo disfarça ao bufar uma risada.

"Não era você que dizia que não gostava de homens como ele?".

"Perto de você, o Bram não parece tão ruim", retruco.

Ele não me beijou e depois fugiu, sumiu por dias e agora finge que nada aconteceu.

Tobias me encara. Por um instante, penso que ele falará. Penso que ele dirá que devemos mesmo esquecer sobre o beijo e jamais repetir esse erro. Mas ele não diz nada. Ele se aproxima, inclina-se para perto de mim e isso me desestabiliza o suficiente para que a xícara de chá que seguro com a mão esquerda vire e o conteúdo caia sobre nós dois.

Eu grito.

Tobias xinga.

Sara aparece na sala alarmada.

"O que aconteceu?", ela nos questiona, olhando de Tobias para mim com aflição.

"Derramei chá por acidente", explico.

Foi mesmo um acidente, mas não sei se o lorde acredita em mim. Ele me lança um olhar muito irritado.

"Vou trocar de roupa", Tobias avisa.

Enquanto o lorde sai da sala, Sara se aproxima de mim com os lábios tensos de preocupação.

"Venha comigo, querida. Vou te emprestar uma roupa para que se troque".

xXx

Por ser uns vinte centímetros mais baixa que eu, a roupa da mãe de Tobias que melhor serve em mim é um pijama. E ao vesti-lo, sinto como se fosse a prova concreta de que a noite foi estragada por completo. O que diabo Tobias estava pensando? Que droga ele quer que eu pense quando me ignora por dias, finge que não me beijou e depois se inclina como se fosse...

Balanço a cabeça em negação.

"Sinto muito por nada mais apropriado ter servido, querida", Sara fala.

"Está tudo bem".

Nós duas voltamos para a sala, mas Tobias ainda não saiu do quarto.

"Por que você não vai chamá-lo enquanto eu arrumo a mesa?", Sara sugere.

Penso ser essa uma péssima ideia. O clima entre Tobias e eu sozinhos não está dos melhores e o olhar raivoso que ele me lançou pelo chá ainda é uma memória muito recente. Porém, apesar dos meus receios, para Sara ele ainda é meu namorado.

Ela me indica o quarto de Tobias como sendo o primeiro do corredor. Assim, bato na madeira com relutância e meio que torço para que ele não abra, mas o lorde faz o contrário e logo tenho o vislumbre da sua silhueta sem camisa me olhando com desgosto.

Não consigo evitar ser pega desprevenida outra vez. Apesar de já saber que Tobias tem um abdome definido pela dança, não esperava ver uma tatuagem em seu peito esquerdo: uma meia-lua com lâminas de espadas atravessando-a.

"Eu quase me sinto envergonhado", ele me tira de meus pensamentos e me deixa corada com o meu próprio descaramento ao dizer isso.

"Sua mãe pediu que o chamasse", sinto-me patética quando desvio o olhar agora, porque, afinal, eu já vi tudo.

"Ainda estou procurando uma camisa adequada", o lorde fala. "Você pode voltar para a sala agora e me esperar lá ou entrar e me esperar aqui. Aliás, belo pijama de vovó".

"A sua mãe é muito menor do que eu. Só o pijama me serviu", defendo-me.

"Devo ter algo melhor que caiba em você. Entra", ele me dá espaço.

Um lado meu diz "volte para o seu próprio bem, Elisabeth" e outro alega "ele pode ter algo melhor mesmo", e então eu entro.

O quarto de Tobias é mais organizado do que eu esperava. A única coisa fora de ordem são roupas jogadas em sua cama. Enquanto ele segue até o closet aberto do outro lado do cômodo, eu fico parada perto da porta e o silêncio paira entre nós de forma angustiante.

"Isso deve ficar bom em você", Tobias me joga uma calça social preta e uma camisa de botões vinho. "Pode se trocar ali", ele indica uma porta fechada ao lado do closet, que imagino ser a porta do banheiro.

Sigo até ela.

Leva apenas cinco minutos para que eu me troque e, de fato, fico bem vestida com as roupas dele. Apesar da calça, obviamente, ficar larga. Tenho que segurá-la no lugar quando saio do banheiro e encontro Tobias, já não mais com o torso nu.

"A calça...".

Ele logo percebe qual é o problema antes que eu diga e vem na minha direção com um cinto. Porém, ao invés de me entregar e deixar que eu mesma o coloque, é o lorde quem passa o acessório pela correia, e fico sem saber o que falar até que ele se afaste e me encare.

"É bonita demais para o seu próprio bem, Liz".

Franzo as sobrancelhas, confusa com suas palavras. Mas Tobias não as explica. Ele se afasta e segue até a porta:

"Vamos. Minha mãe deve estar nos esperando". 

Capítulo gigante de novo para vocês, com o lorde Durkheim sem saber lidar com o fato de que a princesinha o deixa todo tchubirau daum daum e muito menos a princesa conseguindo entender a atração que sente por ele. Só resta à vocês lidar com a tensão entre eles (rs). 

Até a próxima! (e não odeiem o Bram, pois ele é um chuchu que talvez amem um dia, quando eu resolver tirar a série da família King da minha cabeça e pôr no papel). 

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