54. DESPEDIDA DE SOLTEIRO

Depois que Cassiopeia vai embora e nós terminamos de experimentar os vestidos, não demoramos a ir embora. No entanto, é quase uma hora da madrugada, já que o único horário possível para essa reunião foi inconveniente, e me sinto exausta quando saímos da sala designada às mulheres e encontro Caellum com Tobias e Aiden na recepção.

"Ué, o Timotheo já foi?" Aeryn pergunta, quando não encontramos o príncipe com os demais.

"Ele não pôde ficar por muito tempo. Tinha a agenda cheia amanhã", Caellum responde, mas algo me diz, provavelmente a sua aura cabisbaixa, de que não foi apenas isso.

"Que pena. A Cassie nos pediu para avisá-lo antes de sair que os dois irão ensaiar amanhã para a música do casamento".

"Então eles ainda não desistiram disso e jogaram o pedido do Caellum para os ares?" Tobias soa impressionado e deixa um assovio baixinho escapar. "Os padrinhos estão esforçados".

"E esperamos que continuem assim", Elisabeth diz. "Do contrário, tocaremos uma marcha fúnebre ao invés de nupcial no casamento".

"Vira essa boca para lá!" Caellum censura a prima.

"Apesar do parentesco, tenha modos com a princesa, Caellum Feng", Yan An o reprime.

"Dizer 'cala a boca, alteza' é mais cortês?".

Sua piada consegue o feito de irritar a avó, mas, ao menos, Elisabeth ri.

"Não me leve a sério, Cal. Espero que dê tudo certo", a princesa diz. "E não se preocupe, senhora Feng, dou abertura para que a nossa relação seja assim".

Depois disso, nós mudamos de assunto para nos despedir. Falo rapidamente com Elisabeth, Tobias, Aeryn e Aiden enquanto Caellum conversa com Amelia e a avó. Quando enfim nos despedimos de todos e entramos no carro para ir para casa, sinto-me aliviada, apesar da preocupação que me toma em razão da expressão de meu noivo.

"Por acaso, aconteceu alguma coisa?" Decido perguntar antes de sequer sairmos do estacionamento. "Você conversou com o Theo sobre o casamento?".

Em um primeiro momento, Caellum não parece querer me dizer, mas depois muda de ideia. Ele se volta para mim ainda com a expressão cabisbaixa e diz:

"Não consegui chegar nesse ponto, mas suponho que o príncipe não faça a menor ideia de que isso aconteceu. O Theo acha que a Cassie não sente nada por ele e está bravo comigo porque eu me meti na relação deles".

"Então você o interrogou mesmo?" Admito que cogitei que Caellum recuaria na hora agá, então fico impressionada ao saber que não foi o caso.

Ele assente em concordância.

"Falei sobre estar ciente de que eles tiveram algo e disse que achava que a Cassie ainda tinha sentimentos por ele, mas o Theo ficou irritado e me disse que estava enganado. Ao que parece, a Cassie falou para ele justamente o contrário há dois anos e ele acredita que ela não o ama", Cal explica, meio distante. "Então me disse para nunca mais tocar no assunto, porque ele estava aliviado de que ela iria embora e queria esquecer tudo isso".

"Então a história é mais profunda do que imaginávamos...".

O que Caellum diz faz parecer que Theo tem um rancor de anos crescendo no peito e que a única que pode fazer algo a respeito é a própria Cassiopeia, mas como? Ela parece bastante determinada a fingir que nada nunca aconteceu e enganar ao príncipe e a si própria, alegando que não o ama mais.

"Acho que eles nunca vão se acertar", Caellum diz, meio tristonho.

E eu me vejo incapaz de discordar, por mais que acredite em pequenos milagres. Afinal, só pode ter sido um que me fez voltar a ficar junto de Cal quando tudo parecia completamente perdido para nós..., mas será que existe milagre para tudo e todos?

"A Cassie foi embora mais cedo porque o Ryan Hastings veio buscá-la", comento.

"O meu chefe?" Isso, obviamente, chama a atenção de Caellum.

Eu afirmo com um aceno.

"Acha que tem alguma coisa acontecendo entre eles?" Pergunto. "Sei que a Cassie sempre negou quando questionada a respeito e que afirmou com todas as letras de que os dois são apenas amigos, mas...".

"Ela nunca teria qualquer outro tipo de relacionamento com o Ryan Hastings", Caellum afirma, embora não soe com tanta convicção.

"Por que você acha isso?".

"Porque ele é um dos possíveis noivos aprovados pelos nossos avós, o que significa que os dois não têm nada a ver um com o outro".

"Mas ele sempre ajuda a Cassie, você já reparou? Talvez o Ryan seja a fim dela, o que pode levar a alguma coisa".

"Conhecemos o Hastings há uns dez anos e nada nunca aconteceu. A Cassiopeia sequer o suportava até precisar que ele a ajudasse com o falso intercâmbio, então não acho que isso vai mudar agora".

"Por que você parece tão contra isso?".

"Porque eu sei que ele não é a pessoa ideal para a minha irmã. O Ryan é... Não sei explicar, mas ele não me agrada por completo. Seu jeito de ser é distante e, às vezes, cínico. É como se ele fosse incapaz de demonstrar sentimentos. Reparou que, na nossa festa de aniversário, ele perguntou sobre a Cassie como se estivesse falando de negócios? Acho que ele passou tanto tempo estudando que ficou pedrado e de pedrada no amor já basta a Cassie".

"Mas o Theo também é assim", percebo. "Isso significa que ele também não é o ideal?".

"Afirmar isso não está ao nosso alcance. Eu só quero que a Cassie conheça alguém que a faça sentir todo o amor do mundo, que é o que ela merece. Posso estar errado sobre o Ryan ou sobre o Theo. Agora, vamos mudar de assunto e ir para casa", ele liga o carro, desistindo da conversa. "Aposto que a mamãe e o Elio devem estar angustiados com a nossa demora, por terem que ficar tanto tempo juntos, cuidando dos gêmeos".

Os dias depois da minha conversa com Theo passam como em um piscar de olhos e, quando dou por mim, é sábado e o dia anterior ao meu casamento.

Amanhã, tudo vai mudar. Ou pelo menos é o que todo mundo anda falando. Embora, na prática, Miranda e eu já sejamos casados desde que passamos a morar juntos, oficializar isso vai tornar as coisas mais reais e a ideia me deixa em um misto de ansiedade boa e ruim. E se tudo der errado a partir do momento em que trocarmos as alianças, ao invés de continuar dando certo?

"Quando foi que me tornei tão pessimista?" Questiono ao meu próprio reflexo no elevador do Maximoff Plaza.

É noite e eu vou me reunir com os rapazes no Heaven In Hell para uma suposta despedida de solteiro, por pura insistência de Tobias e Aiden, que acreditam que a minha vida vai acabar depois de trocar alianças.

Apesar de, a princípio, a ideia ter me parecido terrível, Miranda a adorou e me fez vir ao alegar que também teria a sua própria despedida na casa dos Kannenberg, para onde foi com os gêmeos esta tarde.

Por isso, quando o elevador para no andar mais agitado do prédio, entro no Heaven In Hell e sou saldado por vários homens com bebidas em mãos.

"Finalmente o noivo!" Diz Lucas Durkheim.

Para minha completa surpresa, estão todos aqui, até Travis Ventura. Por causa do casamento, todas as famílias mandaram ao menos um membro para participar, e isso significa um salão lotado de Lordes, mas não só deles. Alguns colegas do meu antigo colégio e da faculdade também foram chamados pelos organizadores, mesmo que não sejam pessoas com quem tenho muita proximidade.

"Boa noite", eu digo, meio encurralado pela atenção inesperada. "Por favor, aproveitem a festa".

Uma música que não reconheço está tocando e os homens logo desistem de me dar atenção e voltam a conversar em pequenos grupos, então me aproximo do balcão em que os responsáveis por isso estão com Bram e Gabriel King.

"Quanto tempo", chamo a atenção dos quatro, notando que os cabelos de Aiden e Bram estão combinando. Por algum motivo que desconheço, ambos são falsos platinados. "Acho que não os vejo há dois anos. Como vão?".

"Isso é porque você foi laçado depois do serviço militar e sumiu das noitadas na Starry Night", Bram responde, embora, até onde eu sei, ele próprio não esteja mais frequentado a boate com a mesma assiduidade.

"E quanto à pergunta, nós estamos bem", Gabriel diz.

Os dois estudaram com a gente no colégio para meninos, o que explica sermos conhecidos. Bram e Gabriel são primos e netos de um dos homens mais ricos do país, magnata da indústria farmacêutica e de uma rede de hospitais privados... O King de seus sobrenomes é o mesmo King do hospital que costumamos frequentar, o que significa que eles são mais ricos que o próprio rei, mas com a vantagem de terem menos exposição midiática.

"E você? Ansioso para perder a sua solteirice?" Bram me pergunta, bebericando um drink azul.

"É o que mais quero".

Ele balança a cabeça em negação, incrédulo.

"Coisa de maluco".

"É mesmo muito estranho imaginar que pessoas da nossa idade já se casam", Aiden, que está preparando mais drinks do outro lado do balcão, dá a sua opinião. "Eu não consigo me imaginar nem em um relacionamento sério, quanto mais me casando".

"Está sendo fiel à nossa irmandade, ao contrário desses dois", Bram indica Tobias e eu. "Dois laçados".

"Sei que nunca superou que não foi quem me conquistou, Branwell, mas também conhece a Elisabeth e deveria ficar feliz por nós dois", Tobias brinca, deixando o King um pouco vermelho.

"Se manca, Durkheim".

Tenho vontade de rir com a ideia de que os dois já tiveram um breve envolvimento quando mais novos, porque Tobias e Bram não poderiam ser mais iguais, e isso deveria repeli-los ao invés de atrai-los. Todavia, saio de meus pensamentos quando Aiden deposita um copo com líquido amarelado na minha frente.

"Uma bebida para seu último dia de liberdade".

"Você fala como se eu já não vivesse uma vida de casado", puxo o copo para mais perto de mim e tomo um pouco da bebida, que tem gosto de limão siciliano e muito álcool. "Está uma delícia", ergo o polegar em aprovação, e Aiden não esconde o sorriso de orgulho.

"Valeu".

Do nosso lado, Tobias e os King continuam conversando, então dou uma olhada ao redor do salão para encontrar pequenos grupos jogando, conversando ou comendo. São muitas pessoas para algo que eu esperava ser mais íntimo.

"Vem cá, quantas pessoas vocês chamaram?".

"Umas cinquenta?" Aiden chuta, meio incerto.

"E o Timotheo estava na lista ou ele só furou comigo mesmo?".

Depois da conversa, o príncipe claramente passou a me evitar, mesmo tendo assumido que eu nunca mais tocaria no assunto Cassiopeia com ele. Por isso, apesar de o salão estar repleto de homens, nenhum deles é meu suposto amigo mais próximo.

"Ele disse que tentaria vir, mas que, provavelmente, estaria ocupado", Aiden responde.

Ou só não teria disposição para lidar comigo.

"Até o seu chefe a gente tentou convidar", Tobias diz, entrando na conversa. "Mas ele não está em Orion, pelo que a secretária nos relatou".

"Isso não me surpreende", não posso dizer que fico triste com isso depois de Miranda ter me colocado uma pulga atrás da orelha com a relação existente entre ele e Cassiopeia.

Felizmente, logo o assunto é mudado. Há muitas pessoas para cumprimentar e falar trivialidades, então tento não pensar muito nos dilemas que não me cabem. Aproveito o momento, mas fujo assim que posso por não querer me embriagar, nem dormir pouco. Apesar do casamento ser ao final da tarde, quero estar bem descansado e disposto para o que realmente me interessa.

Por isso, assim que posso, saio sem avisar para ninguém e vou para meu apartamento, cujo interior parece deprimente sem a presença de Miranda e dos bebês para preenchê-lo.

Cabisbaixo com esse pensamento, sigo para o quarto, tomo um banho e depois me deito com a sensação de vazio que me faz pegar meu celular e ligar para Miranda. Apesar de não esperar que ela atenda, é isso o que acontece, e ouvir sua voz por si só já me acalma um pouco o coração:

"Está aproveitando a sua despedida de solteiro?" Ela me pergunta, com voz de sono.

"Eu te acordei?".

Essa conversa me faz lembrar de seis meses antes, quando nos acertamos e telefonei para Mimi a fim de ter certeza de que tudo foi real.

"Não, mas estou quase cochilando", ela fala. "Não aguentei muito tempo com as meninas. Estou exausta e acho que é melhor descansar para amanhã".

"Pensei a mesma coisa", respondo. "Vim para casa assim que pude. Você está ansiosa para amanhã?".

"Você está?".

"Um pouco", admito. "Mas a certeza de que quero isso é muito maior do que qualquer outra coisa".

Quase posso imaginá-la sorrindo quando Mimi diz:

"Você é tão meloso, Caellum Maximoff".

"Se amar você é um crime, eu me considero culpado!".

Consigo o delicioso feito de fazê-la rir, o que pra mim significa o mundo.

"Também estou ansiosa", Miranda me confidencia. "Quero vê-lo de noivo. Aposto que será o homem mais lindo do país".

"Para combinar com a noiva mais linda e rica, com seu vestido de quinhentos mil dólares".

Ela grunhe ao lembrar desse detalhe que a deixou indignada durante a semana inteira.

"Já disse: você vai ter que me pedir em casamento todo ano para valer a pena ter um vestido tão caro para chamar de meu".

Seu drama particular me faz rir.

"Pode deixar".

Depois disso, nós dois caímos em um silêncio aconchegante, que me faz pensar que Miranda adormeceu, mas então...

"Eu amo você", ela diz. "Ainda não parece real que amanhã seremos um do outro".

"De muitas formas, nós já somos um do outro. Amanhã os Ancestrais apenas reconhecerão isso", rebato. "Mas eu também amo você, Miranda Miller. Mal vejo a hora de te ver no altar amanhã".

"Eu serei a de branco".

"Tenho certeza de que a reconhecerei", rio, sabendo que ela só deve ter querido referenciar à Saga Crepúsculo. "Boa noite, meu amor. Dorme bem. Dá um beijo na Estrelinha e no Saturno por mim".

"Pode deixar", ela responde. "Boa noite, noivo".

"Amanhã será marido. Mal posso esperar".

Ela ri, porque sabe que não vou deixá-la em paz até sempre me chamar de marido, como foi quando ficamos noivos.

"Tchau, Caellum".

"Tchau, futura senhora Maximoff".

Juro que algum dia vou começar a contar a história dos King... só preciso que o dia passe a ter umas 36h de duração pra dar conta!

Olá, pessoas. Tudo bem?

Conforme dito no capítulo passado, estamos caminhando para o fim e acho que esse capítulo de transição para o último acontecimento restante deixa isso claro.

A intenção agora é atualizar dia sim e dia não, então fiquem atentos. Tá todo mundo convidado para o casamento do ano <3

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