49. DESEJO
Os dias passam como borrões entre o meu estágio, os cuidados com Caeli e June e os detalhes do casamento para serem resolvidos. Assim, mal sobra tempo para que Miranda e eu fiquemos juntos, o que me leva a pensar na falta que faz termos um momento apenas para nós, sem que o assunto esteja entre filhos ou matrimônio. A verdade é que sinto saudade da minha noiva, mesmo que ela esteja ao meu lado todos os dias, e, por isso, quando dou por mim, estou planejando um momento só nosso com a ajuda de Tobias.
"Tem certeza de que isso vai dar certo?" Fico na dúvida se foi mesmo uma escolha sensata pensar em Tobias dentre todos os meus amigos para realizar essa tarefa. Porém, entendendo que as minhas outras opções, além dele, eram Theo e Aiden, é rápido notar que, no fundo, eu não tinha muita escolha.
"É claro, confia em mim!" Meu amigo diz, através do telefone. "O Kyle me passou a senha do apartamento e eu estou aqui nesse exato momento, garantindo tudo o que precisarão para me dar mais um sobrinho no ano que vem".
"Vira essa boca para lá!".
Tobias ri com gosto do meu assombro.
Não que eu não queira ser pai de novo, mas venhamos e convenhamos que é cedo demais para pensar na possibilidade, coisa que Miranda também deixou claro ao passar a usar um chip como método preventivo. Daqui dez anos, quando os gêmeos já estiverem grandinhos e nossas carreiras estabelecidas, quem sabe...
"Estou brincando", meu amigo diz. "Mas, quanto ao resto, pode ficar tranquilo. Confia em mim".
"Você sabe que isso não é algo fácil, né?".
"Ha ha", Tobias imita uma risada irônica. "Só se preocupe em trazer a Miranda até aqui depois da reunião no Heaven In Hell com nossos amigos. Até daqui a pouco".
Ele encerra a chamada e eu guardo o celular no bolso bem no momento em que Miranda sai do closet usando uma saia jeans e uma camisa branca de botões, com mangas curtas e gola em V. O seu cabelo, que esteve longo o ano inteiro, foi cortado recentemente para um tamanho médio junto de uma franja reta e, mesmo não sendo nenhuma novidade, ainda sinto meu coração palpitar toda vez que a vejo por lembrar de quando me apaixonei por ela. Exceto pela franja, o corte de cabelo é parecido ao de três anos atrás.
"Acha que assim está bom?" Ela me pergunta, dando uma voltinha. "Talvez eu devesse mudar a saia por uma calça...".
Depois do episódio do vestido, venho notando certa insegurança dela em usar determinadas peças, mesmo que, aos meus olhos, ela esteja linda como sempre. Por isso, trato de deixar clara qual a minha opinião quando saio do meu lugar na cama e a envolvo em um abraço.
"Se quer mesmo a minha opinião, você está linda, Mimi", respondo. "Não precisa trocar, até porque já estamos atrasados e sei que não vai querer ficar lá mais do que as duas horas que estabeleceu. Logo, é melhor ficar assim para irmos e aproveitar ao máximo".
Ela hesita por um instante, olhando com dúvida na direção do closet, mas acaba por ceder com um aceno:
"Está bem".
Ainda é difícil para nós dois aceitarmos a ideia de ficar longe de Caeli e June, mesmo que por pouco tempo. Porém, com tantos detalhes para resolver acerca do casamento nos últimos dias, sair por uma ou duas horas acabou se tornando quase rotineiro, exceto por quando conseguimos fazer nossos amigos virem até aqui. Infelizmente, não é o caso de hoje, já que a intenção é uma pequena festa para tecer os convites aos padrinhos do casamento e o barulho seria uma perturbação para os bebês. Todavia, conseguimos que fosse no Heaven In Hell, apenas dois andares abaixo do nosso.
Miranda e eu saímos do nosso quarto e passamos pelo dos gêmeos, que dormem no momento. Em seguida, ao voltarmos para o corredor, ouvimos as vozes agitadas de Andrea e Juliana em mais uma discussão na cozinha e, na sala de TV, Julie assiste desenho enquanto Mark lê alguns papéis de seu trabalho.
"A gente já vai indo", Miranda avisa ao pai, que ergue o olhar da papelada por um momento. "Avise à mamãe. Ela está implicando com a Andrea de novo".
"Divirtam-se", ele diz, embora ainda soe meio bruto.
A sensação que eu tenho é que ele pretende me detestar pela vida toda, mesmo que eu seja pai de seus netos e esteja prestes a me casar com sua filha. O olhar de aviso que ele me lança, como se pudesse ler quais são os meus planos envolvendo Miranda para mais tarde, deixa-me subitamente nervoso.
"Tchau. Lembre-se de me telefonar, se algo acontecer!" Ouço Mimi dizer antes de me puxar pela mão até a porta.
Saímos do apartamento e entramos no elevador acionando o botão do quinto andar.
"Acha que todos eles vão vir?" Miranda me pergunta de repente, voltando-se para mim com um ar de dúvida nas sobrancelhas franzidas. "Já fiz o convite para o Sr. Kannenberg antecipadamente, assim como você fez para o Elio e a sua avó, mas sei que guardou os convites do Theo e da Cassie para a reunião".
"Timotheo me disse que viria após seus compromissos e a Cassiopeia me respondeu com um simples ok depois que a enchi de mensagens durante a semana para esgotar sua paciência, então quero acreditar que sim".
As portas do elevador se abrem direto para o hall do Heaven in Hell, onde uma música pop reverbera junto de várias vozes. Apesar da intenção inicial ter sido uma reunião simples, fica claro quando entramos no salão que somente a presença dos nossos amigos já é capaz de preencher o lugar.
Sofya e Aiden estão fazendo drinks no balcão enquanto David conversa com eles; Lucas, Henry e Leonard jogam pebolim; Hermione tenta ensinar Mundo Onírico para Antonella; Aeryn e Tobias jogam Just Dance e Elisabeth fofoca com Amélia em um dos sofás enquanto Cepheus, Ren, Niklaus e Daemon e Violet Hendrick conversam em outro.
"Por que será que eu achei que teríamos uma reunião mais formal?" Miranda pergunta em voz alta. "Acho que a maternidade está me deixando careta. É óbvio que seria uma algazarra a partir do momento que escolhemos o Heaven In Hell".
Isso eu não posso contestar.
"Enfim o casal chegou!" Aeryn percebe ao encerrar a partida no Just Dance, chamando a atenção dos que estão mais próximos da gente. A melhor amiga de Miranda se aproxima com suor escorrendo pela tez e um sorriso de satisfação. "Só queria deixar claro que senti falta desses momentos. O novo semestre da faculdade está me matando e é bom poder extravasar um pouco entre amigos".
"E perder para mim no Just Dance!" Tobias acrescenta ao longe, implicante, apenas para Aeryn lhe lançar uma careta.
"Melhor ainda quando se tem o drink certo", Sofya surge com dois copos de cores distintas, os quais entrega para Miranda e para mim. "Não se preocupe, o seu não tem álcool", ela acrescenta quando nota a hesitação de Mimi quanto à bebida.
"Obrigada", minha noiva fala antes de dar um gole no drink lilás, lambendo os lábios em seguida com uma expressão de aprovação. "Está uma delícia".
"Créditos ao Aiden", Sofya diz, indicando o Kannenberg no balcão, que nos lança uma piscadela quando percebe a atenção.
Resolvo beber o meu, que é verde, e sinto um gosto mentolado de abacaxi e álcool.
Aos poucos, Miranda e eu vamos nos misturando. Ela decide jogar Just Dance com Aeryn e depois embarca na conversa de Lizzie e Amelia, enquanto eu me arrisco no pebolim e, em seguida, encontro Tobias e Aiden no bar.
"Quando pretende subir com a Miranda, considerando que vocês não podem ficar muito tempo fora?" Tobias me pergunta.
"Ela não vai antes de fazermos os convites aos padrinhos do casamento, que era o motivo para essa reunião".
"E por que não fazem isso agora?".
"Porque meus padrinhos resolveram nos dar bolo".
Confiro meu celular e percebo que tanto Timotheo quanto Cassiopeia estão quase uma hora atrasados, o que é uma baita indelicadeza para um país que preza tanto pela pontualidade quanto o nosso.
Estou me perguntando se vale a pena enchê-los de ligações quando, como se previsse isso, Timotheo aparece no salão usando as roupas sociais com que vai a seus compromissos como príncipe. Ele entra no Heaven In Hell, para momentaneamente para se localizar entre as pessoas e, ao nos avistar, aproxima-se de maneira afobada.
"Perdão pelo atraso. A reunião demorou mais do que eu previa".
"Tudo bem, considerando que a Cassie também resolveu não chegar na hora", eu respondo. "Senta aí para tomar um drink", indico o banco vazio do meu lado esquerdo.
Ao sentar, Theo retira o paletó e a gravata enquanto Aiden lhe prepara uma bebida. De perto, apesar da maquiagem e do cabelo arrumado, o príncipe parece o retrato da exaustão.
"Por que você anda trabalhando tanto ultimamente?" Aiden resolve perguntar ao colocar a bebida de Theo na sua frente.
"Depois da faculdade vem a responsabilidade", o príncipe fala como se estivesse imitando alguém, provavelmente o seu pai. "Tenho mais tarefas agora e a nova é que o Timotheo me deixou responsável pela organização do jantar de boas-vindas aos Baumann após o período deles fora do país, e isso significa estar em contato com o gabinete do duque Johannes o tempo todo".
Aid e Tobias não escondem as caretas.
"Sempre que te ouço falar sobre essas coisas, fico feliz de não ser o herdeiro do meu pai", o Durkheim comenta, e eu sinto um arrepio por me lembrar que, durante muito tempo, pude falar o mesmo que ele. Mas agora não mais, depois da decisão de Cassie.
E falando nela...
A atrasada surge tão bonita quanto sempre fica quando quer. Com a postura de realeza, Cassie imita Theo sem fazer a menor ideia ao parar por um momento para se localizar, olhando ao redor em busca de um grupo para se encaixar.
Eu decido abandonar o meu lugar no balcão e ir até ela.
"Por um momento, achei que você não viria. Por que se atrasou tanto?".
"Desculpe. Eu tinha outro compromisso que não podia adiar".
"Outro compromisso?".
"Jantar com a Mabel. Eu assinei os papéis de revogação dos meus direitos".
Tenho certeza de que perco toda a cor, porque me sinto subitamente fraco. Apesar de saber que era isso o que ela queria, reconheço que ainda possuía certa esperança de que Cassie voltaria atrás, a qual acaba de morrer.
"Então a mamãe concordou mesmo com isso...".
"A Mabel tentou me fazer mudar de opinião, o que deve ter sido um pedido dela, mas acho que nunca estive tão certa sobre algo. Ficaremos mais seguros se eu desaparecer".
"Cassie!" A repreendo, pois suas palavras soam duras demais.
Minha irmã, no entanto, não parece entender. Ela me olha com a mesma apatia que se tornou sua marca depois de tudo, mesmo após ter conversado com a nossa mãe para tentar entender o que ainda lhe gerava dúvidas sobre o seu passado.
"Cas, que bom que chegou", Miranda surge como se pudesse sentir de longe a tensão que me domina e sorri de maneira simpática para minha irmã, segurando-a pelo braço. "Agora podemos falar sobre o motivo de termos nos reunido aqui".
"Não foi só para encher a cara e esquecer da vida, pelo visto", Aiden dá um suspiro dramático de seu lugar atrás do balcão, embora seja perceptível que só a está provocando.
"É claro que não", Miranda o censura, lançando-o um olhar afiado. "Queríamos um momento para falar sobre os padrinhos que escolhemos para o casamento, embora eu esteja começando a reconsiderar um deles...".
"Quem? O Aiden?" Tobias aponta para o amigo com óbvia descrença.
Com a hipótese levantada, o próprio Aid parece ficar surpreso. Já Miranda suspira e lança um olhar agradecido para Leo quando ele desliga a Jukebox para que a conversa seja ouvida por todos.
"Resolvemos que cada um teria dois pares de padrinhos", minha noiva retorna o discurso, agora recebendo a atenção de todos os grupinhos. "E, para decidir os meus, eu pensei nas maiores fontes de apoio que tive durante o período mais difícil da minha vida e na maior entusiasta do casamento. Por isso, escolhi o Sr. Kannenberg, Elisabeth, Aiden e Aeryn".
"Sério?" Os envolvidos que estão presentes exclamam, não escondendo a surpresa.
Aiden parece estupefato, ao passo em que Elisabeth e Aeryn abraçam Miranda em demonstrações de entusiasmo.
Enquanto isso, eu noto a atenção dos outros se voltar para mim:
"E os seus, Caellum?" Sofya pergunta.
"Também não tive que pensar muito. Um dos casais que escolhi foi a minha avó Yan An e o Elio Prescott e o outro foi o Theo e a Cassie".
O pessoal se divide entre se questionar sobre Elio e esperar uma reação de Theo e Cassiopeia, a qual, admito, também fico esperando com certa tensão em razão do histórico deles. Todavia, o príncipe e minha irmã apenas se entreolham e, em seguida, dão de ombros.
"Foi só isso?" Tobias questiona, soando indignado. "Sem provocação ou discussão?" Theo e Cassie apenas o fitam com pouca paciência, o que o faz revirar os olhos. "Francamente, vocês dois já foram mais divertidos".
Ele se afasta de volta para o bar e isso leva os outros a voltarem a se dispersar, mas ainda me divido entre olhar para Cassie e Theo à espera da explosão.
"Vocês dois estão mesmo bem sobre isso?" Decido perguntar.
Timotheo dá de ombros.
"O casamento é seu", ele diz, como se isso fosse suficiente para encerrar o assunto.
"Não somos crianças, Caellum", minha irmã acrescenta, fitando Theo pelo canto do olho. "Podemos ficar quinze minutos lado a lado por você".
"Quinze minutos?" Não consigo conter um sorriso provocativo. "Acho que está enganada, Cas. Os padrinhos trabalham juntos para nos ajudar com o casamento e escolhi vocês pensando que poderiam ser responsáveis pelas músicas da cerimônia, principalmente a da valsa dos noivos".
"O quê?" Os dois soam como se tivessem caído em uma pegadinha.
"São musicistas", pego-me me explicando. "Tenho certeza de que conseguirão preparar algo bonito com um piano e um violoncelo, se passarem um tempo ensaiando".
"Só pode estar de brincadeira!" Cassiopeia é a primeira a perder as estribeiras, o que não surpreende. É sempre assim. "Não tenho tempo para ensaiar uma música com Timotheo, Caellum".
"Muito menos eu", acrescenta o príncipe. "Acabei de te falar sobre as minhas responsabilidades. Não tenho tempo para ensaios".
"Tenho certeza de que darão um jeito por mim", banco o sonso. "Afinal, é o meu casamento e eu só pretendo casar uma vez".
Deixo-os sozinhos para se resolverem ou discutirem entre si e saio à procura da minha noiva, encontrando-a junto das madrinhas extremamente animadas.
"Desculpe interromper a conversa entre vocês, mas posso roubar a noiva por um instante?".
Caellum está estranho, como se estivesse escondendo algo de mim. E, apesar de ter bancando a sonsa acerca das suas ligações escondidas e cochichos com os amigos, pego-me pensando o que ele aprontou quando decide de repente me tirar do Heaven In Hell.
Estamos no elevador quando disparo:
"Ainda temos uma hora antes de ter que voltar para casa. Não era você quem queria que eu saísse, então porque já estamos voltando? Meu pai te ligou? Aconteceu alguma coisa?".
Sei que não pode ser o caso, porque conferi meu celular a cada dez minutos desde que chegamos e tenho certeza de que meu pai preferiria falar diretamente comigo a ter que passar recado através de Caellum, se algo acontecesse.
"Nós não estamos indo para casa", Cal responde, o que me deixa confusa. Afinal, o elevador está subindo.
"Então...?" Rápido demais, as portas se abrem e percebo que paramos no sexto andar, onde fica o apartamento de Kyle. "Por que estamos aqui se o dono está lá embaixo?".
"Porque o Kyle nos emprestou para termos um momento entre nós", o sorrisinho que Caellum me lança mostra que, apesar das minhas desconfianças, ele ainda conseguiu me surpreender.
Olho-o com óbvia confusão, mas não tenho muito tempo para absorver o que isso significa antes que ele me pegue pela mão para sairmos do elevador.
"Você riu sobre a senha do nosso apartamento ser a minha data de nascimento, mas acredita que a senha do Kyle é a data de nascimento da Aeryn?".
Caellum solta minha mão apenas por tempo o suficiente para digitar os seis números que destrancam o apartamento. Quando ele abre a porta, nós já estamos de mãos dadas de novo e começo a entender quais são as suas intenções ao encontrar o ambiente em meia luz.
Assim como o nosso apartamento, o de Kyle é grande e ainda mais espaçoso pela presença de poucos móveis. Nunca estive aqui, mas a planta é parecida e consigo supor para onde Caellum está me levando antes que entremos em um dos quartos.
"Foi você que organizou isso tudo?" Observo a decoração espalhafatosa, com pétalas de rosas vermelhas espalhadas pela cama e pelo chão em formato de corações, o que me dá vontade de rir. Como se não bastasse, o quarto ainda está infestado pelo cheiro insuportável de cinquenta velas perfumadas.
Caellum parece estar com dor de barriga diante dessa atrocidade romântica.
"Tobias...", diz, entredentes.
"Isso explica tanta coisa".
Solto a minha mão da sua e vou até as portas da varanda, as quais abro para que o ar puro entre. Depois me volto para Caellum, ainda parado na entrada do quarto, e tento sorrir.
"Ao menos temos um jantar, embora eu acredite que, à essa altura, está frio", observo a mesa para dois que foi posta na varanda e os pratos cobertos por cloches.
Caellum só parece ficar cada vez mais desapontado. Sem dizer nada, ele senta na cama com uma cara meio abatida.
"Sabia que não deveria ter confiado no Tobias para isso. Rosas e velas? Por Orion, ele anda assistindo muita novela".
"Acho que ele só se empolgou porque duvido que a Lizzie aprove essas ideias, então não o culpe. Eu não detestei, só achei engraçado", aproximo-me de onde ele está, ficando de pé na sua frente. "De qualquer forma, o que mais me importa é a sua intenção de nos proporcionar um momento. Senti falta disso, de não ter que ser mãe ou noiva, mas só a sua namorada por um tempo".
"Isso é ótimo, porque também senti', ele me encara e eu coloco meus braços ao redor do seu pescoço, de modo a fazer Caellum envolver a minha cintura em um abraço. "Mas estou frustrado por não estar sendo como eu imaginava que seria. Vou começar a espirrar com essas velas perfumadas".
Volto a rir.
"Vamos apagar todas elas e esquentar a comida", proponho.
Solto-me do abraço e, embora Caellum ainda esteja desanimado, começamos a apagar as velas e, depois que acabamos, esquentamos o jantar, que comemos na cozinha ao invés de na varanda.
Quando terminamos e colocamos a louça na máquina de lavar, olho para Cal com um sorrisinho pendendo nos lábios.
"Foi um ótimo jantar, de qualquer modo", tento consolá-lo.
Meu noivo, ainda assim, é pura frustração.
"A gente vai ter que voltar agora, não é?" À essa altura, as duas horas estipuladas inicialmente já passaram, e fico surpresa de não ter me sentido tão ansiosa para voltar em nenhum momento.
Pego meu celular no bolso da saia e confiro as notificações para ter certeza de que meus pais ou Andrea não tentaram contato ainda, embora tenha feito isso há dez minutos atrás.
"Nenhum contato para mim. Eles tentaram com você?".
Caellum, que também confere o seu próprio aparelho, balança a cabeça em negação.
"Então acho que não fará mal se ficarmos por mais meia hora", decido, o que parece pegá-lo de surpresa.
"Achei que você fosse querer ir assim que tivesse a oportunidade".
"É, mas em que momento nós vamos conseguir ficar sozinhos de novo sem que estejamos extremamente cansados pela rotina?".
Cal parece entender o meu ponto, ainda mais tendo sido o responsável por tentar nos proporcionar esse instante juntos.
"Nesse caso...", ele se aproxima como quem não quer nada, passando para o meu lado do balcão, e envolve minha cintura. "Temos que fazer esses trinta minutos valerem a pena".
O sorriso torto que ele abre faz surgir uma de suas covinhas e o olhar de suas íris castanhas sobre meus lábios me faz entender rapidamente onde ele quer chegar, então não hesito antes de tomar a sua boca com a urgência dos beijos que não pudemos trocar nos últimos dias.
Senti falta dessa intensidade e sei que Caellum também quando ele me impulsiona para cima do balcão e se encaixa entre as minhas pernas enquanto ainda nos beijamos.
Sem falar nada, porque nenhuma palavra é necessária quando nos entendemos pelo olhar, ele me faz a pergunta silenciosa de que se é isso o que quero quando paramos de nos beijar por um momento, a fim de recuperar o fôlego.
Minha resposta é tomar sua boca outra vez e encaminhar minhas mãos até os botões de sua camisa, ávida para sentir seus músculos e sua pele junto a minha.
Caellum me ajuda a deslizar a camisa por seus braços e, depois que a peça está no chão, seus beijos deslizam da minha boca para o pescoço junto a pequenas mordidas.
"Diga que tem preservativos. Do contrário, eu te mato".
Sua resposta é parar de me beijar e me olhar com cara de cachorro que caiu da mudança.
"Caellum!" Não escondo a minha frustração.
Mas então o idiota ri, deixando claro que está brincando.
"Sempre ando com algum, para estar precavido. Sem bebês, lembra? E sem ISTs ou algo do tipo".
Ele volta a me beijar e suas mãos deslizam por baixo da minha saia, trazendo-me para mais perto de seu quadril. Aos poucos, minhas próprias peças de roupa vão se juntando à sua camisa no chão, bem como sua calça.
Minha mente fica inebriada pelo cheiro da pele de Caellum e o desejo de senti-lo, tão semelhante como quando na noite que mudou a rota das nossas vidas e nos trouxe até aqui. Mas sem champanhes suspeitos dessa vez, apenas nós dois e a certeza de que amamos um ao outro e nos queremos.
De alguma forma, vamos parar no chão e deixo as minhas inseguranças quanto ao meu novo corpo em um lugar distante enquanto sou levada pelas sensações que suas mãos, seus lábios e sua pele me causam.
Tenho certeza de que mais de meia hora se passou quando, exaustos, olhamos um para o outro no lugar mais improvável em que já transamos e tenho vontade de rir.
Estou sorrindo quando Cal se vira para me olhar e me dá beijinhos enquanto ele próprio sorri e exibe suas covinhas.
"Obrigado", ele diz.
"Por transar com você?".
"Por me amar em cada gesto", ele me dá outro beijo, depois tece uma trilha pelo meu pescoço, busto e barriga até a linha da cicatriz da cesária. "E me fazer a pessoa mais feliz de Orion".
Seu gesto me emociona.
"Não é nada que não seja recíproco", inclino-me para beijar sua cabeça, satisfeita pelo momento.
Cal se afasta quando percebe a minha tentativa de levantar e, apesar do constrangimento acerca da minha nudez surgir por um instante, fico de pé diante do seu olhar e pego minha saia para conferir o celular em seu bolso.
"Sem mensagens, mas estamos uma hora atrasados", falo, o que faz meu coração pesar por um instante. É a primeira vez que fico tanto tempo longe dos gêmeos desde o nascimento. "Melhor irmos".
Caellum não contesta. Ele também fica de pé e deposita um beijo em meu ombro.
"Hora de voltarmos para a vida real", diz.
E então começamos a nos vestir, o que é um processo mais demorado que o normal pelas vezes em que ele me para momentaneamente para me beijar.
No fim das contas, saímos do apartamento mais melosos do que nunca e entramos no elevador com uma nova memória e piada interna.
"Nunca mais vou conseguir entrar em uma cozinha sem pensar no que fizemos", declaro, ao que Caellum ri.
"Imagine só quando tivermos que encarar o Kyle sabendo que marcamos a cozinha dele para sempre".
Olá, pessoas. Tudo bem com vocês?
Assim como na semana passada, por razões acadêmicas, teremos apenas dois capítulos essa semana, mas vocês notarão que tanto esse quanto o próximo são maiores do que o usual.
Sobre o capítulo em si, sei que a falta de conteúdo explícito pode ser frustrante para alguns, assim como a presença de uma cena de sexo, mesmo que não explícita, pode ser frustrante para outros, mas, particularmente, acho que o Caellum e a Mimi mereciam um momento assim depois de tantos perrengues. A falta de descrições não é nenhuma surpresa, porque foi assim no quinto livro também :p (É simplesmente como eu me sinto mais confortável).
No mais, o sétimo volume de ABT já está dando sinais de vida e estou na metade do roteiro da parte dois (sim, serão dois livros em um). Tô Muuuuuuito ansiosa para finalizar SLGA e poder compartilhar SRPA com vocês!
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