44. DUQUE
Tento ficar tranquilo para não deixar Miranda ainda mais angustiada quando minha noiva me liga de repente e fala sobre uma mensagem de Cassiopeia que, para ela, soou como uma despedida. Embora eu entenda a sua preocupação e compartilhe dela, quero evitar ao máximo que Mimi se estresse em semanas tão cruciais da gestação. Por isso, busco acalmá-la, minto que Cassie me explicou que está bem e que só decidiu retomar sua vida, e encerro a ligação com um peso no peito de ter que enganá-la e de não fazer a mínima ideia do que a minha irmã está planejando agora.
Que não seja uma repetição daquela noite, penso, enquanto os meus dedos já digitam o número de Cassie. Todavia, é em vão. Cai direto na caixa postal e, sem que ela me atenda, só me resta procurar amparo em Cepheus.
"Aconteceu alguma coisa com a sua irmã?" Elio me pergunta, parecendo preocupado.
Nós dois ainda estávamos em meio à conversa, falando sobre o relacionamento entre Mimi e eu, quando recebi a ligação da minha noiva e o meu mundo saiu do eixo mais uma vez.
"É o que estou tentando descobrir", murmuro, bem no exato instante em que Cepheus atende e me faz suspirar de alívio.
"Oi, Cal", meu caçula diz, nem de longe soando como alguém preocupado, o que me leva a supor que Cassie não deve ter entrado em contato com ele. "Aconteceu alguma coisa?".
"Você falou com a Cassiopeia recentemente?" Vou direto ao que me interessa. "Sabe onde ela está?".
"A Cassie não fala comigo desde que a mamãe abriu a caixa de Pandora em cima da gente. Eu só soube dela por você e pela Mimi. Por quê?".
"A nossa irmã sumiu", deixo-o ciente do caso. "Temo que algo tenha acontecido ou ainda possa acontecer, como naquela noite. A gente tem que encontrá-la já. Por acaso, você tem alguma ideia de onde ela pode ter ido?".
"Casa dos vovôs, Maximoff Plaza e Palácio são óbvios demais?".
"Talvez no mausoléu real".
"A Cassie odeia esse lugar".
"Mas é um começo".
"Está bem", ele cede, provavelmente porque sabe que não temos tempo a perder. "Te encontro lá".
"Certo", encerro a chamada apenas para dar de cara com o olhar perdido de Elio, de quem está tentando se adaptar à mudança de cenário. Por um momento, tenho pena de nós dois por ter que encerrar um momento tão bom entre a gente de forma tão abrupta. "Sinto muito, mas eu preciso ir".
"Imaginei que fosse o caso", ele responde.
Acho que chegamos ao momento em que estouramos a bolha em que estávamos e um desconforto da despedida iminente surge.
Tento sorrir, porque é de meu perfil me manter positivo, mesmo tendo certeza de que a minha expressão é estranha.
"Nesse caso, espero que me ligue para combinarmos um próximo encontro", digo.
Ao que Elio assente sem pestanejar.
"Com prazer, Caellum".
Penso se ele gostaria de um abraço e se eu me sentiria confortável em dá-lo ou se pareceria forçado demais, mas gasto tempo o suficiente ruminando, até o ponto de que só pensar na possibilidade faz parecer estranho. Por isso, apenas lhe dou um aperto de mão.
"Foi ótimo conhecê-lo melhor, senhor Prescott".
"Digo o mesmo".
Apesar de eu ser alto, o historiador consegue ser alguns centímetros a mais e sua mão cobre a minha com firmeza, repleta de calos que não possuo. Quando desfazemos o contato, penso que o que sei sobre ele agora não é nem 1% de quem ele é e que estou ansioso para saber mais.
Fico me perguntando se ele sente o mesmo: o nascer de uma conexão inexplicável entre nós. Porém, não consigo lhe perguntar sem sentir que parecerei desesperado.
"Adeus", murmuro quando chegamos à porta.
"Adeus, Caelllum".
XxX
Encontro Cepheus no mausoléu, mas não há sinal de Cassie no lugar em que os mortos das famílias do Grande-Conselho são lembrados de maneira simbólica. Por isso, rodamos em busca de Cassie por pontos de Dominique e telefonamos para seus conhecidos, mas tomando cuidado de manter a discrição e não fazer alarde.
De qualquer forma, no final das contas nós dois não encontramos a nossa irmã.
É ela quem nos encontra.
Depois de sairmos de um dos seus restaurantes favoritos e voltarmos para o meu carro, Cassie retorna minhas ligações e o alívio é palpável entre Cepheus e eu quando a sua voz soa pelo sistema de som do veículo.
"Por que você está perguntando sobre mim para todo mundo e me ligando com tanto desespero?" Ela pergunta assim que a chamada se inicia.
"Não pode me dar bronca. Você sumiu, Cassie! E só mandou uma mensagem para a Miranda, o que deixou todo mundo preocupado. O que diabos você quis dizer com 'obrigada por tudo. Avise ao Caellum que não vou mais incomodá-los'? É claro que pensaríamos no pior!".
"Eu só quis dizer que sairia do apartamento de vocês e pararia de incomodá-los. Pelos Ancestrais, Caellum, eu não tenho uma tendência suicida, como vocês parecem pensar. Não vou me matar. Quantas vezes terei que repetir que aquilo foi um acidente?".
"Não pode nos culpar por nos preocuparmos", Cepheus se pronuncia, defensivo.
"Ah, vocês estão juntos", Cassie percebe com certa ironia.
"Só estamos pensando no seu bem, não seja azeda", a repreendo, porém, por não querer iniciar uma discussão, mudo brevemente de assunto ao perguntar: "Mas por que de repente você quer sair do apartamento? No fim das contas, ele também é seu".
"Era", Cassiopeia corrige. "Eu cedi a minha parte, você esqueceu?".
"Mas isso não muda o que penso. Todo lar que seja meu também é seu".
"Agradeço o carinho, mas sei que estava incomodando, Cal. E não acho certo continuar lá quando os seus filhos nascerão em breve e você se casará. Fico grata pelo amparo que você e a Miranda me deram, mas tenho que começar a cuidar dos rumos da minha vida. Não posso continuar me escondendo no seu quarto de hóspedes por medo do que virá. Isso não mudará nada", Cassiopeia soa firme, mostrando que está decidida acerca do que pensa.
Ainda assim, sinto-me preocupado.
"Onde você está agora?" Eu pergunto. "Se não ficará mais conosco, então planeja voltar a morar com os Feng?".
"Eu estou no hotel Whitesands, na verdade", ela responde, e rapidamente me vem à mente a imagem do imponente hotel cinco estrelas às margens da praia do Imperador. É lá que nossos avós costumam se reunir com acionistas da empresa para reuniões informais. "Duvido que os Feng queiram me ver tão cedo, depois da conversa que tivemos mais cedo, em que eles souberam do que planejo".
"Como assim?".
"Venha me encontrar no Whitesands", Cassie diz. "Os dois, aliás. Meus planos também dizem respeito ao Cepheus. A minha suíte é a 3001".
Sem que possamos respondê-la, Cassiopeia encerra a chamada e deixa claro que não quer uma recusa da nossa parte. Ela está no modo "mulher de negócios" e não no "irmã compreensiva", coisa que Cepheus também deve saber.
Eu e meu caçula nos entreolhamos.
"Tem alguma ideia do que ela está planejando?" Ele me pergunta.
Até tenho algumas, mas não quero dar espaço para que elas cresçam e se tornem reais. Do contrário, o meu mundo pode cair outra vez. Por isso, apenas balanço a cabeça e respondo:
"Vamos ter que ir lá e descobrir".
XxX
O hotel Whitesands é um magnífico prédio de trinta andares com pisos de porcelanato, paredes de mármore branco e teto alto com lustres espalhafatosos e janelas com vidro fosco. Sua escadaria desponta no hall principal em um modelo que faz alusão aos hotéis da década de 1920, com um longo tapete vermelho que se lança até o balcão de atendimento.
Depois que estaciono o carro em um estacionamento a céu aberto próximo à praia, Ceph e eu seguimos até o hotel e passamos pela porta giratória de entrada até o balcão.
Não estamos no visual mais apresentável para se estar em público. Ceph até esbanja certa intelectualidade com sua camisa de botão, calça de alfaiataria e mocassins com que foi assistir aula, mas estou usando uma camisa branca simples e jeans. Desse modo, a atendente não parece acreditar muito quando falo quem sou e quem vim encontrar, mas seu sorriso educado-porém-debochado some quando lhe entrego a minha identidade.
"Oh", ela deixa escapar, de repente nervosa. "Sinto muito por minha indelicadeza ao exigir a documentação, mas é um processo padrão para garantir a segurança de nossos hóspedes. Sua alteza disse suíte 3001?".
Assinto e ela rapidamente disca o número do quarto, que não demora a responder e liberar a nossa passagem.
"Sua alteza, Lady Maximoff, disse que está os aguardando", ela me informa. "Por favor, siga até o elevador VIP", a mulher me aponta o local em que três elevadores se encontram, ao lado da escada, os quais se diferenciam pelo número de andares que conseguem alcançar. Sei disso porque, todas as vezes em que acompanhei meu avô, sempre pegamos o elevador menor, mas que alcança o topo do prédio, inclusive o andar exclusivo da família Whitesands, em que eles se reúnem para fazer grandes negócios e manter sua fortuna.
"Obrigado. Tenha um bom dia", respondo.
Sei que os meus seguranças e os de Cepheus estão em algum lugar por aqui, mas eles não conseguem nos seguir até o elevador. O hotel Whitesands foi construído para ser segregador. Somente ricos podem se hospedar, mas mesmo entre os ricos há uma hierarquia. São poucos os que conseguem chegar ao topo e, por isso, não há ninguém além de nós dois quando subimos até o trigésimo andar.
"Não acha estranho da parte da Cassiopeia ter escolhido justo esse lugar para ficar?" Cepheus pergunta de repente, olhando-se com o cenho franzido através do espelho em uma das paredes do elevador. "Ela odeia hotéis".
"Mas talvez justamente por isso ela tenha resolvido ficar aqui", respondo, já tendo desistido há muito tempo de tentar entender como funciona a mente da minha irmã gêmea.
Quando chegamos ao andar, seguimos para o primeiro quarto de cinco, o qual não tem nem sombra da segurança que deveria ter, e batemos na porta.
"Vieram rápido", é o que Cassie fala quando abre a porta para que entremos, e a primeira coisa que noto acerca dela é que a minha irmã está tão casual quanto eu. Cassie veste roupa de ginástica e seu cabelo está preso em um coque no topo da cabeça, sendo essa uma das raras vezes em que seu rosto está nu de maquiagem. "Por favor, sentem-se".
A suíte do hotel é como um pequeno apartamento. Há uma sala à moda da década de 1920 e uma cozinha americana no primeiro cômodo, que é separado por portas duplas do quarto. No momento, este está fechado, e Cassie nos indica o sofá enquanto toma a poltrona para si.
"Certo", eu falo, ainda olhando ao redor com estranhamento por parecer um lugar que em nada combina com ela. "Por que o Whitesands dentre todos os lugares?" Mudo de ideia e decido que a pergunta de Ceph é totalmente cabível.
Cassie dá de ombros.
"É o melhor hotel com garantia de privacidade".
"Mas por que um hotel?" Decido ser mais específico. "Você tem casas em Dominique, Cassiopeia".
"Eu tenho?" Ela rebate. "Nada mais no Maximoff Plaza me pertence, o palácio é dos Greenhunter e a casa dos nossos avós é dos nossos avós que, no momento, não querem me ver. Fora isso há o rancho do papai, mas não estou com cabeça para me isolar no interior quando tudo está acontecendo aqui".
"Por que fala com tanta convicção que os nossos avós não querem te ver?" Sinto-me completamente perdido com o que minha irmã quer dizer com isso. O que diabos ela disse aos Feng que os deixaria tão bravos quando Feng Hue sempre foi rendido por Cassiopeia?
"Não é mais urgente questionar por que não há guardas aqui para protegê-la?" Cepheus se intromete, fazendo-me lembrar de tal detalhe.
Cassie parece achar uma preocupação tola, pois volta a dar de ombros.
"Eu os demiti da função, apenas".
"Você o quê?" A censuro. "Ficou maluca, Cassiopeia?".
"Não vou mais precisar deles quando for para Taiwan", Cassie responde, sem perder a tranquilidade. "Então apenas os dispensei e contratei uma nova equipe que possa me acompanhar quando sair do país".
"E a mamãe está ciente disso?" Cepheus questiona.
"À essa altura, provavelmente sim", ela se espreguiça, como se estivesse conversando sobre uma mudança de tempo e não sobre sua vida. "Mas não se preocupem, falei para a Mabel os transformar na equipe de segurança dos gêmeos, então ninguém perdeu o emprego".
"Equipe de segurança dos gêmeos?" Pergunto.
Minha irmã dá de ombros pela terceira vez, o que começa seriamente a me irritar.
"Eles vão precisar depois que nascerem".
"Ainda assim, deveria ter falado comigo primeiro antes de tomar decisões desse tipo. A Miranda se sente incomodada com a presença dos guardas e não ficará muito contente com mais deles a seguindo".
"É pela segurança dos seus filhos, que, ao nascerem, serão a novidade mais comentada do país como todo novo membro das famílias do Grande-Conselho", Cassiopeia rebate. "Não é para a Miranda ficar contente, e sim tranquila de que os filhos estarão bem. Você sabe que é necessário".
Até sei, mas não gosto dessa versão esnobe da Cassiopeia que pensa por mim e atua que está tudo bem para evitar se sentir frágil. É uma versão desonesta da minha irmã, criada para o povo, e odeio quando ela decide usá-la conosco.
"O que disse para os nossos avós que os deixou tão bravos?" Decido retornar à questão que mais me importa e que me trouxe até aqui. "Não foi sobre a Stella, foi?".
"Não", Cassie responde, e sequer se abala com a menção à mãe biológica. É como se Stella não fosse ninguém importante. "Só falei que não representaria mais a filial da Feng em Taiwan, porque cuidarei dos meus próprios negócios".
"Seus negócios?" Cepheus continua com o cenho franzido, como se sentisse que algo está fora de ordem. "Que negócios?".
"Investimentos", Cassie responde. "Não se sintam ofendidos, mas sempre achei uma tolice viver apenas em prol da herança de nossas famílias, então busquei investir a herança do papai depois que fiquei maior de idade, mesmo sabendo que era proibido entre as regras das famílias do Grande Conselho. Começou como um passatempo, mas digamos que quadrupliquei o valor inicial ao longo de três anos...".
"Quê?" Ceph não esconde a surpresa mesclada com admiração.
Quando Xiaojun morreu, sua herança foi de quase nove milhões de dólares orianos em valor líquido, que foram divididos entre nós três. O restante do patrimônio consistia em investimentos e propriedades, os quais não mexemos. Os valores dos investimentos vão para seu projeto social de saúde voltado para a população carente e as propriedades são nossa antiga casa em Coralina e um rancho em Dominique, que não nos desfizemos.
Minha parte da herança quase não foi mexida por causa das mesadas que ganho de meus avós e da Katherine, o que deve ter acontecido com Ceph também. Nenhum de nós pensou em investir como Cassie, porque, como ela mesma disse, vai contra as regras das famílias apostar em investimentos. No entanto, Cassie agora exibe um sorrisinho de orgulho, mesmo estando ciente disso.
"Não é algo tão extraordinário assim. Eu só pesquisei os nomes certos...", ela fala. "Tenho 0,5% das indústrias King, 5% da Siren, 0,2% da Jenkins & Coleman, 1% da WhiteSands, 7% da 1XM e 1% da Ashworth".
"Puta merda. Você não precisa do dinheiro dos nossos avós ou da mamãe pra nada com todo o dinheiro que deve ganhar sozinha", Cepheus se deixa levar pela emoção ao exibir tamanha boca suja.
Irritantemente, Cassiopeia dá de ombros pela quarta vez.
"Mas eles ficaram bravos só por isso?" Insisto.
Mesmo sendo uma regra para os Maximoff que não tenhamos nossos nomes vinculados com negócios, a menos que seja por junção familiar (em outras palavras, casamento), não parece razão o suficiente para deixar os Feng bravos. Pelo contrário, se Cassie tivesse dito ao vovô o que fez, ele teria se orgulhado como ninguém, Afinal, o negócio dos Feng é sobre as finanças das maiores fortunas do país. Foi cuidando das fortunas dos outros e garantindo os melhores investimentos para eles que conseguimos nos manter no topo com gordas porcentagens de comissão.
Minha irmã parece ter sido pega por mim. Ela me olha com um quê de vergonha, mas ainda firme.
"Não", ela admite. "Foi por outra razão".
"Qual?" Ceph e eu não escondemos a curiosidade.
Cassie tenta sorrir, mas parece falso.
"Eu disse a eles que não faz mais parte dos meus planos assumir um lugar no Grande-Conselho", nem de longe consigo absorver o peso dessas palavras antes que minha irmã conclua com o óbvio: "vou entrar com o pedido de abnegação de todos os direitos da realeza concedidos a um membro da casa Maximoff, o que significa que um de vocês será o próximo duque".
Olá, pessoas!
O capítulo está saindo de forma atípica no domingo porque amanhã terei uma provinha chata da faculdade e possivelmente, na correria, acabaria não conseguindo postar. Fora isso, o dia "oficial" continua sendo a segunda até o final de SLGA.
Chegamos ao capítulo 44! Em breve poderei dizer que estamos nos capítulos finais, mas, enquanto isso não é possível, só venho confirmar que foi isso mesmo que vocês leram: a Cassiopeia vai abandonar a realeza e ir embora de Orion.
Agora fica bastante perceptível o porquê do livro dela só se passar três anos depois, em 2028.
Como será que os Maximoff reagirão quando descobrirem seus planos? Muahaha (Eu não faço ideia, porque ainda não escrevi :p).
Fora isso, desculpem a movimentação em SPAA para quem tem o livro salvo, eu estou alterando alguns detalhes e revisitando a história para poder desenvolver um conto dos Leofya.
Até a
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