26. ACERTO DE CONTAS
É oficial: nós somos o novo entretenimento favorito de Orion. E, apesar da assessoria da minha família querer escrever uma nova nota para tentar encerrar o assunto, não deixo. Pelo menos não quando eles querem encobrir a situação e transformá-la em algo menor do que realmente é, o que faria Miranda mudar de opinião sobre algo que ela deveria ter feito há muito tempo e que finalmente resolveu fazer agora:
"Decidi que vou denunciar Landon", ela me diz ao acordar pela manhã.
Então, sem perder tempo, sigo com a sua alta do hospital e depois a acompanho até a delegacia, onde tudo corre de forma direta e objetiva: denúncia feita, indicação de onde provas podem ser encontradas e então somos liberados com uma garantia de que o sujeito não poderá mais ficar a menos de cem metros de Mimi.
"Isso ainda não me parece suficiente", comento ao entrarmos outra vez no carro, pensando no quanto as leis de Orion ainda são muito frágeis para certas coisas.
"Só pude denunciá-lo pelo que aconteceu ontem", Miranda responde, ainda estampando uma aparência abatida. "Fui tola por ficar quieta sobre o acidente. Quanto a isso, ele nunca vai pagar, porque a única prova é o meu testemunho e ele não vale muito após tanto tempo desde o ocorrido".
A ideia daquele cretino ter tentado matá-la ainda me deixa com o sangue quente, e preciso lutar para não me deixar levar pela raiva. É muito injusto que Landon não pague por isso. É muito injusto que, apesar do que fez, ele continue por aí e tenha apenas uma medida protetiva e uma multa com que lidar enquanto Miranda sofre com as cicatrizes e os traumas que ele deixou.
Lembrar de quando ela me falou que o acidente lhe roubou a paixão por patinação no gelo deixa o meu coração do tamanho de uma noz. Foi a primeira vez que Miranda se desmanchou em lágrimas na minha frente e, desde então, raramente ela toca no assunto.
Lembrar disso é o combustível para que eu decida que, se a justiça do país não pretende fazer mais nada, eu preciso fazer para meu próprio alívio de consciência. Afinal, pra que eu quero dois sobrenomes influentes se não posso usá-los a meu favor? Eu mesmo farei Landon pagar.
Estou decidido quanto a isso quando paro na frente do Maximoff Plaza ao invés de entrar no estacionamento.
"Preciso resolver uns assuntos do estágio. Pode pedir para a Aeryn vir ficar com você um pouco? Me deixaria mais tranquilo".
"Estágio até no sábado?" Miranda estranha.
"Vão entregar alguns materiais e preciso receber...", tento ser o mais vago possível para não me comprometer. Não quero que Mimi sequer sonhe com o que pretendo fazer. "Mas volto logo. Tente comer algo e descansar enquanto isso".
"Tudo bem", Miranda retira o cinto-de-segurança e faz menção de sair ao abrir a porta, mas pigarro para chamar a sua atenção. "O que foi?".
"Não está se esquecendo de nada?".
Aponto para a minha bochecha como uma dica, o que a faz balançar a cabeça em negação, mas Miranda ainda se inclina para me beijar a bochecha. Só que viro o rosto e ela acerta minha boca.
"Idiota".
"Por você, sim".
Isso arranca o primeiro sorriso dela desde o ocorrido.
"Tchau, Caellum".
Miranda abre a porta do carro e sai, fechando-a e me acenando em seguida.
"Tchau".
Aguardo que ela entre no prédio antes de dar a partida, mandar uma mensagem para meu primo com um pedido e efetuar uma ligação pelo sistema do carro, a qual cai na secretária eletrônica duas vezes antes do sujeito atender.
"Por que, pela coroa dos Greenhunter, você está me ligando de madrugada, Caellum?!" Meu amigo soa bravo, o que me leva a supor que a noite anterior foi uma das noites animadas na boate Starry Night.
"São dez da manhã, Aiden".
"De um sábado, porra. Fui dormir há umas três horas atrás".
"Preciso de ajuda em algo que só você consegue me arranjar".
"Não mexo mais com maconha".
"Que maconha, Aiden!" Às vezes me pergunto como um sem noção desses é parente de uma criatura tão sensata quanto Aeryn. "Preciso que me ajude a me vingar".
"Se vingar? Quem é você e o que fez com o marica do Caellum Maximoff?".
Agora sei que tenho toda a sua atenção.
"Consegue entender porque eu não posso perturbar mais ninguém?" Tobias está longe e, tirando ele e Aiden, ninguém próximo a mim seria tão maluco a topar essa ideia. "Preciso que me acompanhe para uma conversa difícil que pode ou não acabar em pancadaria".
"E o que foi que o infeliz te fez para merecer essa visita?".
"Machucou a Miranda".
Isso parece ser motivo o suficiente para ele, dado o seu silêncio para absorver as coisas.
"Entendi. Passa o endereço".
"Assim que o Nik me responder, mando mensagem", encerro a chamada.
Encontrar pessoas não é uma dificuldade para o geneozinho do meu primo, mas ele demora um pouco para me responder com o endereço Landon. Passa das onze quando chego na rua de prédios acinzentados, e espero durante mais dez minutos por Aiden.
Assim que ele chega, penso que deve ser suspeito para os vizinhos tamanha movimentação de carros em uma rua tranquila em que suponho viver apenas pessoas jovens, como estudantes. Além do meu carro e do de Aiden, o veículo dos meus guardas também está aqui e, assim como eu, o neto de Sir Kannenberg também veste uma máscara sobre a boca e o nariz.
"Você não vai bater nele, vai?" Meu amigo me pergunta quando saio do carro e o encontro na calçada. Aiden me analisa com os olhos semicerrados. "Porque ele pode te denunciar por agressão e isso sim vai ser um problemão para a sua família".
"Ele não vai me denunciar".
"E o que te faz ter tanta certeza disso?".
"Covardes como ele não mexem com quem é mais forte".
"E o que te faz pensar que é mais forte?".
"Cala a boca, Aid".
Ordeno que os guardas levem nossos carros e o deles para uma rua mais abaixo, onde possam ficar fora de vista e não sejam ligados a nós. Depois, caminho até o portão do prédio em que Landon mora com Aiden ao meu lado e toco o interfone do apartamento 3C, que é atendido por uma voz masculina.
"Landon?".
"Não, é o Caleb. O Landon saiu para ir para o mercado há alguns minutos, mas já deve estar voltando... Quem quer falar com ele?".
Estou cogitando se continuo falando com o tal Caleb ou se apenas encerro a chamada quando Aiden fala:
"Você é Landon?".
Conforme dito por Caleb, ele já estava mesmo voltando. Ao me virar, encontro o sujeito que conheci dois anos e meio antes, perto de uma Starbucks e possesso de ciúme. Nada mudou na sua aparência de lá para cá, nem mesmo a expressão amarrada.
"E quem é que quer saber?".
Desligo o interfone.
"Meu punho!".
Apesar de falar para mim mesmo para me controlar, vê-lo põe fogo no barril de pólvora que construí dentro de mim e o atinjo com o máximo de força direto no nariz, cuja cartilagem faz um barulho crocante.
"Porra!".
"Cacete!" Aiden soa impressionado, principalmente quando Landon levanta o rosto e damos de cara com uma torrente de sangue descendo por seu nariz.
"Filho da mãe!" A voz de Landon soa fanha quando ele tenta me atingir de volta e falha por interdição dos meus seguranças, que o imobilizam. "O que...? QUEM PORRA SÃO VOCÊS?".
"Pessoas que vieram para garantir que ficará longe da Miranda daqui pra frente".
Isso parece promover algumas sinapses em seu cérebro.
"Caellum Maximoff", Landon soa sádico mesmo em desvantagem ao constatar a minha identidade. "Foi você que a fez abrir uma ocorrência contra mim? Recebi a intimação. Minha mãe acabou de me avisar",
"A Miranda só fez o que deveria ter feito há muito tempo", retruco, ainda possesso de raiva porque o soco não me ajudou em nada. "Como pode continuar se achando no direito de ficar por perto depois de quase tê-la matado, seu canalha?".
"Foi só uma conversa. Não acha que está exagerando um pouco?".
Que cínico!
"Eu devia te acertar muito mais do que só um soco!" Afirmo. "Sabe que não estou falando sobre ontem. A Miranda se lembra do que causou o acidente que a impediu de continuar patinando no gelo".
"Acreditou em tamanho delírio?" Landon rebate, tirando-me do eixo. "A Miranda é uma sonsa. Ela nunca superou o término do nosso namoro e vive arranjando motivos para me fazer ficar na vida dela, inventando histórias em que me transforma em vilão".
"Filha da...".
Faço menção de ir para cima dele, mas Aiden me segura.
"Temos plateia, esquentadinho".
Ele me faz perceber que muitos dos moradores do prédio e dos outros ao redor bisbilhotam a nossa conversa sem qualquer vergonha pelas janelas, então respiro fundo numa tentativa de voltar ao lado racional. Mas ainda me sinto furioso quando olho para Aiden.
"Desapareça da vida da Miranda".
"Ou então o quê? Vai me bater de novo? Não tem medo que eu te exponha por agressão, te denuncie?".
"Se você quiser que eu te destrua...".
Isso arranca uma risada do cretino.
"Me destruir? Você só me bateu porque me pegou de surpresa e está em vantagem numérica", ele olha de mim para os meus acompanhantes com desdém.
"Essa não é a minha forma de destruir alguém", rebato. "Bati em você porque quis, mas para destruí-lo...", obrigo-me a ser tão frio quanto ele para brincar com suas inseguranças. "Se sabe quem eu sou, também sabe que não será difícil para mim conseguir que seja expulso de sua faculdade e condenado a uma vida onde não conseguirá qualquer emprego em que se sinta minimamente feliz. Perderá tudo o que conquistou e, mesmo assim, vai parecer uma punição leve para o que você merece, então ande com os olhos bem abertos. Nunca mais tocarei em você, mas, se abrir o bico sobre hoje ou voltar a ficar perto de Mimi ou da família dela, nunca mais dormirá tranquilo, Landon".
Ele parece duvidar um pouco do que digo e ainda me analisa com desdém, mas tenho razões para crer que será covarde o bastante para não fazer mais nada.
"Soltem-no", ordeno aos guardas que, embora hesitem, acabam acatando a ordem.
Liberto, Landon tenta tocar no próprio nariz, mas recua diante de tanto sangue.
"Acho que quebrou", Aiden fala o óbvio, observando-me com ares de divertimento. "Bem que dizem que os mais calmos são perigosos quando com raiva".
Eu o ignoro, estando ocupado a analisar Landon. Em algum momento do alvoroço causado, a sacola com suas compras caiu e várias latas de bebida foram espalhadas pela calçada.
"Se o que aconteceu aqui de alguma forma for parar na mídia, vou culpar você e também cumprirei a ameaça", acrescento para a sua total descrença.
Após rir de forma forçada, o sujeito me encara com os olhos castanhos em chamas.
"Vai me culpar se os vizinhos divulgarem o que fez em público?".
"Eles não sabem quem eu sou, só você", rebato. "Por isso, se algum veículo me ligar ao ocorrido, você paga".
"Não acha que está sujando demais as suas mãos por uma idiota? A Miranda não merece nada disso".
Cerro os punhos. A minha vontade é de voar para cima dele, mas Aiden ainda está me segurando.
"Só suma, Landon", respondo. "Ou eu acabo com você".
Ele apenas me olha em silêncio por um longo momento. Depois, pega suas latas do chão, digita a senha do portão e entra. Do outro lado, protegido, Landon cospe no chão.
"Isso não foi nada perto do que eu queria fazer", declaro assim que o sujeito entra no prédio e o perdemos de vista.
"Ele vai ter que ser muito maluco para tentar fazer algo depois da sua ameaça", Aiden enfim me solta. "Só vamos embora, cara".
xXx
Ainda sinto o meu sangue quente depois de sair do bairro de Landon, mas a adrenalina do momento passou o suficiente para que sinta que machuquei os nós dos dedos ao ter dado o soco. Eles doem enquanto dirijo para casa, preocupado com Miranda e me perguntando se fiz mesmo certo ou se só nos arranjei mais um problema. Mas não me sinto arrependido. Queria ter batido mais, machucado ele mais. Queria ter coragem de acabar com sua vida sem ser só uma ameaça, porque alguém como Landon devia se ferrar muito, mas nunca se ferra. Não tanto quanto as pessoas que eles fazem sofrer.
Isso é o que concluo quando entro no apartamento pouco depois e encontro o lugar silencioso, o que me deixa preocupado. À primeira vista, não há sinal de Miranda, tampouco de Aeryn, que pedi que ela chamasse para lhe fazer companhia.
"Mimi?".
Fico imediatamente preocupado e procuro por ela nas salas, na cozinha, em seu quarto... Meu coração bate feito um louco de desespero quando finalmente a encontro no quarto dos gêmeos, sentada numa poltrona e com o rosto molhado de lágrimas.
"Miranda!" Não consigo evitar o tom repreendedor. "Que susto. Não me ouviu chamando?".
Ela não está com a mesma roupa de quando a deixei e seu cabelo está molhado, noto. Além disso, ela voltou a parecer tão abatida quanto ontem, quando conversamos na cama do hospital.
"Aconteceu alguma coisa, meu amor?".
Aproximo-me dela, preocupado. Analiso-a em busca de algum ferimento visível, mas não é o caso.
Mimi respira fundo. Ela parece mais velha do que realmente é e muito cansada ao fazer isso, o que também lhe traz novas lágrimas aos olhos.
"O meu pai me ligou".
"Sério?" Não escondo a minha surpresa, embora isso explique o seu estado.
Miranda assente, depois ri de forma forçada.
"Após quase dois meses sem me ver ou falar comigo, ele finalmente ligou", ela continua, amarga. "Mas não por sentir a minha falta ou por me querer na sua vida de novo, é claro".
"Não?".
Embora não vá com a cara dos pais de Miranda pelo modo como eles a estão tratando, sei que ela os ama muito e que espera que a acolham novamente. Por mais que não fale muito sobre isso, a maneira como ela age sempre que o assunto é eles me permite deduzir.
"A mãe do Landon foi até a minha casa e falou para eles sobre eu tê-lo denunciado", Mimi explica. "E meu pai me ligou para falar que eu não tinha o direito de continuar o envergonhando e, tampouco, aos Carter".
"Isso é sério?".
O que ela diz me soa tão absurdo que não consigo deixar de desconfiar da veracidade, mesmo que explique a forma como Miranda está. Totalmente destruída pela conversa, ela volta a chorar e eu me abaixo para abraçá-la.
"Eu sou mesmo tão ruim assim, Caellum?" Ela me pergunta, magoada. "Sempre soube que eles não ficariam felizes com a gravidez, mas isso já é um pouco demais. Ele prefere ficar do lado do Landon e me renegar mais uma vez".
Pergunto-me se algum dia essa raiva que sinto vai passar, porque a sensação que eu tenho é que não paro de cultivá-la.
"Isso já foi longe demais", digo, afastando-me do abraço apenas o suficiente para que Miranda me olhe nos olhos e veja o quanto estou decidido. "Sei que falou para que eu não me metesse na última vez que conversamos sobre os seus pais, mas muita coisa mudou de lá para cá e me sinto no direito de te desobedecer a partir de agora".
"Do que está falando?".
"Que eu vou encontrar com os seus pais e falar com eles tudo o que estou guardando, mesmo que não aprove", aviso. "Fica a seu critério se você vai comigo ou não".
Olá, pessoas!
Tô passando só para avisar que essa semana vai estar lotada de ABT, pois teremos postagem dupla + bônus. Como avisado no capítulo passado, quinzenalmente teremos uma semana com duas atualizações em SLGA (como essa que se inicia) e o bônus, além disso, é que na quarta postarei o primeiro conto do ano no Guia da Realeza Oriana (que será Cassiel).
Espero que tenham gostado da novidade. Até a próxima!
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