18. NOMES
Não sei em que momento da noite a energia voltou, mas sei que Caellum estava acordado para ver. Ao passo em que eu acabei caindo no sono em seu sofá extremamente confortável de rico, ele permaneceu segurando a minha mão e em alerta, de vigília com seus guardas. Quando acordo na manhã seguinte, a primeira coisa que noto, além do fato de que as luzes da sala estão acesas, é que Caellum estampa uma cara de cansado.
"Você não dormiu", há acusação na minha voz quando falo, ainda grogue pelo sono.
Caellum, que está sentado na ponta do sofá em que estou deitada, me olha e me oferece um sorrisinho culpado.
"Não consegui", ele admite. "As luzes voltaram cinco horas depois do blecaute, mas eu fiquei acordado para tentar falar com alguém e descobrir se aconteceu alguma coisa. Não consegui ignorar o que a Agnes falou sobre ser improvável que um blecaute acontecesse por acaso, mas, aparentemente, foi o que aconteceu. Falei com todo mundo e todo mundo está bem".
"Então por que aconteceu um blecaute?".
"Os jornais estão noticiando como tendo sido um problema na usina", ele diz. "Mas, mesmo assim, não consegui dormir. Acho que fui mais afetado do que pensei pelos acontecimentos do ano passado. Fiquei com medo de algo acontecer, até mesmo com você. Por isso fiquei acordado, te vigiando".
"Isso é um pouco perturbador, Edward Cullen", eu o repreendo, sentando-me e me espriguiçando. "Mas consigo entender você. Foi muito perturbador o que aconteceu com os Hendrick e todo o terrorismo daquelas ligações que podem ser trote, mas também podem não ser".
Quem acompanha de fora a vida dos membros das seis famílias reais, com certeza, não deve fazer a menor ideia do quanto tudo mudou depois da morte de Lorde Hendrick e seu filho mais velho. Até porque, para a população comum, tudo não passou de um acidente. A teoria de um possível atentado só perturba aqueles que procuram por conspiração e os que estão diretamente envolvidos e tendo suas vidas ameaçadas, como Caellum. Qualquer acontecimento fora do normal pode ou não significar algo muito ruim quando se vive sob ameaças de morte.
De repente, pego-me preocupada sobre o significado disso diante do fato de que, querendo ou não, estou gerando dois Maximoffs nesse momento. Dois novos alvos.
A simples ideia me faz estremecer e entendo a vigília de Caellum como ninguém.
"Sinto muito", só consigo pensar em falar algo assim.
"Está tudo bem", ele diz. "Posso recuperar a noite de sono perdida depois de comer algo. O que você quer pedir para o café da manhã?".
"Acho que primeiro eu preciso de um banho e de uma escova de dentes", dou-me conta do quanto devo estar maltrapilha depois de um dia tão longo quanto ontem.
xXx
Não fazia parte dos meus planos passar a noite no apartamento de Caellum, então não vim preparada, mas, felizmente, depois do banho eu consigo encontrar algo que me cabe dentre as poucas roupas que Cassiopeia trouxe para o apartamento.
Apesar de esbanjar roupas de luxo exclusivas nos bailes e sempre sair impecável na rua, onde os olhos de poucas pessoas podem ver, Cassiopeia gosta de roupas largas e extremamente confortáveis. Por isso, acabo pegando emprestado dela uma calça de moletom cinza e uma camiseta do 5 Seconds Of Summer.
Quando encontro Caellum na cozinha outra vez, ele também está vestindo roupas mais casuais após um banho e espalha novas embalagens de comida no balcão. Para a primeira refeição do dia, ele pediu chocolate quente, chá, café, pãezinhos, torradas, diferentes tipos de geleia e mais bolinhos recheados com feijão doce.
"Os seus guardas não vão comer com a gente?" Pergunto ao ocupar um dos bancos do balcão.
"Aparentemente, eles são instruídos a não fazer isso. Agnes recusou educadamente em nome de todos e falou para eu não me preocupar com eles", o lorde explica. "Você quer chocolate ou chá?".
"Chocolate", apesar de saber há algumas semanas que não posso tomar café, ainda me sinto afetada por isso. Enquanto bebo meu chocolate, olho para o copo de Caellum com certa inveja por ele poder se encher de cafeína. "Como você está agora?".
"Cansado, apesar de aliviado por nada ter acontecido", o lorde ocupa o banco ao lado do meu e passa geleia de pimenta em uma torrada.
"Acho que preciso ligar para a Aeryn depois de comer", percebo. "Ela deve estar preocupada, mesmo sabendo que eu estou com você".
"Sim, é uma boa ideia", Caellum morde a torrada e, por um momento, eu me pego aleatoriamente pensando no quão bonito ele está ao ser tão casual. O tempo no exército realmente lhe fez bem. A camisa preta e simples que ele usa agora me permite perceber o ganho recente de músculos que me fazem, por um momento, me perguntar qual seria a sensação de tê-los ao meu redor, o que é... "Você já falou para ela que a quer como madrinha de um dos bebês?".
Saio do meu devaneio com a pergunta e sinto o meu rosto esquentar pela forma como me deixei levar pela minha imaginação por um momento. É por coisas assim que considero extremamente perigoso ficar ao lado de Caellum por mais do que algumas poucas horas. Quando dou por mim, estou perdendo a sensatez e agindo como a mesma adolescente que se agarrava com ele pelas salas vazias da faculdade.
Acabo pigarreando.
"Ainda não. Quero contar de uma forma especial, depois que decidirmos os nomes".
"E você pensou em algumas opções, falando nisso?".
"Estou analisando algumas constelações", brinco, embora, no fundo, também seja verdade. "Gosto do motivo que fez os seus pais escolherem o seu nome e os nomes dos seus irmãos".
Certa vez, no mês mágico do outono de 2022, Caellum me falou sobre os pais terem começado a se dar bem ao perceberem que gostavam de astronomia. Por causa disso, ele e os irmãos carregam nomes de constelações. Cassiopeia, Caellum e Cepheus.
Isso faz Cal sorrir.
"Sei que falamos sobre não prestar homenagem a ninguém, mas gostaria de pedir por uma exceção", ele fala. "Quero dar a um deles um nome que me lembre do meu pai. Acho que isso seria uma ótima forma de manter a memória do avô que os dois não vão poder conhecer".
Como posso negar algo assim, quando o significado parece ser tão importante para Caellum?
"Está bem".
Nós dois continuamos conversando sobre condições para a escolha dos nomes: precisa combinar com os sobrenomes Miller e Maximoff-Feng (embora eu pense que será um nome extenso se Caellum insistir em passar os dois sobrenomes, o lorde me faz recordar que seus avós implicarão se ele escolher um ou outro), não podem ser nomes compostos (francamente, eles já terão três sobrenomes!) e, dada a exceção especial de homenagem prestada à família do pai, um deles também deve significar algo para a família da mãe.
Porém, apesar de estabelecidas as condições, nem Caellum nem eu sugerimos algum nome de fato.
"Quando éramos crianças, a Cassie dava o nome de Andrômeda a todas as bonecas dela por causa do mito grego da Cassiopeia" , de algum modo, ele acaba me contando essa história. "Então, quando o Theo ganhou uma égua nova no aniversário de dezoito anos, ele a chamou de Andrômeda para provocar Cassie logo depois que os dois brigaram".
"E por que mesmo que os dois brigaram?" Quando calhou de eu conhecer os membros da família real, Theo e Cassiopeia já agiam feito cão e gato. Por isso, é com certo ceticismo que eu escuto as histórias de quando eles costumavam ser unha e carne. Parecem se referir a um Theo e uma Cassiopeia diferentes.
Caellum dá de ombros ante a minha pergunta.
"De repente, no verão de 2018, a Cassiopeia voltou para casa mais cedo e no ano seguinte ela o estava evitando como o diabo evita a cruz", ele diz. "Perguntei a ambos o que houve, mas Theo sempre me disse para cobrar Cassiopeia e Cassiopeia nunca se abriu a respeito".
"Acho que eles não eram só amigos", é o meu palpite ao ouvir isso.
Não que uma amizade não possa machucar quando finalizada de maneira repentina, mas o modo como Cassie e Theo agem um com o outro me faz lembrar a como passei a agir com Caellum para mantê-lo afastado de mim. Acho que ele pensa o mesmo.
"Talvez", Caellum admite. "Já pensei nessa possibilidade, o que me deixa ainda mais curioso sobre o que um pode ter feito ao outro. Não é como se eles não pudessem ser mais do que amigos, já que Theo não é nosso parente. E, apesar das intrigas, duvido que nossos avós se oporiam à ideia de ter uma neta que seria princesa herdeira e, posteriormente, rainha. Se a Cassiopeia casasse com o Theo, isso aumentaria significativamente o poder político dos Maximoff por mais uma geração e seria o mais próximo da retomada de poder que os Feng chegariam depois da morte da nossa tia-avó Rosemary".
"E se for justamente esse o motivo?" Penso, de repente, bastante envolvida na trama. "Tanto poder nas mãos dos Feng não faria bem aos Greenhunter, faria?".
"Nós não estamos mais no século passado, Miranda", Caellum faz pouco caso. "A desavença entre os Feng e os Greenhunter já acabou. Mesmo que o poder político dos Feng aumentasse com esse arranjo, eles não teriam como fazer nada contra os Greenhunter".
"Será que não?" Já assisti episódios demais de Trono de Mentiras para duvidar disso. "Afinal, os Greenhunter não estão em vantagem numérica. Se, por acaso, sumissem com os dois Timotheo, os que restariam seriam mais Greenhunter ou Maximoff? Para mim, a sua família está criando um cerco".
Caellum bufa, como se me achasse exagerada.
"Você tomou chocolate quente demais", ele diz, levantando-se e passando a recolher as embalagens e restos de comida do café-da-manhã.
"Será? Você tem que admitir que o seu avô soube cultivar ótimos casamentos para as filhas".
"Ao contrário do que todo mundo pensa, o rei Timotheo não casou de modo arranjado com a tia Irene. Apenas os meus pais foram arranjados um para o outro, embora não considere um grande problema quando eles se apaixonaram antes".
"Eu não sabia disso", admito.
"Só isso justifica eles terem tido filhos tão rápido", Caellum responde. "Se for mais sensacionalista, até irei fomentar a discussão de que o casamento deles ocorreu às pressas porque a minha mãe já estava grávida".
"Você acredita nisso?".
"Meus pais sempre disseram que Cassie e eu nascemos prematuramente, mas, não sei... essa teoria faz sentido quando fazemos as contas".
De alguma forma, pensar assim me faz compreender porque a duquesa foi tão empática comigo e com a situação em que me enfiei com o seu filho. Talvez seja por já ter estado nessa situação. A diferença é que, apesar do problema, eles conseguiram contornar tudo por já terem um compromisso firmado.
Embora negue todos os pedidos de casamento de Caellum por razões óbvias de não querer prendê-lo a mim por causa dos bebês, sou obrigada a admitir que seria bem mais fácil se fôssemos noivos ou meros namorados. O julgamento, provavelmente, seria menor.
"De qualquer modo, acabamos ficando mais tempo fofocando do que devíamos. Preciso te levar para a casa dos Kannenberg e depois entrar em contato com alguma equipe de design para pensar nas modificações a serem feitas aqui. Talvez a Mia conheça alguém, já que ela estava ajudando a sogra e o namorando com algo semelhante quando eles compraram um apartamento...", Caellum começa a falar pelos cotovelos, deixando claro que quer encerrar o assunto anterior.
Nós dois saímos do apartamento e encontramos seus seguranças no hall, os quais nos acompanham até o estacionamentos. E, apesar do blecaute ter sido alarme falso, um deles vai conosco no carro de Caellum, o que me deixa acanhada o suficiente para não puxar assunto. Durante o trajeto, apenas Bryan Adams canta no rádio, o que também me faz lembrar do passado.
Por um momento, olho para Caellum dirigindo e penso que gostaria de ser aquela Miranda outra vez por um momento. Não pensar sobre o que nos separa, mas sobre o que nos une. Me deixar levar e sorrir fácil; ser contagiada pela boa energia de Caellum, que sempre buscou pensar no melhor.
Coisa de menino mimado ou não, ele sempre foi mais corajoso do que eu sobre o que significaria ficarmos juntos, mesmo sendo aquele que mais perderia com isso.
Às vezes eu me pergunto se teríamos durado mais tempo se a sua avó não tivesse dito coisas tão duras para Aeryn sobre a sua origem, as quais tomei para mim. Eu continuaria ignorando que éramos de mundos diferentes ou algum outro episódio de choque de realidade aconteceria, porque nossa separação tinha que acontecer?
Jamais saberemos.
O que aconteceu, aconteceu.
Talvez eu devesse começar a superar o passado agora, mas eu realmente consigo? Realmente consigo deixar de lado todas as lembranças românticas com o Caellum para termos um relacionamento quase profissional de pais?
Eu não tenho tanta certeza disso quando, a cada dia que passa, me sinto em perigo pela maneira como o meu coração está batendo agora mesmo enquanto o observo. Como se ele estivesse esperando por algo, um sinal, para ter certeza de que deve continuar batendo dessa forma por ele.
Quando Caellum para em frente à propriedade dos Kannenberg, eu me despeço com mais frieza do que ele merecia depois de termos passado quase 24h juntos. Mas estou confusa demais para fazer algo diferente.
"Me ligue, se acontecer algo", ele fala o mesmo de sempre.
"Eu prometi que faria isso, não prometi?".
Ele arqueia uma sobrancelha, talvez se perguntando o que deu em mim no caminho até aqui. Porém, sem concluir nada e sem estar a fim de me interrogar a respeito, tudo o que o lorde diz é:
"Tchau, Miranda".
"Tchau, Caellum".
E então o vejo partir com a sensação de que estou com um peso a mais dentro de mim e que nada tem a ver com estar grávida de gêmeos.
Pergunto-me se mudanças de humor súbitas fazem parte do leque de sintomas de uma pessoa grávida, embora possa admitir que Miranda já sofria disso quando eu a conheci. Ela sempre foi desconfiada, então era bem comum se deixar levar pelo momento e, do nada, ficar séria e preocupada. É como se ela estivesse sempre pensando em possibilidades e nunca vivendo o presente.
Apesar de não lhe fazer perguntas por não saber quais são os limites da nossa atual relação e não querer invadir o seu espaço, tento vasculhar na minha mente o que poderia ter azedado o seu humor de uma hora para a outra. Talvez ela estivesse incomodada pela presença do meu segurança?
Seja o que for, quando chego ao palácio dos Greenhunter, sou obrigado a deixar Miranda de lado por um momento. Depois que passo por todos os trâmites de segurança, os quais se tornaram ainda mais rígidos desde o ano passado, eu acabo encontrando uma figura deslocada no estacionamento.
"Senhor Prescott?".
O irmão mais velho da antiga rainha Elisa, apesar de tio do príncipe herdeiro, não é alguém que costuma visitar o palácio desde que o rei se casou novamente com a minha tia. Por isso, não escondo o meu estranhamento. Será que aconteceu algo com Theo? É a única coisa que consigo pensar que o faria vir aqui.
Ao perceber a minha presença, o homem me oferece uma mesura.
"Olá, lorde Caellum", ele me cumprimenta.
Mesmo conhecendo a figura de Elio Prescott, poucas foram as vezes em que o encontrei pessoalmente. Ele costumava ser o reitor da Aureum College, mas agora é apenas professor outra vez e mal o vejo por sermos de setores diferentes, então fico o pouco acanhado com o fato de que ele é mais alto do que eu. Principalmente porque, mesmo com cara de perdido, ele consegue parecer intimidante.
"O senhor veio para encontrar o Theo?" Acabo perguntando.
"Na verdade, eu já estava de saída", Elio me oferece um sorrisinho sem graça, mas que é suficiente para fazer covinhas surgirem em suas bochechas. "Vim para falar com Timotheo, mas ele não está, então deixei um recado, mas não sei se ele será entregue com a urgência que deve".
"Se o senhor quiser, posso passar o recado", digo, porque ele soa apreensivo. "Por acaso, aconteceu alguma coisa ruim?".
"Algo assim", o senhor Prescott admite. "Depende do que será feito para reparar os danos...".
"Danos? O que houve, senhor?" Agora eu também estou ficando apreensivo.
Elio Prescott me olha com uma feição meio sombria. Ele parece hesitar, talvez achando que sou pouco confiável para passar o recado, mas ele deve estar tão desesperado quanto parece quando decide confiar em mim:
"Por favor, diga à Timotheo que ontem à noite, durante o blecaute, diários pertencentes à Rosemary Carpentier Feng foram roubados do acervo da biblioteca".
Olá, pessoas! Tudo bem com vocês?
Estou passando apenas para compartilhar que tenho os próximos quatro capítulos garantidos e que eles estão um balaio de emoções (acho que só o próximo é um pouco mais leve).
De resto, espero que tenham gostado do capítulo e que estejam tão ansiosos quanto eu para saberem os nomes escolhidos pela Mimi e o Caellum, além de quando vão descobrir qual teoria sobre o Theo e a Cassie tá certa muahaha
Até a próxima!
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