14. COISINHAS DE BEBÊ E UMA DOSE DE MÁGOA


De repente, a curva na minha barriga se tornou mais proeminente e difícil de ignorar. Como se Tico e Teco, os codinomes temporários dos habitantes extras do meu corpo, quisessem me dizer: "Olá, nós realmente estamos aqui há quatro meses e meio!". Por causa disso, o meu guarda-roupa está se tornando aos poucos bastante escasso de opções e ando surrupiando cada vez mais blusas largas de gola rolê da Aeryn. A de hoje é de um tom verde acinzentado que ela ganhou do namorado, mas que, secretamente, acha feio de doer.

"Viu só como tem cor de vômito velho?" Ela aponta para o meu reflexo assim que ponho a blusa e cubro a barriga.

"Se você não gostou, por que não disse ao Kyle?" Pergunto. "Eu aposto que ele te daria outra coisa".

"É claro que sim, mas como eu poderia dizer que detestei a blusa depois de ele ter dito que a comprou porque se lembrou do verde dos meus olhos?".

Não consigo evitar uma risada, por mais maldoso que seja para o momento.

"Se a minha opinião vale, não é tão feio assim...", endireito a gola rolê, mas faço careta para a combinação péssima da blusa com a calça legging amarela. "Embora eu esteja parecendo a bandeira do seu país".

É a vez de Aeryn bufar uma risada.

"Por que não aproveita que vai sair para comprar coisinhas de bebê e compra algumas coisas para você também? Tem que admitir que as suas combinações estão ficando cada vez mais esdrúxulas", é seu jeito fofo de dizer que ando cada dia mais bizarra.

Até posso admitir, mas não é como se eu tivesse à minha disposição o principal para sair esbanjando em compras para dois bebês e para mim: o famigerado dinheiro. Depois de um mês fora da casa dos meus pais e com contato escasso, estou economizando ao máximo por não saber até quando poderei abusar da boa vontade dos Kannenberg sem que a vergonha me tome por isso. Portanto, nada de compras para mim. Os bebês só vão ter um enxoval grandioso porque Caellum faz questão disso, e ele é o que tem recursos dentre nós dois.

Felizmente, consigo escapar de ter que falar tudo isso para Aeryn quando uma das funcionárias da casa bate na porta do quarto para avisar que o lorde me espera na sala de visitas.

"Obrigada, Louise. Avise ao Caellum que ela já está indo", Aeryn fala para a mulher antes de fechar a porta, voltando-se para mim com certa preocupação. "Você tem certeza de que está bem para passar a tarde fora, não é?".

Tenho certeza de que a sua pergunta é referente ao fato de que, mais uma vez, fiquei enjoada e mal consegui comer durante o dia.

"Eu vou ficar bem".

Se for ficar na cama toda vez que ficar mal, só sairei quando os bebês forem retirados de dentro de mim.

"De qualquer forma, me liga se acontecer algum imprevisto".

"Está bem", se tem uma coisa que aprendi convivendo com Aeryn vinte e quatro horas por dia é que devo concordar com seus pedidos de primeira para não ouvir um longo discurso que me fará concordar com ela de qualquer jeito no fim. Nos poupa tempo. "Agora é melhor eu me apressar...", pego minha bolsa costumeira em seu lugar na mesa de cabeceira e dou um beijo no rosto da minha amiga. "A gente se vê mais tarde".

"Está bem. Bom passeio".

Passo por Aeryn e saio do quarto. Demorou, mas, após algumas semanas, passei a conseguir me localizar melhor pela casa dos Kannenberg, sem ter que pedir informação a todo mundo que cruza comigo pelo corredor e mal me olha nos olhos por me considerarem "a senhorita Miller". Por mais que tente fazê-los entender que não estou no mesmo nível social dos seus patrões, eles se recusam.

Chego à sala de visitas padrão e encontro as portas abertas, então entro sem cerimônias e encontro Caellum tentando arriscar algumas notas no piano de cauda.

"Você toca?" Não consigo evitar o tom surpreso ao perguntar, porque não é algo que já o tenha visto fazer ou sequer o ouvido comentar sobre.

Ao escutar minha voz, ele se vira e me oferece um sorriso arteiro. Como se fosse uma criança que acabou de ser pega fazendo algo que não deveria estar fazendo.

"Definitivamente, não", Caellum responde. "Até tentei, mas os dotes musicais da família são todos dos meus irmãos. Caso você ainda não tenha percebido, sou o Maximoff menos talentoso".

E, para compensar tamanha falta, é o mais gentil, bonito e inalcançável. Tal pensamento surge de maneira rápida e intrusa, trazendo cor ao meu rosto.

"Uma pena. Devemos torcer para Tico e Teco puxarem aos tios, então".

Ao ouvir o meu comentário, Caellum imediatamente fecha a cara.

"Temos que pensar nos nomes dos bebês. Você não pode continuar chamando eles assim".

"Tico e Teco nem é tão ruim assim", defendo-me, pensando que seria muito mais cruel se ainda me referisse a eles como Pesadelo, o que parece absurdo até para mim mesma agora.

"Ainda assim, eles merecem nomes melhores".

"Só não inventa de dar a eles nomes de pessoas da sua família. Eu me recuso a chamá-los de Patrick ou Nancy II, embora possa considerar Katherine um ótimo segundo nome para a Tico".

"Minha mãe ficaria honrada", Caellum diz. "Mas concordo em não prestar homenagens. Podemos discutir isso em algum momento do passeio".

Caellum e eu saímos da casa dos Kannenberg sozinhos no seu carro, mas percebo outro veículo nos seguindo assim que tomamos a via. Pelo que fiquei sabendo, todos os membros das famílias politicamente importantes do país passaram a ter um séquito de seguranças os seguindo, o que inclui Caellum. Todavia, até então, eu nunca havia reparado em seus guardas e era fácil continuar ignorando o quanto o homem dirigindo ao meu lado é importante. Ver esse veículo se torna um lembrete.

"Você pode ligar o rádio?" Acabo perguntando, a fim de algo para me distrair.

Caellum não se opõe e liga o aparelho em uma estação de música que toca Love Somebody, do Maroon 5. A mesma música que tocou na primeira vez em que estive em um veículo seu, o carro que ele costumava dirigir há dois anos atrás, o que me faz perguntar por um momento se ele também guarda essa lembrança. Se sim, não demonstra nas suas feições.

"Está tudo bem com você?" De repente, sinto-me na obrigação de perguntar ao me dar conta de que Caellum jamais esteve tão quieto. Entre nós dois, ele sempre foi, sem dúvidas, o mais falante.

"Dentro do possível, sim", o lorde responde, olhando-me rapidamente antes de voltar a focar no trânsito. "Eu só estou pensando mais no futuro do que o normal desde que soube da existência dos bebês. Como você sabe, em breve a equipe de relações públicas da minha família deverá anunciar a sua gravidez, e isso não será nada fácil de lidar quando estamos prestes a quebrar um dos maiores tabus da realeza, de que somos seres perfeitos que só têm filhos após o casamento. Com certeza a mídia vai querer ir atrás de você e nós precisaremos ser cuidadosos toda vez que formos sair juntos, para que não descubram a sua identidade antes do nascimento das crianças. É melhor evitarmos esse tipo de transtorno".

A simples menção da possibilidade de algo assim acontecer me dá calafrios.

"O que faremos se, mesmo com todo o cuidado, eles descobrirem?".

Caellum não me olha, mas percebo a careta que se forma em seu rosto.

"É melhor não pensar muito nessa possibilidade, mas, se acontecer algo assim, é bom que seu passaporte esteja preparado. Sair de Orion por um tempo parece ser a melhor opção".

A ideia não me agrada nem um pouco, mas, ao mesmo tempo, sei que não tenho nada a perder. A faculdade terá de esperar de qualquer forma e as únicas pessoas que me prendem em Orion são a minha família, cujos membros atualmente fingem que eu não existo, então preciso começar a pensar mais nos bebês. Se for a única saída possível para a segurança deles, não vou hesitar.

"Mas para onde eu iria?" Acabo perguntando, porque a ideia de sair de Orion nunca me passou pela cabeça sem ser um mero sonho para um futuro relativamente distante.

"A gente iria para onde você quiser", Caellum diz, e não me passa despercebido o fato de que ele se inclui. "Minha família tem propriedades em Berlim, em Taipei e em Hong Kong, além de também haver Nova Iorque com o Tobias, a Lizzie e o Nik. Mas eu não faria oposição a irmos para um lugar completamente diferente também".

Por um momento, é como se realmente fôssemos um casal planejando uma viagem juntos, mas é um pensamento que me obrigo a sufocar tão logo tomo consciência dele. Não há nada de romântico na ideia de ser obrigada a deixar o país para proteger filhos que ainda nem nasceram do assédio midiático com os quais eles vão ter que conviver a partir do momento em que estiverem no mundo - assim como eu.

Acabo pigarreando.

"Certo", digo. "Mas vamos pensar que não precisaremos chegar a esse ponto".

Caellum não faz objeções.

Nós dois voltamos a ficar em silêncio, de modo que as músicas do Maroon 5 são o único barulho do trajeto até um dos shoppings de luxo localizados no centro de Dominique. Um lugar para o qual só de olhar me sinto extremamente mal vestida e pobre.

"Nós não podíamos ir para um shopping mais... Acessível?" Pergunto assim que Caellum paga a taxa absurda do estacionamento e nós entramos no subterrâneo do prédio, que está repleto de conversíveis de luxo dos demais clientes.

Ele me olha com um vinco entre as sobrancelhas.

"O que eu falei sobre você não se preocupar com os preços?" Não é apenas isso que me preocupa, mas algo me diz que Caellum não levaria muito a sério se eu dissesse que somente estar aqui me deixa desconfortável comigo mesma. Como se eu fosse uma peça errada tentando se encaixar no quebra-cabeças da elite de Orion. "O Whitesands pode ser expansivo, mas é o shopping mais discreto de Dominique. Dificilmente algum paparazzo consegue entrar aqui, o que vai ajudar na nossa segurança, além do uso de bonés e máscaras", o lorde coloca um boné na minha cabeça ao afirmar isso e depois me passa uma máscara preta após ajustar o próprio pseudo-disfarce de serial killer de novelas.

"Se essas coisas funcionassem mesmo, a The Royals não pegaria você e os seus amigos no flagra toda vez que vão para alguma festa questionável", eu comento assim que coloco a máscara, o que faz os Caellum inesperadamente rir.

"Tem que admitir que é uma falsa segurança aceitável e bem melhor do que meia dúzia de pessoas te seguindo", ele indica o carro de seu séquito de seguranças, o qual está estacionado a alguns veículos de distância para dar uma falsa sensação de privacidade para nós dois.

Felizmente, a máscara esconde o meu desagrado. Sei da importância dessas pessoas diante das recentes ameaças, mas isso não torna a ideia de ser seguida menos desconfortável, o que Caellum deve concordar.

"Espero que eles sejam discretos ou saberão quem sou, apesar disso tudo", ele aponta para o próprio kit de máscara e boné antes de abrir a porta do carro e sair.

Caellum dá a volta no veículo para abrir a porta para mim, mas faço isso antes e me junto a ele no estacionamento. Assim que fazemos menção de pegar o elevador até o térreo do shopping, notamos a saída de três guardas vestidos de preto do veículo de seguranças.

"Vai ser uma longa tarde, não vai?" É uma pergunta retórica, mas o olhar desanimado que Caellum me lança a responde de qualquer forma: sim, vai.

XxX

"Juro que eu conseguiria renovar o meu guarda-roupa só com o preço dessa roupinha. Por que coisinhas de bebê são tão caras?" Não escondo a minha indignação após Caellum e eu entrarmos na terceira loja de roupas infantis, a qual é tão expansiva quanto as duas primeiras. "Não é como se eles fossem usar por muito tempo, além de que cada roupa usa bem menos material do que a de um adulto. Como o país quer aumentar a taxa de natalidade quando vestir um neném custa quase o equivalente a uma casa?".

"Você não acha que está exagerando um pouco?" Caellum me pergunta, como quem quer rir. "Posso pagar por essas coisas, Miranda. Isso é, se você parar de devolver tudo o que eu escolho".

Isso é algo que ele deixou bem claro quando sacou o seu cartão preto, sem limites, assim que entramos na primeira loja e saiu apontando para tudo o que via, como se estivéssemos esperando uns oito bebês e não dois.

"Apenas não consigo deixar de pensar que é gastar dinheiro à toa. Eles mal vão usar essas roupinhas".

Caellum ainda não parece entender o meu ponto de vista de alguém que está fora do seu estilo de vida, pois me olha com divertimento.

"Se formos pensar dessa maneira, as crianças não vão vestir nada".

"Eu sei", cedo. "Podemos escolher algumas roupinhas, mas você também não precisa exagerar. Tenho certeza de que gastaria quase cem mil dólares orianos só na primeira loja, se eu não tivesse te impedido, e apenas com roupas".

"Está bem. Você tem um ponto", ele concorda.

No fim, compramos dez roupinhas para cada neném, além de materiais como ninhos, cobertores, toalhas e outros paninhos. Uma compra que é, definitivamente, cara. Principalmente quando penso ser só a primeira e que ainda faltam muitas outras coisas, mas tento não pensar muito nisso para não voltar a surtar.

"Que tal se comermos antes de ir?" Caellum sugere quando passamos pelo hall de restaurantes do shopping que, definitivamente, não pode ser chamado de praça de alimentação, porque só apresenta opções de lugares tão elitistas quanto o resto do shopping.

A ideia não me deixa muito confortável, mas faz cerca de três horas que estamos perambulando e sei que preciso ser responsável quanto a minha alimentação, principalmente quando somo isso às frequentes quedas de pressão.

"Está bem".

Caellum entra em um restaurante chamado La Vie In Rose, o qual me diz pertencer a uma família rica que claramente não conheço, mas que ele não percebe. E, apesar de não termos feito reservas antecipadas, quem seria o louco a negar uma mesa para um lorde? Assim que Caellum revela ao gerente quem é, surge magicamente uma mesa disponível, para onde somos guiados com o auxílio de um gentil funcionário que carrega nossas sacolas.

"Você sabe que estamos roubando a mesa do possível casal que realmente reservou, não sabe?" Não contenho o meu tom de julgamento ao perguntar.

Mas, se Caellum se sente culpado, ele não demonstra. São momentos assim que me deixam claro o quanto ele cresceu como um rapaz rico e mimado.

"Vamos apenas tentar comer o mais rápido possível", ele diz, então deixo que faça os pedidos por nós dois.

É tão óbvio que eu não deveria estar aqui que, para falar a verdade, o garçom que nos atende mal me olha. Diferente dos outros clientes, que bisbilhotam a nossa mesa e, apesar da minha parte racional querer acreditar ser pura curiosidade deles a respeito da presença de Caellum - cuja identidade ele desistiu de tentar esconder - e não da garota mal vestida que o acompanha, não consigo evitar pensar que estão todos me julgando.

Um pensamento que se concretiza quando estamos comendo o prato principal e, de repente, duas mulheres bonitas se aproximam de nós:

"Caellum?" A que parece ser a mais nova dentre as duas pergunta e, estranhamente, tenho a sensação de conhecê-la de algum lugar.

Noto que o lorde parece atordoado com a presença dela.

"Cecily", ele balbucia, o que imediatamente me faz lembrar de onde a conheço: é a última namorada que Caellum teve antes do alistamento militar. "O que você está fazendo aqui?".

"O que você está fazendo aqui?" Ela rebate. "Achei que estivesse cumprindo o seu serviço militar. Definitivamente, não esperava encontrá-lo por aqui".

"Eu fui liberado há quase um mês", Caellum se explica.

"Isso é ótimo!" Ela responde, sorridente. "Quem sabe a gente não se encontra em algum momento, para colocar a conversa em dia?".

Não sei se ela realmente não me viu ou se só decidiu me ignorar, mas a mulher que a acompanha - e que presumo ser a sua mãe, pela semelhança - acaba pigarreando e chamando a atenção de Cecily para mim.

"Temo que acabamos atrapalhando a sua refeição, milorde", diz a mulher. "Peço desculpas. Cecily deve ter ficado muito feliz em revê-lo e acabou ignorando os bons modos".

Caellum me olha por um momento, como se buscasse algum sinal de incômodo da minha parte, o que não tento esconder. Mas o que ele diz é:

"Está tudo bem, não se preocupem. Só acredito que não vou poder aceitar o convite para a conversa".

"Ah...", Cecily enfim resolve parar de fingir que eu não existo e me analisa como se eu pudesse ser uma rival a sua altura e não alguém que facilmente seria esmagada por sua beleza aterradora. "É sua namorada nova?".

"Não", antes que Caellum fale qualquer coisa, eu respondo.

Por mais que me incomode a ideia de ele se interessar por outras mulheres, se deixei bem claro que a minha relação com o lorde é só pelos bebês, preciso ser racional o suficiente para aceitar que haverá na sua vida outras mulheres mais adequadas a se tornarem uma lady da casa Maximoff.

"Então é só uma amiguinha", a suposta mãe de Cecily afirma, como se tentasse diminuir a relação entre nós dois para acalmar a filha.

"Algo assim", como não podemos falar a verdade, é melhor que pensem isso. Pelo menos é o que eu acho até notar o incômodo visível de Caellum.

"De qualquer forma, gostaríamos de poder terminar a nossa refeição", o lorde diz, menos simpático. "Foi bom revê-la, Cecily, mas você e a sua mãe poderiam nos dar licença?" Caellum força um sorriso gentil ao perguntar.

Cecily parece ter sido atacada. A falsa cortesia some das suas feições como em um piscar de olhos.

"Que má educação da minha parte", ela diz. "É claro que posso, milorde. Foi bom revê-lo".

"Digo o mesmo".

"Vamos, mamãe?".

Assim que as duas mulheres se afastam, não consigo conter a minha língua ao comentar o que ronda a minha mente:

"Ela ainda está interessada em você".

"É uma pena que eu não esteja interessado por ela, então".

Apesar de agir com indiferença, a verdade é que ouvir isso me deixa muito mais tranquila do que deveria. Principalmente quando penso que não importa que ele não esteja interessado por Cecily, porque um dia ele estará interessado por alguém e esse alguém não será eu, porque não pertencemos ao mesmo mundo e porque quebrei sei coração quando ele foi meu.

No fim, a refeição é feita em clima de velório, o qual persiste até mesmo depois de sairmos do restaurante e seguirmos para o estacionamento.

Enquanto Caellum coloca todas as sacolas de compras no banco de trás do seu carro, eu penso em uma forma de quebrar o gelo entre nós, mas todas as opções fogem quando o meu celular toca de repente.

Levando em conta a escassa lista de pessoas com quem posso contar, penso ser Aeryn me ligando para saber se estou bem e não voltei a passar mal. Todavia, o nome que surge na tela do aparelho é "mãe" e eu imediatamente entro em parafuso.

"Miranda?" Caellum deve perceber pela minha cara de pânico que há algo de errado. "Aconteceu alguma coisa? Você está pálida", ele se aproxima, pronto para me amparar. Mas eu mal o ouço.

Apesar de todo o receio decorrente da última conversa que tive com a minha mãe, não me dou tempo para pensar nos motivos para não atender. A verdade é que estou desesperada por qualquer migalha de carinho que ela possa me dar, mas, quando atendo a chamada de vídeo, não é o rosto dela que me aparece, mas o de Julie.

De qualquer forma, estou com lágrimas nos olhos quando digo:

"Oi, Unicórnio".

"MIMI!" Minha irmãzinha grita, fazendo transbordar toda a saudade que senti dela e que andei tentando ignorar. "Ainda bem que você atendeu, eu tô morrendo de saudade! Quando aquele príncipe de cabelo branco e a Aeryn vão te devolver pra gente? A mamãe não me fala e o papai me dá bronca quando pergunto".

Mal consigo enxergar Julie agora. Apesar de imaginar que os nossos pais estivessem mantendo ela no escuro, não esperava tamanha frieza da parte deles. Ela soa desesperada.

"Eu sinto muito, Julie", digo. "Também estou morrendo de saudade, mas eu não posso voltar agora".

"Por que não? Por que você tá chorando? Você está doente? Você vai morrer?" De repente, Julie também começa a chorar. Ela está na fase onde quer uma resposta para tudo e suas perguntas são inesgotáveis.

"Eu não vou morrer. Não chora", tento me acalmar para não assustá-la mais ainda.

"Então por que você não volta?" Ela insiste justo na pergunta para a qual não posso lhe dar uma resposta, e eu não sei o que fazer.

Mas é quando uma terceira voz surge na chamada e diz:

"Por que você está com o meu celular, Julie?".

"Ferrou", minha irmãzinha diz no exato instante em que Juliana Miller pega o celular e não esconde a cara de assombro quando percebe que a caçula estava falando comigo.

"Oi, mãe", digo.

Mas a resposta dela é encerrar a chamada em completo silêncio, rejeitando-me mais uma vez e me fazendo perguntar: quantas vezes um coração pode quebrar e continuar batendo? A Bella Swan foi poética quando se perguntou isso e agora eu entendo muito bem a o que ela quis dizer com isso.

Não tenho certeza de que vou conseguir continuar suportando essa situação. Por um momento, tudo o que consigo pensar é que quero morrer e perco todo o controle por causa disso, ao ponto de só notar Caellum me abraçando muito tempo depois.

"Vai ficar tudo bem, Mimi", ele diz, já não mais amuado pelo que aconteceu no restaurante com Cecily.

E eu quero muito acreditar nas suas palavras, mas, a cada vez que experimento da rejeição dos Miller, minha fé em um futuro melhor se desbota um pouco e a gravidez volta a parecer um grande erro.

Olá, pessoas. Como estão?

Sim, eu sei que sumi por muito tempo. Acho que nem quando eu estava escrevendo SPNE, que foi um período bem conturbado, sumi por tanto tempo assim. Mas o que acontece é que simplesmente não consegui dar conta de conciliar vida pessoal, vida acadêmica e ainda a escrita desse livro. Toda vez que sentava para escrever algo de SLGA, eu estava tão cansada que não gostava de absolutamente nada do que escrevia, então decidi esperar por um momento mais tranquilo e esse momento só veio a ser o período de férias. Por isso, cá estou humildemente me desculpando por fazê-los esperar, porque sei que é bem chato quando isso ocorre, mas como eu disse no capítulo anterior: preciso priorizar minha faculdade.

Vou tentar aproveitar meu mês de férias para escrever o máximo que conseguir. Eu não desisti de ABT. É algo que não acho que conseguiria. Mas preciso que vocês sejam compreensíveis comigo, ainda mais do que já são normalmente.

No mais, fico feliz de estar de volta e espero que tenham gostado do capítulo, apesar dos acontecimentos não tão legais. Até a próxima <3

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top