11. TEM COMO PIORAR SIM


Sou inegavelmente um otimista por ter esperado que a minha família não fosse reagir tão ruim quanto a de Miranda acerca da gravidez não planejada, o que só torna a reação deles ainda pior e difícil de lidar.

Depois que o silêncio do choque é superado, o primeiro a falar, como era de se esperar, foi um Patrick Maximoff extremamente ríspido e bravo:

"Mas que espécie de brincadeira é essa agora, Caellum Maximoff?" Ele exige saber.

E qualquer pessoa de bom senso teria medo de respondê-lo ao ser olhado de forma tão mordaz, mas a sensatez nunca foi o meu forte.

"Como eu poderia sequer cogitar brincar com algo assim?" Retruco. "Estou falando sério".

"Você só pode ter ficado louco!" Acusa vovó Nancy. "Quem é essa garota? A que família ela pertence para você nunca ter nos apresentado antes? Eu só posso supor que não é gente de bem".

"Pois não faça nenhuma suposição, vovó", respondo. "Não importa o que diga, o que está feito está feito".

"E você está orgulhoso disso? Porque é o que parece. Orgulhoso de uma mancha em nossas reputações!" É a vez de Nana expressar a sua opinião.

"Foi assim que vocês reagiram quando os meus pais engravidaram antes do casamento?".

Não é minha intenção trazer constrangimento à soma das emoções ruins, ainda mais na frente de convidados que sequer fazem parte da família ou tem algo a ver com o assunto, mas às vezes falo coisas sem calcular como elas serão recebidas. Nesse caso, deixo a todos corados e a maioria ainda mais irritada.

"Katherine e Jun tinham um compromisso. Não foi nada como você está fazendo agora, caindo na lábia de uma golpista!" Vovó Nancy praticamente grita.

"Golpista?" Miranda enfim se faz ouvir. Ela parece inabalável por fora, mas seus olhos estão em chamas quando ela os ergue para encarar a minha avó. "Saiba, senhora, que eu sou a última pessoa que gostaria de estar aqui falando a respeito de estar grávida. Jamais desejaria, se não tivesse escolha, porque o que aconteceu foi um acidente".

"E não é isso o que todas dizem ao se passarem por inocentes?" Vovó não esconde o seu desprezo. "Se fosse mesmo sensata, saberia que o melhor caminho é interromper essa gravidez".

"Não vou abortar", Miranda afirma, convicta, e acho que nunca a admirei mais do que hoje. Outros já se renderam às vontades dos meus avós na primeira cara feia deles.

Vovó deixa escapar um riso de incredulidade.

"O que te faz pensar que pode desafiar os Maximoff quando não é ninguém?".

"Chega! O que está dizendo? Nós não somos bárbaros", minha mãe faz com que todos entendam o porquê de ela ser uma duquesa ao erguer a voz de maneira firme e silenciar a todos. "O Caellum e a Miranda erraram ao não se prevenirem bem, mas eles são adultos para saberem o que é melhor para si mesmos e para o bebê".

"Você superestima demais o garoto, Katherine", afirma vovô Hue. "Se fosse mesmo adulto, saberia que o aborto é o melhor caminho. Do contrário, como pretende explicar ao povo que é pai de um filho fora do casamento?".

"Dessa exata forma, ora", mamãe rebate, como se fosse tudo muito simples. "Ele não é o primeiro homem a transar e engravidar alguém por acidente".

Vovô Patrick ri, como se a achasse inacreditável.

"E você acha que eles vão simplesmente aceitar?" O antigo duque rebate. "Se essa história não for resolvida da maneira correta, pode acabar com qualquer chance de o Caellum um dia vir a se tornar o seu sucessor".

"Eu não me importo com isso".

"Você claramente não sabe o que diz!" Vovô afirma. "Mesmo que não queira ser um duque, ainda será uma mancha desagradável para todos lidarem".

"Ah, pelos Ancestrais!" Irrito-me. "As pessoas apenas fingem não ver os nossos erros enquanto comentam pelas nossas costas. Acham mesmo que eles não sabem que os meus pais engravidaram antes do casamento? Ou que o senhor teve um caso com a Felicity Jones e se envolveu com drogas?" Rio sem humor. "Mas se eu sou o grande erro da família por ter um filho fora do casamento, também há uma outra solução para isso, além do aborto", volto-me para Miranda, que me observa com uma expressão confusa. "Case-se comigo".

Por um momento, a expressão confusa dela continua, mas então...

"Você só pode ter ficado maluco", ela afirma. "Eu não vou me casar com você".

E como se quisesse enfatizar ainda mais isso, Miranda se levanta em um rompante e simplesmente sai do salão enquanto todos nos observam em um silêncio mortal.

"Será que eu posso perguntar se ainda vão servir o jantar?" Leonard questiona.

xXx

Encontro Miranda sobre a ponte do lago artificial que cerca a casa de chá. Ela está com os braços encostados na grade e não me nota até que esteja ao seu lado, quando ela ergue a cabeça para me olhar.

"Você me rejeitou", não consigo pensar em maneira menos desagradável de começar essa conversa. "Por que você fez isso?".

Ela deixa uma risada sem humor escapar ao se afastar da grande e arrumar a postura para me olhar.

"Não é óbvio?" Mimi retruca. "Eu não vou me casar com você só por causa do bebê".

"Mesmo sendo a opção menos dolorosa?" Não escondo a minha incredulidade. "A opção que resolveria tudo, já que não teríamos que nos preocupar com as dificuldades impostas pela minha família e a sua família aceitaria a questão melhor".

"É o que você acha?" Ela pergunta. "Porque tudo o que eu vejo a longo prazo é eu e você frustrados com uma situação que tranquiliza a todos, menos a nós dois".

"Será mesmo?" Eu rebato. "Sei que não sente nada por mim, Miranda, mas pelo bebê...".

"Eu não quero carregar mais essa culpa, Caellum. Não preciso impor a mim mais um problema ao obrigá-lo a casar comigo por causa de um bebê, tornando a acusação da sua avó algo real. Eu não sou uma golpista".

"Ah, pelos Ancestrais, eu...", paro antes de gritar o que surgiu em um impulso.

Eu ainda sou louco por você.

Isso não seria um problema para mim.

Não consigo pensar em nada melhor do que ter você, além do bebê.

O quão patético eu sou, diante do fato de que a hesitação de Miranda provavelmente vem da alegação dela de que não sente nada por mim? Afinal, foi por esse motivo que ela terminou tudo anos atrás.

"Eu não quero nada de você que não seja para o bebê e só para o bebê, Caellum", como não termino o que comecei, Miranda afirma. "Então não vou me casar com você, mesmo que isso não satisfaça as nossas famílias. Vamos achar um outro jeito. Só quero que o bebê tenha um pai".

O que mais posso dizer quando ela está tão determinada, sem me colocar na berlinda?

"Ele terá um pai", afirmo. "Só me preocupo em como tudo será. Você viu como eles reagiram".

"Nada muito diferente do que eu esperava. É você o surpreso".

Miranda volta a se encostar no parapeito para observar o lago e eu a imito. Graças às luzes colocadas no fundo, é possível ver os peixes dourados que habitam o lugar, o que me distrai por um momento.

"Se a sua família não te aceitarem de volta e os Kannenberg não quiserem mais te acolher, me avise", peço. "Sei que quer que eu me restrinja somente ao bebê, mas é a mãe do meu filho. Não vou deixá-la desamparada só porque é orgulhosa demais para aceitar a minha ajuda. Enquanto o meu filho estiver dentro de você, terei que cuidar de você por tabela".

Miranda parece surpresa com tal declaração, mas não contesta.

"Está bem", ela diz. "Mas não acho que deva se preocupar com isso. Ninguém está mais animado com essa gravidez do que a Aeryn, então não acho que corro riscos de ser expulsa pelos Kannenberg do dia para a noite também. Deve haver um limite para alguém ser desamparado", apesar do sorriso irônico que ela estampa, sei que Miranda está inegavelmente magoada com tudo o que está acontecendo e me pergunto se há algo mais que ela não está me contando.

Para evitar um clima ruim, decido mudar de assunto por ora:

"Acabei de me dar conta de que, se vamos ficar com o bebê, nós precisamos começar a cuidar dele devidamente", digo. "Fazer exames, comprar coisas, descobrir se vai ser menino ou menina e, acima de tudo, se está tudo bem... Tudo isso no melhor hospital e com os melhores médicos, é claro".

Miranda parece assustada ao se dar conta de tudo isso.

"Você não precisa gastar tanto quando ainda corre o risco da sua família deserdá-lo. Um hospital mediano já está bom".

"Eu não vou ser deserdado", afirmo, resolvendo ocultar que, mesmo que fosse o caso, já tenho dinheiro o suficiente da herança do meu pai para viver uma vida confortável. "Eles teriam medo que eu resolvesse contar à mídia alguns segredos, como o fato de que a vovó Nancy tem unha encravada", consigo o admirável feito de fazê-la rir.

É quando ouvimos alguém me chamar.

"Caellum!" Reconheço a voz de Cepheus e não tarda para que a silhueta do meu irmão caçula apareça na ponte, arfando. "A mamãe me pediu que eu os procurasse para contar que está tudo resolvido", ele parece ter passado por uma ventania antes de char aqui, pois está completamente bagunçado com o cabeço castanho-avermelhado espalhado para várias direções e o smoking amassado.

Isso faz com que Mimi e eu troquemos um olhar.

"De que maneira, exatamente?" Questiono.

E meu irmão ri, como se, de repente, tivesse ficando maluco.

"Da mais dramática possível, como era de esperar dos Maximoff".

"Explique".

Depois que Cepheus recupera um pouco da compostura, ele olha diretamente para quando diz:

"Depois que vocês saíram, eles voltaram a cogitar o aborto e, se vocês não aceitassem, ameaçariam Caellum com a retirada de seu status de herdeiro do condado".

De certa forma, isso não me surpreende.

"Mas a mamãe não deixou, suponho".

"Na verdade, foi a Cassiopeia e eu quem os colocou contra a parede, além do Kyle e do Leonard", Cepheus ainda está estampando um sorriso serelepe de quem aprontou algo.

"Como assim?".

"Se eles retirassem seu status de herdeiro, nós iríamos abdicar de nossas posições e a linhagem Maximoff se encerraria na mamãe, porque ninguém assumiria o poder e os nossos avós seriam obrigados a ver outra família ascender ao palácio de Morfeu".

"Eu jamais deixaria que vocês fizessem isso".

"Mas eles não precisam saber, não é?" Cepheus retruca. "No fim, nossos avós se contiveram diante da nossa ação e vão aceitar o que decidirem. E eu ainda os choquei com outra revelação, para que parassem de destilar ódio em vocês e no meu futuro sobrinho".

"Outra revelação?" Consigo supor a que meu irmão se refere, mas não consigo aceitar que ele tenha tido coragem de fazer isso.

"O que você acha?" Apesar do medo que deve ter sentido, agora Cepheus é puro alívio e sorri. "Contei para aqueles antiquados que estou namorando o Ren e que eles vão ter que engolir um neto pansexual. Para azar do Leonard, o jantar foi cancelado depois disso".

"Ah, Cepheus!" Apesar do modo como ele age, sinto-me culpado e, ao mesmo tempo, grato por sua atitude a fim de me proteger. Por isso, o abraço. "Você não é mesmo mais uma criança".

"Não", ele diz, devolvendo o abraço. "E nem você, papai do ano".

Rimos, apesar de tudo. Não sei quanto ao meu irmão, mas o que sinto agora é a sensação de que o pior já passou. Pelo menos por enquanto.

Quando ele e eu nos separamos, é quando outras pessoas surgem na ponte. Dessa vez são Aeryn e Kyle, que estão de mãos dadas.

"Vocês se entenderam?" A namorada do meu primo pergunta para Miranda, provavelmente se referindo a nós dois.

"Sim", Mimi responde. "Nada de casamento".

Quando ela traz esse assunto à tona, recebo três olhares penosos seguidos de risadinhas.

"Aquilo foi cena de novela", Cepheus diz. "Morri de vergonha por você. Não podia ter feito o pedido sem uma plateia?".

"A resposta ainda seria a mesma", dou de ombros, amortecido pela vergonha quando entendo os motivos de Miranda para dizer não.

"O que importa é estarem bem um com o outro", pacificadora como sempre, Aeryn opina. "O bebê vai precisar desse esforço da parte de vocês".

"A gente sabe", Miranda responde.

"Francamente, ainda é difícil de acreditar que vocês serão pais", Kyle manifesta a sua opinião. "Sempre achei que Aeryn e eu seríamos os primeiros, por estarmos juntos há mais tempo".

"Eu não quero ser mãe tão cedo", Aeryn rebate.

"E você acha que eu queria?" Miranda retruca. "Mas a vida é imprevisível".

"É isso que torna ela interessante", complemento. "Apesar de tudo".

"Acho que está tarde demais para esse tipo de reflexão", Aeryn diz. "Vamos para casa, Mimi?".

"Por favor", Miranda responde, mas ainda se volta para mim uma última vez: "eu falo com você depois".

"Eu estarei esperando".

Olá, pessoas!

Mais um capítulo e, dessa vez, com uma boa dose de barraco familiar. Agora a gravidez já não é mais segredo e acho que vocês vão ficar felizes de saber que, a partir de agora, a Miranda vai ter uma folguinha por dois capítulos antes de algo voltar a chatea-la hihi

Porém, nem tudo são flores. Como falei para vocês há alguns capítulos, estou em processo de mudança de cidade por causa da faculdade. A partir da semana que vem, minhas aulas começam presencialmente após dois anos e pode ser que isso interfira na minha rotina de escrita, então os deixo avisados. Por enquanto, tenho os capítulos 12 e 13 já garantidos para as próximas semanas, mas nunca se sabe. Espero que minha empolgação em compartilhar o GRANDE SEGREDO DA FAMÍLIA MAXIMOFF QUE VENHO GUARDANDO SOZINHA HÁ DOIS ANOS seja maior do que qualquer canseira que Freud e Lacan possam me causar com psicanálise.

Até a próxima <3

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