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Acordei junto com o despertador (coisa rara, pois sempre gasto umas quinze sonecas até levantar), tomei um banho, vesti uma camisa três quartos verde que eu adoro, esperei meu mototáxi chegar para me levar até o Galpão nesse dia de sol, curti todo o passeio até a chegada, e parei na entrada.

Esquadrinhei todo o perímetro da empresa em busca de um carro. Entre tantos iguais, todos com a logomarca plotada nas portas, eu queria avistar especificamente um, com a placa que eu já tinha decorado. Pelo horário era possível que ainda estivesse no pátio, então conferi até encontrar.

O carro que o Murilo dirigia.

Fui andando até o estacionamento, mas ele me surpreendeu no meio do caminho, vindo de outra direção: "Ei, rapaz! Vai pra onde?". Estaquei, ri, alto demais: "Ah, você aí!". Batemos as mãos e ele me puxou até seu peito, onde eu encostei minha cabeça rapidamente. Paramos e olhamos um pro outro. Eu estava com um sorriso bobo que eu não conseguia arrancar do rosto, e ele do mesmo jeito. Rimos, do nada. E de novo. "O que foi?". Rimos de novo. "Babaca...".

A cumplicidade do momento que dividimos na noite anterior era o motivo da graça, e nem era preciso dizer, então "mudamos de assunto".

- E aí, esse almoço?

- Eu não tomei café ainda, você já tá pensando no almoço, guloso?

Ele riu.

- Não tomou café ainda porque é relaxado, né? Dez pra oito, você já tinha que estar nas obras, ralando aí, cuidando dos nossos empreendimentos...

- É por isso que esta empresa está do jeito que está...

- Vai afundar, essa merda... kkk

- Rsss... o almoço, tá tudo certo. Eu passo na tua sala pra te lembrar, porque senão você se atrasa.

- Hum. E eu que sou o morto de fome. Eu vou sair pro campo, pô. Quando eu chegar eu te procuro. Ah, o Daniel ligou, queria falar contigo.

- O DAN?!? – Botei a mão na cabeça, e saí correndo pra minha sala, deixando ele lá – Tchaaaau, vou ligar pra ele! Ele sumiuuu!!


- Brow!

- Porra, vagabundo, não dá uma notícia, satisfação, um alô!!! Eu já estava indo na Polícia dar uma queixa! Já confeccionei um cartaz com a sua foto aqui para espalhar...

- Calmaaaa!!! Kkkkk, Gu sempre exagerado, esse garoto! Não vamos envolver a polícia nisso, né?

- Já chega a nossa última saída! Rssss.

Colocamos todo o papo em dia.

- Então... Deixa eu falar porraaa! – ele esbravejou de lá.

- Faaaalaaaa!

- Tu tá sabendo que vai ter show de Lulu em Feira?

- Nãoo!

- A gente vai, viu! A gente vai, a gente vai, a gente vai, eu não quero nem saber! Já vou comprar os ingressos!

- Peraê, menino, quando é isso que eu não tô sabendo...

- É um tal de Festival de Inverno que vai ter lá no Cajueiro. Nesse dia vai ter Natiruts, Lulu Santos, e.... Contato Imediatooo, caraaa...

- Poxa, que massa... Eu tô vendo a empolgação aí mais pra Contato Imediato do que pra as atrações mesmo, né?

- Banda de Feira, pô, rock na veia, muito boa...

- Eu já ouvi falar, eu tô ligado...

- Porra, eu sou fanzaço dessa banda, conheço os caras, eles são muito bons! Quem é Lulu Santos perto deles!

- kkkk, então Lulu e Natiruts vão abrir o show de Contato Imediato, né? Hahahaha!

- Isso, isso!

- Quando vai ser?

- Dia 18 de agosto.

- Afffff, tô pensando que o negócio é amanhã ou depois! Que agonia! A gente ainda tá no início de julho!

- Mas eu vou comprar, viu?

- Compreee sim!

- Se prepara que a noite vai ser louca!


Almoçamos eu, Edu, Murilo e o Diego. Sentei ao lado do Murilo, e passei o tempo todo imerso em seu campo energético. Gostava quando ele passava o braço e apoiava no encosto da minha cadeira, era só pra apoiar mesmo, mas eu gostava. Ou quando ele roubava pedaço de carne do meu prato e eu do dele, e a gente ria. Ou quando perguntava se eu ia querer mais alguma coisa, quem sabe um suco. Ou quando prestava atenção no que eu falava.

- Otávio pediu pra eu adiantar algumas coisas que ele vai sair mais cedo hoje – falou o Diego.

- Vai pra Feira, né? – completou o Edu.

- Nossa, sério? – me surpreendi – fazer o que lá?

- Comer tua prima – Edu foi direto e todo mundo riu, inclusive eu – o negócio tá sério, pô, ele tá indo direto lá.

- Ele me disse que já saiu da casa da mulher – Diego virou-se pra mim – ele te disse alguma coisa?

- Eu tô procurando deixá-lo bem à vontade, sabe? Conversamos semana passada, ele disse que tava gostando da Clara, e que estava com a melhor das intenções... a gente trabalha junto ali, né? Quero deixar o barco correr sem pressão pra ninguém...

- É o melhor que você faz, pelo menos por enquanto – Edu deu a última garfada.

- A mãe dele tá aí na cidade, ele me falou, e ficou hospedada na casa dela – Diego complementou – ele tá super chateado porque parece que ela tá dando razão à ex...

- Nossa, que chato, né? – não sabia o que falar – Ai, Pai...

- Vi o Lúcio hoje lá no campo fazendo brincadeira com seu nome – Murilo interviu – dizendo que eram pra as esposas tomarem cuidado com você...

- Cuidado... comigo...

- É, que você tá levando todo mundo pro mau caminho, e tal... A galera cola contigo e com o Edu, os solteiros, na putaria, e aí dá merda...

- Engraçado que a gente não chama ninguém, né? Pelo menos eu não me lembro de ficar insistindo pra nego colar comigo não. – Edu ressaltou.

- Pois é! – respondi – Mas, não posso fazer nada com a língua do povo, muito menos com a do Lúcio. Aquela criatura infeliz.

Levantamos pra ir embora.

- Gu, você vai lá pra a república hoje? A gente tem que terminar o desenho, né? Bora, pô... – Diego estava atrás de mim na fila do caixa, pegando em minha orelha.

- Você vai pra lá, é? Ia chamar vocês pra a gente tomar uma... – Murilo que respondeu antes de mim.

- Vai pra lá, pô – Diego sugeriu – a gente fica terminando o desenho e conversando...

- Euuu... vou não. Vão fazer a porra de vocês. A gente sai junto, né, Edu? – ele se virou pro colega.

- Vou olhar na minha agenda. Aliás, veja com a minha secretária, a Valquíria.

Todo mundo riu.


Uma noite dessas resolvi desbloquear o rapaz que eu tinha adicionado no msn, na ocasião da sala gay do bate papo Uol. Assim que abri, ele me chamou.

Era de Curitiba, 22 anos, não-assumido. Abriu a cam, mostrou o rosto, pediu pra me ver. Mas eu não tinha câmera no meu pc. Mesmo sem me mostrar, eu fiquei todo gelado de nervoso, na sala da república. Era a primeira vez que eu conversava com alguém sobre esse assunto, ainda achava estranho falar algumas coisas. Tipo, quando ele me perguntou:

- Você curte o que? Eh ativo ou passivo?

- Pô, eu nem sei... rsss

- huahaaus

Apesar da tensão, conseguimos conversar, e ele se mostrou até bem paciente com a minha falta de maturidade no assunto. Perguntou se eu tava com alguém, e eu disse que não, nunca tinha tido experiência (o Incidente não conta pra mim). Perguntou se tinha alguém na jogada, eu disse que só na minha cabeça mesmo. Perguntou se eu queria ver o pau dele, eu ri e disse que ia dormir.

No outro dia, à tarde, no computador da empresa, conversei com ele novamente. Eu tava sozinho na sala, coisa rara. Ele, em casa, de bobeira, ligou a cam e, depois de alguns papos, começou a dizer que tava com tesão. Levantou pra pegar alguma coisa e percebi que ele tava de cueca. Senti algo estranho, uma mistura de excitação por ver um cara, seminu, disponível, assim, e ao mesmo tempo medo de me expor. E de entrar alguém na sala também, pois o monitor do computador era de frente pra a porta.

- Quer me ver? – ele estava de frente pro computador, e percebi sua excitação.

- Mostra ae

- Olha...

Começou a insinuar que ia tirar a cueca, fazia movimentos sensuais, pegava no pau...

- Tá achando o que?

- Ta bom...

- Vem pra cá, que eu te mostro o que é bom...

- hahaha

- Olha aqui pra vc...

Ele se virou, desceu a cueca, o Diego entrou na sala e gritou: "Guuu!!!"


No milésimo de segundo entre o susto e a ação, pensei milhões de coisas, derrubei o mouse, levantei, dei um grito, e aí desliguei o monitor.

- Que susto, porra!

Ele veio em minha direção.

- O que é... isso... aí, hein... danadooo...

- Isso aí o que, maluco?

Ele me empurrou pra o lado querendo ligar o monitor novamente, eu tentando empurrar, em vão. Ele ligou o monitor.

Desliguei a CPU que ficava embaixo da mesa.

- Marrapaz... desligou o computador! Tava fazendo coisa errada mesmo, né?

Gastei metade da tarde explicando uma mentira pra ele, que tava conversando putaria com uma colega minha e ela tinha me feito jurar que eu não ia mostrar pra ninguém, e tal... Ele ria e me olhava desconfiado. A minha sorte é que de fato eu estava com a Liziane em outra janela, mas a diferença é que ela não tem o mínimo pudor, nem ligaria se eu mostrasse os nossos papos pra alguém. Era uma colega minha da facu, muito amiga, muito doidinha.

Liguei o computador novamente, abri o msn, bloqueei o cara e retomei a conversa com Liz. Depois mostrei ao Diego, ele acreditou tanto que até se interessou pela figura dela.

Conversaram pelo meu msn, depois se adicionaram, e ficaram conversando o resto do dia.

No fim de semana ele foi comigo pra Feira, eu os apresentei e eles se pegaram.


Alguns dias depois, recebi um torpedo da Mirelle.

Então, quando o Otávio me chamou para conversar, eu já tinha uma noção do que tinha ocorrido.

Ele tinha voltado para a esposa.


- Eu te chamei pra a gente conversar porque eu acho que te devo isso, depois de tudo o que aconteceu nesses últimos dias – o Otávio estava visivelmente constrangido, procurando as palavras – e todo o apoio que você me deu... Mas, é isso, não tenho muito o que dizer além de me desculpar com você e com sua família...

- Otávio, pera... – levantei a mão – Não vamos dramatizar uma coisa que não tem essa dimensão toda. Você conheceu uma garota, gostou dela, até onde eu sei foi bastante claro...

- Mas houve um envolvimento com a família, e...

- ...e ela é adulta, e sabe se virar. E se não sabe se virar, tem que aprender, nem que seja passando por esse tipo de situação. – inspirei, estava tenso – tudo bem, acho que você se empolgou demais, eu via isso, fazendo garantias das quais não podia cumprir. A prova tá aí agora. Mas a responsabilidade é dela de não ter envolvido a ex-sogra que a abriga em casa, os filhos, que ainda são pequenos, a mãe, o cachorro... Ela, e você, deveriam ter sido mais prudentes, só porque era início de relação, né?

Ele abaixou a cabeça.

- Ai, Otávio, eu odeio esse tipo de situação. Eu, aqui, dando sermão, eu não me sinto bem nesse papel, quem sou eu pra fazer isso? Todo mundo tem o direito de errar. Isso se é que alguém errou.

- Eu não quero de maneira nenhuma me isentar de qualquer culpa. Pode parecer que eu agi como um cafajeste, mas não foi nunca essa a minha intenção. Eu também acreditei. Mas é que... uma separação envolve muita coisa. Minha mãe veio pra cá, conversamos muito, a Renata tava muito mal, abalada... Eu... Não sei... De repente me senti inseguro, e... comecei a pensar muita coisa...

- Foi o que eu te disse naquela noite lá no bar, e você discordou. Vocês estão juntos há muito tempo para, em quinze dias, terem certeza que não se querem mais.

- Eu fui ontem à noite na casa da Clara, e ela foi a primeira a saber da minha decisão. Eu... ainda me sinto muito mal com isso.

Bla. Bla. Bla.


- Deu merda, né, cara? – Edu estava comigo no pé da mangueira em frente ao galpão.

- Deu. – contei a ele o caso – Agora é ver como a Clarinha está, né?

- É, pô. Vê o que a gente pode fazer por ela, cara, de repente marcar pra sair, distrair é bom. Manda meu abraço pra ela.


Na sexta à noite, fui direto pra a casa de Mirelle. Tive uma conversa super chata com a minha tia, que meio que passou na minha cara que ela tinha razão, falou umas besteiras tipo "mulher separada com dois filhos, homem só quer saber de se aproveitar, eu falei com ela", "esses seus coleguinhas aí, eu avisei...". Deixei-a na sala e fui pro quarto vê-la.

- Fica assim não, bebê... – ela estava com a cabeça no meu colo, e Mirelle do nosso lado.

- Ai, gente, como é que confia em alguém? O irmão de vocês já me fudeu toda, ficou noivo lá e me deixou aqui com dois filhos... Quando eu me refaço, sei lá, aparece um cara com tudo o que eu procuro, que gostou dos meninos... Ai, eu não tenho como acreditar no amor, não, gente...

- Poxa, nem sei o que dizer... essas coisas acontecem... nós conversamos anteontem, ele também não tá muito legal com isso, não... eu sei que foi uma pataquada o que ele fez, mas... acho que não teve má fé.

- É, Clara, tenta ver as coisas por outro lado... – Mirelle me ajudava – foi bom enquanto durou.

- Aí, sei não... Acho que eu vou morrer só mesmo... os homens só querem saber de se aproveitar... Eu me apaixono que nem uma idiota... Acho que não dei sorte no amor.

- Ô filha, tu quer o que? – eu interrompi – quem é que tu tá vendo aí que tá se dando bem? Tá todo mundo na pista, aí, batendo cabeça, se fudendo também... relaxa.

- Pois é! Ela se acha a gostosa, só ela vai encontrar o príncipe e ser feliz pra sempre!

- Ai, gente, vocês não tão me ajudando... A Mirelle tá aí, com o Maurício, maior tempão, se dão bem...

- Ah, mas o Maurício não conta, né? Ele parece o cão de calçolão, o demônio de ré, todo desajeitado... não vale. – respondi – ali ninguém ia querer mesmo não, hahahaha.

- Hum, vai se fuder! – Mirelle levantou e bateu palma – Bora, Clara, levanta daí! Vai tomar um banho, vamo comer o acarajé da esquina ali mesmo. Não adianta sofrer, não gata! Vamos arejar, que faz bem!

- Isso mesmo, Mirelle tá certa – tentei levantá-la – não vamos ficar remoendo isso. Tenho certeza que você vai arranjar alguém legal, tu é toda gatinha, tenha fé em Deus.

- É por isso que eu peguei o meu feinho – Mirelle penteava os cabelos em frente ao espelho – Parece a desgraça, mas é meu, aí ninguém mexe, meu filhooo!

- Sim, fia, mas tu acha que ele não apronta também não? Fica aí pensando... Tem sempre uma guerreira que nem tu! – falei.

- kkkkkk! Ai, gente, só vocês! – Clara se animou um pouquinho.

- Tá, ele pode até pegar, mas é reduzido. Se fosse um bonitinho, eu tava fudida. E outra: Às vezes é até bom, sabia? – passou o desodorante.

- Bom o que?

- Ele pegar essas puta aí da rua. Menino, ele vem com cada novidade, eu adoro! Semana passada ele me inventou uma posição... Só pode ter aprendido com alguma descarada aí, experiente, né possível! Eu lá toda arreganhada, adorei, quase fico doida!!!


Estava saindo do galpão, já um pouco tarde, quase sete da noite, e me surpreendi com o Murilo ainda lá no estacionamento.

- Quer uma carona? – ele encostou o carro perto de mim.

- Demorô!

Entrei.

- E aí, me conte as novidades... – ele manobrava pra a gente sair – nunca mais a gente conversou...

- Ah, então... Não muita coisa...

- E tá saindo tarde assim porque?

- Deixei acumular muita coisa, me enrolei todo... Tô sobrecarregado também, eu acho... Três obras, e projetos novos, e orçamento...

- Você nunca me mostrou seus projetos, me prometeu há um tempão...

- Ah, queria te mostrar o que eu e o Diego finalizamos. Ficou lindo... Bora lá em casa pra eu te mostrar!

- Tá, mas vamo passar no escritório pra deixar o carro, pegar a moto e ir na rua primeiro pra comer alguma coisa.

Passamos num trailer, levamos pra casa seis hambúrgueres e Coca. Di e Zoião dividiram com a gente, depois fomos pra o computador e eu mostrei pra ele alguns projetos que eu tinha feito, orçamentos, contei alguns casos... ele tinha muita curiosidade e vontade de aprender, pressa de conhecer tudo de uma vez só, eu ria muito dele.


Às 23hs eu senti sono e bocejei.

- Tá com sono, né?

- Tô, um pouquinho...

- Já vou. Tá tarde mesmo. A gente ainda tá de farda, hehehe.

- Meia farda, né. Só a calça – tínhamos tirado as camisas.

- Os meninos dormem cedo, né? – ele me encarou e eu mirei aqueles olhos verdes.

- Até que não, é porque eles têm TV no quarto. Zoião sim, mas o Di fica cochilando, acorda, assiste alguma coisa – a gente se encarava ainda e eu me desconcentrei – aí... volta... eu tava falando o que mesmo?

- Que... você tava assistindo televisão... eu acho.

- Rsss, o sono te pegou também, né? – passei a mão em sua nuca e cocei a sua cabeça carinhosamente.

Ele se levantou de um pulo.

- Tô cansado, rodei o dia todo naquele carro.

Eu ficava com raiva de mim, porque quando estávamos muito próximos, eu não resistia e fazia um carinho nele. Mas ele sempre me dava uma cortada, se afastava, isso me irritava. Me irritava comigo mesmo.

- Amanhã você fica por aqui?

- Fico. Minhas aulas começam daqui a quinze dias...

- Já?

- É, na primeira semana de agosto. Queria aproveitar esses dias, vamo fazer uma programação?

- Sim. Vamo sim.

Ele sentou no bicama. Ficou rodando a chave da moto. Eu me virei pro computador e fiquei olhando o Orkut. De vez em quando a gente conversava alguma coisa.

Depois de um tempo me virei e vi que ele estava dormindo, largado, no bicama. Desliguei o computador e fui até ele. Balancei o rapaz pelo ombro.

- Lilo, acorda...

- Oi? Você me chamou de que? – os olhos vermelhos de sono.

- Murilo.

- Nada disso.

- Vem pra cama, pô.

- Não, pô. Eu já vou.

- Tá tarde.

- Tá não. Vamo fumar? – Fechou os olhos de novo – Vamo conversar. Fala alguma coisa aí.

- Alguma coisa aí.

- Idiota.

Fui até o meu quarto e arrumei a cama. Voltei à sala, coloquei o braço dele em volta do meu ombro e o levantei. Ele acordou e se recompôs.

- Bora, vou te levar pra a cama.

- Que é isso? Não sou desses não, cara...Meu negócio é mulher, sacou? Hahaha!

- Vai, idiota, pra a cama logo. Nem se eu te desse essa chance...

Ele deitou e eu arrastei o bicama da sala até o meu quarto. Peguei uma almofada, apaguei as luzes e me deitei.

Vi que ele tava se mexendo na cama e virei pra olhar. Ele levantou, tirou a calça e ficou só de cueca. Ele usava boxer. Não dei bola, pra ele não pensar besteira. Dobrou a calça e se virou pra colocar na cabeceira da cama. Poxa, que bumbum. Virei de novo pro outro lado.

Ele deixou a cama vazia, deitando no bicama ao meu lado e me pegando pela cintura.

- Vá pra sua cama, deixa que eu durmo aqui.

O hálito dele, as suas pernas encostando nas minhas, o seu braço me envolvendo me deixaram desnorteado por um tempo. Respondi:

- Não, pô, relaxa. Eu sou menor, o bicama é pequeno pra você.

- Não é justo, pô. Eu invadir a sua casa e te tirar da cama. Bora - ele me agarrou por trás e tentou me levantar, mas os nossos corpos ficaram muito juntos. Senti o seu volume e aquilo me desconcertou.

- Paaaara, Murilo, que merda! Vai pra a porra da cama!

Ele se afastou.

- Você é muito cavalo, cara. Só queria te ajudar.

Levantou e foi ao banheiro do meu quarto. Me sentei no bicama e esperei ele sair. Ele voltou, parou em frente a mim, cruzou os braços. Sentou-se ao meu lado.

- Desculpa... – falei, fazendo a maior cara de gatinho do Shrek.

- Tem nada não – apertou o meu joelho – já sabia com quem é que eu tava me metendo.

- Ah, tá...

- Vai pra a tua cama. Vai. – eu fiz menção de falar alguma coisa – senão eu vou embora, na moral.

Deitei na cama. Suspirei. Eu tava muito sem saber como agir.

Ele também deitou.

Antes de dormir, ainda o ouvi sussurrar:

- "Lilo"... hahaha. Você é viado, na moral. "Lilo" é massa.

...

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