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30 de junho de 2007.
O sol estava a pino na Bahia. O calor estava de rachar.
A feijoada já estava pronta desde a sexta à noite – minha mãe gosta de fazer no dia anterior pra pegar gosto. Comprei cerveja e abasteci a geladeira. Adriana e Mirelle arrumavam as seis mesas que tínhamos alugado no quintal de casa, que era enorme.
Rose foi a primeira pessoa que chegou, trazendo um isopor de cerveja, junto com uma outra colega nossa da faculdade, a Larissa.
Depois chegaram minha tia Malu, e minha irmã mais velha, a Mônica. Essa eu já sabia que ia ficar pouco tempo, porque quando o povo começasse a beber, o "diabo tomaria conta do lugar". Mesmo assim conversamos um pouco. Ela estava grávida de sete meses, o bebê chegaria em julho.
Lembro que há uns meses, logo que fui morar em Camaçari, conversamos sobre o casamento dela, que não ia bem. Ela, já com uma filha de três anos, me confidenciara que estava pensando em se separar, pois achava que o marido tinha outra pessoa, e além de tudo, ele já não estava frequentando a igreja nem dando atenção à família. Ela não estava feliz. Só que quinze dias depois me ligou, dizendo que estava grávida novamente.
Recebi a notícia na época com pesar, pra ser sincero. Eu via que minha irmã não era feliz, eu não gostava do meu cunhado nem do jeito que ele a tratava, mas enfim.
Quando perguntei a ela como estavam as coisas, ela resumiu:
- Estamos indo. A Camila vai nascer mês que vem, e eu acho que as coisas vão entrar nos eixos. Ele voltando a frequentar os cultos, eu já comemoro, né?
- É.
E aí o Daniel chegou.
Óculos escuros, bermudão, blusa preta, todo marrento. Nos abraçamos como se não nos víssemos há anos.
- Como é que tu tá, pessoa?
- Aff, pensei que não ia te ver mais nunca na minha vida, Dan! Que merda!
- kkkk, olha eu aqui, dramático! E morrendo de sede!
Sentamos.
- Sim, agora me conte dessa transferência. – enchi o copo dele de cerveja - como foi isso, tão rápido?
- É, na verdade, eu já entrei na empresa avisando que se tivesse vaga para uma cidade mais próxima eu tinha bastante interesse, né? Aí acabou que morreu um colega que trabalhava aqui em Feira..
- Ai, graças a Deus!
- kkkk! Outra pessoa vem trabalhar no lugar dele, e eu vou pra Itaberaba.
- Itaberaba?
- É. É mais perto, né?
- Ah... porque não Camaçari??
- Rsss, porque... não sou eu quem decide. Mas, brow, já vamos ficar bem mais perto, são só cento e poucos quilômetros? Ó, eu vou tar aqui de quinze em quinze!
- É. Melhor, né.
- Porra, pensei que tu ia ficar feliz...
- Eu tô. Mas é que quando tu falou eu pensei que...
- Eu te falei no telefone que tava vindo pra mais perto, mas você só fazia gritar! Mas a notícia é boa, seu merda!
- Claro que é. Êeeeee...
- Né assim não. É êeeeee!!!!! – segurou no meu pulso e jogou meu braço pra cima, balançando. Rimos muito daquela idiotice.
Na outra mesa estavam a Rose, Larissa, Mirelle, Drica e a Kátia, que gritou:
- Se eu soubesse que ia perder dois amigos, não tinha apresentado vocês – ela estava ressentida porque eu o Dan ficamos muito próximos.
- Vamo pra lá, né, Dan? – falei.
Sentamos todo mundo junto. Conversamos, rimos, zoamos. Todo mundo adorou o Daniel.
Minha mãe queria tirar fotos (na verdade ela queria se livrar da tia Malu, que encarnou nela na outra mesa contando o que meu tio tava aprontando, e como ele era safado).
- Me salva ali, vai – ela encostou no meu ouvido. Virou pro pessoal – gente, vamos registrar o momento!
Fizemos algumas poses, e Mirelle me perguntou:
- Mãe tá enchendo o saco, né?
- É. – falei.
- Afff, não se toca. Acho que ela esquece que tia Stela é irmã do ex-marido dela, e não dela.
- É louca. Tá separada há milênios e não para de falar no cara. Tudo bem que meu tio é safado mesmo. Mas já passou.
- Minha mãe tem que procurar é outra rola pra ela se distrair!
- Também acho. Mas, ó, elas se entendem lá, Mi, relaxa. Daqui a pouco minha mãe também vai encher o saco dela também com outras coisas, ou então elas brigam, e aí fica tudo certo!
- kkk, então vamos beber, né filhoooo!
Rose me chamou:
- Menino, esse Daniel é de Camaçari, é?
- Não, ele é daqui. Quer dizer, nos conhecemos em Camaçari, mas ele é daqui. Porque?
- Gatinho ele. Totoso.
- E aí, vai investir? Chega lá, senta no colo dele e bate a real!
- kkk, imagine a cena? Tu sabe que eu não tenho esta coragem, né? De piriguete eu só tenho a cara! E outra: Fat Lari também ficou afim.
Ela chamava nossa colega (só entre nós) de Fat Lari, que maldade.
Lari foi nossa colega de faculdade. Ela era morena, muito bonita, cabelos cacheados, aproximadamente 1,60m e uns 250kg. Era tarada, não podia ver homem, e não tinha o menor pudor em avançar e mostrar seu desejo. Eu mesmo já tinha passado poucas e boas com ela.
- Sim, mas Lari conhecer um cara e estar afim, né Rose, não é novidade nenhuma...Por favor...
- Pois é, querido... Olha ela lá – Larissa estava conversando animadamente com o Daniel.
- É... vamos ver. Se ele curtir um tecido adiposo, você está ferrada.
- Eu vou jogar essa vadia é pra cima de tu, que aí eu corro por fora, vou falar que tu tá afim, e tal... muaaaahahaha!
- Eu te mato, viu, puta!
- Ué, você não se lembra da promessa que ela fez não?
- Esquece isso, filha!
Rose tinha me dito no início do ano que uma das promessas de réveillon de Larissa era me comer ainda em 2007.
- Se depender de mim ela morre seca! – falei.
- Morrer seca... ali tá difícil, nego... kkkk!!!
Deixei o pessoal na mesa porque Mirelle me chamou lá dentro. Ela estava querendo ir embora, porque tia Malu tinha bebido demais e tava chorando, lembrando do fim do casamento.
- Ah, Mi, não vai não. Vamos acalmá-la, a gente coloca ela ali na cama...
Entrei no quarto. Ela estava sentada na minha cama, minha mãe de um lado e a minha vó do outro. Drica estava em pé, apreensiva.
- Eu falei com aquele vagabundo... – chorava e falava – você só quer agora essas meninas novinhas, né? Elas só estão com você por interesse...
- Esquece isso, Malu, deixa pra lá...
Mirelle pegou o celular e ligou pro namorado:
- Maurício? Oi... vem aqui na casa do Gu, mãe tá bêbada e eu queria ir pra casa... Tá, amor, beijo. – fechou o celular – pronto, Gu.
- Poxa...
Quando Maurício chegou, eu coloquei minha tia no banco de trás do carro e me despedi. Ela ainda me contava o resto da história, língua embolada.
- Sabe o que eu disse pra ele, Luiz Gustavo? Falei assim: "essas meninas devem te chamar sabe de que? De caixa eletrônico: só serve pra tirar dinheiro..."
- Tá bom, tia, vai descansar.
- Afff, Gu, imagina se tia Malu faz uma baixaria na frente das minhas colegas do cursinho? – Drica tava nervosa, rss.
- Elas iam ter show de graça! – contei pra ela a história do caixa eletrônico.
- KKK! Juntar essa família é problema, viu!
- É, mas agora aproveita a festa, que ela é tua! Vai!
A noite estava caindo e os convidados há muito já tinham ido embora. Só restavam numa única mesa a Drica, Rose, Lari, Daniel e eu.
- Gente, a cerveja acabou – minha voz estava meio pastosa – a gente pode inventar umas roskas, porque eu acho que tem vodca ai.
- Eu tenho uma ideia melhor! – Lari levantou a mão – porque não vamos lá pra casa?
- Ué! E porque eu me dirigiria à sua casa? – Rose questionou – Tem o que lá?
- Tem uma tequila que eu trouxe do Chile, ma-ra-vi-lho-sa... E outra, gente... Ontem foi meu aniversário! Ninguém me deu os parabéns...
Own... Todo mundo a abraçou e desejou felicidades.
- Sim, mas e aí, vamos? A gente prepara uns Mojitos, vocês vão adorar!
- Que é isso? – Daniel perguntou.
- É um drink que eu preparo com tequila, sal e limão, às vezes uma hortelã... – explicou como era o processo.
Drica não quis ir, estava cansada. Olhei pro Dan e ele deu de ombros.
- Vamo lá, Gu, eu não quero ir pra casa mesmo... – ele me falou.
Quem passava pelas ruas do meu bairro naquele momento se deparou com quatro pessoas bêbadas andando, fazendo palhaçada, rindo de nenhum motivo, e procurando um bar que vendesse cerveja em lata para consumo no caminho até a casa de Lari. Depois fomos pro ponto de ônibus.
Dan passou o braço pelo meu ombro.
- Que coisa boa, véio, estar aqui contigo... Que massa, valeu mesmo!
- Saaaai, Daniel – Rose nos apartou – Gu é meu amigo há bem mais tempo!
- Calma, gente!
Tiramos várias fotos pelo meu celular de nós dentro do ônibus, mostrando as latinhas, rindo, se abraçando... os outros passageiros só olhavam.
Lari arrumou a mesa com um requinte até desnecessário, considerando o nosso estado alcoólico e nossa intimidade. Pôs as taças, os copos de licor, algumas garrafas de bebida que ela adquirira em viagens ao exterior, uma tigela com sal e outra com limões cortados em 4. Fritei uns kibes e Rose cortou uns frios que estavam na geladeira.
- Essa tua amiga é toda tirada a rica, né? – Dan me perguntou.
- É. A mãe dela mora na Europa, o pai na puta que pariu, ela tá sempre viajando...
- Vamo secar essas garrafas dela então, né?
- Pois é! – meu celular tocou. Mirelle.
- Tá aonde, gato?
- Tô aqui na casa de Lari. E você?
- Ora, desovei mãe em casa, aproveitei que ela tava bêbada e fui foder com o Maurício! Quero beber agora porque eu já tô sã de novo!
- Então venha!
Já tínhamos secado meia garrafa de tequila. O processo era o seguinte: você mergulhava o copinho no sal, para ficar com a borda melada, colocava a tequila, chupava o limão e bebia.
As meninas já estavam trêbadas conversando na cozinha, eu e Dan na sala, eu sem camisa e ele inventando umas danças loucas. Eu ria muito. Ele veio até mim.
- Ô Gu, faz mais um pra mim... – fez uma cara de pedinte tão bonitinha que eu não resisti.
- Faço sim, folgado...
- É por isso que eu te amo! – Passou o braço em volta do meu ombro enquanto eu preparava.
- Pronto. Preparei dois. Vamo lá?
Chupamos o limão e bebemos. Argh.
- Ele me fitou. Fechou o olho, fazendo cara feia. Depois se aproximou.
- Eu não vou beber mais isso não. Esse sal tá cortando a minha boca todinha. Olha pra cá.
Ele chegou o rosto mais próximo do meu, para eu conferir. Cheguei mais próximo, para identificar o que tinha nos lábios dele.
- Não tou vendo, não, Dan.
- Olha aqui, pô. Toda cortada. Tá doendo.
Eu estava muito bêbado, a cabeça já doía e meu raciocínio um pouco alterado. Os braços dele se apoiavam no meu ombro e sua boca muito próxima. Passou um pensamento muito louco pela minha cabeça.
- Ah, tô vendo mesmo, tem uns cortezinhos... – passei o dedo pelo seu lábio inferior.
Foi quando senti a mão de Larissa retirar os braços dele de mim.
- A sua boca tá o que? Deixa eu ver.
Ela puxou o rosto de Daniel com as duas mãos e lhe deu um beijo.
Fiquei imprensado entre a mesa e o casal, que ainda não tinha se desgrudado. Quer dizer, ela ainda não havia feito isso, segurando o rosto dele com as duas mãos. Os braços dele estavam abertos, procurando apoio.
Olhei pra a Rose e ela estava na cozinha, com os olhos arregalados. Larissa pendia o corpo pra cima de mim, e eu tentando empurrar aquele contêiner pra poder sair. Uma situação ridícula.
Consegui me livrar daquele sanduíche de gente que tinha se formado sem minha anuência e fui até a cozinha.
- O que foi isso? Perguntei à Rose.
- Meu filho, essa mulher é louca... Vocês estavam lá, ela ficou olhando pra ele... aí me falou que tinha sacado que eu tava afim dele...
- E tava?
- Te falei né? Mas eu falei com ela: "Lari, tô afim, sim, não vou mentir..." ela ainda me falou: "é, eu percebi mesmo que ele também tá meio assim pro seu lado, e aí não rola não?" eu respondi: "olha, eu tô aqui, mas eu não tenho iniciativa pra isso não, se ele quiser, ele venha"
- Hum.
- Ela me falou: "Pronto. Então tá. Se você não tem, eu tenho." E saiu em disparada apartando vocês.
Olhamos pra a sala de novo. Daniel tinha se afastado um pouco e voltou-se pra a mesa. Serviu-se de uma tequila. Ela veio até nós, rindo, com uma expressão triunfante.
- Tá vendo, Rose? É assim que se faz.
- É... eu realmente tô pasma... enfim – Rose deu uma risada nervosa.
- Você tem que sair mais comigo, fazer um estágio, sacou?
- Não, filha, muito obrigado... minha pegada é outra. Dá licença.
Mirelle tinha chegado com o Maurício. Daniel estava explicando pra ela o processo. Começamos a beber outros drinks lá, mas o Maurício queria cerveja e começou a reclamar.
Voltamos a conversar como um grupo, mas de vez em quando Larissa ia até o Daniel e o agarrava. Ele, apesar de estar sem graça, correspondia.
Maurício me chamou para ir até uma loja de conveniência comprar cerveja. Chamei o Dan num canto. As meninas conversavam próximo à mesa.
- Dan, eu vou comprar cerveja com o Maurício.
- Vai demorar?
- Não, a gente vai no carro dele e é aqui próximo. – olhei pra ele, hesitante – é... sim, como é que você tá?
- Como assim?
- Esse teu lance aí. Se você quiser, a gente pode sair e deixar vocês a sós, eu levo as meninas e depois a gente volta, sei lá.
Ele parou um pouco, olhou pra baixo. Depois agarrou meus pulsos e me sacudiu.
- Faz isso não cara, pelo amor de Deus!
- Que foi, gente? Que é isso?
- Eu não quero não, ela me agarrou, eu fiquei sem graça de dar um rodão nela, sei lá... mas eu não quero ficar só com ela não, na moral.
- Tá. Calma. – fiquei feliz de repente – Eu vou fazer assim: Vou com o Maurício lá e deixo as meninas aí, pra quebrar o clima. Eu volto rapidinho.
Dei um toque pra Mirelle do que tava rolando, mas Rose já havia contado pra ela, não sei como.
- Relaxa, gato, pode ir – Se virou pra Daniel – Daniel, meu filho, chega aqui...
Quando eu saí estavam Rose, Daniel e Mirelle sentados no sofá. Daniel no meio das duas e Lari numa poltrona ao lado.
Entrei no carro com o Maurício. A loja de conveniência mais próxima não tinha a cerveja que ele queria, quando eu pensei em convencê-lo a comprar aquela mesmo, meu celular tocou. Era a Mirelle.
- Gu, volta pra cá.
- Tô comprando a cerveja aqui, já tô voltando..
- Não, volte agora, volte agora!
Desligou.
Quando voltei, estavam a Rose e a Mirelle fora da casa, com a porta fechada, uma agarrada na outra, com os olhos arregalados.
- Que foi, gente? – já desci do carro perguntando.
As duas falavam sem parar.
- A gente tava conversando normalmente...
- Aí ela veio e sentou no braço do sofá...
- Quase me esmaga...
- Daniel quis se afastar...
- Aí teve uma hora que ela me empurrou, agarrou ele pelo braço e saiu arrastando até o quarto! Se trancou e deixou a gente na sala...
- Só falou assim: dá licença...
Eu estava estupefato.
- Gente, isso é no mínimo falta de educação, afinal de contas ela chamou a gente pra vir pra a casa dela... que ridículo! – falei.
- E agora, a gente faz o que? – Mirelle perguntou – eles estão transando lá!
Pensei um pouco.
- Vamos entrar. Eu não posso deixá-lo aí, a gente espera um pouco e vamos embora.
Entramos. O som da sala estava ligado tocando uma música horrorosa, na maior altura.
- Quem ligou isso?
- Fui eu, né? – Mirelle respondeu – ela tava gritando no quarto que nem uma louca, eu liguei pra abafar o som.
- Eu mereço. Pode isso, Rose?
- Ai, ai... eu tô fúcsia aqui de vergonha.
Uns vinte minutos depois, estávamos ainda no sofá, atônitos, um olhando pra a cara do outro.
- Gente, vamos? – falei – não adianta ficar aqui, ele já é bem grandinho, ele se vira.
- Mas, Gu... – Rose ia falar, mas a porta do quarto se abriu.
Lari saiu primeiro. O vestido estava todo desajustado no corpo, os cabelos desgrenhados e ela estava toda suada.
Mirelle deu uma risada bem alta, estridente, todo mundo olhou pra a cara dela. Ela cochichou:
- Gente, vamo fingir que a gente tá conversando de outra coisa. Huaaaaahahhah!
- Ah – respondemos – kkkkk! Huauhuahu!
Daniel saiu do quarto, igualmente desgrenhado. Porém, ao contrário da expressão de Lari, de felicidade pura, ele estava acabado. Rose levantou do sofá.
- Lari, os meninos não encontraram cerveja, o Maurício quer ir embora também, a gente vai aproveitar a carona.
- Ah, meninos, fiquem aí, agora que ia ficar bom. Tem outras coisas pra a gente beber...
Demos mais umas desculpas, e fomos saindo. Me virei pro Daniel:
- Quer uma carona, ou você vai ficar?
- Idiota.
Me espantei. Lari veio e o agarrou.
- Claro que ele vai ficar. Amanhã a gente marca alguma coisa.
- Não, Lari – ele respondeu, agarrando meu pulso – Eu vou com eles, amanhã eu viajo pra Teixeira, é muito chão. Nem devia estar aqui uma hora dessa, pra falar a verdade.
Depois de uns cinco minutos de insistência, e com o meu braço já roxo, conseguimos entrar no carro. Eu, Rose e Daniel atrás.
Deixamos Rose primeiro e depois o Maurício foi deixar Daniel. No caminho, Mirelle fazia algumas piadas para descontrair. Eu me virei pra ele:
- E aí, garanhão, me conta aí...
- Velho, na moral, não fala comigo não.
- Oi??
- Oi o que? Eu tou danado contigo.
- Comigo? Porque?
- O que foi que eu te pedi, cara?
- O que você me pediu? Pra te livrar...
- Pois é, e o que foi que aconteceu?
- Epa! Eu deixei as meninas aí, foi esse o trato. Nem comprar a cerveja eu comprei, voltei logo...
- Porra, velho, você tinha que me proteger, eu te pedi pra cuidar de mim...
- Daniel, eu não tô acreditando agora que você vai me culpar por isso! Eu não podia imaginar que essa louca...
- Não podia imaginar o que? Você já conhecia ela! Você mesmo me falou que ela era tarada!
- Mas não a ponto de sair arrastando ninguém até o quarto! Eu não imaginei. E outra: porque você não se saiu? Não é homem não, é?
- Você vai me ofender, agora? Maurício, velho, na moral, para esse carro ai. Eu vou ficar por aqui mesmo.
Mirelle interveio:
- Gente, para de besteira! O que passou, passou, pronto! Vão brigar por isso?
- É porque o seu primo acha que tá certo! Se você não tivesse me perguntado, Gustavo, mas você me perguntou e eu te pedi: cara, me protege aí...
- E eu fiz a minha parteee!!! Eu não vou discutir o óbvio com você, não, que eu não sou idiota, tá? Eu que devia estar bravo com você.
- Ah, é, porque?
- Porque você estragou a noite de todo mundo! Colocou as meninas, que você mesmo pediu pra ficar, numa situação ridícula, isso você não vê!
- É nessas horas que a gente vê...
- Olha, Daniel, é melhor você parar. Se não tava afim, cara era só falar, empurrar ela, dar um murro..
- Eu tava afim, mas não era dela não, tá?
- Então pronto! Explicava pra ela! Rose também tava afim de você! Não teve coragem, ótimo, tudo bem. Só não venha botar culpa em mim de nada.
- Tá bom. Se fosse o contrário eu ia te proteger. Agora que eu tou te conhecendo.
- Para de ser RIDÍCULO, Daniel! Idiota!
- Maurício, velho, na moral, para esse carro aí.
- Para mesmo, Maurício, para mesmo. Você vai andando pra casa! Andando!
Maurício parou o carro, confuso. Daniel falou:
- Depois não venha me ligando não, viu. Você não me conhece quando eu fico bravo com alguém.
Peguei meu celular. Mostrei pra ele a agenda.
- Olha aqui o que eu faço com o seu nome, ó – apaguei.
Ele fez uma expressão de ódio e falou:
- Patife!
Saiu do carro.
Quando desci do carro, já na porta de casa, Mirelle me falou:
- Tô preocupada. A gente deixou o menino no meio da rua, já são duas horas da manhã.
- Ele chega em casa – suspirei – tu viu isso? Eu acho é coisa.
- Vai dormir, vai, amanhã a gente conversa.
Entrei em casa e sentei no passeio da frente. Que merda!
Meu celular tocou. Demorei horas pra achar no bolso da bermuda. Era o Murilo.
O que o Murilo queria uma hora daquela?
- Oi...
- Gustavo, e ai?
- Diz.
- Que merda é essa aí, velho? Daniel tá me ligando aqui. Me falou um bocado de coisa sem sentido, disse que foi estuprado e a porra...
- Ah, tá? Ele te contou tudo direitinho como foi, ou só a parte dele?
Daniel respondeu:
- Ei contei, sim, paspalho, eu tô aqui na linha!
- O que é isso? – perguntei.
- Eu fiz uma conferência aqui, tô ligando pra a gente conversar os três – Murilo respondeu.
A discussão recomeçou. Murilo intermediava. Daniel contou a versão dele, eu contei a minha, um interrompia o outro, o nosso árbitro pedia calma... Quarenta minutos depois, Murilo dá o veredicto:
- É Daniel, você tá todo errado aí. O Gustavo tem razão.
A briga recomeçou, agora a três. Desliguei na cara deles e desliguei o celular.
Tirei o sapato, deitei na sala mesmo, a cabeça explodindo e o peito doendo por ter brigado com o Dan.
...
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