05
Logo pela manhã tive reunião com a minha chefe e os outros engenheiros da equipe. O objetivo era a distribuição dos trabalhos.
Combinaram em me passar primeiramente os trabalhos mais simples, considerando que eu era novato e recém-formado também. Dali a dois meses teria uma obra de expansão que eu iria cuidar sozinho.
Enquanto esta obra não começava, iria ajudar a equipe de manutenção da empresa a organizar seus trabalhos. Essa equipe era permanente, não cuidava das obras em si, mas era responsável pela manutenção preventiva e corretiva de todos os prédios. Pelo que eu entendi, haviam problemas recorrentes de desorganização, com relação ao atendimento, compra de materiais e equipamentos, dimensionamento de equipe, etc.
- O engenheiro Gustavo – Valquíria sempre nos chamava de engenheiro antes do nome, não sei porque - vai ficar fazendo este trabalho junto com a equipe de manutenção, até as coisas se ajustarem por lá.
Pedi a palavra.
- Pelo que eu entendi, doutora, a equipe está passando por problemas de organização e por isso não está conseguindo responder as demandas a tempo.
- Isso, ela respondeu, o encarregado é muito experiente e eficiente, porém falta um técnico capacitado para ajudá-lo a dimensionar isso tudo.
- Já foi conversado com ele, ou com a equipe, que tem uma nova pessoa que irá intervir nos processos deles?
- Você está preocupado com algum tipo de rejeição, é isso?
- Na verdade, sim. Isso pode ser visto, dependendo da abordagem, como uma intromissão, ou perda de autoridade, não sei.
- Acredito que isso não vá ser problema, não. Ontem conversei com ele que teríamos esse trabalho e ele não demonstrou, pelo menos na minha frente, estar contrariado.
Um dos colegas interviu:
- É, Gustavo, quanto a isso pode ficar tranquilo. O Lúcio é muito gente fina, ele tem uma relação muito boa com a equipe, o pessoal gosta muito dele.
- Lúcio?
- É, o encarregado da manutenção predial.
Voltei à minha sala e respirei fundo. Era o cara que fez os comentários idiotas, aparentemente a meu respeito. Logo depois fui apresentado a alguns, e sugeri que nos encontrássemos com a equipe toda à tarde, para começarmos a debater. Para minha surpresa, eles foram resistentes, alegando ter muita atividade atrasada para ficar marcando reunião, e eu tive que insistir que era importante.
Na hora do almoço fui ao comércio comprar uma cama e guarda roupa, e liguei pro Di, pra saber se tava confirmado.
- Queria te pedir um favor, também, Di. Os móveis só chegam no sábado de manhã, eu vou estar em Feira, então será que vai ter gente em casa pra receber?
- Vou estar, sim, se preocupe não. Fico aqui nos fins de semana.
- Beleza, então. Segunda eu já venho pra ficar.
- Ah, olha, o outro cara também já confirmou, viu? Ele começa segunda também.
- Tá bom.
A reunião foi um pouco pior do que eu imaginei. Era um grupo de oito operários, mais o Lúcio que era o responsável por ela. Comecei a explicar que precisava da ajuda deles para entender os processos, as queixas que eles tinham, etc, me dispondo a ajudar. Mas percebia que alguns meio que riam, outros conversavam paralelamente, e eu tinha que altear a voz para me fazer ouvido. Daí disparei algo mais radical:
- ...de modo que, depois desse período, apresentarei um relatório à diretoria, com relação ao desempenho da equipe.
Consegui o que queria. Todos se calaram, e eu vi o Lúcio se contrair. Um dos integrantes gritou: "Lúcio, você não é mais o chefe, não?", e ele rebateu:
- Você não ouviu o que o garoto falou não?? Ele tá aqui mais é pra acompanhar, pra aprender, também, porque tá começando a vida agora e...
- Acho que você também não entendeu, Lúcio. Deixa eu explicar: estou aqui para acompanhar primeiramente, e aplicar o meu conhecimento técnico para ajudar a sua equipe a atingir o resultado. Outra coisa: sou recém-formado, mas já tenho experiência em construção e manutenção predial. Enquanto eu estudava, também trabalhei, e por esse motivo a Valquíria me pediu ajuda.
- O que estou querendo dizer é que essa equipe aqui que você está vendo não chegou agora, nem anteontem, a gente tá aqui há muito tempo; só eu estou aqui há sete anos, e a gente rala pra cacete pra agora ser mandado embora por que o serviço é grande.
- Eu não falei em nenhum momento que alguém iria embora por esse ou aquele motivo.
- Ah, e a gente aqui é besta... – resmungou um deles.
- Falei que teremos no final da observação um relatório apontando o que devemos melhorar. Só isso.
Silêncio.
- Vocês estão realmente satisfeitos em fazer hora extra todo dia? Em chegar e sair com a sensação de que não realizou metade do que estava feito? Em ouvir sempre a queixa dos outros setores que a manutenção não funciona? Me digam: qual a impressão de vocês?
Por um tempo ninguém falou nada. Lúcio falou:
- Diz, gente, a hora é essa. Vocês reclamam todo dia. O menino tá aqui querendo saber.
Registrei sempre ele enfatizando: o garoto, o menino... Um senhor levantou a mão:
- Eu acho que precisa de mais gente, né...
- Então, seu Luiz, se no final desse acompanhamento a gente concluir que precisa contratar mais gente? Não vai ser bom?
No fim eles estavam um pouco mais conformados, mas ainda arredios. Um deles foi destacado para ficar diretamente comigo me explicando os materiais e ferramentas para compras. Eu estava saindo quando o Lúcio veio na minha direção.
- Olha, garoto, deixa eu te dar um conselho: vamos com calma, porque essa equipe é muito boa. Você tá começando agora, então talvez não entenda que, quando se coordena uma equipe, a gente tem que conquistar a galera, fazer amizade, se entrosar, até fazer umas brincadeiras, pra depois cobrar. Não pode ficar já...
- Olha, Lúcio, eu discordo completamente. Por falar nisso, já coordenei equipe, sim, maior até do que essa. Não acho que trabalho é lugar de fazer amigo, não. É lugar de trabalhar. Se conseguirmos trabalhar, atingir o resultado, e ainda assim fazer amizades, ótimo, é um plus. Mas o objetivo daqui não é esse. É trabalhar...
- Veja...
- ... é trabalhar e respeitar um ao outro. Respeito e cordialidade acima de tudo.
- Não entendi.
- Acho que você entendeu.
Saí da sala. Estava tremendo, com a boca seca, mas não queria deixar transparecer nada.
No pé da mangueira em frente ao galpão, relatei a conversa pro Daniel e ele concordou comigo, me deu também alguns toques do pessoal da equipe que ele conhecia, etc. Confesso que no meio do papo, eu dispersei a minha atenção, por conta de um cara que passou de carro por nós. Eu acho muito bonito quem tem olhos claros, e os dele eram bem verdes. A tarde estava acabando, então o sol bateu de frente do rosto dele e o iluminou. Ele passou direto, mas Daniel também o viu passar e gritou: "Murilo!"
Ele voltou, estacionou e desceu do carro. Tinha mais ou menos 1,85, corpo bem legal (em que destaco as pernas e o bumbum, rss), branco, cabelos castanho-escuros, rosto expressivo, maxilar forte. Eles se cumprimentaram, e Daniel me apresentou:
- Gustavo, esse aqui é o Murilo. Aqui é meu amigão!
Apertamos as mãos.
- E aí, Murilo, tudo bom? Prazer.
- Tudo bom, cara. Mas, olha, a gente já foi apresentado, ontem.
- Sério? – eu me lembraria, acho.
- Humrum. Foi de forma coletiva, mas foi.
- Ah...
- E eu também vi você passar ontem aqui, e falei com você, mas você virou a cara...
Daniel riu.
- Eu não, né possível! Eu não vi.
- Na segunda-feira também você tava lá no escritório, parecia até meio perdido, procurando uma sala, mas não olhava nem pro lado, então nem encostei.
- Nossa... foi mal.
- kkk, relaxa, pô, tô de sacanagem contigo.
- Não dá atenção pra esse cara, não Daniel. Ele é um descarado!
- Não mas ele tem razão. Eu sou cego, de longe é um horror! – respondi.
Não teve jeito de não ir pra a república de Daniel. Ele disse que eu tava de implicância. Fui dormir lá.
Eram seis caras morando juntos, quando entramos o lugar estava uma algazarra total. A casa era toda no primeiro andar, acima da residência do proprietário, tinha uma sala enorme, com as portas dos quartos de frente para ela. Próximo à saída tinha o acesso à cozinha e o banheiro.
Tinham dois assistindo tevê, conversando alto, em um dos quartos havia um som ligado e no outro um barulho de televisão também. Daniel me apresentou aos caras da sala lá, a gente ficou conversando. Mas o barulho da tv no quarto me chamou atenção.
- Daniel, que barulho é esse no quarto?
Eles riram. Era um barulho de tevê, claro, mas eram gemidos altos de uma mulher gritando: "mete, gostoso, mete, gostoso...". Os meninos se olharam e começaram a rir.
- Ah, eu esqueci de te falar, temos um punheteiro oficial na casa...
- Oi??
Os caras riram e gritaram: sai daí, Yuri, vai se acabar, cara!
- É sério. Todo dia ele chega do trabalho, se tranca no quarto e fica pelo menos meia hora lá, depois sai, com a cara mais limpa do mundo.
- Gente...
- Pior é que eu divido quarto com ele, aí tenho que esperar ele terminar pra poder entrar no quarto.
Saiu um galego do quarto que estava ligado o som. Ele não tinha um rosto bonito, mas tinha um corpo todo trabalhado. Estava só de short. Daniel o chamou:
- Rafa, vem cá! Esse é o colega que eu te falei...
O cara deu um grito bem alto, fingindo afetação.
- AAAAAAH, que delíciaaa! Macho novo! To cansado dessas rolas daqui, afff!!!
Eu ri, mais de surpresa do que qualquer outra coisa.
- Liga não, Gu, o cara é louco. Ah, inclusive esse é o louco da república.
Um dos caras gritou para ele parar de viadagem. Ah, gostei quando o Daniel me chamou de Gu. Rss
O punheteiro saiu do quarto com um papel higiênico enrolado na mão. Que nojo...
Barulho total na casa. Gritavam, reclamavam, davam risada.
- Cara, eu não vou apertar tua mão não – falei com o rapaz, Yuri, quando fui apresentado a ele. Todos riram.
O maluco gritou:
- Então vem aqui gostoso, e aperta minha bunda, vai! – o maluco se jogou em cima de mim roçando a bunda dele no meu pau. Gente, que povo louco! Daniel ria, sem parar, porque eu tava meio sem reação.
De qualquer forma, não pude deixar de perceber: que bunda dura, bem formada...
- Vamo tomar banho, gostoso? – nesse momento ele abaixou o short e ficou completamente pelado, na frente de todo mundo. Pegou na minha mão, querendo me arrastar pro banheiro.
- Começou... – gritou um de lá, como se tivesse já acostumado com isso.
Foi uma algazarra total. Daniel veio, rindo sem parar, nos apartar. Os outros meninos jogavam almofadas no maluco, também rindo.
No meio da confusão eu tive que me conter pra não ficar olhando demais pro homem nu. Mesmo assim percebi a barriguinha, o tórax, do bumbum nem se fala, e o pau... todo raspado. Aquele cara deve ter malhado muito, era muito definido.
Diego saiu do quarto dele para ver a confusão, e aí eu fiquei sem saber pra onde olhar. Ele tava só de cueca, com cara de sono, ficou parado na porta perguntando que baixaria era aquela. Menino, que peito... O braço também era grande, tinha uma tatuagem na parte interna do bíceps. Muito bom.
O doido foi tomar banho e fiquei conversando com os meninos um pouco mais. Depois fui tomar banho também, e fiz meu ninho no sofá da sala.
Já estavam todos recolhidos e mais calmos quando Daniel veio perguntar se tava tudo em ordem.
- Tá sim, tranquilo, relaxa.
- Ó, foi mal aí qualquer coisa, viu. É que essa república é bagunçada assim mesmo, e os meninos já são conhecidos de muito tempo. Rafa é maluco, não tem limite pra brincadeira, mas é um cara super gente boa.
- É, vocês parecem irmãos mesmo. O outro saiu com o papel higiênico na mão, gente... quanta intimidade... rss
- kkk, pra você ver!
- Cara, valeu mesmo pela força. Brigadão.
- Pode contar comigo. Vou deitar, qualquer coisa, fica à vontade.
No outro dia minha irmã me mandou mensagem, dizendo que nossa mãe piorou e estava internada. Tinha tido uma crise forte de dor e pressão alta. Fui pra Feira de Santana no fim do dia e dormi no hospital, acompanhando-a. Ela, ou dormia, ou chorava de dores e lamentação pela briga com minha avó.
No domingo minha avó pediu para ir no hospital visitá-la. Pegamos o ônibus, e chegamos lá no início da tarde.
Entramos no quarto e minha mãe dormia profundamente. Minha irmã estava sentada na poltrona ao lado, com uma aparência cansada, ela tinha passado à noite lá.
Dona Eliza aproximou-se do leito, se abaixou para verificar o estado de minha mãe mais de perto. Passou a mão pela sua testa, arrumando-lhe os cabelos. Minha mãe abriu os olhos, e, num impulso, minha avó se afastou um pouco, desconcertada. Ficaram em silêncio por um tempo.
- E aí, como é que você está? – inquiriu vó Liza.
- Tô aqui, dopada... Ainda com dor...
- Mas vai melhorar, se Deus quiser.
Ficaram em silêncio por mais um tempo.
- Bom, eu já vou indo, disse vó Liza.
- Tá cedo...
- Vim só ver se tá tudo em ordem mesmo, e o ônibus demora pra passar. Adriana, vamos pra casa? Quem dorme aqui hoje é o Gustavo, e aí amanhã você volta. Fique bem, não se entregue não, que é pior.
Ela se afastou da cama, e minha mãe pegou na mão dela e apertou. Começou a chorar, silenciosamente. Minha vó estacou um tempo, hesitou, depois voltou e lhe deu um beijo na testa. "Fique bem."
Foram embora. Eu fui pra perto do seu leito, e enxuguei a lágrima. Minha mãe suspirou fundo.
- Acho que ela me perdoou, né?
- É, acho que sim.
...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top