Perdidos
"Nada de pânico, só me atrapalhei um pouco! E por uma boa razão...", Robert pensou.
— Desculpe-me, Marion. Você ainda é uma criança, eu não devia ter te beijado — disse, tentando distraí-la, enquanto procurava discretamente a direção a seguir. Não queria assustá-la sem motivo.
— Criança? Mas temos a mesma idade!
— Sim, mas sou um mês mais velho e isto é muito tempo! — Ele adorava fazer piada sobre isso. — E nós, homens, somos mais experientes, você sabe... — falou com orgulhoso e voltou a caminhar.
— Está convencido por causa de sua aventura com aquelas garotas horrorosas. Foi indecente o que você fez! Duas garotas! — ela resmungou, acompanhando-o pela estreita picada de terra entre as árvores altas.
Ele riu por dentro, imaginando as histórias que ela devia ter ouvido dos soldados.
— Você sempre teve ciúmes de minhas namoradas... — provocou-a.
— Namoradas? As camponesas com as quais você costuma se distrair? Devia envergonhar-se! Será que pelo menos sabe o nome delas?
— É claro que sim! — ele falou com um sorriso malicioso, — Natalie, por exemplo... Ela é linda! Como poderia me esquecer dela?
— Linda para uma camponesa... — ela comentou com desprezo, — O cabelo dela é cor de palha e o rosto é redondo e têm sardas. E ela é baixinha... E provavelmente ela não sabe ler! — continuou, enquanto tentava afastar um galho que se prendera em seus cabelos.
— O que me importa se ela não sabe ler? Não ficamos lendo quando estamos juntos... — ele disse em tom sarcástico e aproximou-se, ajudando-a a soltar-se do galho. Mais uma vez, seu coração voltou a disparar com a proximidade do corpo dela e ele afastou-se rapidamente, irritado consigo mesmo.
— Por favor! Poupe-me de detalhes! — Marion exclamou com raiva e fechou o rosto, emburrada.
— Ela é mais bonita do que Francis cara de rato. Sua ciumenta! — ele respondeu, divertido com o apelido que tinha acabado de inventar.
— Não fale assim! Ele até que é bonitinho...
— Quero ver beijá-lo com aqueles dentes saltados que ele tem na boca.
Ele fez um gesto engraçado, imitando uma tentativa desastrada de beijo, mas a ideia de que um dia eles realmente iriam ficar juntos o entristeceu.
Ela deu um tapa no braço dele.
— Francis não tem os dentes saltados. Agora é você que está com ciúmes! — exclamou.
De repente, os dois pararam. Uma ravina escarpada e profunda estendia-se à frente deles e bloqueava a passagem.
— Isto não estava aqui antes... — Marion franziu a testa, preocupada.
Ele pegou a mão dela.
— Vamos contorná-la pela esquerda. Devemos ter atravessado ao lado dela na vinda e não reparamos — falou, tentando transmitir segurança na voz.
⚜️⚜️⚜️
Ela sentou-se na raiz de uma árvore, jogando o buquê de flores no chão.
— Nos perdemos... — ela disse, desanimada. — Devíamos ter chegado à orla da floresta e aos cavalos há muito tempo.
Robert deixou-se cair ao lado dela.
— Desculpe-me! A culpa é minha... Estamos longe de Locksley, não conheço o lugar. Jamais deveria ter penetrado tanto na floresta! — ele exclamou, xingando a si próprio silenciosamente. A verdade é que ele andara sem rumo, completamente desnorteado e distraído como se estivesse caminhando em um sonho.
— Pare de me pedir desculpas! Você já fez isso mil vezes hoje! — ela respondeu nervosa. E depois, continuou mais branda, — Você nunca se perdeu antes... A culpa é minha. Eu te distraí!
Ele levantou uma sobrancelha e a olhou com o canto dos olhos. Sim, ela fizera pior do que isso... Deu um suspiro e levantou-se.
— Não saia daí! Vou subir naquela árvore e ver se consigo encontrar a estrada — avisou-a, apontando para uma árvore alta atrás deles.
Escalou o tronco, dependurando-se nos galhos com agilidade e em poucos instantes atingiu a copa, equilibrando-se no galho mais alto. Olhou ao redor, procurando algum sinal da estrada ou de um campo arado, entretanto a floresta estendia-se impiedosa por seu campo de visão. E pior: o sol começava a baixar no horizonte.
Desceu rapidamente.
— Viu alguma coisa? — Marion perguntou, aflita.
— O sol está naquela direção. Se seguirmos para o sul, provavelmente encontraremos a estrada. Só que... — parou de falar.
— Só que? — ela insistiu, preocupada.
— Estamos no fim do dia e talvez tenhamos que passar a noite aqui... — Ele mordeu os lábios, mais preocupado ainda.
— Meu Deus! — Os olhos de Marion abriram-se de medo, lembrando-se das histórias sobre pessoas que se perdiam e passavam a noite na floresta; histórias assustadoras de bruxas, duendes e demônios, todos querendo a alma daqueles incautos infelizes. — E se houverem bruxas e duendes por aqui? — perguntou com voz ansiosa.
— Bruxas! Não me preocupo com elas, mas sim com animais selvagens que saem para caçar a noite. Talvez fosse melhor se desistíssemos de encontrar o caminho hoje e começássemos a procurar um abrigo — ele ponderou com mais praticidade.
—Nossos pais irão nos matar quando os encontrarmos! — ela exclamou.
O rosto dele contraiu-se com uma careta ao imaginar a cena. Meu pai irá acabar comigo... Existiria algo pior do que a masmorra e algumas chicotadas? Certamente haveria! Enfrentar animais selvagens será brincadeira perto disto!
— Acho que vou ter que morar na floresta — tentou fazer uma piada e seus lábios se entortaram em um sorriso sem graça.
⚜️⚜️⚜️
A noite desceu rapidamente. Eles tinham armado uma fogueira e se abrigado junto às pedras altas próximas a um riacho.
Os pequenos animais e insetos emitiam um ruído uniforme e hipnótico. De vez em quando uma coruja piava baixinho e as águas correntes do riacho abaixo deles fechava o coro noturno de sons calmantes.
As pálpebras dele piscaram e ele bocejou mais uma vez.
— Não durma, Robert! E se algum animal selvagem nos atacar? — Ela estava mesmo com medo; o vira enterrando a pele do coelho bem longe da fogueira para que nenhum animal fosse atraído pelo cheiro de sangue.
— Então você terá que me distrair. Estou morrendo de sono! — falou com a voz enrolada.
— O que você quer que eu faça?
—Humm! Estou pensando... O que será que uma mulher pode fazer para entreter um homem no meio da noite? — ele perguntou com um sorriso malicioso. Imagens vieram a sua cabeça, mas nenhuma que poderia falar em voz alta.
Ela entendeu e se ergueu um pouco, dando um soco na barriga dele.
— Não pense que sou uma das Mosley...
O abdômen de Robert se contraiu com o soco e ele segurou os punhos dela.
— Calma! Eu ia sugerir que você contasse uma história! — ele deu uma risada.
— Sei... — Os lábios dela entortaram-se para baixo em um sinal de dúvida, — Se eu contar uma história, você vai dormir mais rápido do que um bebê!
— Então, você pode dançar em volta da fogueira; dizem que as feiticeiras fazem isto. E hoje a lua está cheia, seria perfeito! — ele sugeriu e apontou para a lua que começava a despontar acima da copa das árvores escuras.
Ela ergueu-se com um pulo.
— Boa ideia!
Em seguida, começou a cantar e dançar, rodando ao redor da fogueira. A voz dela era doce e afinada e seu corpo se movia acompanhando o ritmo vagaroso da canção, uma balada de amor perdido. Seus cabelos escuros emitiam reflexos vermelhos sob a luz do fogo e a pele clara brilhava ao luar como uma das fadas sobre as quais a canção falava.
Ele recostou-se na pedra, contemplando-a fascinado e aprisionado como se um raio de luz divina tivesse descido dos céus apenas para brincar ao redor do fogo e capturar sua alma, fazendo-a queimar com um calor ardente. Ela era a Beleza e o Amor!
Obs da autora: coitado... Marion provoca mesmo... O que acham? Deixem seus comentários e votos!
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