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No dia seguinte, Cordélia levou uma sombrinha para se proteger do sol que incomodava seus olhos e sua pele sensível.

A sereia já lhe esperava na beira do lago, mas antes que pudesse dizer algo, a menina despejou:

– Disseram que estou diferente, meu pai e meus professores. Disseram que estou mais aérea que o normal e que não converso sobre nada além do lago. Que me alimento mal e bebo água demais. Que há algo estranho com minha aparência. – Ela usou a mão enluvada para tocar a gola rolê de seu vestido que cobria seus ombros e pescoço.

– Todos dizem isso logo antes do fim – a sereia respondeu.

– Por que você nunca é direta comigo? Por que tem que ser tão críptica?

– Porque todas entendem no final. – E a sereia sorriu ao dizer em um tom quase musical: – Você não quer nadar conosco? A água está morna e agradável.

Cordélia cogitou retrucar, mas naquele momento, não havia nada mais atraente que a sugestão da sereia. A menina era uma mariposa e o lago era uma vela num quarto escuro.

Seus olhos, completamente destemidos, percorreram os ombros e pescoço da criatura até seus cabelos castanhos, feitos escuros pela umidade. E até seu rosto delicado como porcelana. E então até seus olhos impossivelmente azuis, como safiras lapidadas.

A água era o sol de uma manhã de início de verão. Cordélia gostava de observar as bolhas que se formavam quando movia seu corpo. Gostava do verde das plantas aquáticas e do toque das algas em sua pele molhada. E gostava da escuridão que cobria o fundo.

Fim

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