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Cordélia voltou ao lago três dias depois. Sua professora de aritmética devia estar lhe procurando, mas a menina não se importava.

No caminho, questionou se a grama dos pastos que rodeavam a estrada para o lago sempre fora tão verde e clara como era agora. A cor incomodava seus olhos e ela decidiu que preferia um verde mais escuro, como o dos nenúfares sobre a água. Perguntou-se também quando o canto dos pássaros passara a ser tão irritante aos seus ouvidos e decidiu que preferia o silêncio da superfície do lago.

Ao chegar, a visão da água e das pedras submersas lhe trouxe alívio e a companhia da sereia, um sorriso aos lábios.

Conversaram sobre inúmeras coisas desta vez. Sobre aulas insípidas e professores estúpidos. Sobre seus sabores de bolo preferidos e livros interessantes. Sobre elfos e sobre fadas. Sobre o formato das nuvens flutuando sob o azul do céu e sobre como quicar uma pedra na superfície do lago.

– Você não deseja nadar conosco, criança? – a sereia repetiu a pergunta de praxe. – A água está morna e agradável.

– Eu não vou desaparecer? – a menina finalmente indagou sobre a questão que tanto lhe afligia.

A sereia não respondeu, inclinando ao invés disso sua cabeça como se pontuasse uma pergunta.

Cordélia explicou:

– Mulheres que visitam o lago desaparecem. E homens morrem.

– As mulheres não desaparecem, criança. – A criatura riu como se lhe explicasse que a água era molhada. – E quanto aos homens... O lago não gosta deles. Todos que o visitaram eram mesquinhos e impulsivos e tinham tanta raiva dentro de si...

– Meu pai é um homem e não é assim – Cordélia interveio, irritada. – Ele é justo e gentil e comedido.

– Eu sei, criança – a sereia concordou. – Seu pai é um bom homem. Talvez se ele nos visitasse, poderia ficar.

Cordélia sorriu com isso.

Seus olhos, já mais ousados, correram pelo lago e pelos braços da sereia até alcançar seus ombros alvos e seu pescoço esguio e notar as guelras que se abriam e fechavam sobre sua pele. Eram como pequenas bocas que sussurravam segredos e a menina as achou belas.

Sorriu mais uma vez, sentada desta vez sobre uma pedra cercada pelas águas serenas, e balançou as pernas dependuradas na beirada da rocha, os pés descalços submersos no lago.

A água era o banho em uma nascente na primavera e a menina cerrou os olhos quando o toque do líquido lhe trouxe arrepios de prazer.

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