Uma semana se passou sem que Cordélia visitasse o lago novamente.

Porém, com o passar de cada dia, a menina sentia certa urgência de voltar ao local cercado por lendas. Talvez fosse sua curiosidade agindo mais uma vez. Talvez fosse a vontade de presenciar algo fantástico em sua vida monótona. Ou talvez fosse a dormência que sentia em seus pés, por onde a água do lago escorrera.

No dia que seu professor de geografia faltou, Cordélia retornou ao lago.

Ela descalçou os sapatos e sentiu os pequenos pedregulhos sob seus pés antes de sentar-se no tronco à beira das águas e aproveitar o calor do sol.

Curiosamente, notou pela primeira vez o quão bonito era o som dos peixes saltando sobre o lago e o quão suave era o cheiro da terra molhada.

A sereia veio ao seu encontro logo em seguida.

Cordélia ainda não a encarou, mas seus olhos sentiam-se mais corajosos e por isso perambularam pela beirada do lago e pela água até alcançarem as mãos da criatura. A pele era clara e suave e, entre seus dedos, distinguiam-se membranas como nos anfíbios de suas aulas de biologia. Cordélia se perguntou se o restante do corpo da sereia, escondido pelas águas escuras, teria a forma da cauda de um peixe, como nas histórias, ou se os dedos de seus pés apenas imitariam os de suas mãos.

– Nade conosco, criança – a criatura falou. – A água está morna e agradável.

– Não – Cordélia pegou-se dizendo. – A água é gelada e estranha. Eu não gosto.

– É sempre assim na primeira vez – a sereia retrucou. – Você irá se acostumar. No fim, todas se acostumam.

– Todas?

– Venha. Sinta a água.

A mente da menina lhe disse para permanecer no mesmo lugar que se sentava. Seu instinto insistiu que ela corresse. Seu corpo agiu por conta própria.

Quando Cordélia deu por si, já mergulhava suas mãos delicadas no lago da lenda.

A água era uma tarde nublada de outono, mas a menina não recolheu a mão de imediato. Desta vez, apenas o frio lhe trouxe arrepios.

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