XVII - Titanic
Olivia balançava sozinha pelo picadeiro, agarrada ao tecido que há tanto tempo não usava. As luzes estavam apagadas e uma única luz focava sobre si. Apesar das dores em seu tornozelo terem cessado completamente, ela não queria saber de seu trapézio. Seu olhar focava apenas no alvo todo perfurado no outro lado do tablado.
Um leve descompasso tomou seu peito num susto quando ouviu o zunido de uma lâmina cortar o ar ao lado de sua cabeça e atingir o alvo. Olhou para trás e Oscar estava na penumbra, atirando facas à uma distância que ela ainda não o havia visto fazer.
Olivia sorriu para o rapaz que deixou as facas de lado e seguiu até ela, pendurando-se no tecido com uma mão e segurando os fios soltos de sua nuca com a outra, aproximando seus rostos. "Nós vamos cair daqui", ela sussurrou, mas Oscar não se importou, soltou a mão que agarrava o tecido e abraçou sua cintura.
E os dois caíram. A sensação de queda livre parecia infinita, mas logo Olivia caiu sentada no banco do passageiro da caminhonete estacionada numa rua escura de Windenburg. Seus lábios estavam colados nos lábios de Oscar, que tinham um agradável sabor de álcool. O beijo se intensificava mais e mais quando mais uma vez a sensação de estar despencando surgiu, e aí tudo escureceu.
– Acorda logo, Liv!
Olivia abriu os olhos de uma vez, seu coração estava acelerado e ela foi capaz de sentir o gosto do beijo de Oscar, mas era Megan que cutucava seu ombro. Seus olhos arderam numa mistura de sono e tristeza, já que em seu sonho ela estava pendurada em seu tecido com seu tornozelo em perfeito estado, mas ao acordar as dores a lembraram da realidade.
Por mais que se esforçasse, não entendia uma só palavra que sua amiga falava, pois ainda se encontrava naquele estado de transe entre o dormir e o acordar. Megan como sempre falava sem parar, mas o olhar perdido de Olivia deixava estampado em seu rosto que ela não fazia ideia do que estava acontecendo ali.
– Pode continuar me ignorando, eu adoro falar sozinha, Olivia – Megan bufou.
– Meg... eu ainda estou esperando o espírito voltar para o meu corpo, ele ainda tá dormindo... – Olivia falou em meio a um bocejo – Mas o que você disse?
– Eu vim te falar que nós ganhamos um milhão de libras na loteria e vamos comprar o circo e colocar o Hector numa jaula para exposição.
– Eu adoraria que fosse verdade, inclusive a parte do Hector, mas sério, por que você me acordou? Eu estava num sonho tão bom...
– Porque nós precisamos planejar a comemoração do meu aniversário! – Megan chacoalhou as mãos no ar com empolgação – Se o seu sonho não foi a gente ganhando dinheiro e batendo no Hector, não valeu à pena.
– Já faz um mês que eu te falo pra se organizar e você deixou pra fazer isso faltando o que, uns dois, três dias?
– É o meu jeitinho especial – piscou um olho – Mas é sério, o que vamos fazer?
A empolgação de Megan era sempre contagiante, então não precisou muito para Olivia se animar junto com a amiga e as duas passarem horas definindo toda a comemoração dos vinte e sete anos da ruiva, que não parava de falar o quanto estava ansiosa.
A princípio elas decidiram fazer uma decoração toda elaborada em alguma casa de festas, contratar um DJ e fazer uma festa onde, segundo Megan, todos deveriam parecer celebridades com roupas dignas do tapete vermelho. Quando tudo estava mentalmente encaminhado, as duas se deram conta de que não possuíam dinheiro nem mesmo para o DJ.
Depois de quebrarem a cabeça por mais um tempo, por fim decidiram ir até uma casa noturna após a última apresentação do domingo, dançarem até seus corpos não aguentarem mais e encerrar a noite com um bolo tão excêntrico quanto Megan. Na volta, as duas iriam para a casa da aniversariante assistir filmes durante todo o restante da madrugada acompanhadas de uma garrafa de vinho.
– E quem você vai convidar? – Olivia perguntou.
– A rainha Elizabeth – Megan riu e foi atingida por um par de meias jogado por Olivia – Quem mais, Liv?! O pessoal do circo.
– Ah, então posso colocar o nome do Hector na lista? – sorriu e recebeu um dedo do meio em troca – Ué, ele faz parte do "pessoal do circo" – deu de ombros.
– Reformulando minha resposta, todo mundo de todos os anos. Esse ano com o "plus" do seu amigo Oscar.
Desde que começaram a falar sobre a comemoração, Olivia conseguiu se distrair e não havia pensado no sonho que teve em nenhum momento, mas ao ouvir o nome de Oscar, o sabor do beijo voltou e ela umedeceu os lábios para ter a certeza se o gosto de álcool era real. Megan percebeu que a amiga mudou o semblante ao ouvir o nome do rapaz.
– Eu acho que o Oscar não vai – a voz de Olivia soou mais desanimada do que deveria.
– Ah ele vai sim – Megan se levantou – Ou então meu nome não é Megan DeVitt Bukater.
– Seu nome não é esse, Megan Dawson – Olivia riu e enfatizou o nome real da amiga.
– Roubei o sobrenome da minha bisavó – deu de ombros.
– Meg, eu já te disse que a Rose e o Jack do Titanic não são seus parentes. Eles são personagens fictícios.
– Eu sou uma Dawson, Liv. Me deixe sonhar.
Olivia continuou rindo de Megan, que começou a explicar mais uma vez todas as teorias acerca de seus possíveis bisavós estarem a bordo do Titanic e que seu bisavô morreu no naufrágio. Quando finalmente terminou de falar, a ruiva decidiu ir treinar. As duas se despediram na porta do trailer e Olivia lançava olhares disfarçados em direção à casa de Oscar. Olhares estes que passariam despercebidos por qualquer pessoa, menos por sua melhor amiga.
Conforme o relógio se aproximava das seis, a coxia ficava cheia e a falação tomava conta do lugar, mas Oscar seguia em silêncio, como sempre. Olivia não conseguia encará-lo, mesmo se apresentando com ele praticamente todas as noites. Apesar de não se lembrar do beijo, o sonho daquela manhã ainda estava fresco em sua mente e os lábios macios do rapaz a despertava sensações estranhas dentro de si.
Do outro lado da coxia, Oscar não se lembrava dos detalhes daquela noite, mas todas as sensações que aquele beijo causou ainda estavam impregnados em sua memória. Diversas vezes durante as madrugadas insones, em suas conversas consigo mesmo ele dizia que não via problema em contar para Olivia o que aparentemente havia acontecido, mas por outro lado, tinha medo de perder a única amiga que tinha.
E foi entre sensações estranhas e palavras não ditas que os dois levaram seus dias desde aquela bebedeira na semana anterior, e apesar de todas as risadas que aquela noite rendeu, os dois não tocaram mais no assunto durante os treinos rápidos que faziam durante as tardes. O treino noturno não acontecia há algum tempo, já que sempre davam desculpas para não ficarem a sós.
– Eu tenho um comunicado a fazer! – Megan gritou de cima de um banquinho e todos olharam para ela – Domingo é meu aniversário de vinte e sete anos, então, meus amores, quero que todos vocês ao meu lado na balada Hick's, para dançarmos como se não houvesse amanhã!
Megan continuou falando sobre a comemoração, falou o horário, local e que queria todos muito bem vestidos. Oscar desviou o olhar para Olivia e a viu sorrindo ao encarar a amiga em cima do banquinho. Ela olhou rapidamente para ele e manteve o sorriso ao ver que ele também a olhava. "Você vai?", ele leu seus lábios dizerem e como resposta, balançou a cabeça em negação. Ele não iria porque sabia que todos os convites feitos no Taurus significavam "todos vocês, menos o Oscar", e já estava acostumado com isso.
A última apresentação daquela sexta-feira havia terminado e o público já havia ido embora, mas Oscar ainda estava por ali, varrendo o picadeiro no seu dia de limpeza. Olivia ofereceu ajuda diversas vezes, mas o rapaz negou repetidamente. Nunca a ajudou esperando algo em troca e também preferia ficar sozinho naquele momento. Mas Megan não pretendia deixá-lo só.
– Oscar, quero falar com você.
Oscar estava distraído com a limpeza e a voz de Megan o assustou, a fazendo rir do espasmo involuntário que o susto causou no rapaz.
– O que você quer? – ele perguntou sem nem se virar.
– Eu amo a sua simpatia, já comentei isso? – Megan sentou na arquibancada.
– Boa noite senhorita Megan, em que posso ajudá-la? – Oscar respondeu num tom igualmente sarcástico.
– Bem melhor, tá vendo?! – sorriu e foi até ele – Eu só quero te informar que sua presença no meu aniversário é essencial.
– Nunca foi, por que isso agora? – desviou o olhar para ela.
"Porque eu acho que está rolando algo entre você e minha amiga", ela pensou em dizer.
– Porque quando eu convidei todo mundo do circo, eu incluí você.
– De novo eu te pergunto, por que isso agora? Nunca me incluiu.
– Olha Oscar, eu acho que a gente começou com o pé esquerdo. Você jogando facas em mim eu te mandando para lugares horríveis mentalmente. Só que aparentemente você é legal.
– Aparentemente? – arqueou a sobrancelha e sorriu ladino.
– A Liv é sua amiga, então ela te acha legal. Eu sou amiga da Liv então ela me acha legal também. Vai dizer que você me acha chata?!
– Bom, tirando a vez em que você me abandonou no palco antes da apresentação, que você ameaçou me esquartejar e espalhar meus pedaços por aí, que me acusou de aproveitar da Olivia...
– Tá bom, já chega! – Megan o interrompeu – Começando agora, vamos viver em paz. E se você não for no meu aniversário, aí sim eu te esquartejo com uma faca de serra. Você vai?
– Você me deixou escolhas?
Megan deu um gritinho animado e abraçou Oscar, que continuou parado com a vassoura na mão. Da entrada do circo, Jack – que saía furtivamente para se encontrar com uma mulher que assistiu ao espetáculo ao lado do marido naquela noite – viu o abraço da ruiva no lançador de facas e abriu um sorriso. Mal via a hora de poder contar para o irmão que um possível casal estava se formando no Taurus.
Olá meus amores! Como vocês estão?
Megan já sacou que tem algo rolando e o Jack fofoqueiro já tá fanficando na cabeça dele!
E será que o Oscar vai ao aniversário mesmo?
O capítulo de hoje é dedicado à Lígia, minha amiga que conheci graças ao wattpad e que eu sou apaixonada pelos livros. Ontem foi aniversário dela e eu não consegui postar, mas hoje tá aqui, junto com todo meu carinho por ela. Parabéns, Lija! ♥
É isso, vejo vocês em breve!
Beijinhos ♥
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