XIII- Sexta-feira 13
Os gritos de David e Adam fizeram Olivia acordar mais cedo do que imaginou na sexta-feira. "Tinha que ser sexta-feira 13!", reclamou para seu reflexo no espelho do banheiro enquanto escovava os dentes. Se arrastou até a cozinha e soltou um bom dia preguiçoso, mas só seu pai respondeu. Seu irmão continuava aumentando o tom de voz enquanto ela colocava chá preto em sua xícara. Sentou-se no sofá e ligou a televisão, aumentando o volume até que sobressaísse às vozes dos dois.
– Desliga essa porra, Olivia! – Adam gritou.
– Cala a boca – ela respondeu e aumentou ainda mais.
– Até quando você vai ficar sem falar comigo?! – puxou o controle de sua mão e desligou a TV.
– Até o dia em que você parar de fazer merda, Adam!
– Então vocês nunca vão voltar a se falar – David falou num tom que deixava claro que ainda estava bravo com o filho.
– Pai, eu já disse que esse dinheiro não é de jogo! – Adam devolveu o controle para Olivia e foi até David.
– Como você quer que eu acredite, Adam?! Domingo você e sua irmã chegaram discutindo porque ela te viu jogando!
– Aquele jogo foi só pra passar o tempo, a gente não apostou nada! – virou-se para a irmã – Olivia, você viu alguém falando de aposta lá?! Viu algum dinheiro na mesa?!
– Não vi nada, não sei de nada. Depois que você me mandou ir embora, eu passei o resto da festa com o Oscar e a Megan cuidando da minha vida e fingindo que você nem existia – ligou a televisão mais uma vez.
– Eu tenho que conversar com a senhorita – David apontou para a filha – Não estou gostando nada de te ver conversando com esse Oscar!
– A briga não é comigo, pai.
Olivia virou o que restava de seu chá e saiu enquanto os dois discutiam. Não estava nem um pouco afim de participar daquela confusão que não sabia nem sobre o que se tratava, então bateu a porta e foi ainda de pijamas para a casa de Megan. Como sempre sua amiga não trancava a porta, então ela entrou e foi até o quarto, já se deitando ao lado da ruiva que ainda dormia.
Podia parecer estranho para os outros, mas Megan tinha dado a liberdade de Olivia entrar em sua casa quando quisesse há nove anos, desde que foi morar sozinha naquele trailer. Quando a ruiva estava prestes a fazer dezoito anos, sua avó materna ficou doente e seus pais abandonaram a vida no circo para morar com a senhora em uma cidade vizinha.
Megan preferiu continuar ali, já que seu salário poderia bancar um trailer pequeno, mas ainda assim visitava seus pais e sua avó sempre que podia. Olivia normalmente a acompanhava, já que tinha um carinho muito grande pelos pais da amiga, que de certa forma ajudaram David em sua criação. Durante a infância as duas sempre fantasiavam como a vida seria se fossem irmãs de verdade, mas quando mais velhas perceberam que não era preciso o laço sanguíneo para isso.
Após alguns resmungos, Megan abriu os olhos e viu sua amiga deitada ao seu lado. Sabia que sempre que ela chegava sem dizer nada, era algum problema em sua casa. "Quer que eu vá socar o Adam?", perguntou com a voz arrastada. "Não, eu só quero um pouco de paz", Olivia respondeu se aconchegando no travesseiro. A ruiva dividiu sua coberta com ela e Olivia pode descansar sua mente por mais um tempo até que precisasse encarar o dia.
Olivia passou o dia na casa de Megan, mas bastou entrar em casa para querer dar meia-volta. O clima estava pesado e David parecia não dar sossego para Adam. Ela estava se arrumando para as apresentações daquela noite quando mais uma vez seu pai começou a discutir com seu irmão. A sensação que tinha é que o dia na casa da amiga não tinha valido de nada, já que os dois pareciam ter esperado ela voltar para continuar a discussão.
– Pai, pelo amor de Deus, eu estou tentando ajudar! Esse dinheiro é limpo, eu estou dando pra pagar o aluguel, por favor, aceita! – Adam seguiu seu pai até o quarto. Os dois já estavam caracterizados e qualquer pessoa que não vivesse naquele inferno, acharia graça de dois palhaços discutindo.
– Espera... – Olivia soltou o lápis de olho e foi até o pai – O Adam de repente tem dinheiro que vai ajudar a pagar a dívida que ele mesmo enfiou a gente e o senhor não quer?!
– Eu não sei de onde esse dinheiro veio! – David passou as mãos pelo rosto, borrando sua maquiagem.
– E o que isso importa agora, pai?! – Olivia praticamente gritou.
– É o que eu estou tentando falar o dia inteiro pra ele!
– Pai, eu não costumo dizer isso, mas ouve o Adam. Essa dívida é dele, por que a gente que tem que pagar? – encarou o irmão, que desviou o olhar para o chão – Ele tem que aprender a lidar com as merdas dele. Ele tem trinta anos e você trata como se fosse um moleque de quinze, por isso que ele faz tudo o que faz. Ele nunca vai amadurecer assim.
– Eu ainda tô aqui, Olivia – Adam reclamou.
– Que bom, porque eu não preciso falar a mesma coisa duas vezes. Eu cansei de lidar com os seus problemas e tentar consertar as suas merdas.
Olivia pegou seu chapéu coquinho e saiu, deixando os dois continuarem a discussão. Chegou no circo antes de todo mundo e até pensou em se jogar no velho sofá da coxia e reclamar da vida para si mesma, mas viu o alvo de madeira que estaria presa mais tarde e sabia onde Oscar guardava suas facas, então não pensou duas vezes antes de descontar sua raiva.
Das oito facas, três estavam cravadas na madeira, já as outras cinco espalhadas pelo chão. Olivia recolheu todas e começou a lançá-las mais uma vez. Por mais que tentasse, não conseguia acertar mais do que três. Na última tentativa, só uma atingiu o alvo. Ela se sentou no chão já exausta e ficou encarando aquela única faca pendurada na madeira.
– Brincando sem mim?
Olivia assustou ao ouvir a voz de Oscar atrás de si, o fazendo rir do pulo que ela deu. Apesar de terem se apresentado juntos na noite anterior, os dois não conversavam desde a festa do último domingo. Nem mesmo os usuais ensaios e os treinos escondidos estavam acontecendo, já que ambos davam desculpas fajutas para não ficarem sozinhos até que pudessem esquecer aquele episódio do quase-beijo.
– Desculpa pegar as facas sem falar com você – Olivia se levantou do chão e começou a recolhê-las.
– Não tem problema – retirou a que estava presa no alvo – Você está com raiva? – franziu o cenho.
– Como você sabe? – arqueou uma sobrancelha.
– Essa aqui estava muito cravada, só o ódio faz isso – sorriu – Quer tentar mais uma vez?
Foi a vez de Olivia sorrir, assentindo com a cabeça. Oscar pegou quatro facas de sua mão e começou a lançá-las, explicando os sentimentos e ações durante cada objeto lançado. Ela não conseguia desviar os olhos dele.
– Essa foi sem vontade, joguei por jogar – a faca se pendurou por poucos segundos e caiu no chão – Essa aqui, com a atenção de sempre – o objeto atingiu o lado esquerdo do alvo – Nessa, digamos que... eu me distraí – ele sequer olhou onde acertou, já que encarava o sorriso de Olivia – Mas essa aqui... essa aqui é com ódio.
A faca atingiu o centro do alvo, sendo cravada até metade da lâmina. Olivia perguntou no que ele precisou pensar para lançá-la com tanto ódio, mas ele preferiu não dizer. A verdade é que ele se lembrou do dia em que chegou ao Taurus munido de sua única mala e a carta de sua mãe, totalmente contra a sua vontade após ser expulso de seu antigo circo, não sendo muito bem recepcionado por aquele que descobriu no dia anterior ser o seu pai.
Os dois continuaram lançando as facas em silêncio, já que ela não falou o porquê de estar irritada e ele também não insistiu em nenhum assunto. Aos poucos o elenco chegava, fazendo com que guardassem tudo e se misturassem aos demais. Megan apareceu cinco minutos antes da primeira apresentação e foi conversar com a amiga, fazendo com que Oscar se afastasse para dar privacidade às duas.
Richard agradecia ao público por mais uma noite, mesmo o circo não estando tão cheio. O público aos poucos foi se dispersando e Olivia já terminava de remover sua maquiagem quando Megan a chamou para ir embora, já que desde que voltou a se apresentar as escalas de limpeza voltaram ao normal. Ela olhou para o lado e viu que Oscar estava jogado no sofá com os olhos cobertos pelo antebraço.
– Acho que vou ficar mais um pouco, vai que eles precisam da minha ajuda pra limpar – Olivia respondeu com um sorriso beirando a sinceridade.
– Só me faltava essa, agora quer limpar mesmo quando não tá na escala! – Megan bufou – Eu vou pra casa. Boa noite, Liv.
Enquanto Megan saía lançando beijos no ar e Jack e Jacob limpavam o picadeiro, Olivia esperava até que Oscar dissesse algo. Ela não queria ajudar os irmãos, até porque não aguentava mais limpar aquele lugar. O rapaz tirou o braço de cima dos olhos e flagrou o olhar sobre si.
– Você vai ajudar os dois? – ele perguntou ao se sentar no sofá.
– De jeito nenhum. Tirando você e a Meg, ninguém me ajudou.
– Então por que ficou?
– Te faço a mesma pergunta.
– Pensei que você ia querer treinar – Oscar deu de ombros.
– Eu até queria, mas... hoje não.
– E ficou aqui até agora por que então?
– Eu queria conversar...
– Aqui?
– Ou talvez a gente deveria pegar a caminhonete escondido e ir até um pub... – Olivia sorriu.
Olá meus amores! Como estão?
Fiquei um tempinho sumida, me desculpem.
Mas e aí, o que acham que vai dar essa ideia da Olivia, será que realmente vão sair escondido até um pub?
Ah, na mídia hoje um gifzinho da nossa amada Megan que deixou vocês com raiva por atrapalhar o beijo da Olivia e do Oscar hahaha
Vejo vocês em breve!
Beijinhos ♥
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